Beato
João Soreth, Presbítero de nossa Ordem e Fundador das Ordens II e III
Btas
Mª Pilar de S. Francisco de Borja, Teresa do Menino Jesus e Mª de São José, Virgens
e Mártires de nossa Ordem.
B.
Mª das Mercês do Sagrado Coração Prat, Religiosa da Companhia de Santa Teresa, Virgem
e mártir
1ª
Leitura (Gen 18,20-32): Naqueles dias, disse o Senhor: «O clamor contra
Sodoma e Gomorra é tão forte, o seu pecado é tão grave que Eu vou descer para
verificar se o clamor que chegou até Mim corresponde inteiramente às suas
obras. Se sim ou não, hei de sabê-lo». Os homens que tinham vindo à residência
de Abraão dirigiram-se então para Sodoma, enquanto o Senhor continuava junto de
Abraão. Este aproximou-se e disse: «Irás destruir o justo com o pecador? Talvez
haja cinquenta justos na cidade. Matá-los-ás a todos? Não perdoarás a essa
cidade, por causa dos cinquenta justos que nela residem? Longe de Ti fazer tal
coisa: dar a morte ao justo e ao pecador, de modo que o justo e o pecador
tenham a mesma sorte! Longe de Ti! O juiz de toda a terra não fará justiça?». O
Senhor respondeu-lhe: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos, perdoarei a
toda a cidade por causa deles». Abraão insistiu: «Atrevo-me a falar ao meu
Senhor, eu que não passo de pó e cinza: talvez para cinquenta justos faltem
cinco. Por causa de cinco, destruirás toda a cidade?». O Senhor respondeu: «Não
a destruirei se lá encontrar quarenta e cinco justos». Abraão insistiu mais uma
vez: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta». O Senhor respondeu: «Não
a destruirei em atenção a esses quarenta». Abraão disse ainda: «Se o meu Senhor
não levar a mal, falarei mais uma vez: talvez haja lá trinta justos». O Senhor
respondeu: «Não farei a destruição, se lá encontrar esses trinta». Abraão
insistiu novamente: «Atrevo-me ainda a falar ao meu Senhor: talvez não se
encontrem lá mais de vinte justos». O Senhor respondeu: «Não destruirei a
cidade em atenção a esses vinte». Abraão prosseguiu: «Se o meu Senhor não levar
a mal, falarei ainda esta vez: talvez lá não se encontrem senão dez». O Senhor
respondeu: «Em atenção a esses dez, não destruirei a cidade».
Salmo Responsorial: 137
R. Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor.
De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças, porque ouvistes as palavras da minha boca. Na presença dos Anjos hei de cantar-Vos e adorar-Vos, voltado para o vosso templo santo.
Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade, porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa. Quando Vos invoquei, me respondestes, aumentastes a fortaleza da minha alma.
O Senhor é excelso e olha para o humilde, ao soberbo conhece-o de longe. No meio da tribulação Vós me conservais a vida, Vós me ajudais contra os meus inimigos.
A vossa mão direita me salvará, o Senhor completará o que em meu auxílio começou. Senhor, a vossa bondade é eterna, não abandoneis a obra das vossas mãos.
2ª Leitura (Col 2,12-14): Irmãos: Sepultados com Cristo no baptismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos mortos. Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas. Anulou o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o, cravando-o na cruz.
Aleluia. Recebestes o espírito
de adopção filial; nele clamamos: «Abá, ó Pai». Aleluia.
Evangelho (Lc 11,1-13): Um dia, Jesus estava orando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: «Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos». Ele respondeu: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja teu nome; venha o teu Reino; dá-nos, a cada dia, o pão cotidiano, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos introduzas em tentação». E Jesus acrescentou: «Imaginai que um de vós tem um amigo e, à meia-noite, o procura, dizendo: ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’. O outro responde lá de dentro: ‘Não me incomodes. A porta já está trancada. Meus filhos e eu já estamos deitados, não posso me levantar para te dar os pães’. Digo-vos: mesmo que não se levante para dá-los por ser seu amigo, vai levantar-se por causa de sua impertinência e lhe dará quanto for necessário. Portanto, eu vos digo: pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta. Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!».
«Jesus estava orando num certo
lugar… ‘Senhor, ensina-nos a orar’»
Abbé Jean GOTTIGNY (Bruxelas, Bélgica)
Hoje, Jesus em oração nos ensina
a orar. Prestemos atenção no que sua atitude nos ensina. Jesus Cristo
experimenta em muitas ocasiões a necessidade de encontrar-se cara a cara com
seu Pai. Lucas, em seu Evangelho, insiste sobre este ponto.
Sobre que falavam naquele dia?
Não sabemos. No entanto, em outra ocasião, nos chegou um fragmento de
conversação entre seu Pai e Ele. No momento em que foi batizado no rio Jordão,
quando estava orando, «E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado; em ti
está meu pleno agrado’» (Lc 3,22). No parêntese de um diálogo ternamente
afetuoso.
Quando, no Evangelho de hoje, um
dos discípulos, ao observar seu recolhimento, lhe implora que lhes ensine a
falar com Deus, Jesus responde: «Quando ores, diga: ‘Pai, santificado seja teu
nome…’» (Lc 11,2). A oração consiste em uma conversação filial com esse Pai que
nos ama com loucura. Não definia Teresa de Ávila a oração como “uma íntima
relação de amizade”: «estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que
nos ama»?
Bento XVI encontra «significativo que Lucas situe o Pai-nosso no contexto da oração pessoal do próprio Jesus. Desta forma, Ele nos faz participar de sua oração; conduz-nos ao interior do diálogo íntimo do amor trinitário; ou seja, levanta nossas misérias humanas até o coração de Deus».
É significativo que, na linguagem cotidiana, a oração que Jesus Cristo nos ensinou se resume nestas duas únicas palavras: «Pai Nosso». A oração cristã é eminentemente filial.
A liturgia católica põe esta oração nos nossos lábios quando nos preparamos para receber o Corpo e o Sangre de Jesus Cristo. As sete petições que permite e a ordem em que estão formuladas nos dão uma ideia da conduta que devemos de manter quando recebamos a Comunhão Eucarística.
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Ele quer que eu lhe ame porque me há perdoado, não muito, senão tudo. Não tem esperado a que eu lhe ame muito, senão que tem querido que eu saiba até que ponto Ele me tem amado, para que eu lhe ame a Ele com loucura!» (Santa Teresa de Lisieux)
«O Senhor disse-nos como temos de orar. Lucas põe o “Pai Nosso” em relação com a oração pessoal em Jesus mesmo. Ele nos faz participes de sua própria oração, nos introduz no diálogo interior do Amor trinitário» (Bento XVI)
«Tal oração, que nos vem de Jesus, é verdadeiramente única: é “do Senhor”. Efetivamente, por um lado, nas palavras desta oração o Filho Único dá-nos as palavras que o Pai Lhe deu: Ele é o mestre da nossa oração. Por outro lado, sendo o Verbo encarnado, Ele conhece no seu coração de homem as necessidades dos seus irmão e irmãs humanos e nos as revela: Ele é o modelo da nossa oração.» (Catecismo da Igreja Católica, n° 2765)
“Pedi e dar-se-vos-á. Procurai
e achareis.”
Escrito por P. Américo, no site Domus
Iesu
Este belo trecho evangélico
contém vários elementos de reflexão. Para começar, note-se que a versão do
Pai-Nosso de S. Lucas é mais curta e diferente daquela que nós sabemos de cor
(S. Mateus). Isso não significará que, mesmo no caso do Pai-Nosso, não se trata
senão de uma fórmula para nos dirigirmos a Deus? Pelo que, mais que a fórmula,
o que interessa é servirmo-nos dela para nos dirigirmos a Deus. Acho que esta
conclusão não deverá constituir nenhum problema. Portanto, em vez de perdermos
tempo a procurar saber qual delas será a versão original, penso que é bastante
mais útil concluir que, mais do que as fórmulas propriamente ditas, o
importante é o facto de Jesus nos ensinar que temos o privilégio de nos
dirigirmos a Deus por «Pai», que é a forma mais natural com que Jesus se dirige
a Deus na sua própria oração. Quem não tenha noção de que é filho de Deus, pode
dirigir-se ao Altíssimo, mas nunca como Pai. Um outro elemento digno de nota é
a preocupação de Lucas em «demonstrar» a importância da oração de intercessão e
sobretudo insistir sobre a persistência e a confiança ao dirigir-nos a Deus. O
Pai-Nosso é, pois, o modelo máximo de intimidade com Deus, só possível a quem é
capaz de descobrir a Sua paternidade divina. Essa confiança tem a sua base no
facto de o próprio Jesus Cristo ser o Filho que, assumindo a nossa natureza,
como que nos põe no mesmo pé de igualdade com o Deus.
A oração, na sua definição mais universal (e também mais simples), é, pois, «diálogo com Deus». Mas, é necessário perceber o alcance deste fato, porque se não entrar em diálogo com Deus pode ser um risco: o de reduzir Deus a um bem de consumo ou então a um remédio para as próprias insuficiências e preguiça. Mais: atrevo-me a dizer que pode também despersonalizar e desresponsabilizar o orante, porque se descarregam as próprias responsabilidades em outrem. Por outras palavras, põe-se tudo nas mãos de Deus e depois fica-se à espera. Não nos podemos esquecer que a oração implica também uma vertente de escuta (de Deus) que não se pode omitir.
Ou seja, uma oração em que eu me limito a fazer os meus pedidos já não é diálogo com Deus. O diálogo com Deus deve ser familiaridade, intimidade, amor. O diálogo, como a própria palavra diz, implica falar e ouvir. A oração, mais que a explicação do que quer que seja, é entrar em comunhão com alguém, falando e escutando. Por isso, a oração autêntica comporta uma abertura confiante no mistério e, ao mesmo tempo, a certeza de que o Reino não é uma fatalidade, mas, antes, um dom de amor do Pai e uma construção de amor dos seus filhos.
O ensino do evangelista Lucas, neste passo concreto sobre a oração, termina com uma frase que parece quase paradoxal, mas que retenho decisiva: «O vosso Pai celeste dará o Espírito a todos os que lho pedirem». No contexto, supõe-se que podemos pedir a Deus o que quisermos, mas receberemos sempre o mesmo dom: o Espírito. O que, afinal, quer dizer que recebemos a amizade do próprio Deus. E, como sabemos do evangelista João, é precisamente o Espírito que nos dá a iluminação para compreendermos qual é a vontade do Pai, a dinâmica do Reino e a coragem para agir em conformidade com esses dados...
Oração: a «fraqueza de Deus». Abraão é apresentado na história como aquele que é pai e origem dum grande povo. Mas o seu papel não se reduz a isso. Ele será também princípio ou origem de bênção para todos os povos. É neste contexto que se insere o episódio do livro do Génesis que a liturgia da palavra propõe à nossa consideração hoje. Este parece-me um dado muito claro e, por isso, devemos ter algum cuidado quando pensamos ou dizemos que «nós» é que seremos abençoados em Abraão.
E realmente é um fato curioso que, segundo a primeira leitura deste domingo, Abraão interceda por cidades que, aparentemente, não mereceriam perdão. Mas a verdade é que Sodoma (e concomitantemente também Gomorra) é o lugar, ou melhor, o motivo de encontro entre Abraão e Deus. Abraão apresenta-se aqui como defensor, aproveitando a ocasião que lhe é oferecida por Deus. Mas Sodoma, neste contexto, mais que uma cidade histórica (não se nega isso nem deixa de se negar), é uma figura estilizada, digamos assim, da perversidade em geral. Como tal, é aplicável, portanto, a qualquer situação humana em que a maldade parece prevalecer.
A intercessão de Abraão deve ser das descrições e páginas mais coloridas de traços judiciais que se encontram na Bíblia. A forma das suas perguntas é decididamente uma estratégia para ganhar tempo e chegar ao ponto pretendido. Abraão agarra-se, digamos assim, a dois princípios (que não são certamente «teológicos», mas profundamente humanos): a justiça de Deus e a solidariedade dos justos para com os pecadores. Se, por acaso, Deus destrói a cidade e, com ela, também os homens justos, a justiça de Deus ainda será justiça? - parece perguntar Abraão. Ou seja, por outras palavras, por que é que hão de perecer os justos juntamente com os pecadores e não há de ser o contrário? Por que não hão de os pecadores salvar-se juntamente com os justos?
Pode-se «discutir» com Deus. Focando
a atenção no tema da oração, eu diria que, se Abraão é o símbolo do homem
crente totalmente familiarizado com Deus, então, de alguma forma, ele é também
uma imagem do Messias. Jesus de Nazaré é a imagem perfeita do Pai (2ª leitura);
e com uma outra vantagem para nós: é que Ele é também imagem do homem. Ele,
como Homem-Deus, pode compatibilizar, por assim dizer, os dois termos do
paradoxo: ser a imagem perfeita do Pai e ser integralmente esse homem,
conhecedor profundo duma natureza que é feita de fulgores de divindade e de
baixezas de miséria.
Então, nos «novos tempos», para o
homem, a partir de agora, a «discussão» com Deus passa através de Jesus Cristo,
que é o intermediário junto dele, para que a sentença sobre os acontecimentos,
sobre os encontros da vida quotidiana, não seja uma sentença de condenação, mas
uma sentença de salvação (foi cancelado o documento escrito das nossas dívidas,
como diz a segunda leitura). E o cúmulo da intercessão de Jesus em favor do seu
povo é Ele ter-se oferecido para morrer em lugar do pecador. O Pai, por isso,
digamos assim, não pode ter outra atitude senão a de conceder o perdão àqueles
por quem o Defensor por excelência intercede. Incorporado em Cristo pelo
batismo para a edificação do Reino, o cristão é o «réu» que já foi absolvido e
que pode discutir, ou melhor dizendo, pode dialogar com o Pai sobre a maneira
como se deve construir esse Reino.
Oração «verbal» faz parte da vida. As formas de relacionamento valem sobretudo pelo que significam de empenho de pessoa a pessoa. Portanto, são um facto vital, antes de serem um facto «verbal». Mas o momento verbal é também um momento importante. Dito de outra maneira, para compreender o que quero dizer, seja-me permitido utilizar uma comparação. As oito horas de trabalho duro dum operário são uma demonstração concreta de amor pela mulher e pelos filhos. Quanto a isso, acho que ninguém tem dúvidas. Mas, não deixa também de ser um facto que, se eliminarmos o momento de diálogo «verbal» ao chegar à casa, perde-se uma dimensão essencial da existência humana.
Da mesma forma (nomeadamente por causa de nós), o nosso relacionamento com Deus deve incluir este momento de diálogo. É certo que, quando a gente faz o que deve fazer - seja o que for - em nome de Jesus para glória de Deus, está a rezar. Mas isso não significa que não seja preciso fazer mais nada. É por isso que é necessário acrescentar que a oração é também «palavra falada», é «verbalização» dos próprios sentimentos em relação a Deus. Quando não se fala, pouco a pouco, acaba por se chegar a um estado de espírito que é caracterizado pela estraneidade. Isto é verdade no convívio humano de todos os dias e é também verdade no convívio com Deus.
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