175 anos da aparição de Nossa Senhora da Salete
S. Gennaro, bispo e mártir
Salmo Responsorial: 53
R. O Senhor sustenta
a minha vida.
Senhor, salvai-me pelo vosso nome, pelo vosso poder fazei-me
justiça. Senhor, ouvi a minha oração, atendei às palavras da minha boca.
Levantaram-se contra mim os arrogantes e os violentos
atentaram contra a minha vida. Não têm a Deus na sua presença.
Deus vem em meu auxílio, o Senhor sustenta a minha vida. De
bom grado oferecerei sacrifícios, cantarei a glória do vosso nome, Senhor.
2ª Leitura (Tg 3,16—4,3): Caríssimos: Onde há
inveja e rivalidade, também há desordem e toda a espécie de más ações. Mas a
sabedoria que vem do alto é pura, pacífica, compreensiva e generosa, cheia de
misericórdia e de boas obras, imparcial e sem hipocrisia. O fruto da justiça
semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz. De onde vêm as guerras? De
onde procedem os conflitos entre vós? Não é precisamente das paixões que lutam
nos vossos membros? Cobiçais e nada conseguis: então assassinais. Sois
invejosos e não podeis obter nada: então entrais em conflitos e guerras. Nada
tendes, porque nada pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, pois o que
pedis é para satisfazer as vossas paixões.
Aleluia. Deus chamou-nos por meio do Evangelho, para alcançarmos a
glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aleluia.
Evangelho (Mc 9,30-37): Partindo dali, Jesus e
seus discípulos atravessavam a Galileia, mas ele não queria que ninguém o
soubesse. Ele ensinava seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser
entregue às mãos dos homens, e eles o matarão. Morto, porém, três dias depois
ressuscitará». Mas eles não compreendiam o que lhes dizia e tinham medo de
perguntar. Chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: «Que
discutíeis pelo caminho?». Eles, no entanto, ficaram calados, porque pelo
caminho tinham discutido quem era o maior. Jesus sentou-se, chamou os Doze e
lhes disse: «Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos, aquele
que serve a todos!». Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles e,
abraçando-a, disse: «Quem acolher em meu nome uma destas crianças, estará
acolhendo a mim mesmo. E quem me acolher, estará acolhendo, não a mim, mas
Àquele que me enviou».
«O Filho do Homem vai ser entregue (...). Morto, porém, três dias depois ressuscitará»
Rev. D. Pedro-José
YNARAJA i Díaz (El Montanyà, Barcelona, Espanha)
Morte e ressurreição. Para uns serão conceitos enigmáticos;
para outros axiomas inaceitáveis. Ele veio revela-lo, a gritar que chegou a
sorte gozosa para o gênero humano, apesar que para que assim seja terá Ele, o
amigo, o irmão mais velho, o Filho do Pai, que passar por cruéis sofrimentos.
Mas, oh triste paradoxo: enquanto vive essa tragédia interior, eles discutem
sobre quem subirá mais alto no pódio dos campeões, quando chegue ao final da
corrida para o seu Reino. Agimos nós de maneira diferente? Quem está livre de
ambição que atire a primeira pedra.
Jesus proclama novos valores. O importante não é triunfar,
mas sim servir; assim o demonstrará no dia culminante do seu quefazer
evangelizador, lavando-lhes os pés. A grandeza não está na erudição do sábio
mas sim na ingenuidade da criança. «Ainda que soubesses de memória toda a
Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem
caridade e sem graça de Deus?» (Tomás de Kempis). Saudando o sábio satisfazemos
a nossa vaidade, abraçando o menino abraçamos a Deus e dele nos contagiamos e
nos divinizamos.
A humildade nos ajuda a andar em verdade!
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Jesus, sabendo que os discípulos “haviam discutido entre si
qual deles seria o maior” (Mc 9,34), lhes dá uma lição de humildade: “Se alguém
quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35).
A humildade encontra-se nos fundamentos da vida interior, ou
seja, ela está na raiz de outras virtudes. A humildade remove os obstáculos
para que a pessoa receba as graças de Deus, já que “Deus resiste aos soberbos e
dá a sua graça aos humildes” (Tg 4,6). A humildade e a fé formam um par
maravilhoso: a primeira remove os obstáculos à graça, entre os quais o orgulho;
a segunda estabelece o primeiro contato com Deus.
A humildade se funda na verdade e na justiça. Santa Teresa
dizia que a humildade é andar em verdade. A humildade nos dá o conhecimento,
cada vez mais profundo, sobre nós mesmos. Também se funda na justiça porque
exige que o ser humano dê a Deus toda a honra e toda a glória.
Na prática, humildade não é dizer que não se tem qualidades,
quando na verdade se tem (isso seria hipocrisia); tampouco se trata de inventar
qualidades que não possuímos (isso seria mentira e soberba). Não podemos buscar
uma espécie de “humildade de jogadores de futebol” em entrevistas, mais ou
menos assim e com os clássicos erros de português: “É, nós estamos de parabéns,
apesar de nós não ter feito todos os gol que queria, agente seguimos as
orientações do técnico e joguemos com humildade, e, provamos que com nós
ninguém pode…”. Além de evitar este tipo de humildade, o cristão não pode ser
uma pessoa encolhida: sem ideias próprias, meio covarde, com cara de coitado,
um “Jeca Tatu”.
A humildade autoriza o filho de Deus a admirar todos os
dons, naturais e sobrenaturais, que recebeu, mas sem atribuir-se a si mesmo o
magnífico lenço pintado que vê em si, pois sabe que o divino Artista é Deus,
para quem deve ir encaminhada toda a glória. Esta virtude também nos ajuda a
ver a nossa pequenez e o quanto somos fracos. Em suma, a humildade é uma
disposição da alma que nos inclina a moderar o apetite da própria excelência,
levando-nos a evitar tanto a hipocrisia quanto a soberba.
A hipocrisia é ridícula! Andar cabisbaixo, com a cabeça meio
torta e negar virtudes que se tem são, no fundo, características de uma falsa
humildade. O curioso é que tais pessoas poderiam dizer de si mesmas: “eu sou um
pobre pecador, não valho nada, sou um orgulhoso. Que Deus tenha pena de mim!”.
Mas, se alguém lhe diz: “você é um orgulhoso e um pobre pecador”, então elas se
irritam ao extremo. Ou seja: outros não podem dizer aquilo que elas dizem sem
acreditar. É preciso lutar também contra a sensibilidade doentia: “o que pensarão
de mim?”, “o que dirão de mim?”, “será que eles gostaram?”, “magoaram-me!” Nós
não precisamos desprezar-nos diante dos outros para mostrar que somos humildes,
mas também não precisamos supervalorizar-nos internamente. É suficiente
mostrar-nos como somos, isto é, com autenticidade e moderando a própria
desordem interior. Quando se é inteligente, por exemplo, e alguém elogia isso
em nós, podemos dizer simplesmente um “obrigado”. Também é importante que,
aceitado o elogio, dirijamos, no silêncio do nosso coração, esse louvor ao
Senhor: “para Deus toda a glória!”
Por outro lado, não vamos andar por aí divulgando as nossas
virtudes, os nossos cargos e as nossas responsabilidades; poderiam ser
manifestações de soberba. Outra coisa seria a necessidade de utilizar alguma
vez uma coisa meritória que tenhamos feito para reclamar um direito que por
justiça nos pertence. Um exemplo: o aluno que estudou muito e fez uma boa prova
tem o direito de que lhe deem uma boa nota; se fez uma ótima prova, a nota
também deverá ser ótima. Não é soberba ir reclamar com o professor no caso de
que a nota tenha sido baixa ou menor do que aquela que ele julgava justa. Em
nome da verdade e sem falsa humildade, o tal aluno pode – e até deveria –
reclamar e lutar pelos seus direitos.
Jesus nos convida hoje a reconquista da infância espiritual.
A criança ordinariamente não tende a fazer trapaça, não é
maliciosa (1 leitura). A criança nem se deixa levar da cobiça até o ponto de
ambicionar o indesejável (2 leitura). A criança é transparente, sincera. Quem
melhor entendeu esta infância espiritual que Santa Teresinha do Menino Jesus.
Eis aqui as suas palavras: “posso, pois, apesar da minha pequenez, aspirar à
santidade. Engrandecer-me, é impossível! Tenho que me suportar assim como sou,
com as minhas inumeráveis imperfeições; mas quero buscar o jeito de ir para o
céu, por um caminhozinho muito reto, muito curto, por um caminhozinho
inteiramente novo... Quero também encontrar um elevador para chegar até Jesus,
já que sou pequena demais para subir pela rude escada da perfeição... Pedi,
então, aos Livros Santos que me indiquem o elevador desejado, e encontrei estas
palavras pronunciadas pela boca da mesma Sabedoria eterna: Se alguém for
pequeno que venha a mim. Aproximei-me, pois, a Deus, adivinhando que tinha
encontrado o que procurava, e, ao querer saber o que fará Deus com o
pequeninho, continuei buscando, e eis aqui o que encontrei: Como uma mãe
acaricia o seu filhinho, assim eu os consolarei; sereis levados ao meu peito, e
eu os acariciarei sobre o meu colo... Ah, nunca tinham vindo para alegrar a
minha alma umas palavras tão ternas e tão melodiosas. O elevador, que vai me
levar para o céu, são os vossos braços, ó Jesus! Para isto, não tenho nenhuma
necessidade de crescer, antes, pelo contrário, convém que continue sendo
pequena e, cada dia, seja mais e mais”.
Jesus nos convida hoje a reconquista da infância espiritual.
Deixo-lhes aqui uns parágrafos do meu livro sobre Jesus Cristo: “a infância que
Jesus propõe não é o infantilismo, que é sinônimo de imaturidade, egoísmo,
capricho. É, pelo contrário, a reconquista da inocência, da limpeza interior,
do olhar limpo das coisas e das pessoas, desse sorriso sincero e cristalino,
desse compartilhar generosamente as minhas coisas e o meu tempo. Infância
significa simplicidade espiritual, esse não me complicar, não ser retorcido,
não buscar segundas intenções. Infância espiritual significa confiança
ilimitada em Deus, o meu Pai, fé serena e amor sem limites. Infância espiritual
é não deixar envelhecer o coração, conservá-lo sempre jovem, terno, doce e
amável. Infância espiritual é não pedir contar nem garantias a Deus. Agora bem,
a infância espiritual não significa ignorância das coisas, mas o saber essas
coisas, olhá-las, pensá-las, julgá-las como Deus faria. A tergiversação das
coisas, a manipulação das coisas, os preconceitos e as reservas, já traz
consigo a malícia de quem se acha inteligente e esperto. E esta malícia dá
morte à infância espiritual. A infância espiritual não significa viver sem
cruz, de costas para a cruz; não significa escolher o lado doce da vida, nem
sequer nos esconder e vendar os nossos próprios olhos para não vermos o mal que
pulula no nosso mundo. Não. A infância espiritual, compreendida muito bem por
Santa Teresinha do Menino Jesus, supõe ver muito mais profundo os males e
tratar de solucioná-los com a oração e o sacrifício. E diante da cruz, colocar
um rosto sereno, confiante e inclusive sorridente. Quase ninguém das suas irmãs
do Carmelo se dava conta do muito que sofria Santa Teresinha. Ela vivia
abandonada nas mãos do seu Pai Deus. E isso era suficiente”.
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