S. Pedro Damião, Bispo
Salmo
Responsorial: 18
R. Os preceitos do Senhor são retos
e alegram o coração.
A lei do Senhor é perfeita, ela
reconforta a alma; as ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria aos simples.
Os preceitos do Senhor são retos
e alegram o coração; os mandamentos do Senhor são claros e iluminam os olhos.
O temor do Senhor é puro e
permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros, todos eles são retos.
Aceitai as palavras da minha boca
e os pensamentos do meu coração estejam na vossa presença: Vós, Senhor, sois o
meu amparo e redentor.
Aleluia. Jesus Cristo, nosso
Salvador, destruiu a morte e fez brilhar a vida por meio do Evangelho. Aleluia.
Evangelho
(Mc 9,14-29): Quando voltaram para junto dos discípulos, encontraram-nos
rodeados por uma grande multidão, e os escribas discutiam com eles. Logo que a
multidão viu Jesus, ficou admirada e correu para saudá-lo. Jesus perguntou:
«Que estais discutindo?». Alguém da multidão respondeu-lhe: «Mestre, eu trouxe
a ti o meu filho que tem um espírito mudo. Cada vez que o espírito o agride,
joga-o no chão, e ele começa a espumar, range os dentes e fica completamente
duro. Eu pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram».
Jesus lhes respondeu: «Ó geração sem fé! Até quando vou ficar convosco? Até
quando vou suportar-vos? Trazei-me o menino!». Levaram-no. Quando o espírito
viu Jesus, sacudiu violentamente o menino, que caiu no chão e rolava espumando.
Jesus perguntou ao pai: «Desde quando lhe acontece isso? O pai respondeu:
«Desde criança. Muitas vezes, o espírito já o lançou no fogo e na água, para
matá-lo. Se podes fazer alguma coisa, tem compaixão e ajuda-nos». Jesus disse:
«Se podes…? Tudo é possível para quem crê». Imediatamente, o pai do menino
exclamou: «Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé». Vendo Jesus que a multidão
se ajuntava ao seu redor, repreendeu o espírito impuro: «Espírito mudo e surdo,
eu te ordeno: sai do menino e nunca mais entres nele». O espírito saiu,
gritando e sacudindo violentamente o menino. Este ficou como morto, tanto que
muitos diziam: «Morreu!». Mas Jesus o tomou pela mão e o levantou; e ele ficou
de pé. Depois que Jesus voltou para casa, os discípulos lhe perguntaram, em
particular: «Por que nós não conseguimos expulsá-lo?». Ele respondeu: «Essa
espécie só pode ser expulsa pela oração».
«Ajuda-me na minha falta de
fé»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant
Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
É terrível o mal que o Diabo pode
chegar a fazer! Uma criatura sem caridade. — Senhor, temos que rezar: «Livra-nos
do mal» não se entende, como hoje em dia, pode haver vozes que dizem que o
Diabo não existe, ou outros que lhe rendem algum tipo de culto... É absurdo!
Nós temos que tirar uma lição de tudo isto: não se pode brincar com fogo!
«Eu pedi aos teus discípulos que
o expulsassem, mas eles não conseguiram». (Mc 9,18). Quando Jesus ouve essas
palavras, sente grande desgosto. Desgosta-se, sobretudo, pela falta de fé... E
lhes falta fé porque tem que rezar mais: «Essa espécie só pode ser expulsa pela
oração» (Mc 9,29).
A oração é um diálogo “íntimo”
com Deus. João Paulo II tem afirmado que «a oração supõe sempre uma espécie de
encobrimento com Cristo em Deus. Só nesse “encobrimento” atua o Espírito Santo»
Em um ambiente íntimo de encobrimento se pratica a assiduidade amistosa com
Jesus, a partir da qual se gera o incremento de confiança Nele, quer dizer, o
aumento da fé.
Mas esta fé, que move montanhas e
expulsa espíritos maliciosos («Tudo é possível para quem crê») é, sobretudo, um
dom de Deus. Nossa oração, em todo caso, nos coloca em disposição para receber
o dom. Mas a esse dom temos que implorá-lo: «Eu creio! Ajuda-me na minha falta
de fé» (Mc 9,24). A resposta de Cristo não se fará “rogar”!
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* Marcos 9,14-22: A situação
do povo: desespero sem solução. - Na
descida da montanha da Transfiguração, Jesus encontrou muita gente ao redor dos
discípulos. Um pai estava desesperado, pois um espírito mudo tinha tomado conta
do filho. Com muitos detalhes Marcos descreve a situação do menino possesso, a
angústia do pai, a incapacidade dos discípulos e a reação de Jesus. O que mais
chama atenção são duas coisas: de um lado, a confusão e a impotência do povo e
dos discípulos diante do fenômeno da possessão e, do outro lado, o poder de
Jesus e o poder da fé em Jesus diante do qual o demônio perde toda a sua
influência. O pai tinha pedido aos discípulos para expulsar o demônio do
menino, mas eles não foram capazes. Jesus ficou impaciente e disse: “Até quando
vou aguentar esta geração sem fé! Tragam o menino aqui!”. Jesus pergunta a
respeito da doença do menino. Pela resposta do pai, Jesus fica sabendo que o
menino, “desde pequeno”, tinha uma doença grave que o colocava em perigo de
vida. O pai pede: “Se o senhor puder fazer alguma coisa, tenha pena de nós!” A
frase do pai expressa a situação bem real do povo: (1) tem a fé abalada, (2)
está sem condições de resolver os problemas, mas (3) tem muito boa vontade de
acertar.
* Marcos 9,23-27: A resposta
de Jesus: o caminho da fé. - O pai tinha dito: “Se o senhor puder fazer
alguma coisa!” Jesus não gostou da afirmação: “Se o senhor puder...”. Tal
condição não podia ser colocada, pois “tudo é possível a quem tem fé!” O pai
responde: Eu creio, Senhor! Mas ajude a minha falta de fé! A resposta do pai
ocupa um lugar central neste episódio. Ela mostra como deve ser a atitude do
discípulo, da discípula, que, apesar de seus limites e dúvidas, quer ser fiel.
Vendo que vinha muita gente, Jesus agiu rápido. Ordenou ao espírito que saísse
do menino e não voltasse “nunca mais!” Sinal do poder de Jesus sobre o mal.
Sinal também de que Jesus não queria propaganda populista.
* Marcos 9,28-29.
Aprofundamento com os discípulos. - Em casa, os discípulos querem saber por
que não foram capazes de expulsar o demônio. Jesus responde: Esta espécie de
demônios só sai com muita oração! Fé e oração andam juntas. Uma sem-a outra não
existe. Os discípulos tinham piorado. Antes, eles tinham sido capazes de
expulsar os demônios (cf. Mc 6,7.13). Agora, já não conseguem mais. Faltou o
que? Fé ou oração? Por que faltou? São perguntas que saem do texto e entram na
nossa cabeça para que façamos, também nós, uma séria revisão da nossa vida.
* A expulsão dos demônios no
evangelho de Marcos - No tempo de Jesus, muita gente falava em Satanás e em
expulsão de demônios. Havia muito medo, e havia pessoas que exploravam o medo
do povo. O poder do mal tinha muitos nomes: Demônio, Diabo, Belzebu, Príncipe
dos demônios, Satanás, Dragão, Dominações, Poderes, Potestades, Soberanias,
Besta-fera, Lúcifer etc. (cf. Mc 3,22.23; Mt 4,1; Ap 12,9; Rm 8,38; Ef 1,21).
Hoje, entre nós, o poder do mal também tem muitos nomes. Basta consultar o
dicionário no verbete Diabo ou Demônio. Também hoje, muita gente desonesta se
enriquece, explorando o medo que o povo tem do demônio. Ora, um dos objetivos
da Boa Nova de Jesus é, precisamente, ajudar o povo a se libertar deste medo. A
chegada do Reino de Deus significa a chegada de um poder mais forte. O homem
forte era uma imagem para designar o poder do mal que mantinha o povo dentro da
prisão do medo (Mc 3,27). O poder do mal oprime as pessoas e as aliena de si.
Faz com que vivam no medo e na morte (cf. Mc 5,2). É um poder tão forte que
ninguém consegue amarrá-lo (cf. Mc 5,4). O império romano com suas “Legiões”
(cf. Mc 5,9), isto é, com seus exércitos, era o instrumento usado para manter
esta situação de opressão. Mas Jesus é o homem mais forte que vence, amarra e
expulsa o poder do mal! Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo faz a enumeração
de todos os possíveis poderes ou demônios que poderiam ameaçar-nos, e resume
tudo da seguinte maneira: “Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem o presente, nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a
profundeza, nem outra criatura qualquer! Nada nos pode separar do amor de Deus
que se manifestou em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Rm 8,38-39) Nada mesmo! E as
primeiras palavras de Jesus depois da ressurreição são estas: “Não fiquem
assustadas! Alegrem-se! Não tenham medo! A paz esteja com vocês!” (Mc 16,6; Mt
28,9.10; Lc 24,36; Jo 20,21).
Para um confronto pessoal
1) Você já viveu alguma
vez uma experiência de impotência diante do mal e da violência? Foi experiência
só sua ou também da comunidade? Como venceu e se reencontrou?
2) Qual a espécie de poder
do mal que, hoje, só sai com muita oração?
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