Leitura
(1 Pedro 3:18-20): Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por
todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no
corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos
em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente
nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a
saber, oito, foram salvas por meio da água.
Reflexão do Padre Paulo Ricardo
O Sábado Santo, por ser um dia “a-litúrgico”,
carece de um Evangelho próprio. A Igreja permanece hoje em silêncio, velando
junto ao túmulo em que jaz, à espera da Ressurreição, o santíssimo Corpo de seu
Mestre. Neste dia, porém, tradicionalmente se recorda uma verdade de fé que, de
modo geral, não costuma ser um tema muito recorrente em nossa meditação: a
descida de Cristo à mansão dos mortos para ali pregar a Boa-nova. Além de estar
presente no Credo, esta verdade é insinuada também por S. Pedro, em cuja
primeira epístola lemos que que, depois de padecer e morrer, o Senhor “foi
pregar aos espíritos que eram detidos no cárcere” (1Pd 3, 19), isto é, “aos
mortos, para que, embora sejam condenados em sua humanidade de carne, vivam
segundo Deus quanto ao espírito” (1Pd 4, 6). Esse período do Sábado Santo
corresponde, pois, ao momento em que a Alma de Cristo, desprendida do Corpo,
quis viver o que nós viveremos depois da morte, enquanto aguardamos a chegada
do Fim dos Tempos: os que se salvam, com efeito, são admitidos à presença de
Deus, enquanto os seus corpos permanecem neste mundo até que o Filho de Deus
retorne para julgar-nos a todos. Ora, as almas dos justos do Antigo Testamento
aguardavam que as portas do céu finalmente lhes fossem abertas, e foi para
consolá-las e infundir-lhes a luz da glória que o Salvador desceu com sua Alma
àquele cárcere temporário, em que estavam retidos os que nele haviam crido e
esperado. No Fim dos Tempos, as almas deste justos, assim como as nossas — se
assim Deus for servido —, ver-se-ão unidas novamente a seus corpos,
configurando-se plenamente a Cristo ressuscitado. Na firme esperança da
Ressurreição de Nosso Senhor, vivamos santamente este Sábado de silêncio e, na
noite de hoje, deixemo-nos invadir de alegria pela vitória de Cristo sobre a
morte. Que Ele se digne associar-nos à sua Páscoa gloriosa.
«---»
Reflexão do P. Jacques PHILIPPE (Cordes
sur Ciel, França)
Hoje, não meditamos nenhum
evangelho em particular, dado que é um dia que carece de liturgia. Mas, com
Maria, a única que permaneceu firme na fé e na esperança depois da trágica
morte de seu Filho, preparamo-nos, no silêncio e na oração, para celebrar a
festa da nossa libertação em Cristo, que é o cumprimento do Evangelho.
A coincidência temporal dos
acontecimentos entre a morte e a ressurreição do Senhor e a festa judaica anual
da Páscoa, memorial da libertação da escravidão no Egipto, permite compreender
o sentido libertador da cruz de Jesus, novo cordeiro pascal, cujo sangue nos
preserva da morte.
Outra coincidência no tempo,
menos assinalada, porém sem dúvida muito rica em significado, é a que existe
com a festa judaica semanal do “Sabbat”. Esta começa na tarde de sexta-feira,
quando a mãe de família acende as luzes em cada casa judia, terminando no
sábado de tarde. Recordando que depois do trabalho da criação, depois de ter
feito o mundo do nada, Deus descansou no sétimo dia. Ele quis que também o
homem descanse no sétimo dia, em ação de graças pela beleza da obra do Criador,
e como sinal da aliança de amor entre Deus e Israel, sendo Deus invocado na
liturgia judaica do Sabbat como o esposo de Israel. O Sabbat é o dia em que se
convida cada um a acolher a paz de Deus, o seu “Shalom”.
Deste modo, depois do doloroso
trabalho da cruz, «em que o homem é forjado de novo» segundo a expressão de
Catarina de Sena, Jesus entra no seu descanso no mesmo momento em que se
acendem as primeiras luzes do Sabbat: “Tudo está realizado” (Jo 19,30). Agora
completou-se a obra da nova criação: o homem, antigo prisioneiro do nada do
pecado, converte-se numa nova criatura em Cristo. Uma nova aliança entre Deus e
a humanidade, que nada poderá jamais romper, acaba de ser selada, já que
doravante toda a infidelidade pode ser lavada no sangue e na água que brotam da
cruz.
Diz a Carta aos Hebreus: «Por
isso, resta um repouso sabático para o povo de Deus» (Hb 4,9). A fé em Cristo a
ele nos dá acesso. Que o nosso verdadeiro descanso, a nossa paz profunda, não a
de um só dia, mas para toda a vida, seja uma esperança total na infinita
misericórdia de Deus, de acordo com o convite do Salmo 16: «A minha carne
descansará na esperança, pois tu não entregarás a minha alma ao abismo». Que
nos preparemos com um coração novo para celebrar na alegria as bodas do
Cordeiro e nos deixemos desposar plenamente pelo amor de Deus manifestado em
Cristo.
«---»
Reflexão do Pe. Joan BUSQUETS i
Masana (Sabadell, Barcelona, Espanha)
Hoje, propriamente, não há
“evangelho” para meditar ou —melhor— deveríamos meditar todo o Evangelho em
maiúscula (a Boa Nova), porque todo ele desemboca no que hoje recordamos: a
entrega de Jesus à Morte para ressuscitar e dar-nos uma Vida Nova.
Hoje, a Igreja não se separa do
sepulcro do Senhor, meditando sua Paixão e sua Morte. Não celebramos a
Eucaristia até que haja terminado o dia, até amanhã, que começará com a Solene
Vigília da ressurreição. Hoje é dia de silêncio, de dor, de tristeza, de
reflexão e de espera. Hoje não encontramos a Reserva Eucarística no sacrário.
Há só a lembrança e o símbolo de seu “amor até o extremo”, a Santa Cruz que
adoramos devotamente.
Hoje é o dia para acompanhar
Maria, a mãe. Devemos acompanhá-la para poder entender um pouco o significado
deste sepulcro o qual velamos. Ela, que com ternura e amor guardava em seu
coração de mãe os mistérios que não acabava de entender daquele Filho que era o
Salvador dos homens, está triste e sofrendo: «Ela veio para a sua casa, mas os
seus não a receberam» (Jo 1,11). É também a tristeza da outra mãe, a Santa
Igreja, que sofre pela rejeição de tantos homens e mulheres que não acolheram
Aquele que para eles era a Luz e a Vida.
Hoje, rezando com estas duas
mães, o seguidor de Cristo reflete e vai repetindo a antífona da pregaria das
Laudes: «Cristo humilhou-se a si mesmo tornando-se obediente até a morte e
morte de cruz! «Por isso o exaltou grandemente e lhe deu o Nome que está acima
de qualquer outro nome» (cf. Flp 2,8-9).
Hoje, o fiel cristão escuta a
Homilia Antiga sobre o Sábado Santo que a Igreja lê na liturgia do Ofício de
Leitura: «Hoje há um grande silêncio na terra. Um grande silêncio e solidão. Um
grande silêncio porque o Rei dorme. A terra se estremeceu e se ficou imóvel
porque Deus está dormindo em carne e ressuscitou aos que dormiam há séculos.
“Deus morreu na carne e despertou os do abismo».
Preparemo-nos com Nossa Senhora
da Soledade para viver a explosão da Ressurreição e para celebrar e proclamar
—quando se acabe este dia triste— com a outra mãe, a Santa Igreja: Jesus
ressuscitou tal como o havia anunciado! (cf. Mt 28,6).
Pensamentos para o Evangelho de
hoje
«Que ideia de Deus tivesse podido
ante se formar o homem, que não fosse um ídolo fabricado por seu coração? Era
incompreensível e inaccessível, invisível e superior a tudo pensamento humano;
mas agora tem querido ser compreendido. De qual jeito? Você se pergunta. Pois
estando numa manjedoura, predicando na montanha, passando a noite em oração, o
bem colgando da cruz... » (São Bernardo)
«A treva divina desse dia, deste
século, que se converte cada vez mais num sábado santo, fala a nossas
consciências. Tem em si algo consolador porque a morte de Deus em Jesus Cristo
é, ao mesmo tempo, expressão de sua solidariedade radical conosco. O mistério
mais obscuro da fé é, simultaneamente, a sinal mais brilhante duma esperança
sem fronteiras» (Bento XVI)
«A morte de Cristo foi uma
verdadeira morte, na medida em que pôs fim a sua existência humana terrena. Mas
por causa da união que a Pessoa do Filho manteve com o seu corpo, este não se
torneou um despojo mortal como os outros, porque “não era possível que Ele
ficasse sob o domínio” da morte (At 2,24) (...). A ressurreição de Jesus “ao
terceiro dia” (1 Cor 15, 4) era disso sinal, até porque se julgava que a
corrupção começava a manifestar-se a partir do quarto dia» (Catecismo da Igreja
Católica, n° 627)
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