São
Gregório Magno, papa e doutor da Igreja.
1ª
Leitura (Jer 20,7-9): Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir;
Vós me dominastes e vencestes. Em todo o tempo sou objeto de escárnio, toda a
gente se ri de mim; porque sempre que falo é para gritar e proclamar:
«Violência e ruína!». E a palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião
permanente de insultos e zombarias. Então eu disse: «Não voltarei a falar
n’Ele, não falarei mais em seu nome». Mas havia no meu coração um fogo ardente,
comprimido dentro dos meus ossos. Procurava contê-lo, mas não podia.
Salmo
Responsorial: 62
R. minha alma tem sede de Vós,
meu Deus.
A minha alma tem sede de Vós. Por
Vós suspiro, como terra árida, sequiosa, sem água.
Quero contemplar-Vos no
santuário, para ver o vosso poder e a vossa glória. A vossa graça vale mais do
que a vida; por isso, os meus lábios hão de cantar-Vos louvores.
Assim Vos bendirei toda a minha
vida e em vosso louvor levantarei as mãos. Serei saciado com saborosos
manjares, e com vozes de júbilo Vos louvarei.
Porque Vos tornastes o meu
refúgio, exulto à sombra das vossas asas. Unido a Vós estou, Senhor, a vossa
mão me serve de amparo.
2ª
Leitura (Rom 12,1-2): Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que
vos ofereçais a vós mesmos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, como
culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela
renovação espiritual da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade
de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito.
Aleluia. Deus, Pai de Nosso
Senhor Jesus Cristo, ilumine os olhos do nosso coração, para sabermos a que
esperança fomos chamados. Aleluia.
Evangelho
(Mt 16,21-27): A partir de então, Jesus começou a mostrar aos discípulos
que era necessário ele ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, sumos
sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Então Pedro o
chamou de lado e começou a censurá-lo: «Deus não permita tal coisa, Senhor! Que
isto nunca te aconteça!» Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: «Vai para
trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não
tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!». Então Jesus disse aos
discípulos: «Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e
siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; e quem perder sua vida por
causa de mim a encontrará. De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro,
se perde a própria vida? Ou que poderá alguém dar em troca da própria vida?
Pois o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então
retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta».
«Se alguém quer vir após mim,
renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me»
Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Rubí,
Barcelona, Espanha)
Hoje, contemplamos Pedro — figura
emblemática e grande testemunho e mestre da fé— também como homem de carne e
osso, com virtudes e debilidades, como cada um de nós. Devemos agradecer aos
evangelistas o fato de nos terem apresentado a personalidade dos primeiros
seguidores de Jesus com realismo. Pedro, que faz uma excelente confissão de fé
—como vemos no Evangelho do XXI Domingo— e merece um grande elogio por parte de
Jesus e a promessa da autoridade máxima dentro da Igreja (cf. Mt 16,16-19),
recebe também do Mestre uma severa reprimenda, porque no caminho da fé ainda
tem muito que aprender: «Vai para trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim
uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos
homens!» (Mt 16,23).
Ouvir a reprimenda de Jesus a
Pedro é um bom motivo para fazer um exame de consciência sobre a nossa forma de
ser cristão. Somos de verdade fiéis aos ensinamentos de Jesus Cristo, até ao
ponto de pensarmos realmente como Deus, ou preferimos moldar-nos à forma de
pensar e aos critérios deste mundo? Ao longo da história, os filhos da Igreja
caímos na tentação de pensar segundo o mundo, de nos apoiarmos nas riquezas
materiais, de procurarmos com afinco o poder político e o prestígio social; e
por vezes movem-nos mais os interesses mundanos que o espírito do Evangelho.
Perante estes fatos, volta a se apresentar-nos a pergunta: «De fato, que
adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?» (Mt 16,26).
Depois de ter posto as coisas bem
claras, Jesus ensinou-nos o que quer dizer pensar como Deus: amar, com tudo o
que isso comporta de renúncia pelo bem do próximo. Por isso o seguir a Cristo
passa pela cruz. É um segui-lo entranhável, porque «com a presença de um amigo
e capitão tão bom como Cristo Jesus, que se pôs na vanguarda dos sofrimentos,
tudo se pode sofrer: ajuda-nos e anima; não falha nunca, é um verdadeiro amigo»
(Santa Teresa de Ávila). E…, quando a cruz é signo de amor sincero, converte-se
em luminosa e signo de salvação.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Aquele que não se nega a si
próprio não pode aproximar-se d'Aquele que está acima dele. Mas, se nos
abandonarmos a nós próprios, aonde iremos para lá do nosso ser?» (S. Gregório
Magno)
«Não se trata de uma cruz
ornamental, nem de uma cruz ideológica, mas da cruz da vida, da cruz do próprio
dever, da cruz do sacrifício pelo próximo com amor. Quando assumimos esta
atitude, estas cruzes, perdemos sempre algo. Trata-se de um perder para ganhar»
(Francisco)
«Pela sua obediência amorosa ao
Pai, `até a morte de cruz´ (Flp 2, 8), Jesus cumpriu a missão expiatória do
Servo sofredor, que justifica as multidões, tomando sobre Si o peso das suas
faltas´ (Is 53,11)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 623)
COMENTÁRIO
O nosso texto de hoje, na
verdade, é uma continuação do Evangelho proclamado na Festa Litúrgica de São
Pedro e São Paulo e, para que entendamos o texto mateano na sua integridade,
torna-se necessário completar a leitura do Evangelho da Festa com o texto de
hoje. Pois, ele mostra que, embora Pedro tivesse usado os termos certos para
descrever quem era Jesus, ele os entendia de modo errado. Para Jesus, ser o
Cristo significava assumir a missão do Servo de Javé, descrito pelo profeta
Segundo-Isaías, nos Cantos do Servo de Javé (Is 42, 1-9; 49, 1-9ª; 50, 4-11;
52, 13-53). Jesus deixa claro que ser o Cristo não significava triunfo nos
termos desse mundo, mas o contrário: “O Filho do Homem deve sofrer muito ser
rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve
ser morto, e ressuscitar no terceiro dia”.
Essa visão que Jesus tinha da
missão do Messias, não era comum - em geral o povo esperava um messias
triunfante e glorioso. Mateus nos mostra que Pedro partilhava essa visão
errada, a ponto de tentar corrigir Jesus, e de ganhar de Jesus uma correção
dura: “Fique longe de mim, Satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as
coisas dos homens” (Mc 8, 33).
Não basta usar os termos certos -
temos que ter o conteúdo certo. A Bíblia nos conta que Deus criou o homem e a
mulher na sua imagem e semelhança, mas na verdade muitas vezes nós criamos Deus
na nossa imagem e semelhança, para que Ele não nos incomode. A nossa tendência
é de seguir um messias triunfante e não o Servo Sofredor. Mas, para Jesus, não
há meio-termo. O discípulo tem que andar nas pegadas do seu mestre: “Se alguém
quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (Lc 9,
23).
O seguimento de Jesus leva à
cruz, pois a vivência das atitudes e opções d’Ele vai nos colocar em conflito
com os poderes contrários ao Evangelho. Carregar a cruz, não é aguentar
qualquer sofrimento passivamente. Se fosse assim, a religião seria masoquismo!
Carregar a cruz é viver as consequências de uma vida coerente com o projeto do
Pai, manifestado em Jesus. Segui-Lo não é tanto fazer o que Jesus fazia, mas o
que Ele faria se estivesse aqui hoje. E como Ele foi morto, não pelo povo, mas
por grupos de interesse bem definidos “os anciãos, os chefes dos sacerdotes e
os doutores da Lei” (a elite dominante em termos econômicos, religiosos e
ideológicos), os seus seguidores entrarão em conflito com os grupos que hoje
representam os mesmos interesses. Por isso, sempre haverá a tentação de
criarmos um Jesus “light”, sem grandes exigências, limitado a religião a uma
religião intimista e individualista, sem consequências sociais, políticas,
econômicas ou ideológicas.
A nossa resposta à pergunta “E
você, quem diz que eu sou?” se dá, não tanto com os lábios, mas com as mãos e
os pés. Respondemos quem é Jesus para nós, pela nossa maneira de viver, pelas
nossas opções concretas, pela nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e
da história. Tenhamos cuidado com qualquer Jesus não exigente, que não traz
consequências sociais, que não nos engaja na luta por uma sociedade mais justa.
Pois o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus do Evangelho, não foi assim, e
deixou claro: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a
sua cruz, e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas,
quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 24).
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