Salmo
Responsorial: 14
R. Quem habitará, Senhor, no
vosso santuário?
O que vive sem mancha e pratica a
justiça e diz a verdade que tem no seu coração e guarda a sua língua da
calúnia.
O que não faz mal ao seu próximo,
nem ultraja o seu semelhante, o que tem por desprezível o ímpio, mas estima os
que temem o Senhor.
O que não falta ao juramento
mesmo em seu prejuízo e não empresta dinheiro com usura, nem aceita presentes
para condenar o inocente. Quem assim proceder jamais será abalado.
Aleluia. Deus, Pai de Nosso
Senhor Jesus Cristo ilumine os olhos do nosso coração, para conhecermos a
esperança a que fomos chamados. Aleluia.
Evangelho
(Mc 8,22-26): Chegaram a Betsaida. Trouxeram-lhe um cego e pediram que
tocasse nele. Tomando o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos
olhos dele, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Estás vendo alguma coisa?».
Erguendo os olhos, o homem disse: «Estou vendo as pessoas como se fossem
árvores andando». Jesus impôs de novo as mãos sobre os seus olhos, e ele
começou a enxergar perfeitamente. Ficou curado e era capaz de ver tudo
claramente. Jesus despediu-o e disse-lhe: «Não entres no povoado».
«Ficou curado e era capaz de
ver tudo claramente»
Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Rubí,
Barcelona, Espanha)
Ao chegar a Betsaida trazem um
cego a Jesus para que lhe imponha as mãos. É significativo que Jesus o leve
para fora; não nos está indicando isto que para escutar a palavra de Deus, para
descobrir a fé e ver a realidade em Cristo, devemos sair de nós mesmos, de
sítios e tempos ruidosos que nos asfixiam e nos deslumbram para receber a autêntica
iluminação?
Uma vez fora da aldeia, Jesus
«cuspiu nos olhos dele, impôs-lhe as mãos e perguntou: Estás vendo alguma
coisa?» (Lc 8,23). Este gesto lembra o Batismo: Jesus já não nos unta com
saliva, senão que banha todo o nosso ser com a água da salvação e ao largo da
vida, nos interroga sobre o que vemos à luz da fé. «Impôs de novo as mãos sobre
os seus olhos, e ele começou a enxergar perfeitamente» (Lc 8,25); este segundo
momento faz lembrar o sacramento da Confirmação, no qual recebemos a plenitude
do Espírito Santo para chegarmos à perfeição da fé e poder ver claro. Receber o
Batismo, mas esquecer a Confirmação nos leva a ver, sim, mas só a meias.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Deus propõe os mistérios da fé à
nossa alma no meio de escuridões e das trevas. Porém, o ato de fé consiste em
subjugar o nosso espírito, que recebeu a agradável luz da verdade» (São
Francisco de Sales)
«Deixemo-nos curar por Jesus, que
pode e quer dar-nos a luz de Deus. Confessemos a nossa cegueira, a nossa miopia
e, acima de tudo, o que a Bíblia chama de 'grande pecado': o orgulho” (Bento
XVI)
«É pela imposição das mãos que
Jesus cura os doentes e abençoa as crianças. O mesmo farão os Apóstolos, em seu
nome. Ainda mais: é pela imposição das mãos dos Apóstolos que o Espírito Santo
é dado (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 699).
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje
mostra como foi difícil a cura do primeiro cego. Jesus teve que realizá-la em
duas etapas. Igualmente difícil foi a cura da cegueira dos discípulos. Jesus
teve que fazer uma longa explicação a respeito do significado da Cruz para ajudá-los
a enxergar, pois era a cruz que estava provocando neles a cegueira.
* No ano 70, quando Marcos
escreve, a situação das comunidades não era fácil. Havia muito sofrimento,
muitas cruzes. Seis anos antes, em 64, o imperador Nero tinha decretado a
primeira grande perseguição, matando muitos cristãos. Em 70, na Palestina,
Jerusalém estava sendo destruída pelos romanos. Nos outros países, estava
começando uma tensão forte entre judeus convertidos e judeus não convertidos. A
dificuldade maior era a Cruz de Jesus. Os judeus achavam que um crucificado não
podia ser o messias tão esperado pelo povo, pois a lei afirmava que todo
crucificado devia ser considerado como um maldito de Deus (Dt 21,22-23).
* Marcos 8,22-26: Cura de um
cego. - Trouxeram um cego, pedindo que Jesus o curasse. Jesus o curou, mas
de um jeito diferente. Primeiro, ele o levou para fora do povoado. Em seguida,
cuspiu nos olhos dele, impôs as mãos e perguntou: Você está vendo alguma coisa?
O homem respondeu: Vejo pessoas; parecem árvores que andam! Enxergava só uma
parte. Trocava árvore por gente, ou gente por árvore! Foi só na segunda
tentativa que Jesus curou o cego e o proibiu de entrar no povoado. Jesus não
queria propaganda fácil.
* Como dissemos, esta
descrição da cura do cego forma a introdução à longa instrução de Jesus para
curar a cegueira dos discípulos, que, no fim, termina com a cura de outro cego,
o Bartimeu. Na realidade o cego era Pedro. Somos todos nós. Pedro não queria o
compromisso da Cruz! E nós será que entendemos o significado do sofrimento na
vida?
* Entre as duas curas de
cego (Mc 8,22-26 e Mc 10,46-52), está a longa instrução sobre a Cruz (Mc 8,27 a
10,45). Parece um catecismo, feita com frases do próprio Jesus. Ela fala sobre
a cruz na vida do discípulo e da discípula. A longa instrução consta de três
anúncios da paixão. O primeiro é de Marcos 8,27-38. O segundo, de Marcos
9,30-37. O terceiro, de Marcos 10,32-45. Entre o primeiro e o segundo, há uma
série de instruções para ajudar a entender que Jesus é o Messias Servo (Mc
9,1-29). Entre o segundo e o terceiro, uma série de instruções que esclarecem
que tipo de conversão deve ocorrer na vida dos que aceitam Jesus como Messias
Servo (Mc 9,38 a 10,31).
Mc 8,22-26: a cura de um cego
Mc 8,27-38: primeiro anúncio da
Cruz
Mc 9,1-29: instruções aos
discípulos sobre o Messias Servo
Mc 9,30-37: Segundo anúncio da
Cruz
Mc 9,38 a 10,31: instruções aos
discípulos sobre a conversão
Mc 10,32-45: terceiro anúncio da
Cruz
Mc 10,46-52: a cura do cego
Bartimeu
O conjunto desta instrução tem como
pano de fundo a caminhada da Galileia até Jerusalém. Desde o começo até o fim
desta longa instrução, Marcos informa que Jesus está a caminho de Jerusalém,
onde será preso e morto (Mc 8,27; 9,30.33; 10,1.17.32). A compreensão plena do
seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo
compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galileia
até Jerusalém. Quem insiste em manter a ideia de Pedro, isto é, do Messias
glorioso sem a cruz, nada vai entender e nunca chegará a tomar a atitude do
verdadeiro discípulo. Continuará cego, trocando gente por árvore (Mc 8,24).
Pois sem a cruz é impossível entender quem é Jesus e o que significa seguir
Jesus.
O Caminho do seguimento é o
caminho da entrega, do abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação
do conflito, sabendo que haverá ressurreição. A cruz não é um acidente de
percurso, mas faz parte deste caminho. Pois num mundo, organizado a partir do
egoísmo, o amor e o serviço só podem existir crucificados! Quem faz da sua vida
um serviço aos outros, incomoda os que vivem agarrados aos privilégios, e
sofre.
Para um confronto pessoal
1. Todos acreditamos em
Jesus. Mas um entende Jesus de um jeito, outro o entende de outro jeito. Qual
é, hoje, o Jesus mais comum no modo de pensar do povo? Como a propaganda
interfere no meu modo de ver Jesus? O que faço para não cair engano da
propaganda?
2. O que Jesus pede às
pessoas que querem segui-lo? O que, hoje, nos impede de reconhecer e de assumir
o projeto de Jesus?
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