sexta-feira, 2 de julho de 2021

Domingo XIV do Tempo Comum

 Sta Isabel de Aragão, Rainha de Portugal, viúva
Bta Maria Crocifissa Curcio Virgem de nossa Ordem
Dom Vital Maria, bispo e mártir

1ª leitura (Ez 2,2-5):  Naqueles dias, o Espírito entrou em mim e fez-me levantar. Ouvi então Alguém que me dizia: «Filho do homem, Eu te envio aos filhos de Israel, a um povo rebelde que se revoltou contra Mim. Eles e seus pais ofenderam-Me até ao dia de hoje. É a esses filhos de cabeça dura e coração obstinado que te envio, para lhes dizeres: ‘Eis o que diz o Senhor’. Podem escutar-te ou não – porque são uma casa de rebeldes -, mas saberão que há um profeta no meio deles».

Salmo Responsorial – Salmo 122 (123)

R: Os nossos olhos estão postos no Senhor, até que Se compadeça de nós.

Levanto os olhos para Vós, para Vós que habitais no Céu, * como os olhos do servo se fixam nas mãos do seu senhor.

Como os olhos da serva se fixam nas mãos da sua senhora, * assim os nossos olhos se voltam para o Senhor nosso Deus, até que tenha piedade de nós.

Piedade, Senhor, tende piedade de nós, porque estamos saturados de desprezo. * A nossa alma está saturada do sarcasmo dos arrogantes e do desprezo dos soberbos.

2ª Leitura (2Cor 12,7-10): Irmãos: Para que a grandeza das revelações não me ensoberbeça, foi-me deixado um espinho na carne – um anjo de Satanás que me esbofeteia – para que não me orgulhe. Por três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas Ele disse-me: «Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se manifesta todo o meu poder». Por isso, de boa vontade me gloriarei das minhas fraquezas, para que habite em mim o poder de Cristo. Alegro-me nas minhas fraquezas, nas afrontas, nas adversidades, nas perseguições e nas angústias sofridas por amor de Cristo, porque, quando sou fraco, então é que sou forte.

Aleluia. O Espírito do Senhor está sobre mim: Ele me enviou a anunciar o Evangelho aos pobres. Aleluia

Evangelho (Mc 6,1-6): Naquele tempo Jesus foi para sua própria terra. Seus discípulos o acompanhavam. No sábado, ele começou a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam se admiravam. «De onde lhe vem isso?», diziam. «Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?». E ele se tornou para eles uma pedra de tropeço. Jesus, então, dizia-lhes: «Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa». E não conseguia fazer ali nenhum milagre, a não ser impor as mãos a uns poucos doentes. Ele se admirava da incredulidade deles. E percorria os povoados da região, ensinando.

«Ele se admirava da incredulidade deles»

P. Joaquim PETIT Llimona, L.C. (Barcelona, Espanha)

Hoje, a liturgia ajuda-nos a descobrir os sentimentos do Coração de Jesus: «Ele admirava-se da incredulidade deles» (Mc 6,6). A falta de fé dos concidadãos do Mestre e a Sua reação certamente deve ter impressionado os discípulos. Parecia muito normal que as coisas tivessem acontecido de outra forma: chegavam à terra onde tinham vivido tantos anos, tinham ouvido contar as obras que realizava, e a consequência lógica era que O acolhessem com carinho e confiança, mais dispostos do que os outros a escutar os seus ensinamentos. No entanto, não foi assim, mas exatamente ao contrário: «E tornou-se para eles pedra de tropeço» (Mc 6,3).

A estranheza de Jesus pela atitude da gente da sua terra mostra-nos um coração que confia nos homens, que espera uma resposta e a quem a falta da mesma não deixa indiferente, porque é um coração que se dá, procurando o nosso bem. S. Bernardo expressa-o muito bem, quando escreve: «Veio o Filho de Deus e fez tais maravilhas no mundo que afastou o nosso entendimento de tudo quanto é mundano, para que meditemos e nunca cessemos de ponderar nas suas maravilhas. Deixou-nos horizontes infinitos para ocupar a inteligência, e um rio tão caudaloso de ideias que é impossível atravessá-lo. Existe alguém capaz de compreender por que quis a majestade suprema morrer para nos dar a vida, servir Ele para que nós reinemos, viver desterrado para nos levar à pátria, e rebaixar-se até ao mais vil e ordinário para nos exaltar acima de tudo?»

Podemos pensar como teria mudado a vida dos habitantes de Nazaré, se se tivessem aproximado de Jesus com fé. Assim, temos de Lhe pedir dia a dia, como os seus discípulos: «Senhor, aumenta a nossa fé» (Lc 17,5), para que nos abramos mais e mais à sua ação amorosa.

Pelo batismo fomos incorporados a Cristo Profeta.

Armando Rodrigues Dias

Por este episódio fica claro que Jesus, embora socialmente aparecesse como um mestre entre tantos, Ele não o era como os restantes, pois não tinha o curriculum de mestre, por isso não veem nele mais do que um simples carpinteiro, alguém que vivera em tudo uma vida igual à dos seus conterrâneos. «Tiago e José» eram primos de Jesus, filhos duma outra Maria, como se diz em Mt 27, 57 (cf. Mc 15, 47); irmão era uma forma de designar todos os familiares.

«O filho de Maria». Alguns deduzem daqui que S. José já tinha morrido, o que é mais do que provável; com efeito, em todas as passagens onde se fala de parentes de Jesus, nunca se nomeia S. José. Há porém aqui um pormenor curioso: nos lugares paralelos de Mateus e Lucas, Jesus é chamado «filho do carpinteiro» (Mt 13, 55) e «filho de José» (Lc 4, 22). No entanto, não são os Evangelistas a designá-lo assim, mas os ouvintes do Senhor. Mateus e Lucas, que já tinham deixado clara a virgindade de Maria, nos episódios da infância de Jesus, não têm receio de recolher a designação corrente de «filho de José». S. Marcos, que não tinha referido ainda a virgindade da Mãe de Jesus, evita cuidadosamente a designação de «filho de José», para que os seus leitores não venham a confundir as coisas. É pois destituído de fundamento afirmar que S. Marcos ignorava a virgindade de Maria.

1. Vocação e Missão do Profeta.

O profeta é chamado por Deus para uma missão, quase sempre exigente, trabalhosa e difícil.

Ele deve ter consciência da sua normalidade. Apesar da sua fragilidade, Deus o escolheu e o enviou. A mensagem que irá transmitir não é sua. Por isso se lhe pede escuta, docilidade e fidelidade no anúncio, no ensino e no testemunho.

Perante tal missão e na consciência da sua pobreza e fragilidade ele deve munir-se de profunda confiança em Deus; ser pessoa de oração e de escuta da Palavra de Deus; deve possuir consciência de solidariedade e se preocupar com o destino dos outros. E na fidelidade à verdade da mensagem, estar disponível para se fazer doação total, dando se for necessário, a própria vida.

A mensagem que Deus lhe pede é de convite à conversão, purificador da Aliança, anunciador da santidade e beleza de Deus, trabalhador incansável da dignidade humana, libertador dos esquemas de morte, dinâmico colaborador no apontar para Jesus Cristo.

Quase sempre, na boa tradição profética, o esperará o desprezo, a rejeição, a eliminação, a perseguição e, às vezes, a própria morte.


2- Jesus Cristo: Profeta por excelência.

Jesus Cristo apresenta-se com uma beleza magnífica. O quadro do Evangelho de hoje apresenta-nos a sua dignidade humana, a serenidade e novidade das suas atitudes e palavras, o cumprimento da mais genuína tradição profética.

O filho do carpinteiro, sem nome, talvez a fazer referência a que José já não vivia. E o salientar do «filho de Maria» em que o evangelista apela à sua concepção virginal e sua divindade, realçam quanto o nosso Deus amou a nossa humanidade e se fez igual a nós.

Depois a força reveladora e dinamizadora desse gesto, o «filho do carpinteiro» a traduzir que não são as roupas ou as profissões que traduzem a grandeza da pessoa, mas a sua dignidade e o serviço. Neste gesto de Deus se revoluciona radicalmente a sociedade.

Deus fala-nos por seu Filho. E quantas vezes o Pai dá testemunho d’Ele e nos pede para O escutarmos! E também o Espírito Santo dá testemunho ao conduzir-nos ao ato mais belo da nossa fé: crer que Jesus Cristo é o verdadeiro Filho de Deus e Filho de Maria. E Paulo nos dá um testemunho belo de profunda confiança e entrega.

Em Cristo mensageiro e mensagem se identificam. Ele comunica por palavras e por gestos a novidade do amor de Deus.

3- A missão profética, hoje.

A Palavra de Deus chega hoje até nós através da palavra humana, de pessoas que apresentam garantias e são testemunhas credíveis.

Pelo baptismo, em nós nasceu a vocação de profeta. Ser pessoa em quem Deus confia os seus mistérios de amor: anunciando e denunciando; construindo e destruindo.

O encontro com Cristo não é um acontecimento meramente pessoal, fechado no âmbito de uma espiritualidade amuralhada e egoísta. Pelo contrário o encontro e a relação pessoal com Cristo é dinamismo de caminhada, de construção e de anúncio de uma maravilhosa notícia: o Evangelho ao serviço e como proposta para todos.

A consciência de ser profeta desperta a pessoa para um cristianismo vivo, dinâmico e audaz. Um cristianismo dos sentidos, isto é, tudo deve ser afirmação responsável da realização do projeto de Deus. Todos os sentidos devem estar despertos para auscultar os sinais, pelo impulso do Espírito Santo, e serem colocados ao serviço eficiente do Evangelho. Também a inteligência especulativa e emocional devem ser «centrais» dinamizadoras da inteligibilidade da fé e de propostas sérias e convincentes do Evangelho. Mas sobretudo uma vida de autêntica fé que leva a ultrapassar as dificuldades com o júbilo do Espírito Santo. E necessariamente a vida de oração, beleza da vida pessoal e comunitária com os «olhos» e «coração» de Deus.

A nossa vida e missão devem ser compromisso e consciência de que somos enviados a um mundo, muitas vezes, fechado à fé, fechado a Cristo. E ter em conta que apesar das nossas limitações e fragilidades Deus quer contar conosco, desde que nós contemos com Ele.

Mas é preciso ser profeta para ser livre! Convidar à conversão, chamando o pecado pelo seu nome, assinalar os perigos, enfrentar os poderosos ou esquemas de pecado exige verdadeira liberdade. Liberdade dos filhos de Deus!

Ao profeta não se lhe pedem frutos, mas que seja fiel e que se apresente como profeta para que vejam que há um profeta entre eles.

Também não se pode esperar reconhecimento e gratidão. Esse, se Deus quiser, virá mais tarde, traduzindo e gravando, como a palavra foi guardada, acolhida e companheira de caminhada, no mais aparente fracasso!

É um convite fantástico a aceitarmos a graça de Deus. Só n’Ele tudo podemos e a obra não é nossa! Somos, tantas vezes, tentados em colocar o êxito nas técnicas e nos talentos naturais, quando na verdade só Deus basta e quem a Deus tem nada lhe falta.

Maria de Nazaré é modelo de todo profeta. Ela ensina, educa, cultiva com a sabedoria profunda e com um jeito magnífico de pedagoga: Mãe.

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