Santa
Cecilia, virgem e mártir
1ª
Leitura (Ap 14,14-19): Eu, João, vi uma nuvem branca, sobre a qual
estava sentado Alguém, semelhante a um filho do homem, com uma coroa de ouro na
cabeça e uma foice afiada na mão. Saiu do templo outro Anjo, que clamava com
voz forte para Aquele que estava sentado sobre a nuvem: «Mete a tua foice e
ceifa; chegou a hora de ceifar, porque a seara da terra está madura». Então o
que estava sentado sobre a nuvem lançou a foice à terra, e a terra foi ceifada.
Depois saiu do templo celeste outro Anjo, que também tinha uma foice afiada. Do
altar veio ainda outro Anjo, que tinha poder sobre o fogo, e gritou com voz
forte para aquele que tinha a foice afiada: «Mete a tua foice afiada e vindima
os cachos da vinha da terra, porque as uvas estão maduras». O Anjo lançou a
foice à terra, vindimou a vinha da terra e lançou as uvas no grande lagar da
ira de Deus.
Salmo
Responsorial: 95
R. O Senhor vem julgar a
terra.
Proclamai entre os povos: «O Senhor é Rei». Sustenta o mundo e ele não vacila, governa os povos com equidade.
Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores das florestas.
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra. Julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade.
Aleluia. Sê fiel até à morte,
diz o Senhor, e dar-te-ei a coroa da vida. Aleluia.
«Não ficará pedra sobre pedra»
+ Rev. D. Antoni ORIOL i Tataret (Vic,
Barcelona, Espanha)
Hoje, escutamos com assombro a
severa advertência do Senhor: «Admirais essas coisas? Dias virão em que não
ficará pedra sobre pedra» (Lc 21,6). Essas palavras de Jesus situam-se nas
antípodas de uma denominada “cultura do progresso indefinido da humanidade”,
ou, se preferimos, de uns quantos cabecilhas técnico-científicos e
político-militares da espécie humana, em evolução imparável.
Desde onde? Até onde? Ninguém
sabe, nem pode saber, com excepção, em última análise, de uma suposta matéria
eterna que nega Deus, usurpando-o dos Seus atributos. Como tentam fazer-nos
comungar com rodas de moinho aqueles que recusam comungar com a finitude e
precariedade próprias da condição humana!
Nós, os discípulos do Filho de
Deus feito homem, de Jesus, escutamos as Suas palavras e, fazendo-as muito
nossas, meditamos nelas. Eis que nos diz: «Cuidado para não serdes enganados»
(Lc 21,8). Quem no-lo diz é Aquele que veio para dar testemunho da verdade,
afirmando que aqueles que são da verdade escutam a Sua voz.
E também nos garante: «Não será logo o fim» (Lc 21,9). O que, por um lado, quer dizer que dispomos de um tempo de salvação e que nos convém aproveitá-lo; e, por outro lado, que, de qualquer modo, o fim virá. Sim, Jesus virá «julgar os vivos e os mortos», como professamos no Credo.
Leitores de Meditando o Evangelho de hoje, queridos irmãos e amigos: em uns versículos mais adiante, do fragmento que agora comento, Jesus anima-nos e consola-nos com estas palavras que, em Seu nome, vos repito: «É pela vossa perseverança que conseguireis salvar a vossa vida!» (Lc 21,19).
Respondendo com a energia de um hino cristão, exortamo-nos uns aos outros: «Perseveremos, pois já tocamos o Céu com a mão!»
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* No evangelho de hoje começa
o último discurso de Jesus, chamado Discurso Apocalíptico. É um longo
discurso, que será o assunto dos evangelhos dos próximos dias até o fim desta
última semana do ano eclesiástico. Para nós do Século XXI, a linguagem
apocalíptica é estranha e confusa. Mas para o povo pobre e perseguido das
comunidades cristãs daquele tempo era a fala que todos entendiam e cujo
objetivo principal era animar a fé e a esperança dos pobres e oprimidos. A
linguagem apocalíptica é fruto da teimosia da fé destes pobres que, apesar das
perseguições e contra todas as aparências em contrário, continuavam a crer que
Deus estava com eles e que Ele continuava sendo o Senhor da história.
* Lucas 21,5-7: Introdução ao Discurso
Apocalíptico. Nos dias anteriores ao Discurso Apocalíptico, Jesus tinha
rompido com o Templo (Lc 19,45-48), com os sacerdotes e os anciãos (Lc
20,1-26), com os saduceus (Lc 20,27-40), com os escribas que exploravam as
viúvas (Lc 20,41-47) e no fim, como vimos no evangelho de ontem, terminou
elogiando a viúva que deu em esmola tudo que possuía (Lc 21,1-4). Agora, no
evangelho de hoje, ouvindo como “algumas pessoas comentavam sobre o Templo,
enfeitado com pedras bonitas e com coisas dadas em promessa”, Jesus responde
anunciando a destruição total do Templo: "Vocês estão admirando essas
coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído." Ouvindo este comentário de Jesus, os
discípulos perguntam: "Mestre, quando vai acontecer isso? Qual será o
sinal de que essas coisas estarão para acontecer?" Eles querem mais informação. O Discurso
Apocalíptico que segue é a resposta de Jesus a esta pergunta dos discípulos
sobre o quando e o como da destruição do
Templo. O evangelho de Marcos informa o seguinte sobre o contexto em que Jesus
pronunciou este discurso. Ele diz que Jesus tinha saído da cidade e estava
sentado no Monte das Oliveiras (Mc 13,2-4). Lá do alto do Monte ele tinha uma
visão majestosa sobre o Templo. Marcos informa ainda que havia só quatro
discípulos para escutar o último discurso. No início da sua pregação, três anos
antes, lá na Galileia, as multidões iam atrás de Jesus para escutar suas
palavras. Agora, no último discurso, há apenas quatro ouvintes: Pedro, Tiago,
João e André (Mc 13,3). Eficiência e bom resultado nem sempre se medem pela
quantidade!
* Lucas 21,8: Objetivo do discurso: "Não
se deixem enganar!" Os discípulos tinham perguntado: "Mestre,
quando vai acontecer isso? Qual será o sinal de que essas coisas estarão para
acontecer?” Jesus começa a sua resposta com uma advertência: "Cuidado para
que vocês não sejam enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: 'Sou
eu!' E ainda: 'O tempo já chegou'. Não sigam essa gente”. Em época de mudanças
e de confusão sempre aparecem pessoas que querem tirar proveito da situação
enganando os outros. Isto acontece hoje e estava acontecendo nos anos 80, época
em que Lucas escreve o seu evangelho. Diante dos desastres e guerras daqueles
anos, diante da destruição de Jerusalém do ano 70 e diante da perseguição dos
cristãos pelo império romano, muitos pensavam que o fim dos tempos estivesse
chegando. Havia até gente que dizia: “Deus já não controla mais os fatos!
Estamos perdidos!” Por isso, a preocupação principal dos discursos
apocalípticos é sempre a mesma: ajudar as comunidades a discernir melhor os
sinais dos tempos para não serem enganadas pelas conversas do povo sobre o fim do
mundo: "Cuidado para que vocês não sejam enganados!". Em seguida, vem
o discurso que oferece sinais para ajudá-los no discernimento e, assim,
aumentar neles a esperança.
3. Lucas 21,9-11: Sinais para
ajudar a ler os fatos. Depois desta breve introdução, começa o discurso
propriamente dito: “Quando vocês ouvirem falar de guerras e revoluções, não
fiquem apavorados. Primeiro, essas coisas devem acontecer, mas não será logo o
fim." E Jesus continuou: "Uma nação lutará contra outra, um reino contra
outro reino. Haverá grandes terremotos, fome e pestes em vários lugares. Vão
acontecer coisas pavorosas e grandes sinais vindos do céu.". Para entender
bem estas palavras, é bom lembrar o seguinte. Jesus vivia e falava no ano 33.
Os leitores de Lucas viviam e escutavam no ano 85. Ora, nos cinquenta anos
entre o ano 33 e o ano 85, a maioria das coisas mencionadas por Jesus já tinham
acontecido e eram do conhecimento de todos. Por exemplo, em várias partes do
mundo havia guerras, apareciam falsos messias, surgiam doenças e pestes e, na
Ásia Menor, os terremotos eram frequentes. Num estilo bem apocalíptico, o
discurso enumera todos estes acontecimentos, um depois do outro, como sinais ou
como etapas do projeto de Deus em andamento na história do Povo de Deus, desde
a época de Jesus até o fim dos tempos:
1º
sinal: os falsos messias (Lc
21,8);
2º
sinal: guerra e revoluções (Lc
21,9);
3º
sinal: nação lutará contra outra
nação, um reino contra outro reino (Lc 21,10);
4º
sinal: terremotos em vários
lugares (Lc 21,11);
5º
sinal: fome, peste e sinais no
céu (Lc 21,11);
Até aqui vai o evangelho de hoje.
O evangelho de amanhã traz mais um sinal: a perseguição das comunidades cristãs
(Lc 21,12). O evangelho de depois de amanhã traz mais dois sinais: a destruição
de Jerusalém e o início da desintegração da criação. Assim, por meio destes
sinais do Discurso Apocalíptico, as comunidades dos anos oitenta, época em que
Lucas escreve o seu evangelho, podiam calcular a que altura se encontrava a
execução do plano de Deus, e descobrir que a história não tinha escapado da mão
de Deus. Tudo estava conforme tinha sido previsto e anunciado por Jesus no Discurso
Apocalíptico.
Para um confronto pessoal
1. Qual o sentimento que
você teve durante a leitura deste evangelho de hoje? De medo ou de paz?
2. Você acha que o fim do
mundo está próximo? O que responder aos que dizem que o fim do mundo está
próximo? O que, hoje, anima o povo a resistir e ter esperança?
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