São
João de Capistrano, presbítero
1ª
Leitura (Si 35,12-14.16-18): O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas.
Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não
despreza a súplica do órfão, nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será
bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as
nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o
Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.
Salmo Responsorial: 33
R. O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
A toda a hora bendirei o Senhor, o seu louvor estará sempre na minha boca. A minha alma gloria-se no Senhor: escutem e alegrem-se os humildes.
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal, para apagar da terra a sua memória. Os justos clamaram e o Senhor os ouviu, livrou-os de todas as angústias.
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado e salva os de ânimo abatido. O Senhor defende a vida dos seus servos, não serão castigados os que n’Ele confiam.
2ª Leitura (2Tim 4,6-8.16-18): Caríssimo: Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado: todos me abandonaram. Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amém.
Aleluia. Deus estava em Cristo
reconciliando o mundo consigo e confiou-nos a palavra da reconciliação.
Aleluia.
«Meu Deus, tem compaixão de
mim…»
Rev. D. Joan Pere PULIDO i
Gutiérrez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)
Hoje lemos com atenção e novidade
o Evangelho de São Lucas. Uma parábola dirigida aos nossos corações. Umas
palavras de vida para desvendar nossa autenticidade humana e cristã, que se
fundamenta na humildade de sabermos nos pecadores («Meu Deus, tem compaixão de
mim…»: Lc 18,13), e na misericórdia e bondade de nosso Deus («Pois quem se
exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado»: Lc 18,14).
A autenticidade é, hoje mais que nunca,
uma necessidade para descobrirmos nos mesmos e ressaltar a realidade
libertadora de Deus em nossas vidas e em nossa sociedade. É a atitude adequada
para que a Verdade de nossa fé chegue, com toda a sua força, ao homem e à
mulher de hoje. Três eixos integram esta autenticidade evangélica: a firmeza, o
amor e a sensatez (cf. 2Tim 1,7).
A firmeza para conhecer a Palavra
de Deus e mantê-la em nossas vidas, apesar das dificuldades. Especialmente em
nossos dias, temos que por atenção neste ponto, porque há muito autoengano no
ambiente que nos rodeia. São Vicente de Lerins nos advertia: «Apenas começa a estender-se
a podridão de um novo erro e este, para se justificar, apodera-se de alguns
versículos da Escritura, que além interpreta com falsidade e fraude»
E, finalmente, sensatez, para transmitir esta Verdade com a linguagem de hoje, encarnando realmente a Palavra de Deus em nossa vida: «Crerão em nossas obras mais que em qualquer outro discurso» (São João Crisóstomo).
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Não tenhamos de modo algum a presunção de que vivemos em retidão e sem pecado. O que testemunha a favor da nossa vida é o reconhecimento das nossas faltas» (Santo Agostinho)
«Não basta perguntar-nos quanto tempo rezamos, é preciso perguntar-nos também como rezamos. Eu pergunto: pode-se rezar com arrogância? Não. É possível orar com hipocrisia? Não. Devemos rezar apenas colocando-nos diante de Deus, tal como somos» (Francisco)
«‘A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes’. De onde é que falamos, ao orar? Das alturas do nosso orgulho e da nossa vontade própria, ou das ‘profundezas’ (Sl 130, 1) dum coração humilde e contrito? Aquele que se humilha é que é elevado. A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um “mendigo de Deus”» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.559)
O publicano voltou para casa
justificado, ao contrário do fariseu.
Escrito por P. Américo no site
Domus Iesu
O sentido e a lição moral são tão
óbvios que não ocorre fazer grandes comentários a esta parábola, que tem por
protagonistas um fariseu e um publicano. Pela enésima vez, Jesus afirma
claramente que, no relacionamento com Deus, o mais importante é o coração ou,
como se dizia também antes, a reta intenção. E, nesse aspecto, a parábola
continua a ter validade, porque nós, como no tempo de Jesus, corremos sempre o
risco de pensar que podemos apresentar a Deus a fatura das nossas boas obras e
que podemos exigir com ela tudo e mais alguma coisa, ao mesmo tempo que não nos
ensaiamos muito para colocar abaixo de cão - passe a expressão pouco elegante -
todos os outros. Afinal, a «justificação» é sobretudo um dom de Deus e tem mais
raízes no coração do que propriamente na quantidade de coisas que a gente possa
apresentar. Tudo isto me faz pensar que o acento da parábola deve colocar-se,
não tanto na oração humilde daquele que se declara pecador, mas sim na
misericórdia de Deus. A misericórdia de Deus tornou-se realmente visível em
Jesus que «veio procurar e salvar o que estava perdido» (cf. Lc 19,10).
A primazia da sinceridade. No
capítulo dezoito do seu Evangelho, Lucas pretende resumir a grande mensagem de
Jesus sobre a oração. Mas, como bom narrador que é, não dá ao que escreve uma
forma abstrata. Prefere organizar o seu material em forma de gestos e
pormenores, em cenas que chamem a atenção e fiquem impressas na mente dos
leitores.
A perseverança na oração é
descrita pela parábola do juiz e da viúva (veja-se domingo anterior); a
sinceridade e retidão de intenções traduzem-se na parábola do fariseu e do
publicano (a parábola de hoje); e a abertura filial dos homens perante o mistério
de Deus é condensada na sentença de Jesus sobre as crianças (que é o que vem a
seguir ao texto evangélico de hoje).
É necessário orar sempre. Mas não
basta orar externamente; não bastam os ritos legais. E é por isso que não é
necessário estar sempre em «pose» de oração. O que é preciso é que a oração
provenha do mais profundo do ser e seja radicalmente sincera. E a oração
sincera leva-nos a reconhecer que a nossa «justiça» depende fundamentalmente de
Deus. É esse o tema da parábola de hoje.
Com Ele, não valem as «peneiras». O fariseu vai ao Templo. Diz abertamente que, para si, a oração é importante. Não é que não diga! E reza. Não é que não pronuncie fórmulas de oração. Diz e faz coisas: isso não o podemos negar. Mas, as suas palavras e as suas atitudes são vazias. Ou melhor, estão cheias de vaidade e presunção. Na realidade, não é a Deus que ele procura, mas sim a sua própria grandeza; e procura sobretudo que Deus reconheça como ele é alguém a quem ninguém nada tem a apontar. Como se diria hoje (e até os políticos se fartam de o dizer) está de consciência tranquila.
Ao contrário, o publicano, diante de Deus, descobre-se confundido com a miséria e reconhece que sozinho não pode nada. E, nesse preciso momento, como que por encanto, deixa de ter importância o seu passado de pecador, porque quem importa é Deus. Não se pode, porém, esconder o facto de que, se está ali, naquela atitude de oração, provavelmente, no seu coração, já decidiu mudar de vida.
E importante é só esse facto: onde está um homem abandonado que decide levantar as mãos para Deus, implorando perdão e auxílio, aí se realiza a verdadeira oração. Deus não se deixa levar pelas aparências e, por isso, as atitudes de jactância, tão eficazes às vezes no relacionamento dos homens uns com os outros, não surtem efeito, ou, pior ainda, só surtem efeitos contrários. As «peneiras», passe a expressão, poderão eventualmente impressionar os mais incautos, mas não impressionam a Deus, porque diante dele não há «peneiras» que resistam.
Algumas conclusões a propósito
1. Segundo a óptica de Jesus, a oração como puro rito, mesmo que estritamente cumprido, passou para segundo plano. É certo que o fariseu observou com exatidão todas as prescrições da tradição sagrada de Israel. E é certo igualmente que, da parábola, resulta evidente que se trata dum homem que procura ser o melhor possível. Mas, apesar de todas as suas palavras, não chegou à realidade de Deus, ficando em si mesmo, com a sua «visão do mundo». O publicano, ao contrário, que percebe pouco de purezas ou fórmulas rituais, que não está em condições de apresentar a Deus nenhum mérito, está totalmente disponível para que Deus o ilumine e transforme. A parábola não esconde que é um pecador e, com maior razão, tratando-se dum publicano.
2. No campo da experiência cristã, a oração consiste em abrir-se, com Jesus, ao Pai, descobrindo que a nossa vida está cheia dos dons que o Pai nos oferece. Foi o que faltou ao fariseu: agradecer a Deus o bem que se esforçava por pôr em prática. Orar significa ter a certeza de que, no mais profundo de tudo, não é o eco da nossa voz que se repete, mas sim o do amor dum Pai que se inclina para a nossa súplica e nos ama.
3. É certo que a existência contingente do homem não tem necessidade da oração da mesma forma que tem das coisas materiais como a água e o ar para subsistir. Mas a verdade é que, na óptica cristã, o homem não é apenas contingência. E é na oração que ele descobre a sua outra dimensão que não está sujeita às contingências do espaço e do tempo. É na oração que ele descobre a sua intimidade como ser totalmente dependente de Deus. É a partir dessa base que ele se sente tão disponível que, nessa circunstância, até é capaz de aceitar poder ser amado pelo próprio Deus, que enviou o seu Filho unigénito para que todos os que nele acreditam não pereçam, mas se salvem (cf. Jo 3,15).
A fé «justifica» o homem. A
parábola do fariseu e do publicano (que diretamente trata da oração) apresenta
duas maneiras de conceber o homem: aquele que se compraz consigo próprio por
estar isento de toda a espécie de pecado (assim contradizendo a própria
mensagem bíblica que diz que todos somos pecadores) e pelo mérito das suas boas
obras, em virtude das quais se julga justificado e «exige» de Deus a
recompensa; e aquele que está consciente das suas culpas e de não ter méritos
diante de Deus e que, por isso mesmo, põe nas mãos dele toda a sua miséria.
Ora bem, se, de acordo com o
juízo de Jesus, o publicano é justificado e o fariseu é reprovado, então
salva-se não aquele que confia nas suas obras e no mérito das suas virtudes,
mas aquele que tem fé suficiente em Jesus, que é dom por excelência, o dom
igual ao Pai, que é dado à humanidade. Não porque as obras não interessem, mas
sim na medida em que é essencial reconhecer que essas obras são em si já a
consequência do impulso de Deus sempre presente.
É esse o motivo por que a fé em
Jesus Cristo salva. Quem acredita nele, quem O aceita como o enviado de Deus
acredita naquele que O enviou e aceita que Deus lhe possa encher o coração que
se esvaziou de si mesmo e que está consciente da sua dependência total do
Criador.
Fé: fonte de vida nova. O homem é «justificado» pela fé em Jesus, que lhe dá acesso, digamos assim, ao privilégio da filiação divina. Esse dom torna-se, assim, no homem, fonte duma atividade filial, chamemos-lhe assim, que o leva a cumprir a vontade do Pai, que está nos céus.
Paulo, «defensor» da justificação mediante a fé, é também a grande testemunha da vida nova que desabrocha do fato de se pertencer a Cristo. Se é verdade que a fé sem obras é morta (cf. Tg 2, 14ss), não deixa de ser verdade também que as obras sem fé em Jesus (pelo menos implicitamente) têm todo o valor que quisermos, mas não têm valor salvífico.
Já perto da morte (2ª leitura), Paulo reflete sobre o passado e conclui, talvez deixando-se levar pelo exagero e pelo pessimismo, que a sua experiência foi um falhanço sob o ponto de vista humano: todos o abandonaram e em tribunal ninguém o defendeu. Ninguém o defendeu... não! Ele «conservou a fé» e foi fiel a Jesus até ao fim. Mas, apesar do seu falhanço, ele acredita que o Senhor, na sua misericórdia, lhe dará o prémio da justificação (repare-se que ele não se refere a qualquer prémio de merecimento).
Hoje, a autossuficiência farisaica tem outros nomes. Mas a substância é a mesma. No fundo, não é senão a convicção de que o homem possa salvar-se como homem apelando simplesmente aos recursos de que dispõe. Quer dizer, o homem está convencido de que se pode salvar mediante o recurso à ciência e à técnica, à política, à arte, etc. Poderá eventualmente salvar-se, mas salvar-se como? Depende do que se entende realmente por salvação!
É evidente que a salvação que Jesus Cristo traz não é antagónica da salvação humana, porque é uma «ordem » do Senhor que o homem trabalhe e domine a terra, mas daí a concluir que a salvação humana seja salvação total vai uma diferença abismal.
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