Salmo Responsorial (Lc 1,46s.)
R. O poderoso fez por
mim maravilhas, e Santo é o seu nome.
— A minh’alma engrandece ao Senhor, e se alegrou o meu
espírito em Deus, meu Salvador.
— Pois ele viu a pequenez de sua serva, desde agora as
gerações hão de chamar-me de bendita. O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo
é o seu nome!
— Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o
respeitam. Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos.
— Derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes
exaltou. De bens saciou os famintos e despediu, sem nada, os ricos.
— Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, como havia
prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre.
ALELUIA. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois
Vós entre as mulheres. ALELUIA.
Evangelho (Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no
sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia,
chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da
casa de Davi. A virgem se chamava Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse:
«Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas
palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo,
então, disse: «Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus.
Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será
grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de
Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu
reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao anjo: «Como acontecerá isso, se
eu não conheço homem?» O anjo respondeu: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e
o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai
nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu
um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril,
pois para Deus nada é impossível». Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor!
Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo retirou-se.
«Darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus»
Rev. D. Antoni CAROL i
Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Na verdade, os diversos mistérios do Rosário - gozosos,
luminosos, dolorosos e gloriosos - são como “fotografias” de momentos
emblemáticos da vida de Jesus vistos a partir do olhar de Maria. Por exemplo:
hoje contemplamos a Anunciação do arcanjo São Gabriel à Virgem Maria. O diálogo
entre o divino mensageiro e Maria é muito importante; mais importante é o seu
“sim” («faça-se em mim segundo a tua palavra»: Lc 1,38). Mas o que é totalmente
decisivo é a Encarnação do Filho de Deus. O protagonista é Jesus Cristo; Maria atua
como um instrumento (juntamente com o “sim”, oferece o seu ventre).
E passamos ao segundo mistério gozoso, a Visitação de Maria
a sua prima Santa Isabel, pode parecer outra vez que a protagonista da cena é
Santa Maria, tendo como co-protagonista Isabel. Porém não é assim: o
protagonista - como sempre - é Jesus (com apenas uns poucos dias de existência
humana) e o co-protagonista é João Baptista (também no ventre de sua mãe, já
com seis meses). Elas as duas são instrumentos para o primeiro ato profético do
Novo Testamento: João aponta para o Messias já presente neste mundo.
E assim decorre a recitação de toda esta devoção: os
mistérios são mistérios de Cristo. Com razão, o beato papa Paulo VI disse do
Rosário que «é um compêndio do Evangelho». Além disso, a “Ave-maria” – repetida
ao redor de cada um desses mistérios – contém no seu próprio centro o nome de
Jesus. Maria é bendita entre todas as mulheres porque é bendito o fruto do seu
ventre: Jesus!
A humilde serva do Senhor, pelo seu sim generoso, se tornou Mãe do
Filho do Altíssimo.
Coadunando-se com a transcendência da mensagem, a tripla
saudação a Maria é absolutamente inaudita: «Ave»: Vulgarizou-se esta tradução,
correspondente a uma saudação comum (como ao nosso «bom dia»; cf. Mt 26, 49),
mas que não parece ser a mais exata, pois Lucas, para a saudação comum usa o
semítico «paz a ti» (cf. Lc 10, 5); a melhor tradução é «alegra-te» – a
tradução literal do imperativo do grego khaire –, de acordo com o contexto
lucano de alegria e com a interpretação patrística grega, não faltando mesmo
autores modernos que vêm na saudação uma alusão aos convites proféticos à
alegria da «Filha de Sião» (Sof 3, 14; Jl 2, 21-23; Zac 9, 9).
«Cheia de graça»:
Esta designação tem muita força expressiva: está em vez do nome próprio, por
isso define o que Maria é na realidade. A expressão portuguesa traduz um
particípio perfeito passivo que não tem tradução literal possível na nossa
língua: designa Aquela que está cumulada de graça, de modo permanente; mais
ainda, a forma passiva parece corresponder ao chamado passivo divino, o que
evidencia a ação gratuita, amorosa, criadora e transformante de Deus em Maria:
«ó Tu a quem Deus cumulou dos seus favores». De facto, Maria é a criatura mais
plenamente ornada de graça, em função do papel a que Deus A chama: Mãe do
próprio Autor da Graça, Imaculada, concebida sem pecado original, doutro modo
não seria, em toda a plenitude, a «cheia de graça», como o próprio texto
original indica.
«O Senhor está
contigo»: a expressão é muito mais rica do que parece à primeira vista;
pelas ressonâncias bíblicas que encerra, Maria é posta à altura das grandes
figuras do Antigo Testamento, como Jacob (Gn 28, 15), Moisés (Ex 3, 12) e
Gedeão (Jz 6, 12), que não são apenas sujeitos passivos da proteção de Deus,
mas recebem uma graça especial que os capacita para cumprirem a missão confiada
por Ele. Chamamos a atenção para o facto de na última edição litúrgica ter sido
suprimido o inciso «Bendita es tu entre as mulheres», pois este não aparece nos
melhores manuscritos e pensa-se que veio aqui parar por arrasto do v. 42
(saudação de Isabel). A Neovulgata, ao corrigir a Vulgata, passou a omiti-lo.
«Perturbou-se»,
ferida na sua humildade e recato, mas sobretudo experimentando o natural temor
de quem sente a proximidade de Deus que vem para tomar posse da sua vida (a
vocação divina). Esta reação psicológica é diferente da do medo de Zacarias
(cf. Lc 1, 12), pois é expressa por outro verbo grego; Maria não se fecha no
refúgio dos seus medos, pois n’Ela não há qualquer espécie de considerações
egoístas, deixando-nos o exemplo de abertura generosa às exigências de Deus,
perguntando ao mensageiro divino apenas o que precisa de saber, sem exigir mais
sinais e garantias como Zacarias (cf. Lc 1, 18).
«Encontraste graça
diante de Deus»: «encontrar graça» é um semitismo para indicar o bom
acolhimento da parte dum superior (cf. 1 Sam 1, 18), mas a expressão «encontrar
graça diante de Deus» só se diz no A. T. de grandes figuras, Noé (Gn 6, 8) e
Moisés (Ex 33, 12.17). O que o Anjo anuncia é tão grandioso e expressivo que
põe em evidência a maternidade messiânica e divina de Maria (cf. 2 Sam 7, 8-16;
Sl 2, 7; 88, 27; Is 9, 6; Jer 23, 5; Miq 4, 7; Dan 7, 14).
«Como será isto, se
Eu não conheço homem?» Segundo a interpretação tradicional desde Santo
Agostinho até aos nossos dias, tem-se observado que a pergunta de Maria
careceria de sentido, se Ela não tivesse antes decidido firmemente guardar a
virgindade perpétua, uma vez que já era noiva, com os desposórios ou esponsais
(erusim) já celebrados (v. 27). Alguns entendem a pergunta como um artifício
literário e também «não conheço» no sentido de «não devo conhecer», como
compete à Mãe do Messias (cf. Is 7, 14). Pensamos que a forma do verbo, no
presente, «não conheço», indica uma vontade permanente que abrange tanto o
presente como o futuro. Também a segurança com que Maria aparece a falar faz
supor que José já teria aceitado, pela sua parte, um matrimónio virginal,
dando-se mutuamente os direitos de esposos e renunciando a consumar a união;
mas nem todos os estudiosos assim pensam, como também se vê no recente e
interessante filme Figlia del suo Figlio.
«O Espírito Santo
virá sobre ti…» Este versículo é o cume do relato e a chave do mistério: o
Espírito, a fonte da vida, «virá sobre ti», com a sua força criadora (cf. Gn 1,
2; Salmo 104, 30) e santificadora (cf. Act 2, 3-4); «e sobre ti a força do
Altíssimo estenderá a sua sombra» (a tradução litúrgica «cobrirá» seria de
evitar por equívoca e pobre; é melhor a da Nova Bíblia dos Capuchinhos): o
verbo grego (ensombrar) é usado no A. T. para a nuvem que cobria a tenda da
reunião, onde a glória de Deus estabelecia a sua morada (Ex 40, 34-36); aqui é
a presença de Deus no ser que Maria vai gerar (pode ver-se nesta passagem o
fundamento bíblico para o título de Maria, «Arca da Aliança»).
«O Santo que vai
nascer…» O texto admite várias traduções legítimas; a litúrgica, afasta-se
tanto da da Vulgata, como da da Neovulgata; uma tradução na linha da Vulgata
parece-nos mais equilibrada e expressiva: «por isso também aquele que nascerá
santo será chamado Filho de Deus». I. de la Potterie chega a ver aqui uma
alusão ao parto virginal de Maria: «nascerá santo», isto é, não manchado de
sangue. «Será chamado» (entenda-se, «por Deus» – passivum divinum) Filho de
Deus», isto é, será realmente Filho de Deus, pois o que Deus chama tem realidade
objetiva (cf. Salm 2, 7).
«Eis a escrava do
Senhor…» A palavra escolhida na tradução, «escrava» talvez queira sublinhar
a entrega total de Maria ao plano divino. Maria diz o seu sim a Deus,
chamando-se «serva do Senhor»; é a primeira e única vez que na história bíblica
se aplica a uma mulher este apelativo, como que evocando toda uma história
maravilhosa de outros «servos» chamados por Deus que puseram a sua vida ao seu
serviço: Abraão, Jacob, Moisés, David… É o terceiro nome com que Ela aparece
neste relato: «Maria», o nome que lhe fora dado pelos homens, «cheia de graça»,
o nome dado por Deus, «serva do Senhor», o nome que se dá a si mesma.
«Faça-se…» O
«sim» de Maria é expresso com o verbo grego no modo optativo (génoito, quando o
normal seria o uso do modo imperativo génesthô), o que põe em evidência a sua
opção radical e definitiva, o seu vivo desejo (matizado de alegria) de ver
realizado o desígnio de Deus.
«Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores».
Padre Pacheco, Comunidade
Canção Nova
Mulher do silêncio:
Precisamos aprender com Maria a silenciar o nosso coração de todas as agitações
do mundo e de todo barulho, fruto das realidades que são contrárias à vontade
de Deus na nossa vida. Silenciar é muito mais que não fazer barulho; silenciar
é ter a coragem de retirar-se constantemente para encontrar-se com o Senhor, e
aí escutar o Seu Coração.
Mulher da Palavra:
A Santíssima Virgem rezava os salmos; era íntima da Palavra de Deus; prova
disso é ela repetir o Cântico de Ana ao se encontrar com Isabel, cântico este
lá do Antigo Testamento. Muito mais que o fato de narrar esse cântico, a prova
de que a Virgem Maria é a mulher da Palavra é a sua total confiança na
misericórdia e na providência de Deus, que regia toda a sua vida e a vida do
mundo.
Mulher do serviço:
Maria sobe a montanha para visitar a sua parenta Isabel; ela vai à casa da
prima não tendo como prioridade tratar de serviços domésticos, mas para levar o
mistério até a vida daquela mulher, que, com certeza, muitos traumas trazia
pelo fato de ter sido estéril por muitos anos – fato tido como sinal de
maldição.
O mistério em Maria, que é o próprio Deus, a leva até a
prima, para que esta possa ser curada. Para dizer que devemos ser,
efetivamente, portadores e condutores do mistério, que é Deus, às pessoas, pois
Ele se encontra em nós, dentro de nós, desde o momento do nosso batismo.
Mulher da obediência:
Maria só tinha olhar para a vontade de Deus, para obedecer ao Todo-poderoso nas
circunstâncias ordinárias da vida; é ela quem diz a cada um de nós – única
frase de Maria na Sagrada Escritura, de forma direta: “Fazei tudo o que Ele vos
disser.”
Viver esta festa de Nossa Senhora do Rosário, ser devoto de
Maria por excelência, nada mais é do que obedecer a Deus e fazer com que Ele
seja o Senhor, verdadeiramente, da nossa vida.
Rosário: compêndio do Evangelho
Nota histórica
Ave, Maria! Rezemos com o Anjo, no início do novo milénio!
Santa Maria, rogai por nós! Peçamos com os homens de todas as gerações! E Deus
virá em nosso auxílio! Com o salmista poderemos nós também hoje cantar: Ó
Senhor, Vós tendes sido o nosso refúgio através das gerações! (Salmo 90,1)
Rosário: compêndio do Evangelho
Em Fátima, em 1917, Nossa Senhora disse que era a Senhora do
Rosário. Nas aparições, de Maio a Outubro, fez sempre a esta recomendação:
Rezem, rezem muito. Rezem o Terço todos os dias. A Virgem Maria pede-nos a
oração do Terço, porque o rosário é o compêndio do Evangelho. O enunciado dos
mistérios tem a sua raiz na Bíblia e faz-nos recordar em ordenada sucessão os
principais acontecimentos salvíficos que se realizaram em Jesus Cristo. S.
Bernardo escreveu: «Deus quis ser compreendido, ser visto, quis ser pensado:
recostado no presépio, deitado no regaço da Virgem Maria, suspenso da cruz,
lívido na morte e depois ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos Apóstolos
as marcas dos cravos e finalmente mostrando-lhes a sua face gloriosa enquanto
subia ao mais alto dos céus. Quem não meditará na santidade e piedade destes fatos?»
O rosário sempre foi uma autêntica escola de oração. É
verdadeira sabedoria com os mistérios do santo rosário meditar na vida de
Jesus: assim com os Mistérios gozosos contemplamos a Encarnação do Verbo e a
Santa Infância do Deus Menino; Com os Mistérios luminosos contemplamos os momentos
mais significativos da vida Pública do Divino Mestre. Com os Mistérios
dolorosos e os Mistérios gloriosos contemplamos a Paixão, Morte e glorificação
de Jesus, nosso Redentor.
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