Salmo Responsorial: 39
R/. Eu venho, Senhor, para fazer a
vossa vontade.
Esperei no
Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me. Pôs em meus lábios um cântico
novo, um hino de louvor ao nosso Deus.
Não Vos
agradaram sacrifícios nem oblações, mas abristes-me os ouvidos; não pedistes
holocaustos nem expiações, então clamei: «Aqui estou».
«Proclamei
a justiça na grande assembleia, não fechei os meus lábios, Senhor, bem o
sabeis. Não escondi a justiça no fundo do coração, proclamei a vossa bondade e
fidelidade».
Aleluia. Bendito sejais, ó Pai,
Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do
reino. Aleluia.
Evangelho (Mc
3,31-35): Nisso chegaram a mãe e os irmãos de
Jesus. Ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Ao seu redor estava sentada
muita gente. Disseram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos e irmãs estão lá fora e te
procuram». Ele respondeu: «Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?». E passando
o olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse: «Eis minha mãe e
meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha
mãe».
«Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe»
Rev. D. Josep GASSÓ i Lécera (Ripollet, Barcelona,
Espanha)
Na resposta
de Jesus, como veremos, não há nenhum motivo para rechaçar os seus familiares.
Jesus tinha se afastado deles para seguir o chamado divino e mostra agora que
também internamente renunciou a eles: não por frialdade de sentimentos ou por
menosprezo dos vínculos familiares, senão porque pertence completamente a Deus
Pai. Jesus Cristo fez Ele mesmo, pessoalmente, aquilo que justamente pede aos
seus discípulos.
Em vez da sua família da terra, Jesus escolheu uma família espiritual. Passando um olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse-lhes: «Eis minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe». (Mc 3, 34-35). São Marcos, em outros lugares do seu Evangelho, refere outro dos olhares de Jesus ao seu redor.
Será que Jesus quer nos dizer que só são seus parentes os que escutam com atenção sua palavra? Não! Não são seus parentes aqueles que escutam sua palavra, senão aqueles que escutam e cumprem a vontade de Deus: esses são seu irmão, sua irmã, sua mãe.
Jesus faz
uma exortação a aqueles que estão ali sentados — e a todos — a entrar em
comunhão com Ele através do cumprimento da vontade divina. Mas, vemos, também,
na suas palavras uma louvação a sua mãe, Maria, a sempre bem-aventurada por ter
acreditado.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
* No antigo Israel, o clã, isto é, a
grande família (a comunidade), era a base da convivência social. Era a proteção das famílias e das
pessoas, a garantia da posse da terra, o veículo principal da tradição, a
defesa da identidade. Era a maneira concreta do povo daquela época encarnar o
amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã era o mesmo que defender a
Aliança.
* Na Galileia do tempo de Jesus, por causa do sistema
implantado durante os longos governos de Herodes Magno (37 a.C. a 4 a.C.) e de
seu filho Herodes Antipas (4 a.C. a 39 d.C.), o clã (a comunidade) estava
enfraquecendo. Os impostos a serem pagos, tanto ao governo como ao templo, o
endividamento crescente, a mentalidade individualista da ideologia helenista,
as frequentes ameaças de repressão violenta por parte dos romanos, a obrigação
de acolher os soldados e dar-lhes hospedagem, os problemas cada vez maiores de
sobrevivência, tudo isto levava as famílias a se fecharem dentro das suas
próprias necessidades. Este fechamento era reforçado pela religião da época.
Por exemplo, quem dedicava sua herança ao Templo podia deixar seus pais sem
ajuda. Isto enfraquecia o quarto mandamento que era a espinha dorsal do clã (Mc
7,8-13). Além disso, a observância das normas de pureza era fator de
marginalização de muita gente: mulheres, crianças, samaritanos, estrangeiros,
leprosos, possessos, publicanos, doentes, mutilados, paraplégicos.
* Assim, a preocupação com os
problemas da própria família impedia as pessoas de se unirem em comunidade. Ora, para que o Reino de Deus
pudesse manifestar-se na convivência comunitária do povo, as pessoas tinham de
ultrapassar os limites estreitos da pequena família e abrir-se, novamente, para
a grande família, para a Comunidade. Jesus deu o exemplo. Quando sua própria
família tentou apoderar-se dele, reagiu e alargou a família: “Quem é minha mãe,
quem são meus irmãos? E ele mesmo deu a resposta apontando para a multidão que
estava ao redor: Eis aqui minha mãe e meus irmãos! Pois todo aquele que faz a
vontade de Deus é meu irmão, minha irmã, minha mãe! (Mc 3,33-35). Criou
comunidade.
* Jesus pedia o mesmo de todos que
queriam segui-lo.
As famílias não podiam fechar-se. Os excluídos e os marginalizados deviam ser
acolhidos dentro da convivência e, assim, sentir-se acolhidos por Deus (cf Lc
14,12-14). Este era o caminho para realizar o objetivo da Lei que dizia: “Entre
vocês não pode haver pobres” (Dt 15,4). Como os grandes profetas do passado,
Jesus procura reforçar a vida comunitária nas aldeias da Galileia. Ele retoma o
sentido profundo do clã, da família, da comunidade, como expressão da
encarnação do amor de Deus no amor ao próximo.
Para um confronto pessoal
1) Viver a fé em comunidade. Qual o lugar e a influência
da comunidade na minha maneira de viver a fé?
2) Hoje, na cidade grande, a massificação promove o
individualismo que é o contrário da vida em comunidade. O que estou fazendo
para combater este mal?
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