SSmo Nome de Maria
Beata Maria de Jesus Lopez Rivas, Virgem de
nossa Ordem
Salmo Responsorial: 114
R. Andarei na
presença do Senhor sobre a terra dos vivos.
Amo o Senhor, porque ouviu a voz da minha súplica. Ele me
atendeu, no dia em que O invoquei.
Apertaram-me os laços da morte, caíram sobre mim as
angústias do além, vi-me na aflição e na dor. Então invoquei o Senhor: «Senhor,
salvai a minha alma».
Justo e compassivo é o Senhor, o nosso Deus é misericordioso.
O Senhor guarda os simples: estava sem forças e o Senhor salvou-me.
Livrou da morte a minha alma, das lágrimas os meus olhos, da
queda os meus pés. Andarei na presença do Senhor, sobre a terra dos vivos.
2ª Leitura (Tg 2,14-18): Irmãos: De que serve a
alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Poderá essa fé obter-lhe a salvação?
Se um irmão ou uma irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada
dia, e um de vós lhes disser: «Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos», sem
lhes dar o necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras?
Assim também a fé sem obras está completamente morta. Mas dirá alguém: «Tu tens
a fé e eu tenho as obras». Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras,
te mostrarei a minha fé.
Aleluia. Toda a minha glória está na cruz do Senhor, por quem o mundo
está crucificado para mim e eu para o mundo. Aleluia.
Evangelho (Mc 8,27-35): Jesus e seus discípulos
partiram para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho, ele perguntou aos
discípulos: «Quem dizem as pessoas que eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem
João Batista; outros, Elias; outros ainda, um dos profetas». Jesus, então,
perguntou: «E vós, quem dizeis que eu sou?». Pedro respondeu: «Tu és o Cristo».
E Jesus os advertiu para que não contassem isso a ninguém. E começou a
ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado
pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias,
ressuscitar. Falava isso abertamente. Então, Pedro, chamando-o de lado, começou
a censurá-lo. Jesus, porém, voltou-se e, vendo os seus discípulos, repreendeu
Pedro, dizendo: «Vai para trás de mim, satanás! Pois não tens em mente as
coisas de Deus, e sim, as dos homens!». Chamou, então, a multidão, juntamente
com os discípulos, e disse-lhes: «Se alguém quer vir após mim, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá;
mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará».
«Se alguém quer vir após mim (...) tome a sua cruz e siga-me!»
Rev. D. Antoni CAROL i
Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Jesus, naquela ocasião da confissão de fé feita por Simão
Pedro, «E Jesus os advertiu para que não contassem isso a ninguém» (Mc 8,30).
Sua condição messiânica devia ser transmitida ao povo judeu com uma pedagogia
progressiva. Mais tarde chegaria o momento fundamental em que Jesus Cristo
declararia -de uma vez e para sempre- que Ele era o Messias: «Eu sou» (Lc
22,70). Desde então, já não há escusa para não declarar-lhe nem reconhecer-lhe
como o Filho de Deus vindo ao mundo para nossa salvação. Mais ainda: todos os
batizados têm esse gozoso dever sacerdotal de predicar o Evangelho por todo o
mundo e a toda criatura (cf. Mc 16,15). Esta chamada à predicação da Boa Nova é
tanto mais urgente se levamos em consideração que sobre Ele continuam
proferindo todo tipo de opiniões equivocadas, inclusive blasfêmias.
Mas o anuncio de sua messianidade e da chegada do seu Reino passa pela Cruz. Efetivamente, Jesus Cristo «E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito» (Mc 8,31), e o Catecismo nos lembra que «a Igreja avança em sua peregrinação através das persecuções do mundo e dos consolos de Deus» (n. 769). Eis aqui, pois, o caminho para seguir a Cristo e dá-lo a conhecer: «Si alguém quer vir após mim (...) tome sua cruz e siga-me» (Mc 8,34).
O texto que nos é hoje proposto é um texto central no
Evangelho segundo Marcos. Apresenta-nos os últimos versículos da primeira parte
(cf. Mc 8,27-30) e os primeiros versículos da segunda parte (cf. Mc 8,31-35)
deste Evangelho.
A primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc
1,14-8,30) tem como objetivo fundamental levar à descoberta de Jesus como o
Messias que proclama o Reino de Deus. Ao longo de um percurso que é mais
catequético do que geográfico, os leitores do Evangelho são convidados a
acompanhar a revelação de Jesus, a escutar as suas palavras e o seu anúncio, a
fazerem-se discípulos que aderem à sua proposta de salvação. Este percurso de
descoberta do Messias que o catequista Marcos nos propõe termina, em Mc 8,29-30,
com a confissão messiânica de Pedro, em Cesareia de Filipe (que é,
evidentemente, a confissão que se espera de cada crente, depois de ter
acompanhado o percurso de Jesus a par e passo): “Tu és o Messias”.
Depois, vem a segunda parte do Evangelho segundo Marcos (cf.
Mc 8,31-16,8). Nesta segunda parte, o objetivo do catequista Marcos é explicar
que Jesus, além de ser o Messias libertador, é também o “Filho de Deus”. No
entanto, Jesus não veio ao mundo para cumprir um destino de triunfos e de
glórias humanas, mas para oferecer a sua vida em dom de amor aos homens. Ponto
alto desta “catequese” é a afirmação do centurião romano junto da cruz (que
Marcos convida, implicitamente, os seus cristãos a repetir): “realmente este
homem era o Filho de Deus” (Mc 15,39).
Cesareia de Filipe – o quadro geográfico onde o Evangelho de
hoje nos coloca – era uma cidade situada no Norte da Galileia, perto das
nascentes do rio Jordão (na zona da atual Bânias). Tinha sido construída por
Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do
imperador Augusto.
Conhecer para amar “E vós, quem
dizeis que eu sou?”
* A primeira
parte do nosso texto (vers. 27-30) começa com Jesus a pôr uma dupla questão aos
discípulos: o que é que as pessoas dizem d’Ele e o que é que os próprios
discípulos pensam d’Ele?
* A opinião dos “homens” vê Jesus em
continuidade com o passado (“João Baptista”, “Elias”, ou “algum dos profetas”).
Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade.
Reconhecem apenas que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo
com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso.
Na perspectiva dos “homens”, Jesus é apenas um homem bom, justo, generoso, que
escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como
tantos outros homens antes d’Ele (vers. 28). É muito, mas não é o suficiente:
significa que os “homens” não entenderam a novidade de Jesus, nem a
profundidade do seu mistério.
* A opinião dos discípulos acerca de Jesus
vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos
discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o
Messias” (vers. 29). Dizer que Jesus é o “Messias” (o Cristo) significa dizer
que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o
seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva.
* A resposta de Pedro estava correta. No
entanto, podia prestar-se a graves equívocos, numa altura em que o título de
Messias estava conotado com esperanças político-nacionalistas. Por isso, os
discípulos recebem ordens para não falarem disso a ninguém. Era preciso
clarificar, depurar e completar a catequese sobre o Messias e a sua missão, para
evitar perigosos equívocos. É isso que Jesus vai fazer, logo em seguida.
* Na segunda
parte do nosso texto (vers. 31-35), há duas questões. A primeira (vers. 31-33)
é a explicação dada pelo próprio Jesus de que o seu messianismo passa pela
cruz; a segunda (vers. 34-35) é uma instrução sobre o significado e as
exigências de ser discípulo de Jesus.
* Jesus começa, portanto, por anunciar que o
seu caminho vai passar pelo sofrimento e pela morte na cruz (vers. 31-33).
Não é uma previsão arriscada: depois do confronto de Jesus com os líderes
judeus e depois que estes rejeitaram de forma absoluta a proposta do Reino, é
evidente que o judaísmo medita a eliminação física de Jesus. Jesus tem
consciência disso; no entanto, não se demite do projeto do Reino e anuncia que
pretende continuar a apresentar, até ao fim, os planos do Pai.
* Pedro não está de acordo com este final e
opõe-se, decididamente, a que Jesus caminhe em direção ao seu destino de cruz.
A oposição de Pedro (e dos discípulos, pois Pedro continua a ser o porta-voz da
comunidade) significa que a sua compreensão do mistério de Jesus ainda é muito
imperfeita. Para ele, a missão do “messias, Filho de Deus” é uma missão
gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é a lógica do mundo – a
vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
* Jesus dirige-se a
Pedro com alguma dureza, pois é preciso que os discípulos corrijam a sua
perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de
Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio;
mas o plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas
consequências (de que a cruz é a expressão mais radical). Ao pedir a Jesus que
não embarque nos projetos do Pai, Pedro está a repetir essas tentações que
Jesus experimentou no início do seu ministério (cf. Mc 1,13); por isso, Jesus
responde a Pedro: “Vai-te, Satanás”. As palavras de Pedro pretendem desviar
Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e Jesus não está disposto a transigir
com qualquer proposta que O impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os projetos
de Deus.
* Depois de
anunciar o seu destino (que será cumprido, em obediência ao plano do Pai, no
dom da própria vida em favor dos homens), Jesus convida os seus discípulos a
seguir um percurso semelhante… Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de
“renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no caminho do amor, da
entrega e do dom da vida.
* O que é que
significa, exatamente, renunciar a si mesmo? Significa renunciar ao seu
egoísmo e autossuficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros. O
cristão não pode viver fechado em si próprio, preocupado apenas em concretizar
os seus sonhos pessoais, os seus projetos de riqueza, de segurança, de bem
estar, de domínio, de êxito, de triunfo… O cristão deve fazer da sua vida um
dom generoso a Deus e aos irmãos. Só assim ele poderá ser discípulo de Jesus e
integrar a comunidade do Reino.
* O que é que significa “tomar a cruz” de Jesus e segui-lo?
A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte.
Significa a entrega da própria vida por amor. * “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida – de forma total e completa – por amor a Deus e para que os irmãos
sejam mais felizes. No final desta instrução, Jesus explica aos discípulos
as razões pelas quais eles devem abraçar a “lógica da cruz”. Convida-os a
entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é
capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos, não fracassou; mas ganhou a vida
eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas
propostas (vers. 35).
O escândalo da Cruz
• “E vós, quem dizeis
que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos
ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear
lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração
e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência…
Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na
nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus
valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos
para o seguir… Quem é Cristo para mim? Ele é o Messias libertador, que o Pai
enviou ao meu encontro com uma proposta de salvação e de vida plena?
• Frente a frente o
Evangelho deste domingo coloca a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de
Deus (Jesus). A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no
êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos
vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e
incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta
sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa. A lógica
de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida
só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na
partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade. Na minha
vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é
a minha escolha? Na minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um
caminho de felicidade seguro e duradouro?
• Jesus tornou-se um
de nós para concretizar os planos do Pai e propor aos homens – através do
amor, do serviço, do dom da vida – o caminho da salvação, da vida verdadeira.
Neste texto (como, aliás, em muitos outros), fica claramente expressa a
fidelidade radical de Jesus a esse projeto. Por isso, Ele não aceita que nada
nem ninguém O afastem do caminho do dom da vida: dar ouvidos à lógica do mundo
e esquecer os planos de Deus é, para Jesus, uma tentação diabólica que Ele
rejeita duramente. Que significado e que lugar ocupam na minha vida os projetos
de Deus? Esforço-me por descobrir a vontade de Deus a meu respeito e a respeito
do mundo? Estou atento a esses “sinais dos tempos” através dos quais Deus me
interpela? Sou capaz de acolher e de viver com fidelidade e radicalidade as
propostas de Deus, mesmo quando elas são exigentes e vão contra os meus
interesses e projetos pessoais?
• Quem são os
verdadeiros discípulos de Jesus? Muitos de nós receberam uma catequese que
insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de piedade, em determinadas
obrigações legais, mas que deixou para segundo plano o essencial: o seguimento
de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de
vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é bem mais do que ser batizado,
ter casado na igreja, organizar a festa do santo padroeiro da paróquia, ou
dar-se bem com o padre… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho
do amor e do dom da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência
fundamental à volta da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que
renuncia a si mesmo e que toma a mesma cruz de Jesus.
• O que é “renunciar
a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a autossuficiência
dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar
para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às
necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens;
mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.
• O que é “tomar a
cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de
Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam
mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a
injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique
enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos.
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