Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.
Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacó.
Evangelho (Mt 1,18-24): Ora, a origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente. Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: «José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados». Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: « Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: ‘Deus-conosco’». Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa.
É padroeiro e intercessor para todos os pais, biológicos ou não, que neste mundo ajudaram a seus filhos a dar uma resposta semelhante à de ele. É o padroeiro da Igreja, como identidade ligada estreitamente ao seu Filho e, continuamos a ouvir as palavras de Maria quando encontra o Menino Jesus que se havia “perdido” no Templo: «O teu pai e eu...» (Lc 2,48).
Com Maria, nossa Mãe, encontramos a José como pai. Santa Teresa de Jesus deixou escrito: «Tomei por advogado e senhor ao glorioso são José e encomendei-me muito a ele (...). Não me lembro que lhe haja suplicado alguma coisa que a haja deixado de fazer».
Especialmente é pai para aqueles que tendo escutado a chamada do Senhor a ocupar, pelo ministério sacerdotal, o lugar que nos cede Jesus Cristo para o bem da Igreja. —São José glorioso: protege as nossas famílias, protege as nossas comunidades; protege a todos aqueles que ouviram a chamada à vocação sacerdotal... E que haja muitos.
O reconhecimento da messianidade de Jesus segue o mesmo processo que seguiu a sua passagem terrestre. Dele se diz que se fez «carne». Nesse sentido, em termos bíblicos, ao contrário do que possa parecer, não há necessariamente antagonismo entre «carne» e «espírito». Esta dicotomia, que persiste ainda nossa cultura de índole judaico-cristã, é muito mais de origem grega do que de origem bíblica. À cultura chamada «ocidental» chegou e lançou raízes esta divisão do homem em matéria e espírito. Mas a visão bíblica não é bem essa. Para a Bíblia, o homem é ao mesmo tempo matéria e espírito. O que, de resto, até é compreensível e defensável em teoria segundo os parâmetros da cultura bíblica.
Quando deparamos nas páginas bíblicas com o binómio «carne-espírito», não se trata necessária e propriamente duma contraposição e muito menos duma oposição, mas sim duma constatação que diz respeito à totalidade do homem como tal. Esses termos não têm que ser entendidos necessariamente no seu sentido imediato, mas sim como uma espécie de estado de alma. Ou seja, o homem «carnal» é aquele (matéria e espírito) cuja existência é pautada por tudo aquilo que conduz à morte; e o homem «espiritual» é aquele (matéria e espírito) cuja existência é pautada por tudo aquilo que conduz à vida.
Por isso, quando lemos no evangelista João, logo no prólogo do seu Evangelho (cf. Jo 1,14), que o «Verbo se fez carne», devemos entender simplesmente que o Verbo assumiu a natureza humana (tornou-se um ser humano, material e espiritual ao mesmo tempo), para restituir novamente ao homem a sua situação de «espírito», no sentido de lhe transmitir de novo aquele gérmen de vida que o liberta dos laços que o prendem à morte.
* Jesus: Filho de Deus e filho do homem. Mas, deixando de parte estas considerações filosofejantes que, se calhar, pouco interesse têm para o teor destes comentários, importa realçar a condição do Verbo simultaneamente como Filho de Deus e como filho do homem (ser humano). É enquanto tal que o Verbo estabelece a ponte entre Deus e os homens. Com efeito, Ele sempre foi Deus desde toda a eternidade (como professa S. João no prólogo do seu Evangelho), mas foi também plenamente homem, porque, a partir e durante um determinado período histórico, Ele assumiu também todos os condicionalismos inerentes à natureza humana.
É que, bem-vistas as coisas, tenho por certo que só pode estabelecer esta ponte de contacto entre o Infinito e o finito alguém que seja ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem (como, de resto, se aprende na catequese). O finito (natureza humana compreendida naturalmente), por mais perfeito que seja, nunca poderá ter a capacidade de estabelecer contacto com o Infinito. Isso só é possível, de facto, se o próprio Infinito tomar a decisão de estabelecer esse contacto. «Nascido da descendência de David, segundo a carne, e constituído Filho de Deus... pela ressurreição de entre os mortos» (Rm 1,3-4) é uma outra forma de Paulo traduzir a mesma ideia.
Em conclusão, o evangelista Mateus utiliza vários instrumentos, digamos assim, para nos transmitir que, afinal, o nascimento de Jesus (que significa «o Senhor salva» e, por isso mesmo, Salvador) se insere naquilo a que teologicamente se designa por «mistério da Encarnação». Por outras palavras, o próprio Deus faz-se «sócio» e companheiro de viagem, encarnando na pessoa de Jesus de Nazaré, nascido de Maria e perfilhado por José.
* Obra-prima de Deus. As razões ou desígnios por que Deus se «dá ao trabalho» de prescindir, por assim dizer, de todas as suas prerrogativas divinas (cf. Fl 2,7), para se fazer um de nós, eu não os compreendo. O que posso é suspeitar de que tenha sido por amor (e o amor, capaz de fazer coisas impossíveis, não se explica). Mas duma coisa estou absolutamente certo: Deus até pode fazer o impossível (passe a expressão contraditória) porque «a Deus nada é impossível» (cf. Lc 1,37).
Ora, se, baseado na fé, eu partir do princípio de que a Deus nada é impossível, então não vejo por que lhe seria impossível fazer-se também homem e, mais, também não custa nada a admitir que o pudesse fazer pela colaboração e pelo «sim» duma Virgem que, apesar de ser mãe, não deixa de ser virgem. Partindo desse princípio como premissa, é claro que a Deus não é impossível fazer com que uma virgem seja mãe, sem por isso deixar de ser virgem. É claro que, em linha de princípio, Ele também poderia ter encarnado através dum processo normal de gestação. Não haveria no caso nenhuma impossibilidade ontológica, digamos assim. Isso é certo, mas que melhor forma de Deus acentuar a sua intervenção absolutamente excecional na história da humanidade senão também através dum nascimento por via excecional, como é o que se celebra com a festa do Natal de Jesus?
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