Santa Cecilia, virgem e mártir
Salmo Responsorial: Dan 3
R. Digno é o Senhor
de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais, Senhor, Deus dos nossos pais: digno de
louvor e de glória para sempre. Bendito o vosso nome glorioso e santo: digno de
louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais no templo santo da vossa glória: digno de
louvor e de glória para sempre. Bendito sejais no trono da vossa realeza: digno
de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais, Vós que sondais os abismos e estais sentado
sobre os Querubins: digno de louvor e de glória para sempre. Bendito sejais no
firmamento do céu: digno de louvor e de glória para sempre.
Aleluia. Vigiai e estai preparados, para vos apresentardes sem temor
diante do Filho do homem. Aleluia.
Evangelho (Lc 21,1-4): Naquele tempo, ao levantar
os olhos, Jesus viu pessoas ricas depositando ofertas no cofre. Viu também uma
viúva necessitada que deu duas moedinhas. E ele comentou: «Em verdade, vos
digo: esta viúva pobre deu mais do que todos os outros. Pois todos eles
depositaram como oferta parte do que tinham de sobra, mas ela, da sua pobreza,
ofereceu tudo que tinha para viver».
«Mas ela, da sua pobreza, ofereceu tudo que tinha para viver»
Rev. D. Àngel Eugeni
PÉREZ i Sánchez (Barcelona, Espanha)
Pelo fato de essas coisas pequenas passarem desconhecidas, a
sua retidão de intenção está garantida: com elas não procuramos o
reconhecimento dos outros, nem a glória humana. Só Deus as descobrirá no nosso
coração, como só Jesus se apercebeu da generosidade da viúva. É mais do que
garantido que a pobre mulher não anunciou o seu gesto com um toque de trompete
e até é possível que se envergonhasse bastante e se sentisse ridícula perante o
olhar dos ricos, que deitavam grandes donativos no cofre do templo e disso
faziam alarde. Porém, a sua generosidade, que a levou a tirar forças da
fraqueza no meio da sua indigência, mereceu o elogio do Senhor, que vê o
coração das pessoas: «Em verdade, vos digo: esta viúva pobre deu mais do que
todos os outros. Pois todos eles depositaram como oferta parte do que tinham de
sobra, mas ela, da sua pobreza, ofereceu tudo que tinha para viver» (Lc
21,3-4).
A generosidade da viúva pobre é uma boa lição para nós, discípulos
de Cristo. Podemos dar muitas coisas, como os ricos que «depositavam as suas
ofertas no cofre» (Lc 21,1), mas nada disso terá valor se só dermos “daquilo
que nos sobra”, sem amor e sem espírito de generosidade, sem nos oferecermos a
nós próprios. Diz Sto. Agostinho: «Eles punham os olhos nas grandes oferendas
dos ricos, louvando-os por isso. Porém, embora tivessem logo visto a viúva,
quantos viram aquelas duas moedas? ... Ela deu tudo o que possuía. Tinha muito,
porque tinha Deus no seu coração. É muito mais ter Deus na alma do que ouro na
arca». É bem certo: se somos generosos com Deus, muito mais o será Ele conosco.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* No início da
Igreja, as primeiras comunidades cristãs, na sua maioria, eram de gente pobre
(1 Cor 1,26). Aos poucos, foram entrando também pessoas mais ricas, o que
trouxe consigo vários problemas. As tensões sociais, que marcavam o império
romano, começaram a marcar também a vida das comunidades. Isto se manifestava,
por exemplo, quando elas se reuniam para celebrar a ceia (1Cor 11,20-22), ou
quando faziam reunião (Tg 2,1-4). Por isso, o ensinamento do gesto da viúva era
muito atual, tanto para eles, como para nós hoje.
* Lucas 21,1-2: A esmola da viúva. Jesus estava em frente
ao cofre do Templo e observava como todo mundo colocava aí a sua esmola. Os
pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de grande valor. Os
cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo mundo trazia alguma coisa para a
manutenção do culto, para o sustento do clero e para a conservação do prédio.
Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres, pois naquele tempo não
havia previdência social. Os pobres viviam entregues à caridade pública. As
pessoas mais necessitadas eram os órfãos e as viúvas. Elas dependiam em tudo da
caridade dos outros, mas mesmo assim, faziam questão de partilhar com os outros
o pouco que possuíam. Assim, uma viúva bem pobre colocou sua esmola no cofre do
templo. Dois centavos, apenas!
* Lucas 21,3-4: O
comentário de Jesus. O que vale mais: os poucos centavos da viúva ou as
muitas moedas dos ricos? Para a maioria, as moedas dos ricos eram muito mais
úteis para fazer caridade, do que os poucos centavos da viúva. Os discípulos,
por exemplo, pensavam que o problema do povo só poderia ser resolvido com muito
dinheiro. Por ocasião da multiplicação dos pães, eles tinham dado a sugestão de
comprar pão para dar de comer ao povo (Lc 9,13; Mc 6,37). Filipe chegou a
dizer: “Duzentos denários não bastam para dar um pouco para cada um!” (Jo 6,7).
De fato, para quem pensa assim, os dois centavos da viúva não servem para nada.
Mas Jesus diz: “Esta viúva depositou mais do que todos os outros”. Jesus tem
critérios diferentes. Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva,
ele ensina a eles e a nós onde devemos procurar a manifestação da vontade de
Deus, a saber, nos pobres e na partilha. E um critério muito importante é este:
“Todos os outros depositaram do que estava sobrando para eles. Mas a viúva, na
sua pobreza, depositou tudo o que possuía para viver”.
* Esmola, partilha,
riqueza. A prática de dar esmolas era muito importante para os judeus. Era
considerada uma “boa obra”, pois a lei do Antigo Testamento dizia: “Nunca
deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: abre a mão em favor
do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra”. (Dt 15,11). As
esmolas, colocadas no cofre do templo, seja para o culto, seja para os
necessitados, órfãos ou viúvas, eram consideradas como uma ação agradável a
Deus (Eclo 35,2; cf. Eclo 17,17; 29,12; 40,24). Dar esmola era uma maneira de
reconhecer que todos os bens e dons pertencem a Deus e que nós somos apenas
administradores desses dons. Mas a tendência à acumulação continua muito forte.
Cada vez de novo, ela renasce no coração humano. A conversão é sempre
necessária. Por isso Jesus dizia ao jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá
para os pobres” (Mc 10,21). A mesma exigência é repetida nos outros evangelhos:
“Vendei vossos bens e dai esmolas. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um
tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói” (Lc
12,33-34; Mt 6,9-20). A prática da partilha e da solidariedade é uma das
características que o Espírito de Jesus quer realizar nas comunidades. O
resultado da efusão do Espírito no dia de Pentecoste era este: “Não havia entre
eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os,
traziam o resultado da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos” (At 4,34-35ª;
2,44-45). Estas esmolas colocadas aos pés dos apóstolos não eram acumuladas,
mas “distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade” (At 4,35b;
2,45). A entrada de ricos na comunidade cristã possibilitou, por um lado, uma
expansão do cristianismo, dando melhores condições para as viagens
missionárias. Mas, por outro lado, a tendência à acumulação bloqueava o
movimento da solidariedade e da partilha. Tiago ajudava as pessoas a tomarem
consciência do caminho equivocado: “Pois bem, agora vós, ricos, chorai por
causa das desgraças que estão a sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas
vestes estão carcomidas pelas traças.” (Tg 5,1-3). Para aprender o caminho do
Reino, todos precisam tornar-se alunos daquela viúva pobre, que partilhou com
os outros até o necessário para viver (Lc 21,4).
Para um confronto
pessoal
1. Quais as
dificuldades e alegrias que você já encontrou em sua vida ao praticar a
solidariedade e a partilha com os outros?
2. Como é que os
dois centavos da viúva podem valer mais que as muitas moedas dos ricos? Qual a
mensagem deste texto para nós hoje?
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