terça-feira, 5 de outubro de 2021

7 de outubro: Nossa Senhora do Rosário

Primeira leitura (At 1, 12-14): Os Apóstolos desceram, do monte chamado das Oliveiras, situado perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de sábado, e foram para Jerusalém. Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente. Estavam lá: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, filho de Tiago. E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.

Salmo Responsorial (Lc 1,46s.)

R. O poderoso fez por mim maravilhas, e Santo é o seu nome.

— A minh’alma engrandece ao Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador.

— Pois ele viu a pequenez de sua serva, desde agora as gerações hão de chamar-me de bendita. O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome!

— Seu amor, de geração em geração, chega a todos que o respeitam. Demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos.

— Derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou. De bens saciou os famintos e despediu, sem nada, os ricos.

— Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre.

ALELUIA. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois Vós entre as mulheres. ALELUIA.

Evangelho (Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: «Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse: «Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao anjo: «Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível». Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo retirou-se.

«Darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, bem entrado o chamado “mês do Rosário”, celebramos a Virgem sob a advocação do Rosário. Que melhor maneira de honrar a nossa Mãe do que rezar o Terço? Tantas vezes Ela própria apareceu com o “rosário na mão”! A Ela agrada-lhe! Por quê? A razão é a seguinte: embora possa parecer que a recitação do Terço é uma manifestação de piedade mariana (e é mesmo!), contudo tem um fundamento cristológico, o próprio Jesus. Dito de um modo claro: o protagonista do Santo Rosário é Jesus Cristo, o Filho de Deus nascido de Maria Santíssima.

Na verdade, os diversos mistérios do Rosário - gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos - são como “fotografias” de momentos emblemáticos da vida de Jesus vistos a partir do olhar de Maria. Por exemplo: hoje contemplamos a Anunciação do arcanjo São Gabriel à Virgem Maria. O diálogo entre o divino mensageiro e Maria é muito importante; mais importante é o seu “sim” («faça-se em mim segundo a tua palavra»: Lc 1,38). Mas o que é totalmente decisivo é a Encarnação do Filho de Deus. O protagonista é Jesus Cristo; Maria atua como um instrumento (juntamente com o “sim”, oferece o seu ventre).

E passamos ao segundo mistério gozoso, a Visitação de Maria a sua prima Santa Isabel, pode parecer outra vez que a protagonista da cena é Santa Maria, tendo como co-protagonista Isabel. Porém não é assim: o protagonista - como sempre - é Jesus (com apenas uns poucos dias de existência humana) e o co-protagonista é João Baptista (também no ventre de sua mãe, já com seis meses). Elas as duas são instrumentos para o primeiro ato profético do Novo Testamento: João aponta para o Messias já presente neste mundo.

E assim decorre a recitação de toda esta devoção: os mistérios são mistérios de Cristo. Com razão, o beato papa Paulo VI disse do Rosário que «é um compêndio do Evangelho». Além disso, a “Ave-maria” – repetida ao redor de cada um desses mistérios – contém no seu próprio centro o nome de Jesus. Maria é bendita entre todas as mulheres porque é bendito o fruto do seu ventre: Jesus!

A humilde serva do Senhor, pelo seu sim generoso, se tornou Mãe do Filho do Altíssimo.

«O Anjo Gabriel». O mesmo que anunciou a Zacarias o nascimento de João. Já era conhecido o seu nome no A. T. (cf. Dan 8, 16-26; 9, 21-27). O seu nome significa «homem de Deus» ou também «força de Deus».

Coadunando-se com a transcendência da mensagem, a tripla saudação a Maria é absolutamente inaudita: «Ave»: Vulgarizou-se esta tradução, correspondente a uma saudação comum (como ao nosso «bom dia»; cf. Mt 26, 49), mas que não parece ser a mais exata, pois Lucas, para a saudação comum usa o semítico «paz a ti» (cf. Lc 10, 5); a melhor tradução é «alegra-te» – a tradução literal do imperativo do grego khaire –, de acordo com o contexto lucano de alegria e com a interpretação patrística grega, não faltando mesmo autores modernos que vêm na saudação uma alusão aos convites proféticos à alegria da «Filha de Sião» (Sof 3, 14; Jl 2, 21-23; Zac 9, 9).

«Cheia de graça»: Esta designação tem muita força expressiva: está em vez do nome próprio, por isso define o que Maria é na realidade. A expressão portuguesa traduz um particípio perfeito passivo que não tem tradução literal possível na nossa língua: designa Aquela que está cumulada de graça, de modo permanente; mais ainda, a forma passiva parece corresponder ao chamado passivo divino, o que evidencia a ação gratuita, amorosa, criadora e transformante de Deus em Maria: «ó Tu a quem Deus cumulou dos seus favores». De facto, Maria é a criatura mais plenamente ornada de graça, em função do papel a que Deus A chama: Mãe do próprio Autor da Graça, Imaculada, concebida sem pecado original, doutro modo não seria, em toda a plenitude, a «cheia de graça», como o próprio texto original indica.

«O Senhor está contigo»: a expressão é muito mais rica do que parece à primeira vista; pelas ressonâncias bíblicas que encerra, Maria é posta à altura das grandes figuras do Antigo Testamento, como Jacob (Gn 28, 15), Moisés (Ex 3, 12) e Gedeão (Jz 6, 12), que não são apenas sujeitos passivos da proteção de Deus, mas recebem uma graça especial que os capacita para cumprirem a missão confiada por Ele. Chamamos a atenção para o facto de na última edição litúrgica ter sido suprimido o inciso «Bendita es tu entre as mulheres», pois este não aparece nos melhores manuscritos e pensa-se que veio aqui parar por arrasto do v. 42 (saudação de Isabel). A Neovulgata, ao corrigir a Vulgata, passou a omiti-lo.

«Perturbou-se», ferida na sua humildade e recato, mas sobretudo experimentando o natural temor de quem sente a proximidade de Deus que vem para tomar posse da sua vida (a vocação divina). Esta reação psicológica é diferente da do medo de Zacarias (cf. Lc 1, 12), pois é expressa por outro verbo grego; Maria não se fecha no refúgio dos seus medos, pois n’Ela não há qualquer espécie de considerações egoístas, deixando-nos o exemplo de abertura generosa às exigências de Deus, perguntando ao mensageiro divino apenas o que precisa de saber, sem exigir mais sinais e garantias como Zacarias (cf. Lc 1, 18).

«Encontraste graça diante de Deus»: «encontrar graça» é um semitismo para indicar o bom acolhimento da parte dum superior (cf. 1 Sam 1, 18), mas a expressão «encontrar graça diante de Deus» só se diz no A. T. de grandes figuras, Noé (Gn 6, 8) e Moisés (Ex 33, 12.17). O que o Anjo anuncia é tão grandioso e expressivo que põe em evidência a maternidade messiânica e divina de Maria (cf. 2 Sam 7, 8-16; Sl 2, 7; 88, 27; Is 9, 6; Jer 23, 5; Miq 4, 7; Dan 7, 14).

«Como será isto, se Eu não conheço homem?» Segundo a interpretação tradicional desde Santo Agostinho até aos nossos dias, tem-se observado que a pergunta de Maria careceria de sentido, se Ela não tivesse antes decidido firmemente guardar a virgindade perpétua, uma vez que já era noiva, com os desposórios ou esponsais (erusim) já celebrados (v. 27). Alguns entendem a pergunta como um artifício literário e também «não conheço» no sentido de «não devo conhecer», como compete à Mãe do Messias (cf. Is 7, 14). Pensamos que a forma do verbo, no presente, «não conheço», indica uma vontade permanente que abrange tanto o presente como o futuro. Também a segurança com que Maria aparece a falar faz supor que José já teria aceitado, pela sua parte, um matrimónio virginal, dando-se mutuamente os direitos de esposos e renunciando a consumar a união; mas nem todos os estudiosos assim pensam, como também se vê no recente e interessante filme Figlia del suo Figlio.

«O Espírito Santo virá sobre ti…» Este versículo é o cume do relato e a chave do mistério: o Espírito, a fonte da vida, «virá sobre ti», com a sua força criadora (cf. Gn 1, 2; Salmo 104, 30) e santificadora (cf. Act 2, 3-4); «e sobre ti a força do Altíssimo estenderá a sua sombra» (a tradução litúrgica «cobrirá» seria de evitar por equívoca e pobre; é melhor a da Nova Bíblia dos Capuchinhos): o verbo grego (ensombrar) é usado no A. T. para a nuvem que cobria a tenda da reunião, onde a glória de Deus estabelecia a sua morada (Ex 40, 34-36); aqui é a presença de Deus no ser que Maria vai gerar (pode ver-se nesta passagem o fundamento bíblico para o título de Maria, «Arca da Aliança»).

«O Santo que vai nascer…» O texto admite várias traduções legítimas; a litúrgica, afasta-se tanto da da Vulgata, como da da Neovulgata; uma tradução na linha da Vulgata parece-nos mais equilibrada e expressiva: «por isso também aquele que nascerá santo será chamado Filho de Deus». I. de la Potterie chega a ver aqui uma alusão ao parto virginal de Maria: «nascerá santo», isto é, não manchado de sangue. «Será chamado» (entenda-se, «por Deus» – passivum divinum) Filho de Deus», isto é, será realmente Filho de Deus, pois o que Deus chama tem realidade objetiva (cf. Salm 2, 7).

«Eis a escrava do Senhor…» A palavra escolhida na tradução, «escrava» talvez queira sublinhar a entrega total de Maria ao plano divino. Maria diz o seu sim a Deus, chamando-se «serva do Senhor»; é a primeira e única vez que na história bíblica se aplica a uma mulher este apelativo, como que evocando toda uma história maravilhosa de outros «servos» chamados por Deus que puseram a sua vida ao seu serviço: Abraão, Jacob, Moisés, David… É o terceiro nome com que Ela aparece neste relato: «Maria», o nome que lhe fora dado pelos homens, «cheia de graça», o nome dado por Deus, «serva do Senhor», o nome que se dá a si mesma.

«Faça-se…» O «sim» de Maria é expresso com o verbo grego no modo optativo (génoito, quando o normal seria o uso do modo imperativo génesthô), o que põe em evidência a sua opção radical e definitiva, o seu vivo desejo (matizado de alegria) de ver realizado o desígnio de Deus.

«Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores».

Padre Pacheco, Comunidade Canção Nova

O devoto da Virgem Maria é aquele que toma a decisão de viver as virtudes dela, a saber:

Mulher do silêncio: Precisamos aprender com Maria a silenciar o nosso coração de todas as agitações do mundo e de todo barulho, fruto das realidades que são contrárias à vontade de Deus na nossa vida. Silenciar é muito mais que não fazer barulho; silenciar é ter a coragem de retirar-se constantemente para encontrar-se com o Senhor, e aí escutar o Seu Coração.

Mulher da Palavra: A Santíssima Virgem rezava os salmos; era íntima da Palavra de Deus; prova disso é ela repetir o Cântico de Ana ao se encontrar com Isabel, cântico este lá do Antigo Testamento. Muito mais que o fato de narrar esse cântico, a prova de que a Virgem Maria é a mulher da Palavra é a sua total confiança na misericórdia e na providência de Deus, que regia toda a sua vida e a vida do mundo.

Mulher do serviço: Maria sobe a montanha para visitar a sua parenta Isabel; ela vai à casa da prima não tendo como prioridade tratar de serviços domésticos, mas para levar o mistério até a vida daquela mulher, que, com certeza, muitos traumas trazia pelo fato de ter sido estéril por muitos anos – fato tido como sinal de maldição.

O mistério em Maria, que é o próprio Deus, a leva até a prima, para que esta possa ser curada. Para dizer que devemos ser, efetivamente, portadores e condutores do mistério, que é Deus, às pessoas, pois Ele se encontra em nós, dentro de nós, desde o momento do nosso batismo.

Mulher da obediência: Maria só tinha olhar para a vontade de Deus, para obedecer ao Todo-poderoso nas circunstâncias ordinárias da vida; é ela quem diz a cada um de nós – única frase de Maria na Sagrada Escritura, de forma direta: “Fazei tudo o que Ele vos disser.”

Viver esta festa de Nossa Senhora do Rosário, ser devoto de Maria por excelência, nada mais é do que obedecer a Deus e fazer com que Ele seja o Senhor, verdadeiramente, da nossa vida.

Rosário: compêndio do Evangelho

Nota histórica

A festa que hoje celebramos foi instituída por S. Pio V para celebrar a vitória das armas cristãs na batalha naval de Lepanto, em 1571. O islamismo ameaçava a civilização cristã. Conquistar Roma, derrubar a cruz, hastear a sua bandeira no Vaticano, suprimir o Evangelho e dar primazia ao alcorão. Governava a Igreja o Papa S. Pio V. Homem de Deus e bom diplomata deu-se conta do perigo eminente: a civilização cristã estava fortemente ameaçada. Que fazer? Para além dos preparativos militares, o Papa convidou os cristãos para uma autêntica cruzada de oração, suplicando auxílio divino, a fim de obter bom resultado na batalha naval, que se ia travar. Aos próprios soldados e marinheiros distribuiu terços. A presença de Nossa Senhora foi visivelmente sentida: Lepanto ficou na história como uma batalha ganha pela ajuda poderosa da Virgem Maria, Auxiliadora dos cristãos.

Ave, Maria! Rezemos com o Anjo, no início do novo milénio! Santa Maria, rogai por nós! Peçamos com os homens de todas as gerações! E Deus virá em nosso auxílio! Com o salmista poderemos nós também hoje cantar: Ó Senhor, Vós tendes sido o nosso refúgio através das gerações! (Salmo 90,1)

Rosário: compêndio do Evangelho

Em Fátima, em 1917, Nossa Senhora disse que era a Senhora do Rosário. Nas aparições, de Maio a Outubro, fez sempre a esta recomendação: Rezem, rezem muito. Rezem o Terço todos os dias. A Virgem Maria pede-nos a oração do Terço, porque o rosário é o compêndio do Evangelho. O enunciado dos mistérios tem a sua raiz na Bíblia e faz-nos recordar em ordenada sucessão os principais acontecimentos salvíficos que se realizaram em Jesus Cristo. S. Bernardo escreveu: «Deus quis ser compreendido, ser visto, quis ser pensado: recostado no presépio, deitado no regaço da Virgem Maria, suspenso da cruz, lívido na morte e depois ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos Apóstolos as marcas dos cravos e finalmente mostrando-lhes a sua face gloriosa enquanto subia ao mais alto dos céus. Quem não meditará na santidade e piedade destes fatos?»

O rosário sempre foi uma autêntica escola de oração. É verdadeira sabedoria com os mistérios do santo rosário meditar na vida de Jesus: assim com os Mistérios gozosos contemplamos a Encarnação do Verbo e a Santa Infância do Deus Menino; Com os Mistérios luminosos contemplamos os momentos mais significativos da vida Pública do Divino Mestre. Com os Mistérios dolorosos e os Mistérios gloriosos contemplamos a Paixão, Morte e glorificação de Jesus, nosso Redentor.

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