terça-feira, 13 de setembro de 2022

15 de setembro: Nossa Senhora das Dores

1ª Leitura (Hb 5,7-9): Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido por causa de sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.

Salmo Responsorial:
R. Salvai-me pela vossa compaixão, ó Senhor Deus!

— Senhor, eu ponho em vós minha esperança; que eu não fique envergonhado eternamente. Porque sois justo, defendei-me e libertai-me; apressai-vos, ó Senhor, em socorrer-me!

— Sede uma rocha protetora para mim, um abrigo bem seguro que me salve! Sim, sois vós a minha rocha e fortaleza; por vossa honra orientai-me e conduzi-me!
— Retirai-me desta rede traiçoeira, porque sois o meu refúgio protetor! Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito, porque vós me salvareis, ó Deus fiel!

— A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio, e afirmo que só vós sois o meu Deus! Eu entrego em vossas mãos o meu destino; libertai-me do inimigo e do opressor!

— Como é grande, ó Senhor, vossa bondade, que reservastes para aqueles que vos temem! Para aqueles que em vós se refugiam, mostrando, assim, o vosso amor perante os homens.

Aleluia. Bendita seja a Virgem Maria, que, sem passar pela morte, mereceu a palma do martírio, ao pé da cruz do Senhor. Aleluia.

Evangelho (Jo 19,25-27): Naquele tempo, perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo.

«Uma espada traspassará tua alma»

Dom Josep Mª SOLER OSB Abade de Montserrat (Barcelona, Espanha)

Hoje, na festa de Nossa Senhora, a Virgem das Dores, lembramos as palavras pungentes de boca do ancião Simeão: «E a ti, uma espada traspassará tua alma!» (Lc 2,35). Afirmação que, no seu contexto, não aponta unicamente à paixão de Jesus Cristo, senão que ao seu mistério, que provocará uma divisão no povo de Israel e, por conseguinte uma dor interna em Maria. Ao longo da vida pública de Jesus, Maria experimentou o sofrimento pelo fato de ver a Jesus rejeitado pelas autoridades do povoado e ameaçado de morte.

Maria, como todo discípulo de Jesus, teve de aprender a colocar as relações familiares em outro contexto. Também Ela, por causa do Evangelho, tem que deixar ao Filho (cf. Mt 19,29), e há de aprender a não valorizar a Cristo segundo a carne, ainda quando tinha nascido dela segundo a carne. Também Ela há de crucificar sua carne (cf. Ga 5,24) para poder ir se transformando a imagem de Jesus Cristo. Mas, o momento forte do sofrimento de Maria, no que Ela vive mais intensamente a cruz, é o momento da crucificação e a morte de Jesus.

Também na dor, Maria é modelo de perseverança na doutrina evangélica ao participar nos sofrimentos de Cristo com paciência (cf. Regra de São Bento, Prólogo 50). Assim tem sido perante sua vida toda e, sobretudo, no momento do Calvário. Assim, Maria transforma-se em figura e modelo para todo cristão. Por ter estado estreitamente unida à morte de Cristo, também está unida a sua ressurreição (cf. Rm 6,5). A perseverança de Maria na dor, fazendo a vontade do Pai, lhe dá uma nova irradiação no bem da Igreja e da Humanidade. Maria nos precede no caminho da fé e do seguimento de Cristo. E o Espírito Santo nos conduz a nós a participar com Ela nessa grande aventura.

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Assim como devemos estar agradecidos a Jesus pela Sua Paixão, suportada pelo Seu amor por nós, assim também devemos estar cheios de gratidão a Maria Santíssima pelo martírio que, ao morrer o Seu Filho, quis suportar voluntariamente para nos salvar» (Santo Alberto Magno)

«Aos pés da cruz, Maria junto a João, é testemunha das palavras de perdão que saem da boca de Jesus. Dirijamos a Ela a antiga e sempre nova oração da Salve Rainha, para que, nunca se canse de volver a nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, o seu Filho, Jesus» (Francisco)

«Maria é a orante perfeita, figura da Igreja. Quando Lhe oramos, aderimos com Ela ao desígnio do Pai, que envia o seu Filho para salvar todos os homens. Como o discípulo amado, nós acolhemos em nossa casa a Mãe de Jesus que se tornou Mãe de todos os viventes. Podemos orar com Ela e orar-Lhe a Ela. A oração da Igreja é como que sustentada pela oração de Maria. Está-lhe unida na esperança» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.679)

Reflexão  

* Hoje, festa de Nossa Senhora das Dores, o evangelho do dia traz a passagem em que Maria, a mãe de Jesus, e o discípulo amado se encontram no calvário diante da Cruz. A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Estes pois episódios, exclusivos do evangelho de João, têm um valor simbólico muito profundo. O evangelho de João, comparado com os outros três evangelhos é como quem tira raio-X onde os outros três só tiram fotografia. O raio-X da fé ajuda a descobrir dimensões nos acontecimentos que os olhos comuns não chegam a perceber. O evangelho de João, além de descrever os fatos, revela a dimensão simbólica que neles existe. Assim, nos dois casos, em Caná e na Cruz, a Mãe de Jesus representa simbolicamente o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo Testamento e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria aparece como o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, ela simboliza o AT, percebe os limites do Antigo e toma a iniciativa para que o Novo possa chegar. Ela vai falar ao Filho: “Eles não têm mais vinho!” (Jo 2,3). E no Calvário? Vejamos:

*  João 19, 25: As mulheres e o Discípulo Amado junto à Cruz. Assim diz o Evangelho: “A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz”. A “fotografia” mostra a mãe junto do filho, em pé. Mulher forte, que não se deixa abater. “Stabat Mater Dolorosa!” Ela é uma presença silenciosa que apoia o filho na sua entrega até à morte, e morte de cruz (Flp 2,8). Além disso, o “raio-X” da fé mostra como se realiza a passagem do AT para o NT. Como em Caná, a Mãe de Jesus representa o AT. O Discípulo Amado representa o NT, a comunidade que cresceu ao redor de Jesus. É o filho que nasceu do AT, a nova humanidade que se forma a partir da vivência do Evangelho do Reino. No fim do primeiro século, alguns cristãos achavam que o AT já não era necessário. De fato, no começo do segundo século, Marcion recusou todo o AT e ficou só com uma parte do NT. Por isso, muitos queriam saber qual a vontade de Jesus a este respeito.

*  João 19,26-28: O Testamento ou a Vontade de Jesus. As palavras de Jesus são significativas. Vendo sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: "Mulher, eis aí o seu filho." Depois disse ao discípulo: "Eis aí a sua mãe." Os Antigo e o Novo Testamento devem caminhar juntos. A pedido de Jesus, o discípulo amado, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. É na casa do Discípulo Amado, na comunidade cristã, que se descobre o sentido pleno do AT. O Novo não se entende sem o Antigo, nem o Antigo é completo sem o Novo. Santo Agostinho dizia: “Novum in vetere latet, Vetus in Novo patet”. (O Novo está escondido no Antigo. O Antigo desabrocha no Novo). O Novo sem o Antigo seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo seria uma árvore frutífera que não chegou a dar fruto.

*  Maria no Novo Testamento. De Maria se fala pouco no NT, e ela mesma fala menos ainda. Maria é a Mãe do silêncio. A Bíblia conservou apenas sete palavras de Maria. Cada uma destas sete palavras é como uma janela que permite olhar para dentro da casa de Maria e descobrir como ela se relacionava com Deus. A chave para entender tudo isso é dada por Lucas nesta frase: “Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática." (Lc 11,27-28)
1ª Palavra: "Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!" (Lc 1,34)
2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38)
3ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador!" (Lc 1,46-55)
4ª Palavra: "Meu filho por que nos fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos" (Lc 2,48)
5ª Palavra: “Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3)
6ª Palavra: "Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)
7ª Palavra:  O silêncio ao pé da Cruz, mais eloquente que mil palavras! (Jo 19,25-27)

Para um confronto pessoal
1) Maria ao pé da Cruz. Mulher forte, silenciosa. Como é minha devoção a Maria, a mãe de Jesus?
2) Na Pietá de Michelangelo, Maria aparece bem jovem, mais jovem que o próprio filho crucificado, quando já devia ter no mínimo em torno de 50 anos. Perguntado por que tinha esculpido o rosto da Maria tão jovem, Michelangelo respondeu: “As pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem nunca”. Apaixonada por Deus! Existe paixão por Deus em mim?

Junto à cruz de Jesus estava de pé sua Mãe

Repare-se na solenidade deste relato: é uma cena central entre as cinco relatadas por João no Calvário; a Virgem Maria é mencionada 6 vezes em 3 versículos, e há o recurso a uma fórmula solene de revelação («ao ver… disse… eis…»). Isto deixa ver que não se trata dum simples gesto de piedade filial de Jesus para com a sua Mãe a fim de não a deixar ao desamparo, mas que o Evangelista lhe atribui um significado simbólico profundo; com efeito, chegada a hora de Jesus, é a hora de Ela assumir (cf. Jo 2, 4) o seu papel de nova Eva (cf. Gn 3, 15) na obra redentora. A designação de «Mulher» assume, na boca do Redentor, o novo Adão, o sentido da missão corredentora de Maria: não é chamada Mãe, mas sim Mulher, como nova Eva, Mãe da nova humanidade, por alusão à «mulher» da profecia messiânica de Gn 3, 15. Por outro lado, Ela é a mulher que simboliza a Igreja (cf. Ap 12, 1-18), a mãe dos discípulos de Jesus representados no discípulo amado, que «a acolheu como coisa própria». A tradução mais corrente deste inciso (seguida pela tradução litúrgica) é: «recebeu-a em sua casa», mas esta forma de tradução empobrece de modo notável o rico sentido originário da expressão grega «élabon eis tà idía», uma expressão usada mais quatro vezes em S. João, mas nunca neste sentido; com efeito, a expressão tà idía – «as coisas próprias» – significa muito mais do que a própria casa, indica tudo o que é próprio da pessoa, a sua intimidade.

É também de notar que S. João, ao contrário dos restantes Evangelistas, nunca se refere a Nossa Senhora com o nome de Maria; sempre a designa como a Mãe (de Jesus), um indício de ser tratada realmente como mãe; com efeito, ninguém jamais nomeia a própria mãe com o nome dela: para o filho a mãe é simplesmente a mãe!

Os místicos têm cantado o sofrimento, colaborador luminoso da redenção. Mas importa saber crer. A fé deve tomar consigo o coração, iluminar a alma e alimentar a consciência, como o vento faz às árvores quando não se limita a acariciar as folhas, mas investe contra o tronco, sacode as raízes e lança a copa para o céu.

«Ninguém melhor do que a Virgem Maria nos pode ensinar a amar a Cruz.»

S. João Paulo II, Angelus, Domingo, 15 de setembro de 2002

1. Depois da festa da Exaltação da Santa Cruz, que comemorámos ontem, celebra-se hoje a memória de Nossa Senhora das Dores. Duas festas litúrgicas, que nos convidam a realizar uma peregrinação espiritual até ao Calvário. Elas estimulam-nos a unir-nos à Virgem Maria na contemplação do mistério da Cruz.

O Cristianismo tem na Cruz o seu símbolo principal. Onde quer que o Evangelho tenha ganhado raízes, a Cruz está a indicar a presença dos cristãos. Nas igrejas e nas casas, nos hospitais, nas escolas e nos cemitérios a Cruz tornou-se o sinal por excelência de uma cultura que tira da mensagem de Cristo verdade e liberdade, confiança e esperança.

No processo de secularização, que distingue uma boa parte do mundo contemporâneo, é importante como nunca que os crentes fixem o olhar neste sinal central da Revelação e captem o seu significado originário e autêntico.

2. Também hoje, na escola dos antigos Padres, a Igreja apresenta ao mundo a Cruz como «árvore da vida», da qual se pode colher o sentido último e pleno de cada existência e de toda a história humana.

A partir do momento em que Jesus fez dela o instrumento da salvação universal, a Cruz já não é sinónimo de maldição, mas, ao contrário, de bênção. Ao homem atormentado pela dúvida e pelo pecado, ela revela que «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). Numa palavra, a Cruz é o símbolo supremo do amor.

Por isso, os jovens cristãos levam-na com orgulho pelas estradas do mundo, confiando a Cristo todas as suas preocupações e expectativas de liberdade, justiça e paz. […]

3. A Virgem Maria, aos pés da Cruz, perfeitamente unida ao Filho, pôde partilhar de maneira singular a profundidade de sofrimento e de amor do seu sacrifício. Ninguém melhor do que ela pode ensinar a amar a Cruz. Confiamos à Virgem das Dores os jovens e as famílias, as nações e toda a humanidade. De modo especial invocamo-la em favor dos doentes e os que sofrem, para as vítimas inocentes da injustiça e da violência, dos cristãos perseguidos devido à sua fé. A Cruz gloriosa de Cristo seja para todos penhor de esperança, de resgate e de paz.

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