sábado, 1 de janeiro de 2022

3 de janeiro: O Santíssimo Nome de Jesus

São Ciríaco Elias Chavara, Presbítero de nossa Ordem

I Leitura (At 4,8-12) - Naqueles dias, cheio do Espírito Santo, Pedro disse: Príncipes do povo e anciãos, escutai: Porque hoje temos que responder sobre o benefício praticado na pessoa de um   homem enfermo, para dizer em que nome foi ele curado, sabei, vós todos e todo o povo de Israel, que foi em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Nazareno, a quem   vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dos mortos; por Ele é que este homem está diante de vós e foi curado. Esse Jesus é a pedra, que foi rejeitada por vós, que edificais, a qual se tornou a pedra angular. E em nenhum outro há   salvação. Porque, sob o céu, nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos.

Salmo Responsorial Is 12, 2.3 e 4bcd.5-6 (R. 4a)

R: Agradecei ao Senhor, invocai o seu nome.

Deus é o meu Salvador, tenho confiança e nada temo. O Senhor é a minha herança e o meu louvor, Ele é a minha salvação.

Tirareis água com alegria das fontes da salvação. Agradecei ao Senhor, invocai o seu nome;

anunciai aos povos a grandeza das suas obras, proclamai a todos que o seu nome é santo.

Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas, anunciai-as em toda a terra. Entoai cânticos de alegria e exultai, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.

Aleluia.  Bendito seja o vosso nome glorioso e santo, digno de louvor e de glória para sempre. Aleluia.

Evangelho (Lc 2,21-24): Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno.

«Foi-lhe posto o nome de Jesus»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, dentro do ciclo do Natal, celebramos o próprio Nome de Jesus. A veneração deste Santíssimo Nome surgiu no séc. XIV. São Bernardino de Siena e os seus discípulos difundiram esta devoção: «Este é aquele santíssimo nome desejado pelos patriarcas, esperado com ansiedade, suplicado com gemidos, invocado com suspiros, requerido com lágrimas, dado ao chegar a plenitude da graça» (S. Bernardino).

Depois de diversas vicissitudes litúrgicas, S. João Paulo II restabeleceu esta celebração no missal romano. Neste dia – precisamente - os jesuítas celebram o título da sua “Companhia de Jesus”.

É próprio das pessoas – anjos e homens, quer dizer, seres espirituais – distinguir-se na sua singularidade única com um nome próprio. Porém o caso de Deus é especial: propriamente, não lhe convém nenhum nome. Ele, pela sua infinita perfeição está acima de tudo e de todos, está acima de todos os nomes (cf. Fil 2,9), é o Inefável, é o Inominável…

Contudo, pela sua infinita Misericórdia, debruçou-se sobre o homem e até aceitou ter um “nome próprio”. A primeira revelação do seu nome foi feita por Ele próprio no deserto quando Moisés lhe pediu: «’Quando me perguntarem qual é o teu nome, que lhes responderei?’ Deus respondeu a Moisés: ‘Eu sou aquele que sou’» (Ex 3, 13-14).

Enquanto nós temos de dizer que “sou homem”, “sou mulher”, “sou arquiteto”… (temos de especificar de muitas maneiras o que somos), Deus - pelo contrário - simplesmente “É”. Portanto, podíamos dizer que “Eu sou aquele que sou” é o nome filosófico que de algum modo se adapta a Deus.

Porém, na sua generosa condescendência, Deus Filho encarnou para nos salvar: Ele é perfeito Deus e perfeito homem. E, como tal, os seus pais «puseram-lhe o nome de Jesus» (Lc 2,21). “Jeshua” significa “Deus salva”. Aqui está um Nome - o Santíssimo Nome de Jesus - que merece toda a veneração e total respeito. Assim o indica o segundo mandamento da Lei de Deus… E assim nos ensinou o próprio Jesus: «Pai-Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso Nome…».

Santíssimo Nome de Jesus

O nome de Jesus é grande pelo que significa. O nome de Jesus foi posto por Maria e José, em obediência à ordem que lhe viera de Deus. Disse o Arcanjo a Maria: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus”. (Lc. 1, 31). A São José o Anjo disse: “Não temas receber Maria, tua mulher; porque o que nela se gerou, é obra do Espírito Santo. E dará à luz um filho, e por nome o chamarás Jesus”. (Mt. 1, 20). – Ora, os nomes impostos a alguém por ordem de Deus significam sempre qualquer dom gratuito concedido pelo céu, assim como foi dado a Abraão. (Gen. 41, 51): “Serás chamado Abraão, porque te constitui pai de muita gente”. A Pedro foi dado o nome significativo: “Tu és Pedra, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”. Porque a Cristo tinha sido conferido o dom da graça, pela qual todos seriam salvos, era conveniente que fosse chamado Jesus, isto é, “Salvador”. (São Tomás de Aquino).

Este nome adorável, que significa salvação, foi predito pelos profetas, que chamaram ao Messias “Emanuel” (Is. 7, 14), isto é, Deus conosco, para assim designar “a causa da nossa salvação, que é a união da natureza divina com a humana, na pessoa do Filho de Deus, que, como Deus, fica conosco, participando da nossa natureza”. Chamaram-no (Is. 9, 6) “admirável, conselheiro, Deus forte, Pai do futuro século, Príncipe da paz”, títulos estes que designam todos o “caminho e o fim da nossa salvação, sendo nós, pelo admirável conselho e pela virtude divina, conduzidos à herança do futuro século, em que gozaremos da paz perfeita dos filhos de Deus, sob a própria soberania de Deus”. Chamaram-no: (Zac. 6, 12) “o homem, o nascituro”, para exprimir todo o mistério da Encarnação”. (São Tomás).

O nome de Jesus é o nome próprio do Verbo encarnado; é o nome que nos relembra o maior das obras de Deus e o maior benefício que d´Ele nos veio. O nome de Deus Redentor inclui o de Deus Criador, se bem que este não contenha aquele, pois a Redenção supõe a criação e a criação não encerra em si necessariamente a Redenção.

O nome de Jesus relembra-nos não só o Salvador e a salvação, que por Ele nos veio, mas também o modo admirável por que fomos salvos. Poderia salvar-nos por meio de uma só palavra, como por uma palavra só criou o mundo; mas quis tomar sobre si nossa enfermidade, para curar e tirar os nossos pecados; quis encarnar-se, nascer num estábulo, viver pobre, sofrer, ser crucificado e morrer por nós. Levou a humildade e obediência até a morte, para assim merecer o nome de Jesus. Aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo – diz São Paulo – “fazendo-se semelhante aos homens e sendo reconhecido pelo exterior como homem. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou, e lhe deu um nome, que está acima de todo nome. A fim de que ao nome de Jesus todo o joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos; e toda a língua confesse que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Padre”. (Fil. 2, 7-11).

O nome de Jesus produz admiráveis efeitos naqueles que devotamente o invocam. Como os sacramentos não só significam a graça, mas também a produzem, assim o nome de Jesus não só significa, mas também produz a salvação de quem devotamente o invoca.

“Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo”. (Joel, 2, 22; At. 2, 21; Rom. 10, 12). “Do céu abaixo, nenhum outro nome foi dado aos homens pelo o qual nos cumpra fazer a nossa salvação”. (Rom. 4, 12).

O nome de Jesus, devotamente invocado, salva-nos do perigo de sermos vítima do inimigo infernal. Satanás tem um verdadeiro pavor deste Nome. “Os demônios têm medo deste Nome, que os faz tremer. E nós podemos afugentá-los, invocando o Nome de Jesus crucificado”. (São Jerônimo).

O nome de Jesus dá vigor aos mártires e a todos os fiéis que lutam pela fé. Fá-los triunfar generosamente de todos os obstáculos, de todas as perseguições e da própria morte. O mundo, à semelhança do demônio, seu soberano, se agita ao ouvir o Nome de Jesus. Queria que não mais se pronunciasse este Nome e cheio de ódio, com o Sinédrio de Jerusalém, até hoje declara: “Ameacemo-los, para que daqui em diante não falem neste nome a homem nenhum”. (At. 4, 17). Mas em virtude deste Santo Nome os eleitos, para a confusão do mundo, operam verdadeiros milagres, segundo a profecia do próprio Salvador: “Em meu nome expulsarão os demônios, falarão novas línguas, manusearão as serpentes e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará mal; porão as mãos sobre os enfermos e serão curados”. (Mc. 16, 17).

O nome de Jesus produz sempre grande milagre de aplacar as mais furiosas tempestades na alma daqueles que o invocam devotamente. “Há entre vós alguém que se ache triste? Entre-lhe Jesus no coração e digam-no os lábios; e eis que, ao pronunciar este Nome, as nuvens se dissipam e volta a serenidade. Se entre vós houver quem tenha caído em falta grave e, deixando-se levar pelo desespero, nutrir ideias de suicídio: não voltará ao amor da vida, se invocar este nome da vida?” (São Bernardo)

Invoquemos, pois, o Santíssimo Nome de Jesus nas tentações, nas perseguições, na aflição. Invoquemo-lo sempre. “Por ele ofereçamos sempre a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que lhe confessam o nome”. (Hebr. 13, 15). “Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, tudo seja em nome do Senhor Jesus Cristo, rendendo raças por ele a Deus Padre”. (Col. 3, 17). Pronunciemos muitas vezes em vida este Nome de salvação, para que o possamos pronunciar na morte, qual penhor seguro da felicidade eterna.

REFLEXÕES

Santo Inácio, Mártir, cuja festa a Igreja celebra no dia 1 de fevereiro, tinha por costume pronunciar devotamente o nome de Jesus. Deste grande Santo da Igreja antiga conta-se o seguinte: Certa vez os Apóstolos disputavam entre si, qual seria o maior no reino dos céus. Cristo entrou com eles na cidade de Cafarnaum e chamou para junto de si um menino de quatro anos, tomou-o pela mão e disse aos Apóstolos: “Se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, não entrareis no reino dos céus”. O tal menino, de nome Inácio, muitas vezes ainda procurou aquele lugar, onde Nosso Senhor o tinha chamado, beijava então o chão e dizia aos companheiros: “Foi aqui que Jesus me abraçou”. Inácio cresceu, ordenou-se sacerdote e como Bispo, dirigiu a cidade de Antioquia, onde São Pedro trabalhava durante sete anos. Quando o imperador Trajano chegou a Antioquia e achou abandonados os templos dos deuses, perguntou ao prefeito pelo motivo dessa estranhável circunstância. “O culpado é o bispo dos cristãos, Inácio”, respondeu o prefeito. O santo ancião foi citado perante o imperador, que o recebeu com esta pergunta: “És tu o mau espírito, causador de tanta desordem nesta cidade?”

Inácio respondeu: “Não é espírito mau aquele que tem Deus no coração”. O imperador: “É a Jesus de Nazaré que te referes?” O bispo respondeu afirmativamente e disse mais umas palavras de desaprovação do culto pagão. Trajano enfureceu-se e condenou Inácio “ad leones”, a ser atirado aos leões no circo. Inácio foi levado para Roma, onde sofreu o martírio. Dois leões esfomeados esperavam impacientes a presa. Antes de ser triturado pelos dentes das feras, Inácio disse em voz alta uma oração e terminou com estas palavras: “O Nome de Jesus não desaparecerá dos meus lábios; se isto fosse possível, continuaria inextinguível em meu coração”. Os leões mataram-no e comeram-no, deixando apenas ossos e o coração. O coração apresentava nitidamente os traços do nome de Jesus, formados por veias azuis. As preciosas relíquias foram levadas para Antioquia, onde os discípulos do mártir as depositaram sobre o altar. Isto aconteceu em 107. Deus honrou aquele Santo, devido à grande devoção que tinha ao SS. Nome de Jesus.

A Invocação ao Nome de Jesus

A “Oração a Jesus“ ou “Invocação ao Nome de Jesus“ é uma prece antiquíssima, cuja popularização contou com grande influência dos Padres do Deserto

A Igreja celebra hoje, 3 de janeiro, o Santíssimo Nome de Jesus, que, obviamente, foi honrado e venerado na Igreja desde os primeiros tempos (cf. Fp 2,10), mas em cuja honra só se formalizou um culto litúrgico a partir do século XIV.

O grande propagador desta devoção foi o franciscano São Bernardino de Siena (1380-1444), que costumava divulgar uma imagem da Eucaristia emitindo raios de luz, sob o monograma “IHS“, abreviação do Nome de Jesus em grego. Mais adiante, a piedade popular daria a esta mesma sigla uma nova interpretação: “Iésus Hóminum Salvátor“, que, em latim, quer dizer “Jesus Salvador dos Homens“. Santo Inácio de Loyola, aliás, faria deste monograma o emblema dos padres jesuítas.

O nome Jesus vem do hebraico “Jeshua“, “Joshua” ou “Jehoshua”, que significa “Javé é Salvação“.

O Santíssimo Nome de Jesus foi dado pelo céu. São Lucas nos diz em seu Evangelho:

“Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o Nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno” (Lc 2, 21).

E o Novo Testamento afirma: “Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o Nome que está acima de todos os nomes, para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor” (Fil 2, 9-11).

A “Oração a Jesus“ ou “Invocação ao Nome de Jesus“ é uma prece antiquíssima, cuja popularização contou com grande influência dos Padres do Deserto. Uma primeira forma desta oração foi mencionada por São Diádoco de Foticeia, monge asceta da Grécia no início do século V. A prece foi depois inserida na coletânea de textos espirituais conhecida como Filocalia (ou Philokalia), que veio a se tornar um livro básico da tradição cristã oriental, tornando-se muito popular nas igrejas ortodoxas, particularmente na Rússia, onde foi ainda mais difundida por outro clássico da literatura espiritual: Relatos de um Peregrino Russo, do século XIX.

É uma simples e riquíssima tradição, focada em Jesus e na Sua misericórdia. Estas são algumas das várias formas diferentes de fazer a mesma prece:

Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim!

Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador!

Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de nós, pecadores!

Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tende piedade de nós, pecadores!

Senhor Jesus, misericórdia!

Alguns frutos da confiante invocação do Nome de Jesus:

– Oferece ajuda nas necessidades corporais, segundo a promessa de Cristo: “Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16,17-18).

– No Nome de Jesus, os Apóstolos deram força aos aleijados (At 3,6; 9,34) e vida aos mortos (At 9,40).

– Dá confiança nas provações espirituais. O Nome de Jesus recorda ao pecador o “pai do filho pródigo” e o bom samaritano; ao justo, recorda o sofrimento e a morte do inocente Cordeiro de Deus.

– Protege-nos de Satanás e de suas artimanhas, pois o diabo teme ao Nome de Jesus, quem o venceu na Cruz.

– No Nome de Jesus, obtemos toda bênção e graça no tempo e na eternidade, pois Cristo disse: “O que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará” (Jo 16,23). A Igreja costuma terminar as suas orações com as palavras “Por Jesus Cristo, nosso Senhor”, cumprindo assim o que escreveu São Paulo: “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos” (Fl 2,10).

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