São Martinho de Lima, religioso
Salmo Responsorial: 111
R. Ditoso o homem de
coração bondoso e compassivo.
Feliz o homem que teme o Senhor e ama ardentemente os seus
preceitos. A sua descendência será poderosa sobre a terra, será abençoada a
geração dos justos.
Brilha aos homens retos, como luz nas trevas, o homem
misericordioso, compassivo e justo. Ditoso o homem que se compadece e empresta
e dispõe das suas coisas com justiça.
O seu coração é inabalável, nada teme; reparte com largueza
pelos pobres, a sua generosidade permanece para sempre e pode levantar a fronte
com dignidade.
Aleluia. Felizes de vós, se sois ultrajados pelo nome de Cristo, porque
o Espírito de Deus repousa sobre vós. Aleluia.
Evangelho (Lc
14,25-33): Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse:
Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus
filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu
discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu
discípulo. De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não se senta
primeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?
Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os
que virem isso começarão a zombar: Este homem começou a construir e não foi
capaz de acabar! Ou ainda: um rei que sai à guerra contra um outro não se senta
primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que
marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia uma delegação,
enquanto o outro ainda está longe, para negociar as condições de paz. Do mesmo
modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode
ser meu discípulo!
«Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu
discípulo»
Rev. D. Joan GUITERAS i
Vilanova (Barcelona, Espanha)
Discípulo significa seguidor. Seguir as pisadas do Mestre,
ser como Ele, pensar como Ele, viver como Ele... O discípulo convive com o
Mestre e o acompanha. O Senhor ensina com atos e com palavras. Viram claramente
a atitude de Cristo entre o Absoluto e o relativo. Ouviram muitas vezes da sua
boca que Deus é o primeiro valor da existência. Admiraram a relação entre Jesus
e o Pai celestial. Viram a dignidade e a confiança com que orava ao pai.
Admiraram a sua pobreza radical.
Hoje o Senhor fala-nos com termos claros. O autêntico
discípulo há de amar com todo o seu coração e toda a sua alma a nosso Senhor
Jesus Cristo, por cima de todo o vínculo, inclusive do mais íntimo: Se alguém
vem a mim, mas não me prefere... até à sua própria vida, não pode ser meu
discípulo (Lc 14,26-17). Ele ocupa o primeiro lugar na vida do seguidor. Diz
Santo Agostinho: Respondamos ao pai e à mãe: Eu vos amo em Cristo, não no lugar
de Cristo. O seguimento precede inclusive ao amor pela própria vida. Seguir
Jesus, ao fim e ao cabo, implica abraçar a cruz. Sem cruz não há discípulo.
O chamamento evangélico exorta à prudência, quer dizer, à
virtude que dirige a atuação adequada. Quem quer construir uma torre deve
calcular se a poderá terminar. O rei que tem que combater decide se vai à
guerra ou pede a paz depois de considerar o número de soldados de que dispõe.
Quem quer ser discípulo do Senhor tem que renunciar a todos os seus bens. A
renúncia será a melhor aposta!
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 14,25:
Exemplo de catequese. O evangelho de hoje é um exemplo bonito de como Lucas
transforma as palavras de Jesus em catequese para o povo das comunidades. Ele
diz: “Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala
para as grandes multidões, isto é, fala para todos, para o povo das comunidades
do tempo de Lucas e inclusive para nós hoje. No ensinamento que segue, ele
coloca as condições para alguém poder ser discípulo de Jesus.
* Lucas 14,25-26:
Primeira condição: odiar pai e mãe. Alguns diminuem a força da palavra
odiar e traduzem “dar preferência a Jesus acima dos pais”. O texto original usa
a expressão “odiar os pais”. Em outro lugar Jesus manda amar e honrar os pais
(Lc 18,20). Como explicar esta contradição? Será que é uma contradição? No
tempo de Jesus a situação social e econômica levava as famílias a se fechar
sobre si mesmas e as impedia de cumprir a lei do resgate (goel), isto é, de
socorrer os irmãos e as irmãos da comunidade (clã) que estavam ameaçados de
perder sua terra ou de cair na escravidão (cf. Dt 15,1-18; Lev 25,23-43).
Fechadas sobre si mesmas, as famílias enfraqueciam a vida em comunidade. Jesus
quer refazer a vida em comunidade. Por isso pede que se rompa a visão estreita
da pequena família que se fecha sobre si mesma e pede para que as famílias se
abram e se unam entre si na grande família, na comunidade. Este é o sentido de
odiar pai e mãe, mulher filhos, irmãos e irmãs. Jesus mesmo, quando os parentes
da sua pequena família queiram levá-lo da volta para Nazaré, não atendeu ao
pedido deles. Ignorou ou odiou o pedido deles e alargou a família, dizendo:
“Meu irmão, minha irmã, minha mãe é todos aquele que faz a vontade do Pai” (Mc
3,20-21.31-35). Os vínculos familiares não podem impedir a formação da Comunidade.
Esta é a primeira condição.
* Lucas 14,27: Segunda
condição: carregar a cruz. “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás
de mim, não pode ser meu discípulo”. Para entender bem o alcance desta segunda
exigência devemos olhar o contexto em que Lucas coloca esta palavra de Jesus.
Jesus está indo para Jerusalém onde será crucificado e morto. Seguir Jesus e
carregar a cruz atrás dele significa ir com ele até Jerusalém para ser
crucificado com ele. Isto evoca a atitude das mulheres que “haviam seguido a Jesus
e servido a ele, desde quando ele estava na Galileia. Muitas outras mulheres
estavam aí, pois tinham subido com Jesus a Jerusalém” (Mc 15,41). Evoca também
a frase de Paulo na carta aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu não me glorie, a
não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi
crucificado para mim, e eu para o mundo. Crucificado para o mundo” (Gl 6,14)
* Lucas 14,28-32:
Duas parábolas. As duas têm o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem
antes de tomar uma decisão. Na primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês
quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os
gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o
alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a
caçoar, dizendo: Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!”
Esta parábola não precisa de explicação. Ela fala por si: que cada um reflita
bem sobre a sua maneira de seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições
antes de tomar a decisão de ser discípulo de Jesus.
A segunda parábola: “Se um rei pretende sair para guerrear
contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez
mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele
vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto
o outro rei ainda está longe”. Esta parábola tem o mesmo objetivo que a
precedente. Alguns perguntam: “Como é que Jesus foi usar um exemplo de guerra?”
A pergunta é pertinente para nós que conhecemos as guerras de hoje. Só a
segunda guerra mundial (1939 a 1945) causou a morte de 54 milhões de pessoas!
Naquele tempo, porém, as guerras eram como a concorrência comercial entre as
empresas de hoje que lutam entre si para ter mais lucro.
* Lucas 14,33:
Conclusão para o discipulado. A conclusão é uma só: ser cristão, seguir
Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita gente, ser cristão não é opção pessoal
nem decisão de vida, mas um simples fenômeno cultural. Não lhes passa pela
cabeça de fazer uma opção. Quem nasce brasileiro é brasileiro. Quem nasce
japonês é japonês. Não precisa optar. Já nasce assim e vai morrer assim. Muita
gente é cristão porque nasceu assim e morre assim, sem nunca ter tido a ideia
de optar e de assumir o que já é por nascimento.
Para um confronto
pessoal
1) Ser cristão é
coisa séria. Devo calcular bem minha maneira de seguir Jesus. Como isto
acontece na minha vida?
2) “Odiar os
pais”; Comunidade ou família! Como você combina as duas coisas? Consegue unir
as duas em harmonia?
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