segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Quarta-feira da 3ª semana do Advento

1ª Leitura (Is 45,6b-8.18.21b-25): «Eu sou o Senhor e não há outro. Formo a luz e crio as trevas, dou a felicidade e crio a desgraça. Sou Eu, o Senhor, que faço tudo isto. Derramai, ó céus, o orvalho lá do alto e as nuvens chovam a justiça; abra-se a terra e germine a salvação e com ela floresça a justiça. Sou Eu, o Senhor, que o realizo». Assim fala o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra e a consolida, que não a criou para ficar deserta, mas a formou para ser habitada: «Eu sou o Senhor e não há outro». Quem anunciou tudo isto no passado? Quem o predisse há tanto tempo? Não fui Eu, o Senhor? Não há outro Deus além de Mim; Eu sou o Deus justo e salvador e não há outro. Voltai-vos para Mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque Eu sou Deus e não há outro. Juro pelo meu nome, é justo o que sai da minha boca, a minha palavra é irrevogável: Diante de Mim se hão de dobrar todos os joelhos, em meu nome hão de jurar todas as línguas, dizendo: ‘Só no Senhor está a justiça e a fortaleza’». Hão de vir, cobertos de vergonha, à sua presença todos os que se levantaram contra Ele. No Senhor terá salvação e glória toda a descendência de Israel.

Salmo Responsorial: 84

R. Desça o orvalho do alto dos céus e as nuvens chovam o Justo.

Escutemos o que diz o Senhor: Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis. A sua salvação está perto dos que O temem e a sua glória habitará na nossa terra.

Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade, abraçaram-se a paz e a justiça. A fidelidade vai germinar da terra e a justiça descerá do Céu.

O Senhor dará ainda o que é bom e a nossa terra produzirá os seus frutos. A justiça caminhará à sua frente e a paz seguirá os seus passos.

Aleluia. Clama com voz forte, arauto da boa nova: O Senhor vem com poder e majestade. Aleluia.

Evangelho (Lc 7,19-23): Naquele tempo, João enviou a dois dos seus discípulos e os enviou ao Senhor, para perguntar: «És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?». Eles foram ter com Jesus e disseram: «João Batista nos mandou a ti para perguntar se tu és aquele que há de vir ou se devemos esperar outro». Naquela ocasião, Jesus havia curado a muitos de suas doenças, moléstias e espíritos malignos, e proporcionado a vista a muitos cegos. Respondeu, pois: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados e surdos ouvem, mortos ressuscitam e a pobres se anuncia a Boa Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito».

«Cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados»

Rev. D. Bernat GIMENO i Capín (Barcelona, Espanha)

Hoje, quando vemos que, na nossa vida, não sabemos que esperar, quando por vezes perdemos a confiança, porque não nos atrevemos a olhar para além das nossas imperfeições, quando estamos alegres por ser fiéis a Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, inquietos ou abatidos porque não saboreamos os frutos da nossa missão apostólica, então o Senhor quer que, como João Batista, nos perguntemos: «Devemos esperar outro?» (Lc 7,20).

É claro que o Senhor é “rápido” e quer aproveitar estas incertezas —sem dúvida, perfeitamente normais— para que façamos um exame de toda a nossa vida, vejamos as nossas imperfeições, os nossos esforços, as nossas enfermidades… e, assim, nos confirmemos na nossa fé e multipliquemos “infinitamente” a nossa esperança.

O Senhor não tem limites na hora de cumprir a sua missão: «Cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados…» (Lc 7,22). Onde ponho a minha esperança? Onde está a minha alegria? Porque a esperança está intimamente relacionada com a alegria interior. O cristão, como é natural, tem de viver como uma pessoa normal, na rua, mas sempre com os olhos postos em Cristo, que nunca falha. Um cristão não pode viver a sua vida à margem da de Cristo e do Seu Evangelho. Centremos o nosso olhar Nele, que tudo pode, absolutamente tudo, e não coloquemos limites à nossa esperança. “Nele encontrarás muito mais do que podes desejar ou pedir» (S. João da Cruz).

A liturgia não é um “jogo sagrado”, e a Igreja dá-nos este tempo de Advento porque quer que cada crente reanime em Cristo a virtude da esperança na sua vida. Perdemo-la frequentemente porque confiamos demais nas nossas forças e não queremos reconhecer que estamos “doentes”, necessitados dos cuidados da mão do Senhor. Mas é assim que tem de ser, e como Ele nos conhece e sabe que todos somos feitos da mesma “pasta”, oferece-nos a sua mão salvadora.

—Obrigado, Senhor, por me tirares do barro e encheres o meu coração de esperança.

Pensamentos para o Evangelho de hoje

«Que o nosso pensamento se disponha para a vinda de Cristo com uma preparação nunca inferior àquela que faríamos se Ele ainda tivesse que vir ao mundo» (São Carlos Borromeo)

«`Ele deve crescer, eu devo diminuir´. Esta é a etapa mais difícil de João, porque o Senhor tinha um estilo que ele nem tinha imaginado. Porque o Messias tinha um estilo muito próximo...» (Francisco)

«Ao celebrar em cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta expectativa do Messias. Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo da sua segunda vinda (218). Pela celebração do nascimento e martírio do Precursor, a Igreja une-se ao seu desejo: «Ele deve crescer e eu diminuir» (Jo 3,30)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 524)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* Este texto é encontrado em Mateus e Lucas e inserido no segundo, entre o relato do milagre da restauração para a vida do filho da viúva de Naim (que é próprio de Lucas) e o discurso de Jesus sobre João Batista. É neste contexto que sugere uma espécie de passagem entre a imagem de Jesus que cura, até mesmo a morte, e o convite à conversão, feita pelo próprio Jesus nas três passagens sucessivas: um enfoque sobre João Batista, o juízo sobre sua geração e para a aceitação do gesto da mulher pecadora na casa do fariseu.

* Este texto pode ser entendido em um contexto maior: dentro de todo o evento de Batista e na experiência profética de Israel, que espera, e que tem a expectativa de que Deus vem até eles.

* Os discípulos de João Batista tem aqui um papel de primeiro plano, são eles que abrem e fecham a passagem, são eles que criam o elo de comunicação entre o seu mestre, detido na prisão de Herodes (Lc 3,19-20) e Jesus. Dois deles são enviados em seu nome, para retornar com a pergunta direta para o mestre de Nazaré: duas vezes Lucas coloca a questão, que é de grande importância. E a pergunta é sobre a espera. João sabe que alguém deve vir. O problema é saber se é Jesus ou devem esperar por outro. O fato de João enviar a questão expressamente a Jesus significa que ele já confia nele. Talvez ele tenha confundido por causa da falta de compreensão do cumprimento na imagem bíblica do "Dia do Senhor", que é fundamental para toda a sua pregação (cf. Lc 3,7 ss).

* Aqui a passagem dá um grande salto: a questão é deixada em suspenso e instantaneamente são listadas todas as obras de cura realizados por Jesus em favor de "muitos". Como parte final, menciona o dom da vista aos cegos. E, após as obras, vem a resposta. "Ide", Jesus diz aos discípulos de João: é uma missão, à luz do que já transpareceu - por qualquer meio - o que já foi anunciado. (Ver Lc 3,18). Agora a boa notícia é completa e está acontecendo, já que as obras que ele faz são aquelas anunciadas pelos profetas (como um "lectio", em várias passagens de Isaías, mas desta vez é a vista aos cegos que é mencionado em primeiro lugar). Esta é uma mensagem inequívoca para um homem como João, a quem a Palavra de Deus já chegou (cf. Lc 3,2). Finalmente, há uma mensagem que pode parecer estranha, pois é expressa negativamente: bem-aventurados são aqueles que não encontram em Jesus uma pedra de tropeço, um obstáculo no caminho da fé. Como podemos entender isso? Certamente é uma mensagem maior do que a mensagem de João Batista, e é dirigida ao ouvinte da Palavra.

* O contexto sugere a circularidade entre graça e compromisso, entre a iniciativa de Deus em Cristo e na necessária correspondência do homem. Deus chama e ama em primeiro lugar, mas quer um consentimento livre e responsável: uma tal reação é possível porque Deus nos amou primeiro.

* O fato de que os discípulos entram em jogo neste momento mostra que João não está interessado apenas no momento presente, mas também do interesse para os "filhos espirituais" de movimentos cujo expoente é João. Já no início do ministério público de Jesus dois discípulos de João Batista se tornam seus discípulos (cf. Jo 1,37), e até mesmo alguns anos depois, Paulo encontra pessoas que receberam o batismo de João (cf. At 19,1-7).

* No centro da passagem, o tema é o da espera, mas segundo o desígnio de Deus, anunciado pelos profetas de Israel que não são fáceis de serem compreendidos. Até mesmo a Palavra de Deus não diminui a dificuldade de se entender um Deus que ama e oferece em sua misericórdia o próprio Filho e a possibilidade de receber com fé, assim como a cura do cego sugere. E é a fé que conduz à bem-aventurança. O que é proclamado por Jesus no final da passagem é entendida apenas quando se considera o peso da responsabilidade por parte do observador, com o risco de dar escândalo. É necessário, então, refletir, deixando de lado as pretensões humanas e preconceitos, a fim de abrir-se livremente com simplicidade o que Deus em Jesus está fazendo. É a lógica do Reino de Deus, que excede o heroísmo de João (Lc 2,28)

Para um confronto pessoal

• Vivemos a ouvir a Palavra como forma de conversão?

• Sabemos conhecer os sinais da presença ativa de Jesus, mesmo no nosso tempo?

• Sabemos confiar no Evangelho de maneira ativa, como verdadeiros discípulos?

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