S. Pedro Poveda Castroverde,
presbítero e mártir
1ª
Leitura (Ex 20,1-17): Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas
palavras: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa
casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti
qualquer imagem esculpida, nem figura do que existe lá no alto dos céus ou cá embaixo
na terra ou nas águas debaixo da terra. Não adorarás outros deuses nem lhes
prestarás culto. Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos
pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; mas
uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e
guardam os meus mandamentos. Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus,
porque o Senhor não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão. Lembrar-te-ás
do dia de sábado, para o santificares. Durante seis dias trabalharás e levarás
a cabo todas as tuas tarefas. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus.
Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu
servo nem a tua serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que
vive na tua cidade. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e
tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso, o Senhor
abençoou e consagrou o dia de sábado. Honra pai e mãe, a fim de prolongares os
teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Não matarás. Não cometerás
adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem
o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que
lhe pertença».
Salmo
Responsorial: 18
R. Senhor, Vós tendes palavras
de vida eterna.
A lei do Senhor é perfeita, ela
reconforta a alma; as ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria aos simples.
Os preceitos do Senhor são retos
e alegram o coração; os mandamentos do Senhor são claros e iluminam os olhos.
O temor do Senhor é puro e
permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros, todos eles são retos.
São mais preciosos que o ouro, o
ouro mais fino; são mais doces que o mel, o puro mel dos favos.
Aleluia. Felizes os que
recebem a palavra de Deus de coração sincero e generoso e produzem fruto pela
perseverança. Aleluia.
Evangelho
(Mt 13,18-23): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Vós,
portanto, ouvi o significado da parábola do semeador. A todo aquele que ouve a
palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em
seu coração; esse é o grão que foi semeado à beira do caminho. O que foi
semeado nas pedras é quem ouve a palavra e logo a recebe com alegria; mas não
tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega tribulação ou perseguição por
causa da palavra, ele desiste logo. O que foi semeado no meio dos espinhos é
quem ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam
a palavra, e ele fica sem fruto. O que foi semeado em terra boa é quem ouve a
palavra e a entende; este produz fruto: um cem, outro sessenta e outro trinta».
«Vós, portanto, ouvi o
significado da parábola do semeador»
P. Josep LAPLANA OSB Monje de
Montserrat (Montserrat, Barcelona, Espanha)
Hoje, contemplamos a Deus como um
lavrador bom e magnânimo, que semeia com as mãos cheias. Não poupou nada para a
redenção do homem, mas gastou tudo em seu próprio Filho, Jesus Cristo, que como
grão enterrado (morte e sepultamento) converteu-se em nossa vida e ressurreição
graças à sua santa Ressurreição.
Deus é um agricultor paciente. Os
tempos pertencem o Pai, porque só Ele sabe o dia e a hora (cf. Mc 13,32) de
ceifar e de separar os grãos da palha. Deus espera. Também nós temos de
esperar, sincronizando o relógio da nossa esperança com o desígnio salvador de
Deus. Diz São Tiago «Olhai o agricultor: ele espera com paciência o precioso
fruto da terra, até cair a chuva do outono ou da primavera» (Tg 5,7). Deus
espera a colheita fazendo-a crescer com a sua graça. Nós tampouco não podemos
dormir, mas devemos colaborar com a graça de Deus prestando a nossa cooperação,
sem pôr obstáculos a esta ação transformadora de Deus.
O cultivo de Deus que nasce e
cresce assim na terra é um fato visível em seus efeitos; podemos vê-los nos
milagres autênticos e nos exemplos clamorosos de santidade de vida. Há muita
gente que depois de haver escutado todas as palavras e o ruído deste mundo, tem
fome e sede de ouvir a autêntica Palavra de Deus, ali onde ela se encontra viva
e encarnada. Há milhões de pessoas que vivem a sua pertença a Jesus Cristo e à
Igreja com o mesmo entusiasmo inicial do Evangelho, pois a palavra divina
«encontra a terra onde germinar e dar fruto» (São Agostinho); o que temos que
fazer é levantar a nossa moral e olhar o futuro com olhos de fé.
O êxito da colheita não se
encontra nas nossas estratégias humanas nem no marketing, mas na iniciativa
salvadora de Deus “rico em misericórdia” e na eficácia do Espírito Santo, que
pode transformar as nossas vidas para que demos frutos saborosos de caridade e
de contagiosa alegria.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«As obras boas que fazemos não
são nada se não somos capazes de suportar também pacientemente os males. Quanto
mais ascende alguém na perfeição, tanto mais cresce contra ele a adversidade do
mundo» (São Gregório Magno)
«A palavra de Deus faz um caminho
dentro de nós, A escutamos com os ouvidos e passa ao coração; não permanece nos
ouvidos, deve ir ao coração; e do coração passa às mãos, às boas obras»
(Francisco)
«Mas esta “relação íntima e vital
que une a homem a Deus” pode ser esquecida, desconhecida e até explicitamente
rejeitada pelo homem. Tais atitudes podem ter origens diversas a revolta contra
o mal existente no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosa, as
preocupações do mundo e das riquezas, o mau exemplo dos crentes, as correntes
de pensamento hostis à religião e, finalmente, a atitude do homem pecador que,
por medo, se esconde de Deus e foge quando Ele o chama» (Catecismo da Igreja
Católica, n° 29)
Reflexão
* Contexto. A partir do
capítulo 12, aparece uma oposição entre os líderes religiosos de Israel, os
escribas e fariseus, de um lado, enquanto por outro lado, entre as multidões
que ouvem Jesus maravilhadas com suas ações prodigiosas, vai-se formando pouco
a pouco um grupo de discípulos de características ainda não definidas, mas que
segue a Jesus com perseverança. A doze destes discípulos Jesus dá o dom da sua
autoridade e de seus poderes; envia-os como mensageiros do reino e lhes dá
instruções exigentes e radicais (10,5-39). No momento da controvérsia com seus
adversários, Jesus reconhece a sua verdadeira parentela não vinha da carne
(mãe, irmãos), mas sim nos que o seguem, ouvem e fazem a vontade do Pai (12,46
-50). Este último relato nos permite imaginar que o público a quem Jesus dirige
a palavra é duplo: de um lado, os discípulos aos quais lhes concede conhecer os
mistérios do reino (13,11) e que são capazes de compreendê-los (13,50 ) e, por
outro lado, a multidão que parece estar privada desta compreensão profunda
(13,11.34-36). Às grandes multidões que se reúnem para ouvir Jesus é
apresentada em primeiro lugar a parábola do semeador. Jesus fala de uma semente
que cai na terra ou não. O seu crescimento depende do lugar onde ela cai, é
possível que seja impedida até o ponto de não dar frutos, como acontece nas
três primeiras categorias de terra: "o caminho" (lugar duro por causa
da passagem de homens e animais), "o terreno rochoso" (formada por
rochas), "cardos" (terra coberta de espinhos). No entanto, aquela que
cai na "boa terra" dá um fruto excelente ainda que em quantidades
diferentes. O leitor é orientado a prestar mais atenção ao fruto do grão que à
ação do semeador. Além disso, Mateus focaliza a atenção do público sobre a boa
terra e sobre fruto que ela é capaz de produzir excepcionalmente. A primeira
parte da parábola termina com uma advertência: “Aquele que tem ouvidos,
ouça." (v. 9), é uma chamada para a liberdade de ouvir. A palavra de Jesus
pode permanecer uma simples "parábola" para uma multidão incapaz de
entender, mas para aquele que se deixa conduzir por sua força pode revelar
"os mistérios do reino dos céus." O acolher a palavra de Jesus é o
que distingue os discípulos e a multidão anônima, a fé dos primeiros revela a
cegueira dos segundos e os empurra a buscar para além da parábola.
* Ouvir e compreender. É
sempre Jesus quem conduz os discípulos no caminho certo para a compreensão da
parábola. No futuro, será a Igreja a ser guiada através dos discípulos para a
compreensão da Palavra de Jesus. Na explicação da parábola, os dois verbos
"ouvir" e "entender" aparecem em 13,23: “A terra boa
semeada é aquele que ouve a palavra e a compreende." É na compreensão onde
o discípulo que ouve cada dia a Palavra de Jesus se distingue das multidões que
só a escutam ocasionalmente.
* Impedimentos à compreensão.
Jesus refere-se, principalmente, à resposta negativa que seus contemporâneos
dão à sua pregação do reino dos céus. Esta resposta negativa está ligada a
impedimentos de vários tipos. O terreno da beira do caminho é aquele que os
pedestres tornaram endurecido e aparece totalmente negativo: "Todo mundo
sabe que não serve para nada lançar a semente no caminho: não há as condições
necessárias para o crescimento. Depois as pessoas passam, pisoteiam e destroem
a semente. A semente não se lança em qualquer parte” (Carlos Mesters). Antes de
tudo está a responsabilidade pessoal do indivíduo: acolher a Palavra de Deus no
próprio coração; se ao contrário cai em um coração "endurecido",
teimoso em suas convicções e na indiferença, se oferece campo ao maligno que
acaba completar por completar esta atitude persistente de fechamento à Palavra
de Deus.
* O solo pedregoso. Se o
primeiro obstáculo é um coração insensível e indiferente, a imagem da semente
que cai sobre pedras, sobre rochas e entre os espinhos, indica o coração imerso
em uma vida superficial e mundana. Estes estilos de vida são a energia que
impedem que a Palavra dê frutos. Ele dá um vislumbre de ouvir, mas logo se
torna bloqueado, não só pelas provações e tribulações inevitáveis, mas também
para o envolvimento do coração nas preocupações e riqueza. A vida não profunda
e superficial provoca a instabilidade.
* A boa terra é o coração que
ouve e compreende a palavra; esta dá frutos. Esse desempenho é o trabalho
da Palavra em um coração acolhedor. Trata-se de uma compreensão dinâmica, que
se deixa envolver pela ação de Deus presente na Palavra de Jesus. A compreensão
da sua Palavra permanecerá inacessível se negligenciarmos o encontro com ele e
não o deixamos que dialogue conosco.
Para um confronto pessoal
1. A escuta da Palavra de
Deus, te leva à compreensão profunda ou permanece apenas como um exercício
intelectual?
2. És coração acolhedor e
disponível, dócil para chegar a uma compreensão plena da Palavra?
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