São
João Mª Vianney, presbítero
1ª
Leitura (Jer 31,31-34): Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei
com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova. Não será como a
aliança que firmei com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão para os
tirar da terra do Egito, aliança que eles violaram, embora Eu exercesse o meu
domínio sobre eles, diz o Senhor. Esta é a aliança que estabelecerei com a casa
de Israel, naqueles dias, diz o Senhor: Hei de imprimir a minha lei no íntimo
da sua alma e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o
meu povo. Já não terão de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a
seu irmão: «Aprendei a conhecer o Senhor». Todos eles Me conhecerão, desde o
maior ao menor, diz o Senhor. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais
recordarei as suas faltas.
Salmo
Responsorial: 50
R. Dai-me, Senhor, um coração
puro.
Criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme. Não queirais repelir-me da vossa presença e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.
Dai-me de novo a alegria da vossa salvação e sustentai-me com espírito generoso. Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos e os transviados hão de voltar para Vós.
Não é do sacrifício que Vos agradais e, se eu oferecer um holocausto, não o aceitareis. Sacrifício agradável a Deus é o espírito arrependido: não desprezeis, Senhor, um espírito humilhado e contrito.
Aleluia. Tu és Pedro e sobre
esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela. Aleluia.
Evangelho (Mt 16,13-23): Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos discípulos: «Quem é que as pessoas dizem ser o Filho do Homem? ». Eles responderam: «Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas». «E vós», retomou Jesus, «quem dizeis que eu sou? ». Simão Pedro respondeu: «Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo». Jesus então declarou: « “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus». Em seguida, recomendou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo. A partir de então, Jesus começou a mostrar aos discípulos que era necessário ele ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Então Pedro o chamou de lado e começou a censurá-lo: «Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!». Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: «Vai para trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!».
«Não tens em mente as coisas
de Deus, e sim, as dos homens!»
Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Rubí,
Barcelona, Espanha)
Hoje Jesus proclama afortunado a
Pedro pela sua acertada declaração de fé: «Simão Pedro respondeu: ‘Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo’. Jesus então declarou: ‘Feliz és tu, Simão, filho
de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que
está no céu’» (Mt 16,16-17). Nesta saudação Jesus promete a Pedro o primado da
sua Igreja; mas pouco depois faz-lhe uma reconvenção por lhe ter manifestado
uma ideia demasiado humana e errada do Messias: «Então Pedro o chamou de lado e
começou a censurá-lo: «Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te
aconteça!». Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: «Vai para trás de mim,
satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente
as coisas de Deus, e sim, as dos homens!» (Mt 16,22-23).
Devemos agradecer aos evangelistas
o fato de nos terem apresentado os primeiros discípulos de Jesus tal como eram:
não como personagens idealizados, mas como gente de carne e osso, como nós, com
as suas virtudes e os seus defeitos; esta circunstância aproxima-os de nós e
ajuda-nos a ver que o aperfeiçoamento na vida cristã é um caminho que todos
devemos fazer, pois ninguém nasce ensinado.
Dado que já sabemos como foi a
história, aceitamos que Jesus Cristo tenha sido o Messias sofredor, profetizado
por Isaías e tenha entregue a sua vida na cruz. O que mais nos custa aceitar é
que tenhamos de manter presente a sua obra a través do mesmo caminho de
entrega, renúncia e sacrifício. Imbuídos como estamos numa sociedade que pugna
pelo êxito rápido, por aprender sem esforço e de modo divertido, e por
conseguir o máximo aproveitamento com o mínimo de trabalho, é fácil acabarmos
vendo as coisas mais como os homens do que como Deus. Uma vez recebido o
Espírito Santo, Pedro aprendeu por onde passava o caminho que devia seguir e
viveu na esperança. «As tribulações do mundo estão cheias de penas e vazias de
prémio; mas as que se padecem por Deus ficam suavizadas com a esperança de um
prémio eterno» (Santo Efrem).
«Ninguém pode ter a Deus como Pai, se não tiver a Igreja como sua Mãe» (São Cipriano)
«Fé e seguir a Cristo estão intimamente relacionados. E uma vez que implica seguir o Mestre, a fé deve ser consolidada e crescer. Pedro e os outros apóstolos tiveram de percorrer esse caminho, até que o encontro com o Senhor Ressuscitado lhes abriu os olhos para uma fé plena» (Bento XVI)
«Movidos pela graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, nós cremos e confessamos a respeito de Jesus: `Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo´ (Mt 16, 16). Foi sobre o rochedo desta fé, confessada por Pedro, que Cristo edificou a sua Igreja» (Catecismo da Igreja Católica, nº 424)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* Estamos na parte
narrativa entre o Sermão das Parábolas (Mt 13) e o Sermão da Comunidade (Mt
18). Nestas partes narrativas que ligam entre si os cinco Sermões, Mateus
costuma seguir a sequência do Evangelho de Marcos. De vez em quando, ele cita
outras informações, também conhecidas por Lucas. E aqui e acolá, ele traz
textos que só aparecem no evangelho de Mateus, como é o caso da conversa entre
Jesus e Pedro do evangelho de hoje. Este texto recebe interpretações diversas e
até opostas nas várias igrejas cristãs.
* Naquele tempo, as
comunidades cultivavam uma ligação afetiva muito forte com as lideranças que
tinham dado origem à comunidade. Por exemplo, as comunidades de Antioquia na
Síria cultivavam a sua ligação com a pessoa de Pedro. As da Grécia, com a
pessoa de Paulo. Algumas comunidades da Ásia, com a pessoa do Discípulo Amado e
outras com a pessoa de João do Apocalipse. Uma identificação com estes líderes
da sua origem ajudava as comunidades a cultivar melhor a sua identidade e
espiritualidade. Mas também podia ser motivo de briga, como no caso da
comunidade de Corinto (1 Cor 1,11-12).
* Mateus 16,17: A resposta de Jesus a Pedro: "Feliz você, Pedro!" Jesus proclama Pedro “Feliz!”, porque recebeu uma revelação do Pai. Aqui também a resposta de Jesus não é nova. Anteriormente, Jesus tinha louvado o Pai por ele ter revelado o Filho aos pequenos e não aos sábios (Mt 11,25-27) e tinha feito a mesma proclamação de felicidade aos discípulos por estarem vendo e ouvindo coisas novas que, antes deles, ninguém conhecia nem tinha ouvido falar (Mt 13,16).
* Mateus 16,18-20: As atribuições de Pedro: Ser pedra e tomar conta das chaves do Reino. 1. Ser Pedra: Pedro deve ser pedra, isto é, deve ser fundamento firme para a igreja a ponto de ela poder resistir contra as portas do inferno. Com estas palavras de Jesus a Pedro, Mateus anima as comunidades perseguidas da Síria e da Palestina que viam em Pedro a liderança marcante da sua origem. Apesar de fraca e perseguida, a comunidade tem fundamento firme, garantido pela palavra de Jesus. A função de ser pedra como fundamento da fé evoca a palavra de Deus ao povo no exílio: “Vocês que buscam a Deus e procuram a justiça, olhem para a rocha (pedra) de onde foram talhados, olhem para a pedreira de onde foram extraídos. Olhem para Abraão seu pai e para Sara sua mãe. Quando os chamei, eles eram um só, mas se multiplicaram por causa da minha bênção”. (Is 51,1-2). Indica que em Pedro existe um novo começo do povo de Deus. 2. As chaves do Reino: Pedro recebe as chaves do Reino. O mesmo poder de ligar e desligar é dado também às comunidades (Mt 18,18) e aos outros discípulos (Jo 20,23). Um dos pontos em que o evangelho de Mateus mais insiste é a reconciliação e o perdão. É uma das tarefas mais importantes dos coordenadores e coordenadoras das comunidades. Imitando Pedro, devem ligar e desligar, isto é, fazer com que haja reconciliação, aceitação mútua, construção da fraternidade, até setenta vezes sete (Mt 18,22).
* Mateus 16,21-22: Jesus completa o que faltava na resposta de Pedro, e este reage. Jesus começou a dizer: “que devia ir a Jerusalém, e sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”. Dizendo que devia ir e devia ser morto, ou que era necessário sofrer, ele indicava que o sofrimento estava previsto nas profecias. O caminho do Messias não é só de triunfe de glória, também de sofrimento e de cruz! Se Pedro aceita Jesus como Messias e Filho de Deus, deverá aceitá-lo também como o Messias Servo que vai ser morto. Mas Pedro não aceita a correção de Jesus e procura dissuadi-lo. Levou Jesus para um lado, e o repreendeu, dizendo: "Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!".
* Mateus 16,23: A resposta de Jesus a Pedro: pedra de tropeço. A resposta de Jesus é surpreendente. Pedro queria orientar Jesus tomando a dianteira. Jesus reage: "Sai daqui para atrás de mim. Você é satanás e uma pedra de tropeço para mim. Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens!" Pedro deve seguir Jesus, e não o contrário. É Jesus que dá a direção. Satanás é aquele que desvia a pessoa do caminho traçado por Deus. Novamente, aparece a expressão pedra, mas agora em sentido oposto. Pedro, ora é pedra de apoio, ora é pedra de tropeço! Assim eram as comunidades da época de Mateus, marcadas pela ambiguidade. Assim, somos todos nós e assim é, no dizer de João Paulo II, é o próprio papado, marcado pela mesma ambiguidade de Pedro: pedra de apoio na fé e pedra de tropeço na fé.
Para um confronto pessoal
1. Quais as opiniões que na nossa comunidade existem sobre Jesus? Estas diferenças na maneira de viver e expressar a fé enriquecem a comunidade ou prejudicam a caminhada?
2. Que tipo de pedra é a nossa comunidade? Qual a missão que resulta disso para nós?
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