S João da Mata, presbítero
Salmo Responsorial: 36
R. A boca do justo
proclama a sabedoria.
Confia ao Senhor o teu destino e tem confiança, que Ele atuará.
Fará brilhar a tua luz como a justiça e como o sol do meio-dia os teus
direitos.
A boca do justo profere a sabedoria e a sua língua proclama
a justiça. A lei de Deus está no seu coração e não vacila nos seus passos.
A salvação dos justos vem do Senhor, Ele é o seu refúgio no
tempo da tribulação. O Senhor os ajuda e defende, porque n’Ele procuraram
refúgio.
Aleluia. A vossa palavra, Senhor, é a verdade: consagrai-nos na
verdade. Aleluia.
Evangelho (Mc 7,14-23): Chamando outra vez a
multidão, dizia: «Escutai-me, vós todos, e compreendei! Nada que, de fora,
entra na pessoa pode torná-la impura. O que sai da pessoa é que a torna
impura». Quando Jesus entrou em casa, longe da multidão, os discípulos lhe
faziam perguntas sobre essa parábola. Ele lhes disse: «Também vós não
entendeis? Não compreendeis que nada que de fora entra na pessoa a torna
impura, porque não entra em seu coração, mas em seu estômago, e vai para a
fossa?». Assim, ele declarava puro todo alimento. E acrescentou: «O que sai da
pessoa é que a torna impura. Pois é de dentro, do coração humano, que saem as
más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições
desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e
insensatez. Todas essas coisas saem de dentro, e são elas que tornam alguém
impuro».
«Nada que de fora entra na pessoa a torna impura»
Rev. D. Norbert ESTARRIOL i Seseras (Lleida, Espanha)
O Senhor nos pede que toda nossa atividade humana esteja bem
realizada: espera que nela ponhamos intensidade, ordem, ciência, competência,
preocupação de perfeição, não buscando outro alvo e sim restaurar o plano
criador de Deus, que fez o melhor para o bom proveito do homem: «Pureza de
intenção. —A terás, se, sempre e em tudo, só buscais agradar a Deus» (São
Josemaria).
Só nossa vontade pode estragar o plano divino e, é
necessário vigiar para que não seja assim. Muitas vezes se metem a vaidade, o
amor próprio, os desânimos por falta de fé, a impaciência por não conseguir os
resultados esperados, etc. Por isso, nos advertia São Gregório Magno: «Não nos
seduza nenhuma prosperidade aduladora, porque é um viajante teimoso aquele que
para no caminho a contemplar as paisagens a menos que ele se esqueça do ponto
ao que se dirige».
É conveniente, portanto, estar atentos no oferecimento de
obras, manterem a presença de Deus e considerar frequentemente a filiação
divina, de maneira que todo nosso dia —com oração e trabalho— tome sua força e
comece no Senhor, e que tudo o que começamos por Ele chegue a seu fim.
Podemos fazer grandes coisas se notamos que cada um de
nossos atos humanos é corredentor quando está unido aos atos de Cristo.
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«Não nos deixemos seduzir por nenhuma prosperidade lisonjeira,
porque é um viajante teimoso quem pára no caminho para contemplar as paisagens
agradáveis e se esquece para onde vai» (São Gregório Magno)
«É no coração humano que se desenvolve o enredo mais íntimo
e, em certo sentido, o mais essencial da história» (São João Paulo II)
«O coração é a morada onde estou, onde habito (...). É a
sede da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. É o lugar do encontro, já
que, à imagem de Deus, vivemos em relação [com Ele]: é o lugar da Aliança»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 2.563)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Marcos 7,14-16:
Jesus abre um novo caminho para o povo se aproximar de Deus - Ele diz para
a multidão: “Não há nada no exterior do ser humano que, entrando nele, possa
torná-lo impuro!” (Mc 7,15). Jesus inverte as coisas: o impuro não vem de fora
para dentro, como ensinavam os doutores da lei, mas sim de dentro para fora.
Deste modo, ninguém mais precisa se perguntar se esta ou aquela comida ou a
bebida é pura ou impura. Jesus coloca o puro e o impuro num outro nível, no
nível do comportamento ético. Ele abre um novo caminho para chegar até Deus e,
assim, realiza o desejo mais profundo do povo.
* Marcos 7,17-23: Em
casa, os discípulos pedem explicação - Os discípulos não entenderam bem o
que Jesus queria dizer com aquela afirmação. Quando chegaram em casa pediram
uma explicação. Jesus estranhou a pergunta dos discípulos. Pensava que eles
tivessem entendido a parábola. Na explicação aos discípulos ele vai até ao
fundo da questão da pureza. Declara puros todos os alimentos! Ou seja, nenhum
alimento que de fora entra no ser humano pode torná-lo impuro, pois não vai até
o coração, mas vai para o estômago e acaba na fossa. Mas o que torna impuro,
diz Jesus, é aquilo que de dentro do coração sai para envenenar o
relacionamento humano. E ele enumera: prostituição, roubo, assassinato,
adultério, ambição, etc. Assim, de muitas maneiras, pela palavra, pelo toque e
pela convivência, Jesus foi ajudando as pessoas a ver e obter a pureza de outra
maneira. Pela palavra, purificava os leprosos (Mc 1,40-44), expulsava os
espírito impuros (Mc 1,26.39; 3,15.22 etc), e vencia a morte que era a fonte de
toda a impureza. Pelo toque em Jesus, a mulher excluída como impura ficou
curada (Mc 5,25-34). Sem medo de contaminação, Jesus comia junto com as pessoas
consideradas impuras (Mc 2,15-17).
* As leis da pureza
no tempo de Jesus - O povo daquela época tinha uma grande preocupação com a
pureza. A lei e as normas da pureza indicavam as condições necessárias para
alguém poder comparecer diante de Deus e se sentir bem na presença dele. Não se
podia comparecer diante de Deus de qualquer jeito. Pois Deus é Santo. A Lei
dizia: “Sede santos, porque eu sou santo!” (Lv 19,2). Quem não era puro não
podia chegar perto de Deus para receber dele a bênção prometida a Abraão. A lei
do puro e do impuro (Lv 11 a 16) foi escrita depois do cativeiro da Babilônia,
cerca de 800 anos depois do Êxodo, mas tinha suas raízes na mentalidade e nos
costumes antigos do povo da Bíblia. Uma visão religiosa e mítica do mundo
levava o povo a apreciar as coisas, as pessoas e os animais, a partir da
categoria da pureza (Gn 7,2; Dt 14,13-21; Nm 12,10-15; Dt 24,8-9).
No contexto da dominação persa, séculos V e IV antes de
Cristo, diante da dificuldade para reconstruir o templo de Jerusalém e para a
própria sobrevivência do clero, os sacerdotes que estavam no governo do povo da
Bíblia ampliaram as leis da pureza e a obrigação de oferecer sacrifícios de
purificação pelo pecado. Assim, depois do parto (Lv 12,1-8), da menstruação (Lv
15,19-24) ou da cura de uma hemorragia (Lv 15,25-30), as mulheres tinham que
oferecer sacrifícios para recuperar a pureza. Pessoas leprosas (Lv 13) ou que
entravam em contato com coisas e animais impuros (Lv 5,1-13) também deviam
oferecer sacrifícios. Uma parte destas oferendas ficava para os sacerdotes (Lv
5,13).
No tempo de Jesus, tocar em leproso, comer com publicano,
comer sem lavar as mãos, e tantas outras atividades, etc.: tudo isso tornava a
pessoa impura, e qualquer contato com esta pessoa contaminava os outros. Por
isso, as pessoas “impuras” deviam ser evitadas. O povo vivia acuado, sempre
ameaçado pelas tantas coisas impuras que ameaçavam sua vida. Era obrigado a
viver desconfiado de tudo e de todos. Agora, de repente, tudo mudou! Através da
fé em Jesus, era possível conseguir a pureza e sentir-se bem diante de Deus sem
que fosse necessário observar todas aquelas leis e normas da “Tradição dos
Antigos”. Foi uma libertação! A Boa Nova anunciada por Jesus tirou o povo da
defensiva, do medo, e lhe devolveu a vontade de viver, a alegria de ser filho e
filha de Deus, sem medo de ser feliz!
Para um confronto
pessoal
1. Na sua vida há
costumes que você considera sagrados e outros que considera não sagrados?
Quais? Por que?
2. Em nome da
Tradição dos Antigos os fariseus esqueciam o Mandamento de Deus. Isto acontece
hoje? Onde e quando? Também na minha vida?
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