São Teotônio de Coimbra, Presbítero
Salmo
Responsorial: 111
R. Feliz o homem que ama e se
alegra na lei do Senhor.
Feliz o homem que teme o Senhor e
ama ardentemente os seus preceitos. A sua descendência será poderosa sobre a
terra, será abençoada a geração dos justos.
Haverá em sua casa abundância e
riqueza, a sua generosidade permanece para sempre. Brilha aos homens retos,
como luz nas trevas, o homem misericordioso, compassivo e justo.
Ditoso o homem que se compadece e
empresta e dispõe das suas coisas com justiça. Este jamais será abalado; o
justo deixará memória eterna.
Aleluia. Eu chamo-vos amigos,
diz o Senhor, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Aleluia.
Evangelho
(Mc 8,34-9,1): Chamou, então, a multidão, juntamente com os discípulos,
e disse-lhes: «Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua
cruz e siga-me! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua
vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará. De fato, que adianta alguém
ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida? E que poderia alguém dar em
troca da própria vida? Se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras
diante desta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se
envergonhará dele, quando vier na glória do seu Pai, com seus santos anjos». E
disse-lhes: «Em verdade vos digo: alguns dos que estão aqui não provarão a
morte, sem antes terem visto o Reino de Deus chegar com poder».
«Se alguém quer vir após mim,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!»
+ Rev. D. Joaquim FONT i Gassol (Igualada,
Barcelona, Espanha)
Ficamos de pé para escutar o
Santo Evangelho, como símbolo de querermos seguir os seus ensinamentos. Jesus
diz que nos neguemos a nós mesmos, clara expressão de não seguir o “gosto dos
caprichos” — como menciona o salmo — ou de afastar «as riquezas enganadoras»,
como diz São Paulo. Tomar a própria cruz é aceitar as pequenas mortificações
que cada dia encontramos pelo caminho.
Pode-nos ajudar para isso a frase
que Jesus disse no sermão sacerdotal, no Cenáculo: «Eu sou a videira verdadeira
e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo
ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda» (Jo 15,1-2). Um
lavrador esperançoso, mimando o racimo para que alcance muita qualidade! Sim,
queremos seguir ao Senhor! Sim, somos conscientes de que o Pai pode ajudar-nos
a dar abundante fruto em nossa vida terrenal e depois gozar na vida eterna.
Santo Inácio guiava a São
Francisco Xavier com as palavras do texto de hoje: «De fato, que adianta alguém
ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?» (Mc 8,36). Assim chegou a ser
o patrono das Missões. Com a mesma nuança, lemos o último Cânon do Código de
Direito Canônico (n.1752): «Tendo-se diante dos olhos a salvação das almas que,
na Igreja, deve ser sempre a lei suprema». São Agostinho tem a famosa lição:
«Animam salvasti tuam predestinasti», que o ditado popular a traduziu assim:
«Quem salva uma alma, garante a sua». O convite é evidente.
Maria, Mãe da Divina Graça, nos
dá a mão para avançar neste caminho.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Eu, até ao presente momento, sou
um escravo. Mas se alcançar sofrer o martírio, serei libertado em Jesus Cristo
e ressuscitarei livre, n´Ele» (Santo Inácio de Antioquia)
«A tradição teológica, espiritual
e ascética, desde os primeiros tempos, manteve a necessidade de seguir a Cristo
na Sua Paixão, não apenas na imitação das suas virtudes, como também na
cooperação na redenção universal» (São João Paulo II)
«A Cruz é o único sacrifício de
Cristo, mediador único entre Deus e os homens (1Tm 2,5). Mas porque, na sua
Pessoa divina encarnada. «Ele Se uniu, de certo modo, a cada homem», «a todos
dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de
Deus conhecido» (Concilio Vaticano II). Convida os discípulos a tomarem a sua
cruz e a segui-Lo (Mt 16,24) (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 618)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* Contexto histórico de
Marcos: Nos anos 70, quando Marcos escreve, a situação das comunidades não era
fácil. Havia muito sofrimento, muitas cruzes. Seis anos antes, em 64, o
imperador Nero havia decretado a primeira grande perseguição, matando muitos
cristãos. Em 70, na Palestina, Jerusalém estava sendo destruída pelos romanos.
Nos outros países, estava começando uma tensão forte entre judeus convertidos e
judeus não convertidos. A dificuldade maior era a Cruz de Jesus. Os judeus
achavam que um crucificado não podia ser o messias, pois a lei afirmava que
todo crucificado devia ser considerado como um maldito de Deus (Dt 21,22-23).
* Marcos 8,34-37. Condições
para seguir a Jesus - Jesus tira as conclusões que valiam para os
discípulos, para os cristãos do tempo de Marcos e para nós que vivemos hoje:
Quem quiser vir após mim tome sua cruz e siga-me! Naquele tempo, a cruz era a
pena de morte que o império romano impunha aos marginais. Tomar a cruz e
carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser marginalizado pelo
sistema injusto que legitimava a injustiça. A Cruz de Jesus não é fruto de
fatalismo da história, nem é exigência do Pai. A Cruz é a consequência do
compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é
Pai e que, portanto, todos e todas devem ser aceitos e tratados como irmãos e
irmãs. Por causa deste anúncio revolucionário, ele foi perseguido e não teve
medo de dar a sua vida. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.
Em seguida, Marcos insere aqui duas frases soltas.
* Marcos 8,38-9,1. Duas frases
soltas: uma exigência e um aviso. - A primeira (Mc 8,38), é a exigência
para não termos vergonha do Evangelho, mas termos sim a coragem de professá-lo.
A segunda (Mc 9,1), é um aviso sobre a vinda ou a presença de Jesus nos fatos
da vida. Alguns achavam que Jesus viria logo (1Ts 4,15-18). Jesus, de fato, já
veio e estava presente nas pessoas, sobretudo nos pobres. Mas eles não o
percebiam. Jesus mesmo tinha dito: “Aquela vez que você ajudou o pobre, o
doente, o sem casa, o preso, o peregrino, era eu!” (Mt 25,34-45)
Para um confronto pessoal
1. Qual é a cruz que pesa
sobre mim e que me torna a vida pesada? Como a carrego?
2. Ganhar a vida ou perder
a vida; ganhar o mundo inteiro ou perder a alma; ter vergonha do evangelho ou professá-lo
publicamente. Como isto acontece em minha vida hoje?
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