Beata Josefa Naval Girbés, Virgem da OTCBto Francisco de Jesus, Maria e José,
(Palau y Quer), Presbítero de nossa Ordem
LEITURA I – 1 Re 17,10-16: Naqueles dias,o profeta
Elias pôs-se a caminho e foi a Sarepta. Ao chegar às portas da cidade, encontrou
uma viúva a apanhar lenha. Chamou-a e disse-lhe: «Por favor, traz-me uma bilha
de água para eu beber». Quando ela ia a buscar a água, Elias chamou-a e disse: «Por
favor, traz-me também um pedaço de pão». Mas ela respondeu: «Tão certo como
estar vivo o Senhor, teu Deus, eu não tenho pão cozido, mas somente um punhado
de farinha na panela e um pouco de azeite na almotolia. Vim apanhar dois
cavacos de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho. Depois comeremos
e esperaremos a morte». Elias disse-lhe: «Não temas; volta e faz como disseste.
Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui. Depois prepararás o resto para ti
e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Não se esgotará a
panela da farinha, nem se esvaziará a almotolia do azeite, até ao dia em que o
Senhor mandar chuva sobre a face da terra’». A mulher foi e fez como Elias lhe
mandara; e comeram ele, ela e seu filho. Desde aquele dia, nem a panela da
farinha se esgotou, nem se esvaziou a almotolia do azeite, como o Senhor
prometera pela boca de Elias.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146)
Refrão. Ó minha alma, louva o Senhor.
O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e
a liberdade aos cativos.
O Senhor ilumina os olhos do cego, o Senhor levanta os
abatidos, o Senhor ama os justos.
O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e
entrava o caminho aos pecadores.
O Senhor reina eternamente; o teu Deus, ó Sião, é rei por
todas as gerações.
LEITURA II – Hb 9,24-28: Cristo não entrou num santuário
feito por mãos humanas, figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, para Se
apresentar agora na presença de Deus em nosso favor. E não entrou para Se
oferecer muitas vezes, como sumo sacerdote que entra cada ano no Santuário, como
sangue alheio; nesse caso, Cristo deveria ter padecido muitas vezes, desde o
princípio do mundo. Mas Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos, para
destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. E, como está determinado que os
homens morram uma só vez e a seguir haja o julgamento, assim também Cristo,
depois de Se ter oferecido uma só vez para tomar sobre Si os pecados da
multidão, aparecerá segunda vez, sem a aparência do pecado, para dar a salvação
àqueles que O esperam.
Aleluia. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino
dos Céus. Aleluia.
Evangelho (Mc 12, 38-44): Naquele tempo, ao
ensinar, Jesus dizia: «Cuidado com os escribas! Eles fazem questão de andar com
amplas túnicas e de serem cumprimentados nas praças, gostam dos primeiros
assentos na sinagoga e dos lugares de honra nos banquetes. Mas devoram as casas
das viúvas, enquanto ostentam longas orações. Por isso, serão julgados com mais
rigor». Jesus estava sentado em frente do cofre das ofertas e observava como a
multidão punha dinheiro no cofre. Muitos ricos depositavam muito. Chegou então
uma pobre viúva e deu duas moedinhas. Jesus chamou os discípulos e disse: «Em
verdade vos digo: esta viúva pobre deu mais do que todos os outros que
depositaram no cofre. Pois todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo
que ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver».
«Todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo que ela, da sua
pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver»
Pe. José MARTÍNEZ Colín
(Culiacán, México)
Hoje, o Evangelho apresenta-nos a Cristo como Mestre, e
fala-nos do desprendimento que devemos viver. Um desprendimento, em primeiro
lugar, da honra e do reconhecimento próprios, que por vezes vamos procurando:
«Cuidado com (...) de serem cumprimentados nas praças, gostam dos primeiros
assentos na sinagoga e dos lugares de honra nos banquetes» (cf. Mc 12,38-39).
Neste sentido, Jesus previne-nos do mau exemplo dos escribas.
Desprendimento, em segundo lugar, das coisas materiais.
Jesus louva à viúva pobre, ao mesmo tempo que lamenta a falsidade de outros:
«Todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo que ela [a viúva], da sua
pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver»» (Mc 12,44).
Quem não vive o desprendimento dos bens temporais vive cheio
do seu próprio eu, e não pode amar. Em tal estado de alma não há espaço para os
outros: nem compaixão, nem misericórdia, nem atenção para com o próximo.
Os santos dão-nos o exemplo. Eis aqui um feito da vida de
São Pio X, quando ainda era bispo de Mântua. Um comerciante escreveu calunias
contra o bispo. Muitos dos seus amigos aconselharam-no a denunciar
judicialmente o caluniador, mas o futuro Papa respondeu-lhes: «Esse pobre homem
necessita mais de oração do que de castigo». Não o acusou e rezou por ele.
Nem tudo ficou por aqui, mas depois de certo tempo, ao dito
comerciante correram-lhe mal os negócios, e declarou-se a bancarrota. Todos os
credores lhe caíram em cima, e ficou sem nada. Apenas uma pessoa foi em seu
ajuda: foi o próprio bispo de Mântua quem, anonimamente, fez enviar um envelope
com dinheiro ao comerciante, fazendo-o saber que aquele dinheiro vinha da
Senhora mais Misericordiosa, ou seja, da Virgem do Perpétuo Socorro.
Vivo realmente o desprendimento das realidades terrenas?
Está o meu coração vazio de coisas? Pode o meu coração ver as necessidades dos
outros? «O programa do cristão, o programa de Jesus, é um coração que vê?»
(Bento XVI).
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* No evangelho de
hoje estamos chegando ao fim da longa instrução de Jesus aos discípulos. Desde
a primeira cura do cego (Mc 8,22-26) até à cura do cego Bartimeu em Jericó
10,46-52), os discípulos caminharam com Jesus para Jerusalém, recebendo dele
muitas instruções sobre a paixão, morte e ressurreição e as consequências para
a vida do discípulo. Chegando em Jerusalém, estiveram presentes aos debates de
Jesus com os comerciantes no Templo (Mc 11,15-19), com os sumos sacerdotes e
escribas (Mc 11,27 a 12,12), com os fariseus, herodianos e saduceus (Mc
12,13-27), com os doutores da lei (Mc 12,28-37. Agora, no evangelho de hoje,
após uma última crítica fortíssimo contra os escribas (Mc 12,38-40), Jesus
encerra a instrução aos discípulos. Sentado em frente ao cofre de esmolas do
Templo, ele chama a atenção deles para o gesto de partilha de uma pobre viúva.
É neste gesto que eles devem procurar a manifestação da vontade de Deus (Mc
12,41-44).
* Marcos 12,38-40: A
crítica aos doutores da Lei. Jesus chama a atenção dos discípulos para o
comportamento ganancioso e hipócrita de alguns doutores da lei. Estes tinham
gosto em circular pelas praças em longas túnicas, receber as saudações do povo,
ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes.
Eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de
dinheiro! E Jesus termina: “Essa gente vai receber um julgamento mais severo! ”
* Marcos 12,41-42. A
esmola da viúva. Jesus e os discípulos, sentados em frente ao cofre de
esmolas do Templo, observavam como todo mundo colocava aí a sua esmola. Os
pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de grande valor. Os
cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo mundo trazia alguma coisa para a
manutenção do culto, para o sustento do clero e para a conservação do prédio.
Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres, pois naquele tempo não
havia previdência social. Os pobres viviam entregues à caridade pública. E os
pobres que mais precisavam da ajuda dos outros eram os órfãos e as viúvas.
Estas não tinham nada. Dependiam em tudo da ajuda dos outros. Mas mesmo sem ter
nada, elas faziam questão de partilhar. Assim, uma viúva bem pobre colocou sua
esmola no cofre do templo. Poucos centavos, apenas!
* Marcos 12,43-44.
Jesus aponta onde se manifesta a vontade de Deus. O que vale mais: os dez
centavos da viúva ou os mil reais dos ricos? Para os discípulos, os mil reais
dos ricos eram muito mais úteis para fazer a caridade do que os dez centavos da
viúva. Eles pensavam que o problema do povo só poderia ser resolvido com muito
dinheiro. Por ocasião da multiplicação dos pães, eles tinham dito a Jesus: “O
senhor quer que vamos comprar pão por duzentos denários para dar de comer ao
povo? ” (Mc 6,37). De fato, para quem pensa assim, os dez centavos da viúva não
servem para nada. Mas Jesus diz: “Esta viúva que é pobre lançou mais do que
todos que ofereceram moedas ao Tesouro”. Jesus tem critérios diferentes.
Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva, ele ensina onde eles e
nós devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, nos pobres e
na partilha. Muitos pobres de hoje fazem o mesmo. O povo diz: “Pobre não deixa
pobre morrer de fome”. Mas às vezes, nem isso é possível. Dona Cícera que veio
do interior da Paraíba, Brasil, para morar na periferia da capital, João
Pessoa, dizia: “No interior, a gente era pobre, mas tinha sempre uma coisinha
para dividir com o pobre na porta. Agora que estou aqui na cidade grande,
quando vejo um pobre que vem bater na porta, eu me escondo de vergonha, porque
não tenho nada em casa para dividir com ele! ” De um lado: gente rica que tem
tudo, mas não quer partilhar. Do outro lado: gente pobre que não tem quase
nada, mas quer partilhar o pouco que tem.
* Esmola, partilha,
riqueza. A prática da esmola era muito importante para os judeus. Era
considerada uma “boa obra”, pois dizia a lei do Antigo Testamento: “Nunca
deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: abre a mão em favor
do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra”. (Dt 15,11). As
esmolas, colocadas no cofre do templo, seja para o culto, seja para os
necessitados, os órfãos ou as viúvas, eram consideradas como uma ação agradável
a Deus. Dar esmola era uma maneira de reconhecer que todos os bens pertencem a
Deus e que nós somos apenas administradores desses bens, para que haja vida em
abundância para todas as pessoas. A prática da partilha e da solidariedade é
uma das características das primeiras comunidades cristãs: “Não havia entre
eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas,
vendendo-os, traziam o resultado da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos”
(At 4,34-35; 2,44-45). O dinheiro da venda, oferecido aos apóstolos, não era
acumulado, mas “distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade” (At
4,35b; 2,45). A entrada de pessoas mais ricas nas comunidades fez com que a
mentalidade da acumulação entrasse na comunidade e bloqueasse o movimento da
solidariedade e da partilha. Tiago adverte estas pessoas: “Pois bem, agora vós,
ricos, chorai por causa das desgraças que estão a sobrevir. A vossa riqueza
apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças. ” (Tg 5,1-3). Para
aprender o caminho do Reino, todos precisam tornar-se alunos daquela viúva
pobre, que partilhou tudo o que tinha, o necessário para viver (Mc 12,41-44).
Para um confronto
pessoal
1. Como é que os
dois centavos da viúva podem valer mais que os mil reais dos ricos? Olhe bem o
texto e diga por que Jesus elogiou a viúva pobre. Qual a mensagem deste texto
para nós hoje?
2. Quais as
dificuldades e alegrias que você já encontrou na sua vida ao praticar a
solidariedade e a partilha com os outros?
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