Bto
Pedro de Cesis, Bispo e 15º Prior General da nossa Ordem
Salmo Responsorial: 50
R. Pecámos, Senhor: tende compaixão
de nós.
Compadecei-Vos
de mim, ó Deus, pela vossa bondade, pela vossa grande misericórdia, apagai os
meus pecados. Lavai-me de toda a iniquidade e purificai-me de todas as faltas.
Porque eu
reconheço os meus pecados e tenho sempre diante de mim as minhas culpas. Pequei
contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos vossos olhos.
Assim é
justa a vossa sentença e reto o vosso julgamento. Porque eu nasci na culpa e
minha mãe concebeu-me em pecado.
Criai em
mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença e não retireis de mim o vosso
espírito de santidade.
Aleluia. Mestre, Vós
sois o Filho de Deus, Vós sois o Rei de Israel. Aleluia.
Evangelho (Mt
14,22-36): Logo em seguida, Jesus mandou que os
discípulos entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado do mar,
enquanto ele despediria as multidões. Depois de despedi-las, subiu à montanha,
a sós, para orar. Anoiteceu, e Jesus continuava lá, sozinho. O barco,
entretanto, já longe da terra, era atormentado pelas ondas, pois o vento era
contrário. Nas últimas horas da noite, Jesus veio até os discípulos, andando
sobre o mar. Quando os discípulos o viram andando sobre o mar, ficaram
apavorados e disseram: «É um fantasma». E gritaram de medo. Mas Jesus logo lhes
falou: «Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!». Então Pedro lhe disse: «Senhor, se
és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água». Ele respondeu:
«Vem!». Pedro desceu do barco e começou a andar sobre a água, em direção a
Jesus. Mas, sentindo o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou:
«Senhor, salva-me!». Jesus logo estendeu a mão, segurou-o e lhe disse: «Homem
de pouca fé, por que duvidaste?». Assim que subiram no barco, o vento cessou.
Os que estavam no barco ajoelharam-se diante dele, dizendo: «Verdadeiramente,
tu és o Filho de Deus!». Após a travessia, aportaram em Genesaré. Os habitantes
daquele lugar reconheceram Jesus e espalharam a notícia por toda a região.
Então levaram a ele todos os doentes; suplicavam que pudessem ao menos tocar a
franja de seu manto. E todos os que tocaram ficaram curados.
«Senhor, se és tu,
manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água»
Frei Lluc TORCAL Monge do Monastério de Sta. Mª de
Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
Jesus tinha
mandado os discípulos subir para a barca e ir para a outra margem; tinha
despedido todos depois de saciar a multidão faminta e Ele tinha permanecido
sozinho na montanha, profundamente concentrado em oração (cf. Mt 14,22-23). Os
discípulos, sem o Mestre, avançam com dificuldade. Foi então que Jesus se
aproximou da barca, caminhando sobre as águas.
Como
acontece com pessoas normais e sensatas, os discípulos assustaram-se ao vê-Lo:
os homens não costumam caminhar sobre a água e, portanto, deviam estar a ver um
fantasma. Mas estavam enganados, não era um fantasma, mas tinham diante deles o
próprio Senhor, que os convidava - como em tantas outras ocasiões - a não ter
medo e a confiar n’Ele para descobrirem a fé. Esta fé exige-se, em primeiro
lugar, a Pedro, que disse: «Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro,
caminhando sobre a água» (Mt 14,28). Com esta resposta, Pedro mostrou que a fé
consiste na obediência à palavra de Cristo: não disse «faça com que eu caminhe
sobre as águas», mas queria fazer o que o próprio e único Senhor lhe mandasse,
para poder crer na veracidade das palavras do Mestre.
As dúvidas
fizeram-no cambalear na sua fé incipiente, mas levaram-no à confissão dos outros
discípulos, agora com o Mestre presente: «Verdadeiramente, tu és o Filho de
Deus!» (Mt 14,33). «O grupo daqueles que já eram apóstolos, mas que ainda não
acreditavam, depois de verem que as águas se moviam sob os pés do Senhor e que,
mesmo no movimento agitado das ondas, os passos do Senhor eram seguros, (...)
acreditaram que Jesus era o verdadeiro Filho de Deus, confessando-O como tal»
(Santo Ambrósio).
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Mateus 14,22-24: Iniciar a
travessia a pedido de Jesus. Jesus
forçou os discípulos a entrar no barco e ir para o outro lado do mar, onde
ficava a terra dos pagãos. Ele mesmo sobe a montanha para rezar. O barco
simboliza a comunidade. Ela tem a missão de dirigir-se aos pagãos e de anunciar
também entre eles a Boa Nova do Reino que gera um novo jeito de conviver em
comunidade. Mas a travessia é cansativa e demorada. A barca é agitada pelas
ondas, pois o vento era contrário. Apesar de terem remado a noite toda, falta
muito para chegar à terra. Faltava muito para as comunidades fazerem a
travessia para os pagãos. Jesus não foi com os discípulos. Eles devem aprender
a enfrentar juntos as dificuldades, unidos e fortalecidos pela fé em Jesus que
os enviou. O contraste é grande: Jesus em paz junto de Deus rezando no alto da
montanha, e os discípulos meio perdidos lá em baixo, no mar revolto.
* A travessia para o outro lado do
lago simboliza também a difícil travessia das comunidades do fim do primeiro
século. Elas deviam
sair do mundo fechado da antiga observância da lei para o novo jeito de
observar a Lei do amor, ensinado por Jesus; sair da consciência de pertencer ao
povo eleito, privilegiado por Deus entre todos os povos, para a certeza de que
em Cristo todos os povos estavam sendo fundidos num único Povo diante de Deus;
sair do isolamento da intolerância para o mundo aberto do acolhimento e da
gratuidade. Também nós hoje estamos numa travessia difícil para um novo tempo e
uma nova maneira de ser igreja. Travessia difícil, mas necessária. Há momentos
na vida em que o medo nos assalta. Boa vontade não falta, mas não basta. Somos
como um barco que enfrenta o vento contrário.
* Mateus 14,25-27: Jesus se aproxima
e eles não o reconhecem. Na
quarta vigília, isto é, entre as horas três e seis da madrugada, Jesus foi ao
encontro dos discípulos. Andando sobre as águas, chegou perto deles, mas eles
não o reconheceram. Gritavam de medo, pensando que fosse um fantasma. Jesus os
acalma dizendo: “Coragem! Sou eu! Não tenham medo!” A expressão "Sou
Eu!" é a mesma com que Deus tentou superar o medo de Moisés quando o
enviou para libertar o povo do Egito (Ex 3,14). Para as comunidades, tanto as
de ontem como as de hoje, era e é muito importante ouvir sempre de novo:
"Coragem! Sou eu! Não tenham medo!"
* Mateus 14,28-31: Entusiasmo e
fraqueza de Pedro. Sabendo
que é Jesus, Pedro pede para poder andar sobre as águas. Quer experimentar o
poder que domina a fúria do mar. Um poder que, na Bíblia, é exclusivo de Deus
(Gn 1,6; Sl 104,6-9). Jesus permite que ele participe desse poder. Mas Pedro
tem medo. Pensa que vai afundar e grita: "Senhor! Salva-me!" Jesus o
segura e repreende: "Homem fraco na fé! Por que duvidou?" Pedro tem
mais força do que ele imagina, mas tem medo diante das ondas contrárias e não
acredita no poder de Deus que existe nele. As comunidades não acreditam na
força do Espírito que existe dentro delas e que atua através da fé. É a força
da ressurreição (Ef 1,19-20).
* Mateus 14,32-33: Jesus é o Filho
de Deus. Diante da
onda que avança sobre ele, Pedro afunda no mar por falta de fé. Depois que foi
salvo, ele e Jesus, os dois, entram na barca e a ventania para. Os outros
discípulos, que estavam na barca, ficam maravilhados e se ajoelham diante de
Jesus, reconhecendo nele o Filho de Deus: "De fato, tu és o Filho de
Deus". Mais tarde, Pedro também vai professar a mesma fé em Jesus: “Tu és
o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Assim, Mateus sugere que não é só
Pedro que sustenta a fé dos discípulos, mas também é a fé dos discípulos, que
sustenta a fé de Pedro.
* Mateus 14,34-36: Levaram a Jesus
todos os doentes. O
episódio da travessia termina com este final bonito: “Acabando de atravessar,
desembarcaram em Genesaré. Os homens desse lugar, reconhecendo-os, espalharam a
notícia por toda a região. Então levaram a Jesus todos os doentes, e pediram
que pudessem ao menos tocar a barra da roupa dele. E todos os que tocaram,
ficaram curados”.
Para um confronto pessoal
1. Um vento contrário assim já aconteceu na sua vida?
Como fez para vencer? Já aconteceu alguma vez na comunidade? Como superaram?
2. Qual a travessia que hoje as comunidades estão fazendo? De onde para onde? Como tudo isto nos ajuda a reconhecer hoje a presença de Jesus nas ondas contrárias da vida?
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