Sta
Isabel da Trindade, virgem de nossa Ordem
Bto.
João Duns Scotus, presbítero
1ª
Leitura (Rom 13,8-10): Irmãos: Não devais a ninguém coisa alguma, a não
ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo cumpre a lei. De
facto, os mandamentos que dizem: «Não cometerás adultério, não matarás, não
furtarás, não cobiçarás», e todos os outros mandamentos, resumem-se nestas
palavras: «Amarás ao próximo como a ti mesmo». A caridade não faz mal ao
próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei.
Salmo
Responsorial: 111
R. Ditoso o homem de coração
bondoso e compassivo.
Feliz o homem que teme o Senhor e
ama ardentemente os seus preceitos. A sua descendência será poderosa sobre a
terra, será abençoada a geração dos justos.
Brilha aos homens retos, como luz
nas trevas, o homem misericordioso, compassivo e justo. Ditoso o homem que se
compadece e empresta e dispõe das suas coisas com justiça.
O seu coração é inabalável, nada
teme; reparte com largueza pelos pobres, a sua generosidade permanece para
sempre e pode levantar a fronte com dignidade.
Aleluia. Felizes de vós, se
sois ultrajados pelo nome de Cristo, porque o Espírito de Deus repousa sobre
vós. Aleluia.
Evangelho
(Lc 14,25-33): Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele
lhes disse: Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua
mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não
pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não
pode ser meu discípulo. De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não
se senta primeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para
terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não será capaz de acabar. E
todos os que virem isso começarão a zombar: Este homem começou a construir e
não foi capaz de acabar! Ou ainda: um rei que sai à guerra contra um outro não
se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro
que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia uma
delegação, enquanto o outro ainda está longe, para negociar as condições de
paz. Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que
tem, não pode ser meu discípulo!
«Quem não carrega sua cruz e
não caminha após mim, não pode ser meu discípulo»
Rev. D. Joan GUITERAS i Vilanova (Barcelona,
Espanha)
Hoje contemplamos Jesus no
caminho até Jerusalém. Aí entregará a sua vida para a salvação do mundo.
Grandes multidões acompanhavam Jesus (Lc 14,25): Os discípulos, ao andar com
Jesus que os precede, devem aprender a ser homens novos. É esta a finalidade
das instruções que o Senhor expõe e propõe aos que o seguem na sua ascensão à
Cidade da paz.
Discípulo significa seguidor.
Seguir as pisadas do Mestre, ser como Ele, pensar como Ele, viver como Ele... O
discípulo convive com o Mestre e o acompanha. O Senhor ensina com atos e com
palavras. Viram claramente a atitude de Cristo entre o Absoluto e o relativo.
Ouviram muitas vezes da sua boca que Deus é o primeiro valor da existência.
Admiraram a relação entre Jesus e o Pai celestial. Viram a dignidade e a
confiança com que orava ao pai. Admiraram a sua pobreza radical.
Hoje o Senhor fala-nos com termos
claros. O autêntico discípulo há de amar com todo o seu coração e toda a sua
alma a nosso Senhor Jesus Cristo, por cima de todo o vínculo, inclusive do mais
íntimo: Se alguém vem a mim, mas não me prefere... até à sua própria vida, não
pode ser meu discípulo (Lc 14,26-17). Ele ocupa o primeiro lugar na vida do
seguidor. Diz Santo Agostinho: Respondamos ao pai e à mãe: Eu vos amo em
Cristo, não no lugar de Cristo. O seguimento precede inclusive ao amor pela
própria vida. Seguir Jesus, ao fim e ao cabo, implica abraçar a cruz. Sem cruz
não há discípulo.
O chamamento evangélico exorta à
prudência, quer dizer, à virtude que dirige a atuação adequada. Quem quer
construir uma torre deve calcular se a poderá terminar. O rei que tem que
combater decide se vai à guerra ou pede a paz depois de considerar o número de
soldados de que dispõe. Quem quer ser discípulo do Senhor tem que renunciar a
todos os seus bens. A renúncia será a melhor aposta!
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«O nosso nascimento espiritual é
o resultado de uma escolha livre e, de certa forma, somos os nossos próprios
pais, criando-nos como queremos ser e formando-nos pela nossa vontade segundo o
modelo que escolhemos» (S. Gregório de Nissa)
«Para os cristãos, carregar a
cruz não é algo opcional, mas uma missão a ser abraçada por amor. No nosso
mundo de hoje, Cristo não deixa de a todos nos propor o seu claro convite: quem
quiser ser meu discípulo, renuncie ao seu egoísmo e carregue a sua cruz comigo»
(Bento XVI)
«Jesus impõe aos seus discípulos
que O prefiram a tudo e a todos e propõe-lhes que `renunciem a todos os seus
bens´ (Lc 14,33) por causa d'Ele e do Evangelho. Pouco antes da sua paixão,
deu-lhes o exemplo da pobre viúva de Jerusalém que, da sua penúria, deu tudo o
que tinha para viver. O preceito do desapego das riquezas é obrigatório para
entrar no Reino dos céus» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.544)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje fala sobre o discipulado e
apresenta as condições para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus.
Jesus está a caminho de Jerusalém, onde vai ser preso e morto na Cruz. Este é o
contexto em que Lucas coloca as palavras de Jesus sobre o discipulado.
* Lucas 14,25: Exemplo de catequese. O
evangelho de hoje é um exemplo bonito de como Lucas transforma as palavras de
Jesus em catequese para o povo das comunidades. Ele diz: “Grandes multidões
acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala para as grandes
multidões, isto é, fala para todos, para o povo das comunidades do tempo de
Lucas e inclusive para nós hoje. No ensinamento que segue, ele coloca as
condições para alguém poder ser discípulo de Jesus.
* Lucas 14,25-26: Primeira condição: odiar pai
e mãe. Alguns diminuem a força da palavra odiar e traduzem “dar preferência
a Jesus acima dos pais”. O texto original usa a expressão “odiar os pais”. Em
outro lugar Jesus manda amar e honrar os pais (Lc 18,20). Como explicar esta
contradição? Será que é uma contradição? No tempo de Jesus a situação social e
econômica levava as famílias a se fechar sobre si mesmas e as impedia de
cumprir a lei do resgate (goel), isto é, de socorrer os irmãos e as irmãos da
comunidade (clã) que estavam ameaçados de perder sua terra ou de cair na
escravidão (cf. Dt 15,1-18; Lev 25,23-43). Fechadas sobre si mesmas, as
famílias enfraqueciam a vida em comunidade. Jesus quer refazer a vida em
comunidade. Por isso pede que se rompa a visão estreita da pequena família que
se fecha sobre si mesma e pede para que as famílias se abram e se unam entre si
na grande família, na comunidade. Este é o sentido de odiar pai e mãe, mulher
filhos, irmãos e irmãs. Jesus mesmo, quando os parentes da sua pequena família
queiram levá-lo da volta para Nazaré, não atendeu ao pedido deles. Ignorou ou
odiou o pedido deles e alargou a família, dizendo: “Meu irmão, minha irmã,
minha mãe é todos aquele que faz a vontade do Pai” (Mc 3,20-21.31-35). Os
vínculos familiares não podem impedir a formação da Comunidade. Esta é a
primeira condição.
* Lucas 14,27: Segunda condição: carregar a
cruz. “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser
meu discípulo”. Para entender bem o alcance desta segunda exigência devemos
olhar o contexto em que Lucas coloca esta palavra de Jesus. Jesus está indo
para Jerusalém onde será crucificado e morto. Seguir Jesus e carregar a cruz
atrás dele significa ir com ele até Jerusalém para ser crucificado com ele.
Isto evoca a atitude das mulheres que “haviam seguido a Jesus e servido a ele,
desde quando ele estava na Galileia. Muitas outras mulheres estavam aí, pois
tinham subido com Jesus a Jerusalém” (Mc 15,41). Evoca também a frase de Paulo
na carta aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de
nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e
eu para o mundo. Crucificado para o mundo” (Gl 6,14)
* Lucas 14,28-32: Duas parábolas. As duas
têm o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem antes de tomar uma decisão.
Na primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês quer construir uma torre,
será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o
suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz
de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: Esse homem
começou a construir e não foi capaz de acabar!” Esta parábola não precisa de
explicação. Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua maneira de
seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de tomar a
decisão de ser discípulo de Jesus.
A segunda parábola: “Se um rei
pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e
examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra
ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as
condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe”. Esta parábola tem o
mesmo objetivo que a precedente. Alguns perguntam: “Como é que Jesus foi usar
um exemplo de guerra?” A pergunta é pertinente para nós que conhecemos as
guerras de hoje. Só a segunda guerra mundial (1939 a 1945) causou a morte de 54
milhões de pessoas! Naquele tempo, porém, as guerras eram como a concorrência
comercial entre as empresas de hoje que lutam entre si para ter mais lucro.
* Lucas 14,33: Conclusão para o discipulado. A
conclusão é uma só: ser cristão, seguir Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita
gente, ser cristão não é opção pessoal nem decisão de vida, mas um simples
fenômeno cultural. Não lhes passa pela cabeça de fazer uma opção. Quem nasce
brasileiro é brasileiro. Quem nasce japonês é japonês. Não precisa optar. Já
nasce assim e vai morrer assim. Muita gente é cristão porque nasceu assim e
morre assim, sem nunca ter tido a ideia de optar e de assumir o que já é por
nascimento.
Para um confronto pessoal
1) Ser cristão é coisa
séria. Devo calcular bem minha maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na
minha vida?
2) “Odiar os pais”;
Comunidade ou família! Como você combina as duas coisas? Consegue unir as duas
em harmonia?
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