Salmo Responsorial: 89
R. Saciai-nos,
Senhor, com a vossa bondade e exultaremos de alegria.
Ensinai-nos a contar os nossos dias, para chegarmos à
sabedoria do coração. Voltai, Senhor! Até quando? Tende piedade dos vossos
servos.
Saciai-nos, desde a manhã, com a vossa bondade, para nos
alegrarmos e exultarmos todos os dias. Compensai em alegria os dias de aflição,
os anos em que sentimos a desgraça.
Manifestai a vossa obra aos vossos servos e aos seus filhos
a vossa majestade. Desça sobre nós a graça do Senhor. Confirmai em nosso favor
a obra das nossas mãos.
2ª Leitura (Hb 4,12-13): A palavra de Deus é viva
e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto
de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é capaz de
discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura que possa
fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos. É a ela que
devemos prestar contas.
Aleluia. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino
dos Céus. Aleluia.
Evangelho (Mc 10,17-30): Jesus saiu caminhando,
quando veio alguém correndo, caiu de joelhos diante dele e perguntou: Bom
Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna? Disse Jesus: Por que me
chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. Conheces os mandamentos: não
matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso
testemunho, não prejudicarás ninguém, honra teu pai e tua mãe! Ele então
respondeu: Mestre, tudo isso eu tenho observado desde a minha juventude. Jesus,
olhando bem para ele, com amor lhe disse: Só te falta uma coisa: vai, vende
tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois,
vem e segue-me. Ao ouvir isso, ele ficou pesaroso por causa desta palavra e foi
embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens. Olhando em volta, Jesus
disse aos seus discípulos: Como é difícil, para os que possuem riquezas, entrar
no Reino de Deus. Os discípulos ficaram espantados com estas palavras. E Jesus
tornou a falar: Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um
camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!
Eles ficaram mais admirados e diziam uns aos outros: Quem então poderá
salvar-se? Olhando bem para eles, Jesus lhes disse: Para os homens isso é
impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível! Pedro começou a
dizer-lhe: Olha, nós deixamos tudo e te seguimos. Jesus respondeu: Em verdade
vos digo: todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos,
por causa de mim e do evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida
- casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições -, e no mundo
futuro, vida eterna.
«Foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens»
Rev. D. Xavier SERRA i
Permanyer (Sabadell, Barcelona, Espanha)
Acostumo ir à Venezuela em missão, e ali realmente, na
pobreza, ao não ter muitas seguranças humanas, as pessoas se dão conta de que a
vida pendura de um fio, que sua existência é frágil. Essa situação lhes
facilita ver que é Deus quem lhes dá consistência, que suas vidas estão nas mãos
de Deus. Ao contrário, aqui em nosso mundo consumista, temos tantas coisas que
podemos cair na tentação de crer que elas nos outorgam segurança, que nos
seguram com uma grande corda. Mas na realidade, ao igual que os pobres, estamos
pendurados por um fio. Dizia a Mãe Teresa: Deus não pode encher o que está
cheio de outras coisas; temos o perigo de ter a Deus como um elemento mais em
nossa vida, um livro a mais na biblioteca; importante, sim, mas um livro a
mais. E, portanto, não considerá-lo em verdade como nosso Salvador.
Mas tanto os ricos como os pobres, ninguém se pode salvar
por si mesmo: Quem então poderá salvar-se? (Mc 10,26), exclamarão os
discípulos. Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo
é possível! (Mc 10,27), responderá Jesus. Confiemo-nos todos e plenamente à
Jesus, e que essa confiança se manifeste em nossas vidas.
"Rico mas triste!"
Postado por ✝
icatolica.com
Neste texto podemos situar dois casos: do jovem rico que não
vende tudo para seguir Jesus e dos apóstolos que, ao invés abandonam tudo para
segui-lo. A tônica deste trecho evangélico não é “vender tudo”, mas “vem e
segue-me”; ele não fala em primeiro lugar da pobreza voluntária, mas da suprema
riqueza que é possuir Jesus. Pode-se aproximar esta passagem do Evangelho à
parábola do homem que descobriu um tesouro no campo e vende tudo para
compra-lo, e do homem que cede toda uma coleção de pedras preciosas para
adquirir a pérola de grande valor (Mt 13, 44-46).
Como gostaríamos de contemplar esse olhar de Jesus! Umas
vezes, imperioso; outras, de pena e de tristeza, por exemplo ao ver a
incredulidade dos fariseus (Mc 2,5); outras, de compaixão, como à entrada de
Naim, quando passou o enterro do filho da viúva (Lc 7,13). É esse olhar que
comunica uma força persuasiva às palavras com que convida Mateus a deixar tudo
e segui-Lo (Mt 9,9); ou com que se faz convidar a casa de Zaqueu, levando-o à
conversão (Lc 19,5).
Mas o jovem prefere a “segurança” da riqueza e recusa o
convite de Jesus!
Ao recusar o convite, diz o Evangelho:” quando ele ouviu
isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc
10,22). “A tristeza deste jovem deve fazer-nos refletir. Podemos ter a tentação
de pensar que possuir muitas coisas, muitos bens neste mundo, pode fazer-nos
felizes. E no entanto, vemos no caso deste jovem do Evangelho que as muitas
riquezas se converteram em obstáculo para aceitar o chamamento de Jesus. Não
estava disposto a dizer Sim a Jesus e não a si próprio, a dizer Sim ao amor e
não a fuga!
O amor verdadeiro é exigente. O amor exige esforço e
compromisso pessoal para cumprir a vontade de Deus. Significa disciplina e
sacrifício, mas significa também alegria e realização humana. Não tenhais medo
a um esforço honesto e a um trabalho honesto; não tenhais medo à verdade.
A reflexão da passagem bíblica sobre o jovem rico leva-nos a
entender o uso dos bens materiais. Jesus não os condena por si mesmos; são
meios que Deus pôs à disposição do homem para o seu desenvolvimento em
sociedade com os outros. O apego indevido a eles é o que faz que se convertam
em ocasião pecaminosa. O pecado consiste em “confiar” neles, como solução única
da vida, voltando as costas à divina Providência. São Paulo diz que a ganância
é uma idolatria (Cl 3,5). Cristo exclui do Reino de Deus a quem cai nesse apego
às riquezas, constituindo-as em centro da sua vida, ou melhor disto, ele mesmo
se exclui.
Quem é esse jovem do Evangelho?
Posso ser eu. Pode ser você… São muitas pessoas que observam
os Mandamentos e até desejariam fazer mais… Mas quando Deus pede algo mais… se
retiram tristes, porque estão apegadas a muitas coisas, que prendem o seu
coração e impedem de dar esse passo a mais. As vezes são medíocres, querem
ficar satisfeitas apenas com o mínimo necessário!
PARA REFLETIR
A resposta de Jesus surpreende: “Por que me chamas de bom?
Só Deus é o Bom!” É verdade: só o Pai é o Bom, é a fonte eterna de toda
bondade, como só o Pai é o Santo, e a fonte de toda Santidade. E, no entanto, o
próprio Senhor afirma: “Tudo que o Pai tem é meu. Eu e o Pai somos um. Quem me
vê, vê o Pai!” Por isso mesmo, sem medo, podemos dizer todos os domingos: “Só
vós sois o Santo, só vós o Senhor, só vós o Altíssimo, Jesus Cristo, com o
Espírito Santo na glória de Deus Pai!” Sim, meus caros, Jesus é Bom porque vem
do Pai, porque tudo recebeu do Pai e participa plenamente da plenitude de plena
bondade que é o Pai! Mas, “tu conheces os mandamentos!” – Jesus é prático, meus
caros: indica ao alguém que vem a ele os mandamentos; e notem bem: os
mandamentos da segunda tábua, aqueles que falam do amor e do respeito pelo
próximo! Vede, amados no Senhor, como o seguimento a Jesus exige atitudes muito
concretas na nossa vida! Aquele lá, que buscava a vida respondeu feliz: “Mestre,
tudo isso tenho observado desde a minha juventude!” Meus irmãos, nessa resposta
há uma coisa boa e outra ruim. A coisa boa é que este homem é realmente
observante da Lei de Deus; a coisa ruim é que ele parece satisfeito consigo
mesmo; prece que, para ele, a religião consiste em fazer, em observar normas.
Pronto. Fazendo isso, tudo bem! Notai, caríssimos, que também aquele fariseu
que rezava no Templo estava satisfeito porque cumpria todos os preceitos; e os
cumpria mais da conta! Ah, meus irmãos, que para o Senhor isso não basta! O
Senhor é exigente, o Senhor olha o coração, o Senhor, Palavra “tão penetrante
como espada de dois gumes”, quer saber de nossas intenções e não se contenta
com nada menos que nosso coração e nossa vida! “Jesus olhou para ele com amor,
e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo que tens e dá aos pobres, e
terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” Meus irmãos, como Jesus é
bonito, como é sábio, como é exigente, como vai direto ao ponto! Primeiro, vede
como olha aquele lá: com amor, com aquele amor eterno com que nos amou e
reservou para nós o seu amor! Nunca esqueçamos: suas exigências são exigências
de amor! Na verdade, o Senhor deseja fazer aquele homem passar de uma religião
de simples fazer coisas e cumprir preceitos para uma religião de amar de
verdade: “Vai, vende tudo que és, moço! Vai, deixa-te a ti mesmo; larga essa
preocupação contigo! Deixa-te vendendo tudo; abre-te para os outros, repartindo
teus bens e teu amor e, depois, estarás pronto de verdade para experimentar o
quanto eu sou o Bom: “Vem e segue-me!” Tu me chamaste de Bom sem saber o que
isso queria dizer… Vem comigo, deixa tudo por mim e verás de verdade que eu sou
o Bom, o teu Bem, todo Bem, o sumo Bem! Será livre, mocinho; encontrarás a vida
em abundância! Deixa-te por mim e tu me encontrarás e, encontrando-me,
encontrarás a própria vida!
Mas, não! Esse risco aquele lá não queria correr. Queria uma
religião arrumadinha, que lhe oferecesse garantias; uma religiãozinha burguesa,
na qual se sirva a Deus para servir-se de Deus… Arriscar tudo por esse Mestre
de Nazaré? Deixar e deixar-se? Era demais! “Quando ele ouviu isso, ficou
abatido, foi embora cheio de tristeza porque era muito rico”. Vede, meus
irmãos, como nós somos! Vede qual a nossa tentação! Esse homem era rico de bens
materiais, rico de apego a si próprio, rico de se buscar a si mesmo, mas pobre
de amor a Deus e pobre de generosidade para com os outros; pobre de sonhos,
pobre de ideal, pobre de generosidade, pobre de grandeza interior… Ele queria ser
aquilo que Cristo abomina: um cristão burguês, acomodado na vidinha medíocre,
de fácil moral e fáceis compromissos… cristãos que rastejam como vermes quando
deveriam voar alto como as águias…
Daí a dura constatação de Jesus: “Como é difícil para os riscos
entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do
que um rico entrar no Reino de Deus!’ A palavra é clara: é mais fácil um camelo
passar pela agulha fininha, que um rico entrar no Reino. E por quê? Porque a
riqueza – seja qual for ela – tende a nos apegar, a nos fechar, a nos fazer
pensar que nos bastamos! Somente quem for pobre de coração pode entrar no
Reino, pois só quem é pobre deixa que Deus reine de verdade na sua vida! E como
é difícil para nós, tão fáceis de sermos iludidos, compreender isso!
Desapeguemo-nos, caríssimos, de nós mesmos; deixemo-nos para poder encontrar a
vida verdadeira. Nunca será digno de Jesus quem não tiver a coragem de tudo
deixar por Jesus: “Quem tiver deixado tudo por causa de mim e do Evangelho,
receberá cem vezes mais agora, durante esta vida, com perseguições e, no
futuro, a vida eterna”. = se deixar para receber, não deixou nada; se deixar
para receber nunca amou, não compreendeu a Palavra!
Os apóstolos não compreenderam isso – como também muitas
vezes nós não compreendemos e não compreendem de modo algum aqueles que falam
em seguir Jesus só para ter lucro. Basta ver na televisão, os falsos
pregadores, de falsos evangelhos, que não passam da velhice pecaminosa
disfarçada. Basta pensar na maldita teologia da prosperidade: “serve a Deus e
ficarás rico!” Caros, quem deixa para receber, nada deixou; quem deixa
esperando recompensas, nunca amou; quem segue o Senhor pensando em pagamentos,
nunca compreendeu a Palavra! – Senhor, Sabedoria e Palavra do Pai, nosso tudo e
nossa vida, só tu és nosso caminho, só tu, nosso destino, só tu nossa eterna
recompensa. Nada nos falta se temos a ti! A ti a glória. Amém.
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