sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Domingo IV do Advento


1ª Leitura (Miq 5,1-4): Eis o que diz o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel. As suas origens remontam aos tempos de outrora, aos dias mais antigos. Por isso Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».

Salmo Responsorial: 79
R. Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.

Pastor de Israel, escutai, Vós estais sobre os Querubins, aparecei. Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio.

Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha; protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós.

Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes. Nunca mais nos apartaremos de Vós, fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.

2ª Leitura (Hb 10,5-10): Irmãos: Ao entrar no mundo, Cristo disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’». Primeiro disse: «Não quiseste sacrifícios nem oblações, não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado». E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei. Depois acrescenta: «Eis-Me aqui: Eu venho para fazer a tua vontade». Assim aboliu o primeiro culto para estabelecer o segundo. É em virtude dessa vontade que nós fomos santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez para sempre.

Aleluia. Eis a escrava do Senhor: faça-se em mim segundo a vossa palavra. Aleluia.

Evangelho (Lc 1,39-45): Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!».

«Feliz aquela que acreditou!»
+ Mons. Ramon MALLA i Call Bispo Emérito de Lleida (Lleida, Espanha)

Hoje é o último Domingo deste tempo de preparação da chegada — o Advento — de Deus a Belém. Por ser em tudo igual a nós, quis ser concebido — como qualquer homem — no seio de uma mulher, a Virgem Maria, mas pela obra e graça do Espírito Santo, pois era Deus. Brevemente, no dia de Natal, celebraremos com alegria o seu nascimento.

O Evangelho de hoje apresenta-nos duas personagens, Maria e a sua prima Isabel, as quais nos indicam a atitude que devemos ter no nosso espírito para contemplar este acontecimento. Deve ser uma atitude de fé, de uma fé dinâmica.

Isabel com sincera humildade, «ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: “(…) Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” (Lc 1,41-43). Ninguém lhe tinha contado; apenas a fé, o Espirito Santo, tinha-lhe mostrado que a sua prima era mãe de seu Senhor, de Deus.

Conhecendo agora a atitude de fé total por parte de Maria, quando o Anjo lhe anunciou que Deus a tinha escolhido para ser a sua mãe terreal Isabel não se recatou de proclamar a alegria que a fé dá. Põe-no em relevo dizendo: «Feliz aquela que acreditou!» (Lc 1,45).

É, pois, numa atitude de fé que devemos viver o Natal. Mas, à imitação de Maria e Isabel, com fé dinâmica. Em consequência, como Isabel, se for necessário, não nos devemos conter ao expressar o agradecimento e o gozo de ter fé. E, como Maria, ainda a devemos manifestar com obras. «Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel» (Lc 1,39-40) para felicitá-la e ajudá-la, ficando cerca de três meses com ela (cf. Lc 1,56).

Santo Ambrósio aconselha-nos que, nestas festas, «tenhamos todos a alma de Maria para glorificar o Senhor». É certo que não nos faltarão ocasiões para partilhar alegrias e ajudar os necessitados.

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«João agitou-se de alegria e Maria se alegra com seu espírito. Isabel ficou cheia do Espírito depois de conceber; Por outro lado, Maria o era antes de conceber, porque se dizia dela: 'Bem-aventurada aquela que creste!'» (Santo Ambrósio)

«Quando Maria entra em casa de Isabel, a sua saudação é cheia de graça. Neste encontro o protagonista silencioso é Jesus. Maria o carrega em seu seio como um tabernáculo, e o oferece a nós como o presente mais sagrado. Onde quer que Maria chegue, Jesus se faz presente» (Bento XVI)

«‘Santa Maria, Mãe de Deus, roga por nós (...)’. Com Isabel, ficamos maravilhados e dizemos: ‘De onde vem a mim a mãe do meu Senhor?’ (Lc 1,43). Por nos dar seu filho Jesus, Maria é a mãe de Deus e nossa mãe; A ela podemos confiar todos os nossos cuidados e pedidos: ela reza por nós como orou por si mesma: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Confiando na sua oração, abandonamo-nos com ela à vontade de Deus: 'seja feita a tua vontade'» (Catecismo da Igreja Católica, n. 2.677)

Comentário ao Evangelho

Para entender bem a finalidade de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste, e também a continuidade, entre a Antiga e a Nova Aliança. A primeira está retratada nos eventos que giram ao redor do nascimento de João Batista, e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João; a segunda está nos relatos ao redor do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada - os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa, Zacarias, sacerdote que não acredita no anúncio do anjo, e o nenê que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a virgem jovem de Nazaré que acredita e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante, Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão, no Templo, (Lc 2,25-38), quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação” (2,29).

Assim, não devemos reduzir o texto de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parente idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse mostrar Maria como modelo de caridade, não teria colocado versículo 56, que mostra ela deixando Isabel na hora de maior necessidade: “Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa”

Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a de Galileia à Judéia! A intenção de Lucas é literária e teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela sua ação nas suas vidas, e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: dum lado, Isabel, Zacarias e João; doutro lado, Maria, José e Jesus.

O fato que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no seu ventre, na tradução da Septuaginta de Gn 25,22. O contexto, especialmente versículo 43, salienta que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Com a iluminação do Espírito Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João no seu ventre - é porque Maria está carregando o Senhor. As palavras referentes a Maria: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (v. 42) fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na libertação do seu povo, no Antigo Testamento: Jael (Jz 5,24) e Judite (Jd 13,18). Aqui Isabel louva a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.

Finalmente, vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou.” Maria é bendita em primeiro lugar, não pela sua maternidade somente, mas pela fé - em contraste com Zacarias, que não acreditou. Assim, Lucas apresenta Maria principalmente como modelo de fé. Notemos que neste capítulo primeiro nós encontramos - na Bíblia - frases que podem fundamentar uma compreensão correta da visão bíblica da pessoa e função de Maria, que pode unir em lugar de dividir cristãos das diversas confissões: “Ave Maria” (1,28); “Cheia de graça” (1,28); “O Senhor é convosco” (1,28); “Bendita sois vós entre as mulheres” (1, 42); “Bendito o fruto do vosso ventre” (1,42). Lucas nos apresenta a mãe do Senhor como modelo de fé para todos nós!

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