quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Sábado XXII do Tempo Comum

São Gregório Magno, papa e doutor da Igreja

1ª Leitura (1Cor 4,6b-15):
Irmãos: Aprendei de mim e de Apolo a sentença: «não se deve ir além do que está escrito», para que nenhum de vós se encha de orgulho, tomando partido de um contra o outro. Pois quem te considera superior aos demais? Que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebeste, porque te orgulhas, como se não o tivesses recebido? Já estais saciados, já estais ricos! Sem nós vos tornastes reis! Quem dera que vos tivésseis tornado reis, para nós reinarmos também convosco! Na verdade, parece-me que Deus nos expôs a nós, os Apóstolos, no último lugar, como homens condenados à morte, porque nos tornámos espetáculo para o mundo, para os Anjos e para os homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, vós sábios em Cristo; nós somos fracos, vós sois fortes; vós sois honrados, nós desprezados. Ainda agora, suportamos a fome e a sede, andamos malvestidos, somos maltratados, não temos morada certa e cansamo-nos a trabalhar com as próprias mãos. Insultam-nos e abençoamos; perseguem-nos e suportamos; somos difamados e respondemos com bondade. Temos sido considerados até ao presente como o lixo deste mundo, como a escória da humanidade. Não é para vos envergonhar que vos escrevo estas palavras, mas para vos advertir como a filhos caríssimos. Na verdade, podíeis ter dez mil tutores em Cristo, mas não tendes muitos pais; e fui eu que vos fiz nascer, por meio do Evangelho, como membros de Cristo Jesus.

Salmo Responsorial: 144
R. O Senhor está perto de quantos O invocam.

O Senhor é justo em todos os seus caminhos e perfeito em todas as suas obras. O Senhor está perto de quantos O invocam, de quantos O invocam em verdade.

Atende os desejos daqueles que O temem, ouve os seus clamores e os salva. O Senhor vela por aqueles que o amam e extermina todos os ímpios.

Cante a minha boca os louvores do Senhor e todo o ser vivo bendiga eternamente o seu nome santo.

Aleluia. Eu sou o caminho, a verdade e a vida, diz o Senhor; ninguém vai ao Pai senão por Mim. Aleluia.

Evangelho (Lc 6,1-5): Num sábado, Jesus estava passando pelas plantações de trigo, e os discípulos arrancavam as espigas, debulhavam e comiam. Alguns fariseus disseram: «Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?». Jesus respondeu-lhes: «Nunca lestes o que fez Davi, quando ele teve fome, e seus companheiros também? Ele entrou na casa de Deus, pegou os pães da oferenda, comeu e ainda deu aos seus companheiros esses pães, que só aos sacerdotes era permitido comer». E acrescentou: «O Filho do Homem é Senhor também do sábado».

«O Filho do Homem é Senhor também do sábado»

Fr. Austin Chukwuemeka IHEKWEME (Ikenanzizi, Nigéria)

Hoje, frente à acusação dos fariseus, Jesus explica o sentido correto do descanso sabático, invocando um exemplo de Antigo Testamento (cf. Dt 23,26): «Nunca lestes o que fez Davi (...) pegou os pães da oferenda, comeu e ainda deu aos seus companheiros esses pães, que só aos sacerdotes era permitido comer» (Lc 6,3-4).

A conduta de Davi antecipou a doutrina que Cristo ensina nesta passagem. Já no Antigo Testamento, Deus tinha estabelecido uma ordem nos preceitos da Lei, de forma que os de menor hierarquia cedem frente aos principais.

À luz disto, explica-se que um preceito cerimonial (como o que comentamos) cedesse ante um preceito de lei natural. Igualmente, o preceito do sábado não está por cima das necessidades elementares de subsistência.

Nesta passagem, Cristo ensina qual era o sentido da instituição divina do sábado: Deus o tinha instituído no bem do homem, para que pudesse descansar e se dedicar com paz e alegria ao culto divino. A interpretação dos fariseus tinha convertido esse dia em ocasião de angústia e preocupação a causa da quantia das prescrições e proibições.

O sábado tinha sido feito não só para que o homem descansasse, mas também para que desse glória a Deus: este é o autêntico sentido da expressão «o sábado foi feito para o homem» (Mc 2,27).

Adicionalmente, ao declarar-se senhor também do sábado (cf. Lc 6,5), manifesta abertamente que Ele é o mesmo Deus que deu o preceito ao povo de Israel, afirmando assim a sua divindade e o seu poder universal. Por essa razão, pode estabelecer outras leis, ao igual que Javé no Antigo Testamento. Jesus bem pode chamar-se senhor do sábado, porque é Deus.

Peçamos ajuda à Virgem para acreditar e entender que o sábado pertence a Deus e é uma forma —adaptado à natureza humana— de render glória e honra ao Todo-Poderoso. Como tem escrito São João Paulo II, «o descanso é uma coisa sagrada» e ocasião para «tomar consciência de que tudo é obra de Deus».

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Neste tempo de graça, o cristão observa um sábado perpétuo se fizer todas as boas obras com a esperança do descanso futuro» (Santo Agostinho)

«Viver segundo o domingo significa viver consciente da libertação trazida por Cristo e desenvolver a própria vida como oferenda de si mesmo a Deus» (Bento XVI)

«A celebração do domingo é o cumprimento da prescrição moral, naturalmente inscrita no coração do homem, de prestar a Deus um culto exterior, visível, público e regular, sob o signo da sua bondade universal para com os homens (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.176)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz o conflito em torno da observância do sábado. A observância do sábado era uma lei central, um dos Dez Mandamentos. Lei muito antiga que foi revalorizada na época do cativeiro. No cativeiro, o povo devia trabalhar sete dias por semana de sol a sol, sem condições de se reunir para ouvir e meditar a Palavra de Deus, para rezar juntos e para partilhar sua fé, seus problemas e sua esperança. Daí apareceu a necessidade urgente de parar ao menos um dia por semana para reunir e animar-se mutuamente naquela condição tão dura do cativeiro. Do contrário, perderiam a fé. Foi aí que renasceu e foi restabelecida com vigor a observância do sábado.

* Lucas 6,1-2: A causa do conflito. Num dia de sábado, os discípulos passam pelas plantações e abrem caminho arrancando espigas. Mateus 12,1 diz que eles estavam com fome (Mt 12,1). Os fariseus invocam a Bíblia para dizer que isto é transgressão da lei do Sábado: "Por que vocês estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?" (cf Ex 20,8-11).

* Lucas 6,3-4: A resposta de Jesus. Imediatamente, Jesus responde lembrando que o próprio Davi também fez coisas proibidas, pois tirou os pães sagrados do templo e os deu de comer aos soldados que estavam com fome (1 Sm 21,2-7). Jesus conhecia a Bíblia e a invocava para mostrar que os argumentos dos outros não tinham fundamento. Em Mateus, a resposta de Jesus é mais completa. Ele não só invoca a história de Davi, mas cita também a Legislação que permitia aos sacerdotes de trabalhar no sábado e cita ainda a frase do profeta Oséias: “Quero misericórdia e não sacrifício”. Citou um texto histórico, um texto legislativo e um texto profético (cf. Mt 12,1-18). Naquele tempo, não havia Bíblias impressas como temos hoje em dia. Em cada comunidade só havia uma única Bíblia, escrita à mão, que ficava na sinagoga. Se Jesus conhecia tão bem a Bíblia, é sinal de que ele, durante os 30 anos da sua vida em Nazaré, deve ter participado intensamente da vida da comunidade, onde todo sábado se liam as escrituras. Ainda falta muito para nós termos a mesma familiaridade com a Bíblia e a mesma participação na comunidade.

* Lucas 6,5: A conclusão para todos nós. E Jesus termina com esta frase: O Filho do Homem é dono até do sábado!  Jesus , como Filho do Homem que vive na intimidade com Deus, descobre o sentido da Bíblia não de fora para dentro, mas de dentro para fora, isto, ele descobre o sentido a partir da raiz, a partir da sua intimidade com o autor da Bíblia que é o próprio Deus. Por isso, ele se diz dono do sábado. No evangelho de Marcos, Jesus relativiza a lei do sábado dizendo: “O ser humano não existe para o sábado, mas o sábado existe para o ser humano” (Mc 2,27).

Para um confronto pessoal
1) Como você passa o Domingo, nosso “Sábado”? Você vai à missa por obrigação para evitar pecado ou para poder estar com Deus?
2) Jesus conhecia a Bíblia quase de memória. E eu, o que a Bíblia representa para mim?

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