São Josafat, bispo e mártir
Salmo Responsorial: 18
R. Os céus proclamam
a glória de Deus.
Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a
obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a
conhecer à outra noite.
Não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba.
O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia até aos confins do mundo.
Aleluia. Erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está
próxima. Aleluia.
Evangelho (Lc 17,26-37): «Como aconteceu nos dias
de Noé, assim também acontecerá nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebiam,
homens e mulheres casavam-se, até ao dia em que Noé entrou na arca. Então
chegou o dilúvio e fez morrer todos. Acontecerá como nos dias de Ló: comiam e
bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam. Mas no dia em que Ló saiu
de Sodoma, Deus fez chover fogo e enxofre do céu e fez morrer todos. O mesmo
acontecerá no dia em que se manifestar o Filho do Homem. Naquele dia, quem
estiver no terraço não entre para apanhar objeto algum em sua casa. E quem
estiver no campo não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Ló! Quem procurar
salvar a vida, vai perdê-la; e quem a perder, vai salvá-la. Eu vos digo:
naquela noite, dois estarão na mesma cama; um será tomado e o outro será
deixado. Duas mulheres estarão juntas; uma será tomada e a outra será deixada».
Os discípulos perguntaram: «Senhor, onde acontecerá isto?». Ele respondeu:
«Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres».
«Comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam»
Fr. Austin NORRIS (Mumbai,
Índia)
O secularismo tem criado profundas raízes em nossa
sociedade. A investida da inovação e a rápida disponibilidade de coisas e
serviços pessoais nos faz sentir autossuficientes e nos despoja da presença de
Deus em nossas vidas. Só quando uma tragédia nos machuca despertamos de nosso
sonho para ver a Deus no meio de nosso “vale de lágrimas”... Inclusive
deviéramos estar agradecidos por esses momentos trágicos, porque certamente
servem para robustecer nossa fé.
Em tempos recentes, os ataques contra os cristãos em
diversas partes do mundo, incluindo meu próprio país —a Índia— sacudiu nossa
fé. Mas o Papa Francisco disse: «No entanto, os cristãos estão desesperançados
porque, em última instância, Jesus faz uma promessa que é garantia de vitória:
‘Quem perca sua vida, a conservará’ (Lc 17,33)». Esta é uma verdade na qual
podemos confiar… Ele, poderoso testemunha de nossos irmãos e irmãs, que dão sua
vida pela fé e por Cristo não será em vão.
Assim, nós lutamos por avançar na viagem de outras vidas na sincera esperança de encontrar ao nosso Deus «o Dia em que o Filho do homem se manifeste» (Lc 17,30).
«Quem procurar salvar a vida, vai perdê-la; e quem a perder, vai
salvá-la»
Rev. D. Enric PRAT i
Jordana (Sort, Lleida, Espanha)
No fragmento do Evangelho que estamos comentando, Jesus quer
sair ao passo dessa concepção fragmentária da vida que mutila ao ser humano e o
leva à frustação. E o faz mediante uma sentença séria e contundente, capaz de
remover as consciências e de obrigar a fazer perguntas fundamentais: «Quem procurar
salvar a vida, vai perdê-la; e quem a perder, vai salvá-la». (Lc 17,33).
Meditando sobre este ensino de Jesus Cristo, diz São Agostinho: «Que dizer,
então? Pereceram todos os que fazem essas coisas, isto é, quem se casa, plantam
videiras e edificam? Não eles, senão quem presumem dessas coisas, quem antepõem
essas coisas a Deus, quem estão dispostos a ofender a Deus ao instante por
essas coisas».
De fato, quem perde a vida por conservá-la senão aquele que
viveu exclusivamente na carne, sem deixar aflorar o espirito; ou ainda mais,
aquele que vive ensimesmado, ignorando por completo aos demais? Porque é
evidente que a vida na carne se perde necessariamente e, que a vida no
espírito, se não se compartilha, debilita-se
Toda a vida, por ela mesma, tende naturalmente ao
crescimento, à exuberância, à frutificação e a reprodução. Pelo contrário, se é
sequestrada e encerrada no intento de apodera-se afanosa e exclusivamente,
murcha-se, esteriliza-se e morre. Por esse motivo, todos os santos, tomando
como modelo a Jesus, que viveu intensamente para Deus e para os homens, deram
generosamente sua vida de multiformes maneiras ao serviço de Deus e de seus
semelhantes.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 17,26-29:
Como nos dias de Noé e de Ló. A vida corre normalmente: comer, beber,
casar, comprar, vender, plantar, colher. A rotina pode envolver-nos de tal modo
que já não conseguimos pensar em outra coisa, em mais nada. E o consumismo do
sistema neoliberal contribui para aumentar em muitos de nós esta total
desatenção à dimensão mais profunda da vida. Deixamos o cupim entrar na viga da
fé que sustenta o telhado da nossa vida. Quando tempestade derrubar a casa,
muitos dão a culpa ao carpinteiro: “Mau serviço!” Na realidade, a causa da
queda foi a nossa desatenção prolongada. A alusão à destruição de Sodoma como
figura do que vai acontecer no fim dos tempos, é uma alusão à destruição de Jerusalém
pelos romanos no ano 70 d.C. (cf Mc 13,14).
* Lucas 17,30-32:
Assim será nos dias do Filho do Homem. “O mesmo acontecerá no dia em que o
Filho do Homem for revelado”. Difícil para nós imaginar o sofrimento e o trauma
que a destruição de Jerusalém causou nas comunidades, tanto dos judeus como dos
cristãos. Para ajudá-las a entender e a enfrentar o sofrimento, Jesus usa
comparações tiradas da vida: “Nesse dia, quem estiver no terraço, não desça
para apanhar os bens que estão em casa, e quem estiver nos campos não volte
para trás”. A destruição virá com tal rapidez que não vale a pena descer para
casa para buscar alguma coisa dentro da casa (Mc 13,15-16). “Lembrem-se da
mulher de Ló” (cf. Gn 19,26), isto é, não olhem para trás, não percam tempo,
tomem a decisão e vão em frente: é questão de vida ou de morte.
* Lucas 17,33: Perder
a vidas para ganhá-la. “Quem procura ganhar a sua vida, vai perdê-la; e
quem a perde, vai conservá-la”. Só se sente realizada na vida a pessoa que for
capaz de doar-se inteiramente pelos outros. Perde a vida quem quer conservá-la
só para si. Este conselho de Jesus é a confirmação da mais profunda experiência
humana: a fonte da vida está na doação da vida. É dando que se recebe. “Eu
garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho.
Mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24). Importante é a motivação que o
Evangelho de Marcos acrescenta: “Por causa de mim e por causa do Evangelho” (Mc
8,35). Dizendo que ninguém é capaz de conservar sua vida com seu próprio
esforço, Jesus evoca o salmo onde se diz que ninguém é capaz de pagar o preço
do resgate da vida: “O homem não pode comprar seu próprio resgate, nem pagar a
Deus o preço de si mesmo. É tão caro o resgate da vida, que nunca bastará para
ele viver perpetuamente, sem nunca ver a cova”.
(Sl 49,8-10).
* Lucas 17,34-36:
Vigilância. “Eu digo a vocês: nessa noite, dois estarão numa cama. Um será
tomado, e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas. Uma será
tomada, e a outra deixada. Dois homens estarão no campo. Um será levado, e o
outro será deixado". Evoca a parábola das dez moças. Cinco eram prudentes
e cinco eram bobas (Mt 25,1-11). O que importa é estar preparado. As palavras
“Um será tomado, e o outro será deixado” evocam as palavras de Paulo aos
Tessalonicenses (1Tes 4,13-17), quando diz que, na vinda do Filho do homem,
seremos arrebatados ao céu junto com Jesus. Estas palavras “deixados para trás”
forneceram o título para um terrível e perigoso romance da extrema direita
fundamentalista dos Estados Unidos: “Lefted behind!” Este romance não nada tem
a ver com o sentido real das palavras de Jesus:
* Lucas 17,37: Onde e
quando? “Os discípulos perguntaram: "Senhor, onde acontecerá
isso?" Jesus respondeu: "Onde estiver o corpo, aí se reunirão os
urubus". Resposta enigmática. Alguns acham que Jesus evoca a profecia de
Ezequiel, retomada no Apocalipse, na qual o profeta se refere à batalha
vitoriosa final contra os poderes do mal. As aves de rapina ou os urubus serão
convidadas para comer a carne dos cadáveres (Ez 39,4.17-20; Ap 19,17-18).
Outros acham que se trata do vale de Josafá, onde será realizado o juízo final
conforme a profecia de Joel (Joel 4,2.12). Outros ainda acham que se trata
simplesmente de um provérbio popular que significava mais ou menos o mesmo que
diz o nosso provérbio: “Onde tem fumaça, tem fogo!”
Para um confronto
pessoal
1) Sou dos tempos
de Noé e de Ló?
2) Romance da
extrema direita. Como me situa diante desta manipulação política da fé em
Jesus?
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