Stos Luís Martin e Zélia Guérin, leigos, pais de Sta. Teresa do Menino Jesus
Salmo Responsorial:
123
R. A nossa proteção está no nome do
Senhor.
Se o Senhor
não estivesse conosco, que o diga Israel, se o Senhor não estivesse conosco, os
homens que se levantaram contra nós ter-nos-iam devorado vivos, no furor da sua
ira.
As águas
ter-nos-iam afogado, a torrente teria passado sobre nós; sobre nós teriam
passado as águas impetuosas. Bendito seja o Senhor, que não nos abandonou como
presa dos seus dentes.
A nossa
vida escapou como pássaro do laço dos caçadores: quebrou-se a armadilha e nós
ficámos livres. A nossa proteção está no nome do Senhor, que fez o céu e a
terra.
Aleluia.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o
reino dos Céus. Aleluia.
Evangelho (Mt
10,34--11,1): Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: «Não penseis que vim trazer paz à terra! Não vim trazer paz, mas
sim, a espada. De fato, eu vim pôr oposição entre o filho e seu pai, a filha e
sua mãe, a nora e sua sogra; e os inimigos serão os próprios familiares. Quem
ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha
mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não me
segue, não é digno de mim. Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua
vida por causa de mim a encontrará. Quem vos recebe, é a mim que está
recebendo; e quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou. Quem receber
um profeta por ele ser profeta, terá uma recompensa de profeta. Quem receber um
justo por ele ser justo, terá uma recompensa de justo. E quem der, ainda que
seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequenos, por ser meu
discípulo, em verdade vos digo: não ficará sem receber sua recompensa». Quando
Jesus terminou estas instruções aos doze discípulos, partiu dali, a fim de
ensinar e proclamar a Boa Nova nas cidades da região.
«E quem não toma a sua
cruz e não me segue, não é digno de mim»
Rev. D. Valentí ALONSO i Roig (Barcelona, Espanha)
Jesus
começa dando a conhecer o efeito do seu ensino. Não obstante os efeitos
positivos, evidentes na atuação do Senhor, o Evangelho evoca as contrariedades
e contratempos da predicação: «e os inimigos serão os próprios familiares» (Mt
10,36). Isso é o contraditório de viver na fé, temos a possibilidade de
enfrentarmos, até mesmo com os que estão mais perto de nós, quando não
compreendemos quem é Jesus, o Senhor, e não o percebemos como o Mestre da
comunhão.
Em um
segundo momento Jesus nos pede para ocupar o lugar mais alto na escala do amor:
«Quem ama pai ou mãe mais do que a mim...» (Mt 10,37), «e quem ama filho ou
filha mais do que a mim...» (Mt 10,37). Desse jeito, propõe deixarmos
acompanhar por Ele como presença de Deus, já que «quem me recebe, está
recebendo aquele que me enviou» (Mt 10,40). O resultado de morar acompanhados
pelo Senhor, acolhido em nossa morada, é gozar da recompensa dos profetas e
justos, porque temos recebido um profeta e um justo.
A
recomendação do Mestre acaba valorizando as pequenas demonstrações de ajuda e
proteção às pessoas que moram acompanhadas pelo Senhor, os seus discípulos, que
somos todos os cristãos. «Quem der, ainda que seja apenas um copo de água
fresca, a um desses pequenos, por ser meu discípulo...» (Mt 10,42). A partir
deste conselho, nasce uma responsabilidade: em relação ao próximo, sejamos
conscientes de que as pessoas que moram com o Senhor, quem quer que sejam, devem
ser tratadas como Ele mesmo. São João Crisóstomo diz: «Se o amor estivesse
espalhado por todas as partes, nasceria dele uma quantidade infinita de bens».
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Mateus 10,34-36: Não vim trazer a
paz, mas sim a espada. Jesus
sempre fala em paz (Mt 5,9; Mc 9,50; Lc 1,79; 10,5; 19,38; 24,36; Jo 14,27; 16,33;
20,21.26). Então, como entender a frase do evangelho de hoje que parece dizer o
contrário: "Não pensem que eu vim trazer paz à terra; eu não vim trazer a
paz, e sim a espada”? Esta afirmação não
significa que Jesus estivesse a favor da divisão e da espada. Não! Jesus não
quer a espada (Jo 18,11) nem a divisão. Ele quer é a união de todos na verdade
(cf. Jo 17,17-23). Naquele tempo, porém, o anúncio da verdade de que ele, Jesus
de Nazaré, era o Messias tornou-se motivo de muita divisão entre os judeus.
Dentro da mesma família ou comunidade, uns eram a favor e outros radicalmente
contra. Neste sentido a Boa Nova de Jesus era realmente uma fonte de divisão,
um “sinal de contradição” (Lc 2,34) ou, como dizia Jesus, ela trazia a espada.
Assim se entende a outra advertência: “Eu vim separar o filho de seu pai, a
filha de sua mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus
próprios familiares”. Era o que estava acontecendo, de fato, nas famílias e nas
comunidades: muita divisão, muita discussão, como consequência do anúncio da
Boa Nova entre os judeus daquela época, uns aceitando, outros negando. Até hoje
é assim. Muitas vezes, lá onde a Igreja se renova, o apelo da Boa Nova se torna
um “sinal de contradição” e de divisão. Pessoas que durante anos viveram
acomodadas na rotina da sua vida cristã, já não querem ser incomodadas pelas
“inovações” do Vaticano II. Incomodadas pelas mudanças, elas usam toda a sua
inteligência para encontrar argumentos em defesa de suas opiniões e para
condenar as mudanças como contrárias ao que elas pensam ser a verdadeira
fé.
* Mateus 10,37: Quem ama seu pai e
sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Lucas traz esta mesma frase mas
muito mais exigente. Ele diz literalmente: "Se alguém vem a mim, e não
odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs, e até mesmo sua
própria vida, esse não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). Como combinar esta
afirmação de Jesus com aquela outra em que ele manda observar o quarto
mandamento: amar e honrar pai e mãe? (Mc 7,10-12; Mt 19,19). Duas observações: (1) O
critério básico em que Jesus sempre insiste é este: a Boa Nova de Deus deve ser
o valor supremo da nossa vida. Não pode haver um valor mais alto na vida. (2) A situação econômica social na época de Jesus era
tal que as famílias eram obrigadas a se fechar sobre si mesmas. Já não tinham
condições de manter as obrigações da convivência comunitária como, por exemplo,
a partilha, a hospitalidade, a comunhão de mesa e a acolhida aos excluídos.
Este fechamento individualista, causado pela conjuntura nacional e
internacional, provocava as seguintes distorções: (1) Impossibilitava
a vida em comunidade. (2) Estreitava
o mandamento “honrar pai e mãe” exclusivamente para a pequena família nuclear e
não mais para a grande família da comunidade. (3) Impedia
a manifestação plena da Boa Nova de Deus, pois se Deus é Pai/Mãe, nós somos
irmãos e irmãs uns dos outros. E esta verdade deve encontrar sua expressão na
vida em comunidade. Uma comunidade viva e fraterna é o espelho do rosto de
Deus. Convivência humana sem comunidade é espelho rachado que desfigura o rosto
de Deus. Neste contexto, o pedido de Jesus para “odiar pai e mãe” significava
que os discípulos e as discípulas deviam superar o fechamento individualista da
pequena família sobre si mesma e alargá-la para a dimensão da comunidade. Jesus
mesmo praticou o que ensinou para os outros. Sua família queria chama-lo de
volta e fechar-se sobre si mesma. Quando lhe deram o aviso: “Olha, tua mãe e
teus irmãos estão aí fora e te procuram”, ele respondeu: “Quem é minha mãe e
meus irmãos? E olhando para as pessoas ao redor ele disse: “Aqui estão minha
mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe" (Mc 3,32-35). Alargou a família! Aliás, este era e continua
sendo até hoje o único caminho para a pequena família poder preservar e
transmitir os valor em que acredita.
* Mateus 10,38-39: As exigências da
missão dos discípulos. Nestes
dois versículos Jesus dá dois conselhos importantes e exigentes: (1) Tomar a cruz atrás de Jesus: Quem não toma a sua
cruz e não me segue, não é digno de mim. Para perceber todo o alcance deste
primeiro conselho convém ter presente o testemunho de São Paulo: “Quanto a mim,
que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio
do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6,14).
Carregar a cruz implica, até hoje, na ruptura radical com o sistema iníquo
vigente no mundo. (2) Ter a
coragem de doar a vida: Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E
quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. Só se sente realizado
na vida quem for capaz de doar-se inteiramente pelos outros. Perde a vida quem
quer conservá-la só para si. Este segundo conselho é a confirmação da mais
profunda experiência humana: a fonte da vida está na doação da vida. É dando
que se recebe. Se o grão de trigo não morrer, ... (Jo 12,24).
* Mateus 10,40: A identificação do
discípulo com Jesus e com o próprio Deus. Esta experiência tão humana da doação e da entrega
recebe aqui um clarão, um aprofundamento: “Quem recebe a vocês, recebe a mim; e
quem me recebe, recebe aquele que me enviou”. É na doação total de si que o
discípulo se identifica com Jesus; que se realiza o encontro dele com Deus, e
que Deus se deixa encontrar por quem o procura.
* Mateus 10,41-42: A recompensa de profeta,
de justo e de discípulo. Para
encerrar o Sermão da Missão segue uma frase sobre a recompensa: Quem recebe um
profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um
justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. Quem der ainda que seja apenas um copo de
água fria a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, eu garanto a vocês:
não perderá a sua recompensa. Nesta frase existe uma sequência muito significativa:
o profeta é reconhecido pela sua missão como enviado de Deus. O justo é
reconhecido pelo seu comportamento, pela sua maneira perfeita de observar a lei
de Deus. O discípulo é reconhecido por nenhuma qualidade ou missão especial,
mas simplesmente pela sua condição social de gente pequena. O Reino não é feito
de coisas grandes. É como um prédio muito grande que se constrói com tijolos
pequenos. Quem despreza o tijolo nunca vai ter o prédio. Até um copo de água
serve de tijolo na construção do Reino.
* Mateus 11,1: O final do Sermão da
Missão. Fim do
Sermão da Missão. Quando Jesus terminou de dar essas instruções aos seus doze
discípulos, partiu daí, a fim de ensinar e pregar nas cidades deles Agora Jesus
parte para praticar o que ensinou. É o que veremos nos próximos dias meditando
os capítulos 11 e 12 do evangelho de Mateus.
Para um confronto pessoal
1) Perder a vida para poder ganhá-la. Você já teve alguma
experiência de sentir-se recompensado/a pôr um ato de doação ou de entrega
gratuita de si aos outros?
2) Quem recebe a vocês, recebe a mim, e quem recebe a
mim, recebe aquele que me enviou. Pare e pense no que Jesus diz aqui: ele e o
próprio Deus se identificam com você.
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