Bta Arcângela Girlani, Virgem de nossa Ordem.
Salmo Responsorial: 50
R. Dai-me, Senhor, um
coração puro.
Criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro
de mim um espírito firme. Não queirais repelir-me da vossa presença e não
retireis de mim o vosso espírito de santidade.
Dai-me de novo a alegria da vossa salvação e sustentai-me
com espírito generoso. Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos e os
transviados hão de voltar para Vós.
Meu Deus, meu Salvador, livrai-me do sangue derramado e a
minha língua proclamará a vossa justiça. Abri, Senhor, os meus lábios e a minha
boca anunciará o vosso louvor.
Aleluia. Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito;
quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Aleluia.
Evangelho (Mc 4,35-41): Naquele dia, ao cair da
tarde, Jesus disse aos discípulos: «Passemos para a outra margem!”». Eles
despediram as multidões e levaram Jesus, do jeito como estava, consigo no
barco; e outros barcos o acompanhavam. Veio, então, uma ventania tão forte que
as ondas se jogavam dentro do barco; e este se enchia de água. Jesus estava na
parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e
disseram-lhe: «Mestre, não te importa que estejamos perecendo?». Ele se
levantou e repreendeu o vento e o mar: «Silêncio! Cala-te!» O vento parou, e
fez-se uma grande calmaria. Jesus disse-lhes então: «Por que sois tão medrosos?
Ainda não tendes fé?». Eles sentiram grande temor e comentavam uns com os
outros: «Quem é este, a quem obedecem até o vento e o mar?».
«Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?»
Rev. D. Joaquim FLURIACH i Domínguez (St. Esteve de P., Barcelona, Espanha)
Em outro lugar do Evangelho, ante uma situação onde os
Apóstolos duvidam, se diz que ainda não podiam acreditar porque não haviam
recebido o Espírito Santo. O senhor deverá ter muita paciência para continuar
ensinando aos primeiros aquilo que eles mesmos nos mostrarão depois, e do que
serão firmes e valentes testemunhas.
Estaria muito bem que nós também nos sentíssemos
“repreendidos”. Com mais motivo ainda! Recebemos o Espírito Santo que nos faz
sentir capazes de entender como realmente o Senhor está conosco no caminho da
vida, se realmente buscamos fazer sempre a vontade do Pai. Objetivamente, não
temos nenhum motivo para a covardia. Ele é o único Senhor do Universo, porque
«Eles ficaram penetrados de grande temor e cochichavam entre si: Quem é este, a
quem até o vento e o mar obedecem?» (Mc 4,41), como afirmam admirados os
discípulos.
Então, o que é o que me dá medo? São motivos tão graves como
para pôr em dúvida o poder infinitamente grande como é o do Amor que o Senhor
nos tem? Esta é a pergunta que nossos irmãos mártires souberam responder, não
com palavras, mas com sua própria vida. Como tantos irmãos nossos que, com a
graça de Deus, cada dia fazem de cada contradição um passo mais no crescimento
da fé e da esperança. Nós, por que não? É que não sentimos dentro de nós o
desejo de amar ao Senhor com todo o pensamento, com todas as forças, com toda a
alma?
Um dos grandes exemplos de valentia e de fé, temos em Maria,
Auxilio dos cristãos, Rainha dos confessores. Ao pé da Cruz soube manter em pé
a luz da fé... que se fez resplandecente no dia da Ressurreição!
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«Na oração feita devidamente, se fundem as penas como a neve
na presencia do sol» (São João Mª Vianney)
«Os Apóstolos não devem temer as ameaças: Cristo —mesmo que
silencioso— está na barca e, por isso, nunca se tem afundado» (Bento XVI)
«A referência, primeira e última, desta catequese será
sempre o próprio Jesus Cristo, que é ‘o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14,
6). De olhos postos n'Ele com fé, os cristãos podem esperar que Ele próprio
realize neles as suas promessas e, amando-O com o amor com que Ele os amou,
podem fazer as obras correspondentes à sua dignidade» (Catecismo da Igreja
Católica, nº 1.698).
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* Marcos 4,35-36: O
ponto de partida: “Vamos para o outro lado”.
Foi um dia pesado de muito trabalho. Terminado o discurso
das parábolas (Mc 4,1-34), Jesus diz: “Vamos para o outro lado!” Do jeito que
Jesus estava, eles o levam no barco, de onde tinha feito o discurso das
parábolas. De tão cansado, Jesus deita e dorme em cima de um travesseiro. Este
é o quadro inicial que Marcos pinta. Quadro bonito, bem humano.
* Marcos 4,37-38: A
situação desesperadora: “Não te importa que pereçamos?” - O lago da Galileia
é cercado de altas montanhas. Às vezes, por entre as fendas das rochas, o vento
cai em cima do lago e provoca tempestades repentinas. Vento forte, mar agitado,
barco cheio de água! Os discípulos eram pescadores experimentados. Se eles
acham que vão afundar, então a situação é perigosa mesmo! Jesus nem sequer
acorda e continua dormindo. Este sono profundo não é só sinal do grande
cansaço. É também expressão da confiança tranquila que ele tem em Deus. O
contraste entre a atitude de Jesus e a dos discípulos é grande!
* Marcos 4,39-40: A
reação de Jesus: “Vocês ainda não têm fé?” - Jesus acorda, não por causa
das ondas, mas por causa do grito desesperado dos discípulos. Primeiro, ele se
dirige ao mar e diz: “Fique quieto!” E logo o mar se acalma. Em seguida, se
dirige aos discípulos e diz: “Por que vocês têm medo? Ainda não têm fé?” A
impressão que se tem é que não era preciso acalmar o mar, pois não havia nenhum
perigo. É como quando você chega numa casa e o cachorro, ao lado do dono, late
muito. Aí não precisa ter medo, pois o dono está aí e controla a situação. O
episódio do mar acalmado evoca o êxodo, quando o povo, sem medo, passava pelo
meio das águas do mar (Ex 14,22). Evoca o profeta Isaías que dizia ao povo:
“Quando passares pelas águas eu estarei contigo!” (Is 43,2) Jesus refaz o êxodo
e realiza a profecia anunciada pelo Salmo 107(106),25-30.
* Marcos 4,41: O não
saber dos discípulos: “Quem é este homem?” - Jesus acalmou o mar e disse:
“Então, vocês não têm fé?” Os discípulos não sabem o que responder e se
perguntam: “Quem é este homem a quem até o mar e o vento obedecem?” Jesus
parece um estranho para eles! Apesar da longa convivência, não sabem direito
quem ele é. Quem é este homem? Com esta pergunta na cabeça, as comunidades
continuavam a leitura do evangelho. E até hoje, é esta mesma pergunta que nos
leva a continuar a leitura dos Evangelhos. É o desejo de conhecer sempre melhor
o significado de Jesus para a nossa vida.
* Quem é Jesus? - Marcos
começa o seu evangelho dizendo: “Início da Boa Nova de Jesus Cristo, Filho de
Deus” (Mc 1,1). No fim, na hora da morte de Jesus, um soldado pagão declara:
“Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mc 15,39) No começo e no fim
do Evangelho, Jesus é chamado Filho de Deus. Entre o começo e o fim, aparecem
muitos outros nomes de Jesus. Eis a lista: Messias ou Cristo (Mc 1,1; 8,29;
14,61; 15,32); Senhor (Mc 1,3; 5,19; 11,3); Filho amado (Mc 1,11; 9,7); Santo
de Deus (Mc 1,24); Nazareno (Mc 1,24; 10,47; 14,67; 16,6); Filho do Homem (Mc
2,10.28; 8,31.38; 9,9.12.31; 10,33.45; 13,26; 14,21.21.41.62); Noivo (Mc 2,19);
Filho de Deus (Mc 3,11); Filho do Deus altíssimo (Mc 5,7); Carpinteiro (Mc
6,3); Filho de Maria (Mc 6,3); Profeta (Mc 6,4.15; 8,28); Mestre (frequente);
Filho de Davi (Mc 10,47.48; 12,35-37); Bendito (Mc 11,9); Filho (Mc 13,32);
Pastor (Mc 14,27); Filho do Deus bendito (Mc 14, 61); Rei dos judeus (Mc
15,2.9.18.26); Rei de Israel (Mc 15,32),
Cada nome, título ou atributo é uma tentativa de expressar o
que Jesus significava para as pessoas. Mas um nome, por mais bonito que seja,
nunca chega a revelar o mistério de uma pessoa, muito menos da pessoa de Jesus.
Além disso, alguns destes nomes dados a Jesus, inclusive os mais importantes e
os mais tradicionais, são questionados e colocados em dúvida pelo próprio
Evangelho de Marcos. Assim, na medida em que avançamos na leitura do evangelho,
Marcos nos obriga a rever nossas ideias e a nos perguntar, cada vez de novo:
“Afinal, quem é Jesus para mim, para nós?” Quanto mais se avança na leitura do
evangelho de Marcos, tanto mais se quebram os títulos e os critérios. Jesus não
cabe em nenhum destes nomes, em nenhum esquema, em nenhum título. Ele é maior!
Aos poucos, o leitor, a leitora, vai se entregando e desiste de querer
enquadrar Jesus em algum conceito conhecido ou ideia já pronta, e o aceita do
jeito que ele mesmo se apresenta. O amor capta, a cabeça, não!
Para um confronto
pessoal
1. As águas do
mar da vida, alguma vez, já ameaçaram afogar você? O que o salvou?
2. Qual era o mar agitado no tempo de Jesus? Qual era o mar agitado na época em que Marcos escreveu o seu evangelho? Qual é, hoje, o mar agitado para nós?
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