S. Eufrásia do S. Coração de Jesus, Virgem, Fundadora da Congregação das
Religiosas da Mãe do Carmelo
1ª
Leitura (1Cor 2,10b-16): Irmãos: O Espírito Santo conhece todas as
coisas, até o que há de mais profundo em Deus. Na verdade, quem sabe o que há
no homem senão o espírito humano que nele se encontra? Assim também, ninguém
conhece o que há em Deus, senão o Espírito de Deus. Nós não recebemos o espírito
do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para conhecermos os dons da graça de
Deus. Para falarmos desses dons, não usamos a linguagem ensinada pela sabedoria
humana, mas a linguagem que o Espírito de Deus nos ensina, exprimindo em termos
espirituais as realidades espirituais. O homem natural não aceita as coisas que
vêm do Espírito de Deus, pois são loucura para ele. Não pode entendê-las,
porque só podem ser julgadas com critério espiritual. Mas o homem espiritual
julga todas as coisas, enquanto ele próprio não é julgado por ninguém. Na
verdade, quem conheceu o pensamento do Senhor, para que O possa instruir? Nós,
porém, temos o pensamento de Cristo.
R. O Senhor é justo em todos os seus caminhos.
O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos;
Para darem a conhecer aos homens o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino. O vosso reino é um reino eterno, o vosso domínio estende-se por todas as gerações.
O Senhor é fiel à sua palavra e perfeito em todas as suas obras. O Senhor ampara os que vacilam e levanta todos os oprimidos.
Aleluia. Apareceu no meio de
nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.
Evangelho (Lc 4,31-37): Naquele tempo, Jesus desceu para Cafarnaum, cidade da Galileia, e lá os ensinava, aos sábados. Eles ficavam maravilhados com os seus ensinamentos, pois sua palavra tinha autoridade. Na sinagoga estava um homem que tinha um espírito impuro, e ele gritou em alta voz: «Que queres de nós, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!». Jesus o repreendeu: «Cala-te, sai dele!». O demônio então lançou o homem no chão e saiu dele, sem lhe fazer mal algum. Todos ficaram espantados e comentavam: «Que palavra é essa? Ele dá ordens aos espíritos impuros, com autoridade e poder, e eles saem». E sua fama se espalhava por todos os lugares da redondeza.
«Eles ficavam maravilhados com
os seus ensinamentos, pois sua palavra tinha autoridade»
Rev. D. Joan BLADÉ i Piñol (Barcelona,
Espanha)
Hoje vemos como a atividade de ensinar
foi, para Jesus, a missão central de sua vida pública. Porém a pregação de
Jesus era muito diferente da dos outros mestres e isso fazia com que as pessoas
se espantassem e se admirassem. Certamente, ainda que o Senhor não tivesse
estudado (cf. Jo 7,15), desconcertava a todos com sua doutrina, porque «falava
com autoridade» (Lc 4,32). Seu estilo possuía a autoridade de quem se sabia o
“Santo de Deus”.
Precisamente aquela autoridade no
seu falar era o que dava força a sua linguagem. Utilizava imagens vivas e
concretas, sem silogismos nem definições; palavras e imagens que extraía da
própria natureza quando não das Sagradas Escrituras. Não há dúvida de que Jesus
era um bom observador, homem próximo das situações humanas: ao mesmo tempo em
que o vemos ensinando, também o contemplamos perto das pessoas fazendo-lhes o
bem (curando as doenças e expulsando demônios, etc.). Lia no livro da vida
diária as experiências que depois lhe serviriam para ensinar. Ainda que fosse
um material tão simples e “rudimentar”, a palavra do Senhor era sempre
profunda, inquietante, radicalmente nova, definitiva.
O mais admirável da fala de Jesus Cristo, era esse saber harmonizar a autoridade divina com a mais incrível simplicidade humana. Autoridade e simplicidade eram possíveis em Jesus graças ao conhecimento que possuía do Pai e de sua relação de amorosa obediência a Ele (cf. Mt 11,25-27). Esta relação com o Pai é o que explica a harmonia única entre a grandeza e a humildade. A autoridade de seu falar não se ajustava aos parâmetros humanos; não havia disputa, nem interesses pessoais ou desejo de sobressair. Era uma autoridade que se manifestava tanto na sublimidade da palavra ou da ação como na humildade e simplicidade. Não houve nos seus lábios nem louvor pessoal, nem soberba nem gritos. Mansidão, doçura, compreensão, paz, serenidade, misericórdia, verdade, luz, justiça... Foi o aroma que rodeava a autoridade de seus ensinos.
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Tudo vem do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem, Deus não faz nada que não seja para este fim» (Santa Catarina de Sena)
«O Evangelho é a palavra da vida: não oprime as pessoas, pelo contrário, liberta aqueles que são escravos de tantos espíritos malignos deste mundo: tanto o espírito de vaidade, o apego ao dinheiro, o orgulho, a sensualidade» (Francisco)
«A permissão divina do mal físico e do mal moral é um mistério, que Deus esclarece por seu Filho Jesus Cristo, morto e ressuscitado para vencer o mal. A fé dá-nos a certeza de que Deus não permitiria o mal, se do próprio mal não fizesse sair o bem, por caminhos que só na vida eterna conheceremos plenamente» (Catecismo da Igreja Católica, nº 324)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* Hoje, segunda-feira da 22ª semana comum,
começamos a meditação do Evangelho de Lucas que se prolongará por três meses
até o fim do ano eclesiástico. O evangelho de hoje traz a visita de Jesus a
Nazaré e a apresentação do seu programa ao povo na sinagoga. Num primeiro
momento, o povo ficou admirado. Mas, em seguida, quando perceberam que Jesus
queria acolher a todos, sem excluir ninguém, ficaram revoltados e quiseram
matá-lo.
* Lucas 4,16-19: A proposta de Jesus. Animado pelo Espírito Santo, Jesus tinha voltado para a Galileia (Lc 4,14) e começou a anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Andando pelas comunidades e ensinando nas sinagogas, ele chegou em Nazaré, onde tinha sido criado. Estava de volta na comunidade, onde, desde pequeno, tinha participado durante quase trinta anos. No sábado seguinte, conforme o seu costume, Jesus foi à sinagoga para participar da celebração e levantou-se para fazer a leitura. Escolheu o texto de Isaías que falava dos pobres, presos, cegos e oprimidos (Is 61,1-2). Este texto refletia a situação do povo da Galileia do tempo de Jesus. A experiência que Jesus tinha de Deus como Pai amoroso dava a ele um novo olhar para avaliar a realidade. Em nome de Deus, Jesus toma posição em defesa da vida do seu povo e, com as palavras de Isaías, define a sua missão: (1) anunciar a Boa Nova aos pobres, (2) proclamar a libertação aos presos, (3) a recuperação da vista aos cegos, (4) restituir a liberdade aos oprimidos e, retomando a antiga tradição dos profetas, (5) proclama “um ano de graça da parte do Senhor”. Proclama o ano do jubileu!
* Na Bíblia, o “Ano Jubileu” era uma lei importante. Inicialmente, a cada sete anos (Dt 15,1; Lev 25,3), as terras deviam voltar ao clã de origem. Cada um devia poder voltar à sua propriedade. Assim impediam a formação de latifúndio e garantiam às famílias a sobrevivência. Também deviam perdoar as dívidas e resgatar as pessoas escravizadas (Dt 15,1-18). Não foi fácil realizar o ano jubileu cada sete anos (cf Jr 34,8-16). Depois do exílio, decidiram realizá-lo cada sete vezes sete anos (Lev 25,8-12), isto é, cada cinquenta anos. O objetivo do Ano Jubileu era e continua sendo: restabelecer os direitos dos pobres, acolher os excluídos e reintegrá-los na convivência. O jubileu era um instrumento legal para voltar ao sentido original da Lei de Deus. Era uma oportunidade oferecida por Deus para fazer uma revisão da caminhada, descobrir e corrigir os erros e recomeçar tudo de novo. Jesus inicia a sua pregação proclamando um jubileu, um “Ano de Graça da parte do Senhor”.
* Lucas 4,20-22: Ligar Bíblia com Vida. Terminada a leitura, Jesus atualiza o texto de Isaías dizendo: “Hoje se cumpriu esta passagem da escritura que acabastes de ouvir!" Assumindo as palavras de Isaías como suas próprias palavras, Jesus lhes dá o seu pleno e definitivo sentido e se declara messias que veio realizar a profecia. Esta maneira de atualizar o texto provocou uma reação de descrédito por parte dos que estavam na sinagoga. Ficaram escandalizados e já não queriam saber dele. Não aceitaram Jesus como o messias anunciado por Isaías. Diziam: “Não é este o filho de José?” Ficaram escandalizados porque Jesus falou em acolher os pobres, os cegos e os oprimidos. O povo de Nazaré não aceitou a proposta de Jesus. E assim, no momento em que apresentou o seu projeto de acolher os excluídos, ele mesmo foi excluído.
* Lucas 4,23-30: Ultrapassar os limites da raça. Para ajudar a comunidade a superar o escândalo e levá-la a compreender que sua proposta estava bem dentro da tradição, Jesus contou duas histórias conhecidas da Bíblia, uma de Elias e outra de Eliseu. As duas histórias criticavam o fechamento do povo de Nazaré. Elias foi enviado para a viúva estrangeira de Sarepta (1 Rs 17,7-16). Eliseu foi enviado para atender ao estrangeiro da Síria (2 Rs 5,14). Transparece aqui a preocupação de Lucas em mostrar que a abertura para os pagãos já vinha desde Jesus. Jesus teve as mesmas dificuldades que as comunidades estavam tendo no tempo de Lucas. Mas o apelo de Jesus não adiantou. Ao contrário! As histórias de Elias e Eliseu provocaram mais raiva ainda. A comunidade de Nazaré chegou ao ponto de querer matar Jesus. Mas ele manteve a calma. A raiva dos outros não conseguiu desviá-lo do seu caminho. Lucas mostra assim como é difícil superar a mentalidade do privilégio e do fechamento.
* É importante notar os detalhes no uso do Antigo Testamento. Jesus cita o texto de Isaías até onde diz: "proclamar um ano de graça da parte do Senhor". Cortou o resto da frase que dizia: "e um dia de vingança do nosso Deus". O povo de Nazaré ficou bravo com Jesus por ele pretender ser o messias, por querer acolher os excluídos e por ter omitido a frase sobre a vingança. Eles queriam que o Dia de Javé fosse um dia de vingança contra os opressores do povo. Neste caso, a vinda do Reino seria apenas uma virada da mesa e não uma mudança ou conversão do sistema. Jesus não aceita este modo de pensar, não aceita a vingança (cf. Mt 5,44-48). A sua nova experiência de Deus como Pai/Mãe ajudava-o a entender melhor o sentido das profecias.
Para um confronto pessoal
1) O programa de Jesus consiste em acolher os excluídos. Será que nós acolhemos a todos, ou excluímos alguém? Quais os motivos que nos levam a excluir certas pessoas?
2) Será que o programa de Jesus está sendo realmente o nosso programa, o meu programa? Quais os excluídos que deveríamos acolher melhor na nossa comunidade? O que ou quem nos dá força para realizar a missão que Jesus nos deu?
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