S.
Martinho de Lima, religioso
1ª
Leitura (Flp 3,3-8a): Irmãos: Os verdadeiros circuncidados somos nós,
que prestamos culto a Deus segundo o seu Espírito e nos gloriamos em Jesus
Cristo, sem confiarmos na carne. É verdade que eu também poderia confiar na
carne. Se alguém julga poder gloriar-se na carne, poderia eu com maior razão:
Fui circuncidado aos oito dias, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim,
hebreu filho de hebreus. Quanto à Lei judaica, era fariseu; quanto ao zelo, era
perseguidor da Igreja; quanto à justiça segundo a Lei, vivia
irrepreensivelmente. Mas tudo isso, que era para mim lucro, considerei-o como
perda por causa de Cristo. Mais ainda: considero todas as coisas como prejuízo,
comparando-as com o bem supremo, que é o conhecimento de Jesus Cristo, meu
Senhor. Por Ele, renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para
ganhar Cristo.
R. Exulte o coração dos que procuram o Senhor.
Cantai salmos e hinos ao Senhor, proclamai todas as suas maravilhas. Gloriai-vos no seu nome santo, exulte o coração dos que procuram o Senhor.
Procurai o Senhor e o seu poder, buscai sempre a sua face. Recordai as suas maravilhas, os seus prodígios e os oráculos da sua boca.
Vós, descendentes de Abraão, seu servo, filhos de Jacob, seu eleito, o Senhor é o nosso Deus e as suas sentenças são lei em toda a terra.
Aleluia. Vinde a Mim, vós
todos que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei, diz o Senhor.
Aleluia.
«Haverá no céu alegria por um
só pecador que se converte»
Rev. D. Francesc NICOLAU i Pous (Barcelona,
Espanha)
Hoje, o evangelista da
misericórdia de Deus nos expõe duas parábolas de Jesus que iluminam a conduta
divina para com os pecadores que regressam ao bom caminho. Com a imagem tão
humana da alegria, nos revela a bondade de Deus que se alegra com o retorno de
quem havia se afastado do pecado. É como um retorno à casa do Padre (como dirá
mais explicitamente em Lc 15,11-32). O Senhor não veio para condenar o mundo, e
sim para salvá-lo (cf. Jo 3,17), e fez tudo isso acolhendo aos pecadores que
com plena confiança. «Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para
ouvi-lo» (Lc 15,1), já que Ele lhes curava a alma como um médico cura o corpo
dos enfermos (cf. Mt 9,12). Os fariseus eram tidos como boas pessoas e não
sentiam necessidade do médico, e por eles -disse o evangelista- que Jesus
propôs as parábolas que hoje lemos.
Se nós nos sentimos
espiritualmente enfermos, Jesus nos atenderá e se alegrará de que acudamos a
Ele. Contudo, se nós, como os orgulhosos fariseus pensássemos que não era
necessário pedir perdão, o Médico divino não poderia obrar em nós. Sentirmos
pecadores, o faremos cada vez que recitamos o Pai Nosso, pois ao rezar dizemos
«perdoa nossas ofensas...». e quanto devemos agradecer que o faça! Quanto
agradecimento também devemos sentir pelo sacramento da reconciliação que pôs ao
nosso alcance tão compassivamente! Que a soberbia não nos faça menosprezar.
Santo Agostinho nos disse que Jesus Cristo, Deus Homem, nos deu exemplo de
humildade para curar-nos do tumor da soberbia, «já que grande miséria é o homem
soberbo, mas maior é a misericórdia de Deus humilde».
Digamos ainda que a lição que Jesus dá aos fariseus é exemplar também para nós; não podemos nos afastar de nós os pecadores. O Senhor quer que nos amemos como Ele nos amou (cf. Jo 13,34) e devemos sentir grande gozo quando possamos levar uma ovelha errante ao redil ou recobrar uma moeda perdida.
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Nisto reside a maravilhosa misericórdia de Deus para conosco: em que Cristo não morreu pelos justos ou pelos santos, mas pelos pecadores e pelos ímpios» (São Leão Magno)
«O bom pastor, o bom cristão sai, está sempre de saída: sai de si mesmo, sai para Deus, na oração, na adoração; ele está a serviço dos outros para levar a mensagem da salvação» (Francisco)
«Os ministros ordenados são também responsáveis pela formação na oração dos seus irmãos e irmãs em Cristo. Servos do Bom Pastor, são ordenados para guiar o povo de Deus até às fontes vivas da oração: a Palavra de Deus, a Liturgia, a vida teologal, o «hoje» de Deus nas situações concretas (36)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.686)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz as primeiras duas
das três parábolas ligadas entre si pela mesma palavra. Tratam de três coisas
perdidas: ovelha perdida (Lc 15,3-7), moeda perdida (Lc 15,8-10), e filho
perdido (Lc 15,11-32). As três parábolas são dirigidas para os fariseus e os
doutores da lei que criticavam Jesus (Lc 15,1-3). Isto é, são dirigidas para o
fariseu ou para o doutor da lei que existe em cada um de nós.
* Lucas 15,1-3: Os destinatários das parábolas.
Estes três primeiros versos descrevem o contexto em que foram pronunciadas
as três parábolas: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam
de Jesus para o escutar. Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam a
Jesus”.: De um lado, se encontram os cobradores de impostos e os pecadores; do
outro lado, os fariseus e os doutores da lei. Lucas diz com um pouco de
exagero: “Todos os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para o
escutar”. Algo em Jesus os atraía. É a palavra de Jesus que os atrai (cf Is
50,4). Eles querem ouvi-lo. Sinal de que não se sentem condenados, mas sim
acolhidos por ele. A crítica dos fariseus e escribas é esta: "Esse homem
acolhe pecadores, e come com eles!". No envio dos setenta e dois
discípulos (Lc 10,1-9), Jesus tinha mandado acolher os excluídos, os doentes e
possessos (Mt 10,8; Lc 10,9) e praticar a comunhão de mesa (Lc 10,8).
* Lucas 15,4: Parábola da ovelha perdida. A parábola da ovelha perdida começa com uma pergunta: "Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la?” Antes de ele mesmo dar a resposta, Jesus deve ter olhado os ouvintes para ver como responderiam. A pergunta é formulada de tal maneira que a resposta só pode ser positiva: “Sim, ele vai atrás da ovelha perdida!” E você, como responderia? Você deixaria as noventa e nove ovelhas no campo para ir atrás de uma única que se perdeu? Quem faria isso? Provavelmente, a maioria terá respondido: “Jesus, aqui entre nós, ninguém faria uma coisa tão absurda. Diz o provérbio: “Melhor um passarinho na mão do que dez voando!”
* Lucas 15,5-7: Jesus interpreta a parábola da ovelha perdida. Ora, na parábola o dono das ovelhas faz o que ninguém faria: larga tudo e vai atrás da ovelha perdida. Só Deus mesmo para tomar uma tal atitude! Jesus quer que o fariseu ou o escriba que existe em nós, em mim, tome consciência. Os fariseus e os escribas abandonavam os pecadores e os excluíam. Eles nunca iriam atrás da ovelha perdida. Deixariam que ela se perdesse no deserto. Eles preferem as noventa e nove que não se perderam. Mas Jesus se coloca na pele da ovelha que se perdeu e que, naquele contexto da religião oficial, cairia no desespero, sem esperança de ser acolhida. Jesus faz saber a eles e a nós: “Se por acaso você se sentir perdido, pecador, lembre-se que, para Deus, você vale mais que as noventa e nove outras ovelhas. Deus vai atrás de você. E caso você se converter, saiba que “no céu haverá mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão."
* Lucas 15,8-10: Parábola da moeda perdida. A segunda parábola: "Se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, será que não acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente, até encontra a moeda? Quando a encontra, reúne amigas e vizinhas, para dizer: 'Alegrem-se comigo! Eu encontrei a moeda que tinha perdido'. E eu lhes declaro: os anjos de Deus sentem a mesma alegria por um só pecador que se converte". Deus fica alegre conosco. Os anjos ficam alegres conosco. A parábola era para comunicar esperança a quem estava ameaçado de desespero pela religião oficial. Esta mensagem evoca o que Deus nos diz no livro do profeta Isaías: “Eu te gravei na palma da minha mão!” (Is 49,16). “Tu és precioso aos meus olhos, eu te amo!” (Is 43,4)
Para um confronto pessoal
1) Você andaria atrás da ovelha perdida?
2) Você acha que a igreja de hoje é fiel a esta parábola de Jesus?
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