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domingo, 31 de janeiro de 2021

2 de fevereiro: A Apresentação do Senhor

1ª Leitura (Mal 3,1-4): Assim fala o Senhor Deus: «Vou enviar o meu mensageiro, para preparar o caminho diante de Mim. Imediatamente entrará no seu templo o Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais. Ele aí vem – diz o Senhor do Universo –. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda, quem resistirá quando Ele aparecer? Ele é como o fogo do fundidor e como a lixívia dos lavandeiros. Sentar-Se-á para fundir e purificar: purificará os filhos de Levi, como se purifica o ouro e a prata, e eles serão para o Senhor os que apresentam a oblação segundo a justiça. Então a oblação de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor, como nos dias antigos, como nos anos de outrora.

Salmo Responsorial: 23

R. O Senhor do Universo é o Rei da glória.

Levantai, ó portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da glória.

Quem é esse Rei da glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso nas batalhas.

Levantai, ó portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da glória.

Quem é esse Rei da glória? O Senhor dos Exércitos, é Ele o Rei da glória.

2ª Leitura (Heb 2,14-18): Uma vez que os filhos dos homens têm o mesmo sangue e a mesma carne, também Jesus participou igualmente da mesma natureza, para destruir, pela sua morte, aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que estavam a vida inteira sujeitos à servidão, pelo temor da morte. Porque Ele não veio em auxílio dos Anjos, mas dos descendentes de Abraão. Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos, para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus, e assim expiar os pecados do povo. De facto, porque Ele próprio foi provado pelo sofrimento, pode socorrer aqueles que sofrem provação.

Aleluia. Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo. Aleluia.

Evangelho (Lc 2,22-40): E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo». O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: «Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição — e a ti, uma espada traspassará tua alma! — e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações». Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galileia. O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele».

«Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação»

Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona, Espanha)

Hoje, aguentando o frio do inverno, Simeão aguarda a chegada do Messias. Há quinhentos anos, quando se começava a levantar o Templo, houve uma penúria tão grande que os construtores se desanimaram. Foi então quando Ageu profetizou: «O esplendor desta casa sobrepujará o da primeira - oráculo do Senhor dos exércitos» (Ag 2,9); e completou que «sacudirei todas as nações, afluirão riquezas de todos os povos e encherei de minha glória esta casa, diz o Senhor dos exércitos» (Ag 2,7). Frase que admite diversos significados: «o mais apreciado», dirão alguns, «o desejado de todas as nações», afirmará são Jerônimo.

A Simeão «Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor» (Lc 2,26), e hoje, «movido pelo Espírito», subiu ao Templo. Ele não é levita, nem escriba, nem doutor da Lei, é somente um homem «Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele» (Lc 2,25) O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito”. (cf. Jo 3,8).

Agora comprova com desconcerto que não se tem feito nenhum preparativo, não se veem bandeiras, nem grinaldas, nem escudos em nenhum lugar. José e Maria cruzam a explanada levando o Menino nos braços. «Levantai, ó portas, os vossos frontões, erguei-vos, portas antigas, para que entre o rei da glória» (Sal 24,7), clama o salmista.

Simeão avança para saudar a Mãe com os braços estendidos, recebe ao Menino e abençoa a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação. Que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel» (Lc 2,29-32).

Depois diz a Maria: «E uma espada traspassará a tua alma!» (Lc 2,35). Mãe! —digo-lhe— quando chegue o momento de ir à casa do Pai, leva-me nos braços como Jesus, que também eu sou teu filho e menino.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

A Igreja celebra, 40 dias, após o Natal, a festa da Apresentação do Senhor. Trata-se do dia em que Jesus foi apresentado ao Templo, por Maria e José, como mandava a lei judaica. Só Simeão e Ana, movidos pelo Espírito Santo, reconhecem o Messias naquele Menino.

O encontro de Jesus com Simeão e Ana no templo de Jerusalém, aparece como o símbolo de uma realidade muito maior e universal: a humanidade encontra seu Deus na Igreja. Ouvimos do Profeta Malaquias (Ml 3, 1-4) que prenunciava esse encontro: "Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu Templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que desejais.” No Templo, Simeão reconheceu como Messias esperado a Jesus e o proclamou Salvador e luz do mundo. Compreendeu que, doravante, o destino de cada homem se decidia de acordo com a atitude assumida em relação a ele; Jesus será causa ou de ruína ou de ressurreição.

Nossa Senhora preparou o seu coração, como só Ela o podia fazer, para apresentar o seu Filho a Deus Pai e oferecer-se Ela mesma com Ele. Ao fazê-lo, renovava o seu faça-se (SIM) e punha uma vez mais a sua vida nas mãos de Deus. Jesus foi apresentado ao Pai pelas mãos de Maria. Nunca se fez nem se tornaria a fazer uma oblação semelhante naquele Templo.

A festa de hoje convida-nos a entregar ao Senhor, uma vez mais, a nossa vida, pensamentos, obras…, todo o nosso ser. E podemos fazê-lo de muitas maneiras.

A liturgia desta festa quer manifestar, com efeito, que a vida do cristão é como uma oferenda ao Senhor, traduzida na procissão dos círios acesos que se consomem pouco a pouco, enquanto iluminam. Cristo é profetizado como a Luz que tira da escuridão o mundo sumido em trevas.

Seus pais maravilharam-se do que se dizia dele. Maria, que guardava no seu coração a mensagem do Anjo e dos pastores, escuta novamente admirada a profecia de Simeão sobre a missão universal do seu Filho: a criança que sustenta nos seus braços é a Luiz enviada por Deus Pai para iluminar todas as nações: é a glória do seu povo.

É um mistério ligado à oferenda feita no Templo e que nos recorda que a nossa participação na missão de Cristo, que nos foi conferida no batismo, está estritamente ligada à nossa entrega pessoal. A festa da Apresentação do Senhor é um convite a darmo-nos sem medida, a “arder diante de Deus, como essa luz que se coloca sobre o candelabro para iluminar os homens que andam em trevas; como essas lamparinas que se queimam junto do altar, e se consomem alumiando até se gastarem”. (São Josemaría Escrivá, Forja, 44). Meu Deus, dizemos hoje ao Senhor, a minha vida é para Ti; não a quero se não for para gastá-la junto de Ti. Para que outra coisa haveria de querê-la?

São Bernardo recorda-nos que “está proibido apresentar-se ao senhor de mãos vazias.” Simeão abençoou os pais do Menino e disse a Maria, a mãe de Jesus: Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (Lc 2, 34-35).

Jesus traz a salvação a todos os homens; no entanto, para alguns será sinal de contradição, porque se obstinam em rejeitá-Lo.

O Evangelista São Lucas narra também que Simeão, depois de se referir ao Menino, se dirigiu inesperadamente a Maria, vinculando de certo modo a profecia relativa ao Filho com outra que se relacionava com a mãe: “uma espada atravessará a tua alma”. Com estas palavras do ancião, o nosso olhar desloca-se do Filho para a Mãe, de Jesus para Maria. É admirável o mistério deste vínculo pelo qual Ela se uniu a Cristo, àquele Cristo que é sinal de contradição.

Estas palavras dirigidas à Virgem anunciavam que Ela estaria intimamente unida à obra redentora do seu Filho. A espada a que Simeão se refere expressa a participação de Maria nos sofrimentos do Filho; é uma dor indescritível, que atravessa a sua alma. O Senhor sofreu na Cruz pelos nossos pecados; e esses mesmos pecados de cada um de nós forjaram a espada de dor da nossa Mãe.

Podemos servir-nos das palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, invocando Maria como intercessora: “Minha Rainha, seguindo o vosso exemplo, também eu queria oferecer hoje a Deus o meu pobre coração…Oferecei-me como coisa vossa ao Pai Eterno, em união com Jesus, e pedi-lhe que, pelos méritos do seu Filho, e em vossa graça, me aceite e me tome por seu”.

Por meio de Maria, o Senhor acolherá uma vez mais a entrega que lhe fizermos de tudo o que somos e temos.

Para Refletir

Meu caro amigo, hoje a Igreja celebra a Festa da Apresentação do Senhor no Templo. Trata-se de uma celebração ainda ligada ao Natal – na verdade é a última das festas ligadas ao ciclo do Tempo do Natal, ainda que ocorra no início do Tempo Comum. O que celebramos, precisamente?

Primeiramente, o Encontro – Festa do Encontro, a de hoje! – do Messias Filho de Davi com a Sua Cidade Santa e o Seu Templo. Quantas vezes os profetas haviam anunciado que Jerusalém haveria de alegrar-se pela vinda do Enviado Salvador: “Dança de alegria, filha de Sião, dá vivas, filha de Jerusalém, pois agora o teu rei está chegando, justo e vitorioso” (Zc 9,9); “Grita de alegria, filha de Sião! Canta, Israel! Filha de Jerusalém fica contente, de todo o coração, dá gritos de alegria! O Senhor aboliu a sentença contra ti, afastou teus inimigos. O rei de Israel é o Senhor, que está em teu meio; não precisarás mais ter medo de alguma desgraça. Naquele dia, Deus dirá a Jerusalém: ‘Não tenhas medo, Sião! Não te acovardes!’” (Sf 3,14-16).

Pois bem, ei-lo agora, realizando a promessa do Senhor Deus e a esperança de Israel. Jesus-Messias vem à Cidade Santa e ao Templo, cumprindo quanto Israel tanto sonhou: “Assim diz o Senhor: ‘Logo chegará ao Seu templo o Dominador, que tentais encontrar, e o Anjo da Aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-Lhe frente, no dia de Sua chegada? E quem poderá resistir-Lhe, quando Ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata: assim Ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. Será então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros tempos e nos anos antigos’” (Ml 3,1-4). Por isso as palavras emocionadas, exultantes, agradecidas do Velho Simeão, que representa hoje todo o Antigo Israel: “Agora, Senhor, conforme a Tua promessa, podes deixar Teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a Tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do Teu povo Israel” (Lc 2,29-32).

Um segundo sentido, nascido das próprias palavras de Simeão: esse Menino é glória para o Antigo Israel e Luz para iluminar todas as nações da terra! Ele é o Servo Sofredor, humilde e pobre, anunciado por Isaías Profeta: “Ele disse: ‘É bem pouco seres o Meu servo só para restaurar as tribos de Jacó, só para trazer de volta os israelitas que escaparam, quero fazer de Ti uma luz para as nações, para que a Minha salvação chegue até os confins do mundo’” (Is 49,6). Eis por que nós, Novo Israel, Igreja de Cristo, Jerusalém do Alto, Cidade dos cristãos, devemos fazer nossas as esperanças e as alegrias do Antigo Israel e exultar hoje com a vinda do santo Messias! Que Ele encontre sempre Sua Igreja e o coração de cada um de nós abertos para reconhecê-Lo e acolhê-Lo! Conforme as palavras de Simeão, Ele é Luz para iluminar as nações. Por isso, a Missa começa com uma procissão com velas: eis o Menino-Luz que veio iluminar o mundo inteiro!

As velas acesas que trazemos nas mãos na procissão que introduz a Missa têm ainda um ulterior significado: a Igreja, Jerusalém da Nova Aliança, recebe como Virgem fiel o seu Esposo-Luz, que é Jesus. Como as virgens prudentes da parábola, a Igreja mantém a luz da sua fé, do seu amor e da sua esperança em meio às trevas deste mundo, das tantas lutas, combates e incertezas! “Eis o Noivo que chega! Saiamos ao encontro de Cristo!” Ele vem vindo sempre e nós devemos saber reconhecê-Lo e acolhê-Lo! Para isso, é essencial vigiar nas noites da vida!

Um último mistério desta Festa: a Virgem Maria. Ela traz nos seus braços seus filho único, seu Menino que é Luz. Vem para ofertá-Lo ao Senhor. Como a pobre viúva, ela dá tudo a Deus – esse tudo, que é seu único e amado filhinho! Ela é a Virgem oferente, mais que nosso pai Abraão, que ofereceu Isaac. Por que digo isto? Porque Deus poupou sacrifício de Isaac oferecido; mas não poupou o filho de Maria. Simeão a previne: “A oferta foi aceita! Uma espada, Virgem Maria, traspassará teu coração! Chegará a hora da cruz e tu estarás lá, consumando a oferenda do teu único filho, daquele que é tudo para ti! Maria aqui, torna-se modelo de total entrega ao Senhor Deus, de total pobreza e desapego! Mais ainda: observe que Simeão anuncia sua dor como participação na obra da nossa salvação! Para que fôssemos salvos, para que o universo chegasse à plenitude, para que fôssemos salvos da morte eterna, o Filho da Virgem teve que Se tornar sinal de contradição, até à cruz... E isto envolveu uma espada duramente traspassada no coração materno da Toda Santa! O ensinamento da Escritura é claro: não se pode pensar a salvação sem contemplar o papel singularíssimo que a Virgem nela ocupa! Hoje, a piedade popular chama a Santíssima Virgem de Nossa Senhora da Apresentação, Nossa Senhora da Purificação, Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Candelária.

Muito bem, meu caro Amigo! Vamos nós, com a lâmpada da fé, do amor e da esperança, ao encontro do Esposo que vem!

sábado, 30 de janeiro de 2021

1º de fevereiro

Beata Candelária de São José

Virgem de nossa Ordem

Candelária de São José (Susana Paz Castillo Ramírez), nasceu em Altagracia de Orituco, Venezuela, em 11 de agosto de 1863. Distinguiu-se por seu amor aos enfermos e aos pobres. Junto com outras jovens de sua cidade e com o apoio de um grupo de médicos e do padre Sixto Sosa, pároco de Altagracia de Orituco, fundou um hospital para atender a todos os necessitados, começando com isto a fundação da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres de Altagracia, atualmente denominada Irmãs Terceiras Carmelitas Regulares também conhecidas como Carmelitas da Madre Candelária ou Venezuelanas.  Morreu em 31 de janeiro de 1940. Foi beatificada em 27 de abril de 2008 em Caracas (Venezuela).

Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.

Oração

Ó Deus que vos alegrais em habitar nos corações puros, concedei-nos, por intercessão da beata Candelária de São José, viver, por vossa graça, de tal maneira que mereçamos ter-vos sempre conosco.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Segunda-feira da 4ª semana do Tempo Comum

Beata Candelária de São José, Virgem de nossa Ordem


1ª Leitura (Hb 11,32-40): Irmãos: Que mais posso dizer? Faltar-me-ia o tempo se quisesse falar de Gedeão, de Barac, de Sansão, de Jefté, de David, de Samuel e dos Profetas. Pela fé, conquistaram reinos, exerceram a justiça, alcançaram os bens prometidos. Fecharam a boca dos leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, convalesceram das enfermidades, tornaram-se fortes na guerra, venceram exércitos inimigos. Mulheres houve que recuperaram os seus mortos pela ressurreição. Mas outros foram torturados, recusando o resgate a fim de alcançar uma ressurreição melhor. Outros sofreram o tormento das zombarias e da flagelação, das algemas e da prisão. Foram apedrejados, serrados, mortos ao fio da espada; andaram vagueando, cobertos de peles de ovelha e de cabra, indigentes, oprimidos, maltratados. O mundo não era digno deles. Andaram errantes pelos desertos, pelos montes, nas grutas e cavernas da terra. E todos estes, que alcançaram testemunho favorável pela sua fé, ficaram sem obter a realização da promessa. Porque Deus previa para nós um destino melhor, eles não deviam chegar sem nós à perfeição final.

Salmo Responsorial: 30

R. Tende coragem e animai-vos, vós todos que esperais no Senhor.

Como é grande, Senhor, a vossa bondade, que tendes reservada para os que Vos temem! À vista dos homens Vós a concedeis àqueles que em Vós confiam.

Ao abrigo da vossa face Vós os defendeis das maquinações dos homens; no vosso tabernáculo Vós os escondeis das línguas provocadoras.

Bendito seja o Senhor: como em cidade fortificada, em mim enalteceu a sua misericórdia.

Eu, porém, dizia na minha ansiedade: «Estou banido da vossa presença». Mas ouvistes a voz da minha súplica, logo que Vos invoquei.

Amai o Senhor, vós todos os seus fiéis. O Senhor defende os que Lhe são fiéis, mas castiga com rigor os orgulhosos.

Aleluia. Apareceu no meio de nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.

Evangelho (Mc 5,1-20): Jesus e os discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, um homem que tinha um espírito impuro saiu do meio dos túmulos e foi a seu encontro. Ele morava nos túmulos, e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes tinha sido preso com grilhões e com correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava os grilhões, e ninguém conseguia dominá-lo. Dia e noite andava entre os túmulos e pelos morros, gritando e ferindo-se com pedras. Ao ver Jesus, de longe, o homem correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: «Que queres de mim, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Por Deus, não me atormentes!». Jesus, porém, disse-lhe: «Espírito impuro, sai deste homem!» E perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?» Ele respondeu: «Legião é meu nome, pois somos muitos». E suplicava-lhe para que não o expulsasse daquela região. Entretanto estava pastando, no morro, uma grande manada de porcos. Os espíritos impuros suplicaram então: «Manda-nos entrar nos porcos». Jesus permitiu. Eles saíram do homem e entraram nos porcos. E os porcos, uns dois mil, se precipitaram pelo despenhadeiro no mar e foram se afogando. Os que cuidavam deles fugiram e espalharam a notícia na cidade e no campo. As pessoas saíram para ver o que tinha acontecido. Chegaram onde estava Jesus e viram o possesso sentado, vestido e no seu perfeito juízo — aquele que tivera o Legião. E ficaram com medo. Os que tinham presenciado o fato explicavam-lhes o que havia acontecido com o possesso e com os porcos. Então, suplicaram Jesus para que fosse embora do território deles. Enquanto Jesus entrava no barco, o homem que tinha sido possesso pediu para que o deixasse ir com ele. Jesus, porém, não permitiu, mas disse-lhe: «Vai para casa, para junto dos teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti». O homem foi embora e começou a anunciar, na Decápole, tudo quanto Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.

«Espírito impuro, sai deste homem!»

Rev. D. Ramon Octavi SÁNCHEZ i Valero (Viladecans, Barcelona, Espanha)

Hoje encontramos um fragmento do Evangelho que pode provocar o sorriso a mais de um. Imaginar-se uns dos mil porcos precipitando-se pelo monte abaixo, não deixa de ser uma imagem um pouco cômica. Mas a verdade é que a eles não lhes fez nenhuma graça, se enfadaram muito e lhe pediram a Jesus que se fora de seu território.

A atitude deles, mesmo que humanamente poderia parecer lógica, não deixa de ser francamente recriminável: prefeririam ter salvado seus porcos antes que a cura do endemoninhado. Isto é, antes os bens materiais, que nos proporcionam dinheiro e bem estar, que a vida em dignidade de um homem que não é dos “nossos”. Porque o que estava possuído por um espírito maligno só era uma pessoa que «Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras» (Mc 5,5).

Nós temos muitas vezes este perigo de apegar-nos ao que é nosso, e desesperar-nos quando perdemos aquilo que só é material. Assim, por exemplo, o camponês se desespera quando perde uma colheita mesmo tendo-a assegurada, ou o jogador de bolsa faz o mesmo quando suas ações perdem parte de seu valor. Em compensação, muitos poucos se desesperam vendo a fome ou a precariedade de tantos seres humanos, alguns dos quais vivem ao nosso lado.

Jesus sempre pôs em primeiro lugar as pessoas, mesmo antes que as leis e os poderosos de seu tempo. Mas nós, muitas vezes, pensamos só em nós mesmos e naquilo que acreditamos que nos traz felicidade, mesmo o egoísmo nunca traz felicidade. Como diria o bispo brasileiro Helder Câmara: «O egoísmo é a fonte mais infalível de infelicidade para si mesmo e para os que o rodeiam».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* No Evangelho de hoje, vamos meditar um longo texto sobre a expulsão de um demônio que se chamava Legião e que oprimia e maltratava uma pessoa. Hoje há muita gente que usa os textos do evangelho sobre a expulsão dos demônios para meter medo nos outros. É pena! Marcos faz o contrário. Como veremos, ele associa a ação do poder do mal com quatro coisas: 
1) Com o cemitério, o lugar dos mortos. A morte que mata a vida! 
2) Com o porco, que era considerado um animal impuro. A impureza que separa de Deus! 
3) Com o mar, que era visto como símbolo do caos de antes da criação. O caos que destrói a natureza. 
4) Com a palavra Legião, nome dos exércitos do império romano. O império que oprime e explora os povos. 
Ora, Jesus vence o poder do mal nestes quatro pontos. A vitória de Jesus tinha um alcance enorme para as comunidades dos anos setenta, época em que Marcos escreve o seu evangelho. Elas viviam perseguidas pelas legiões romanas, cuja ideologia manipulava as crenças populares nos demônios para meter medo no povo e conseguir submissão!

* O poder do mal oprime, maltrata e aliena as pessoas. Os versículos iniciais descrevem a situação do povo antes da chegada de Jesus. Na maneira de descrever o comportamento do endemoninhado, Marcos associa o poder do mal com cemitério e morte. É um poder sem rumo, ameaçador, descontrolado e destruidor, que mete medo em todos. Priva a pessoa da consciência, do autocontrole e da autonomia.

* Diante da simples presença de Jesus o poder do mal desmorona e desintegra. Na maneira de descrever o primeiro contato entre Jesus e o homem possesso, Marcos acentua a desproporção total! O poder, que antes parecia tão forte, se derrete e se desmancha diante de Jesus. O homem cai de joelhos, pede para não ser expulso da região e entrega até o seu nome Legião. Através deste nome, Marcos associa o poder do mal com o poder político e militar do império romano que dominava o mundo através das suas Legiões.

* O poder do mal é impuro e não tem autonomia nem consistência. O demônio não tem poder sobre os seus próprios movimentos. Só consegue ir para dentro dos porcos com a permissão de Jesus! Uma vez dentro dos porcos, estes se precipitam no mar. Eram 2000 porcos! Na opinião do povo, o porco era símbolo da impureza que impedia o ser humano de relacionar-se com Deus e sentir-se acolhido por Ele. O mar era símbolo do caos que existia antes da criação e que, conforme a crença da época, ameaçava a vida. Este episódio dos porcos que se precipitam no mar é estranho e difícil de ser entendido. Mas a mensagem é muito clara: diante de Jesus, o poder do mal não tem autonomia nem consistência. Quem crê em Jesus já venceu o poder do mal e já não precisa ter medo!

* A reação do povo do lugar. Alertado pelos empregados que tomavam conta dos porcos, o povo do lugar veio e viu o homem liberto do poder do mal “em perfeito juízo”. Mas eles ficaram sem os porcos! Por isso, pedem a Jesus para ir embora. Para eles, os porcos eram mais importantes que o ser humano que acabava de ser devolvido a si mesmo. Assim é hoje: o sistema neoliberal pouco se importa com as pessoas. O que importa é o lucro!

* Anunciar a Boa Nova é anunciar “o que o Senhor fez por você!” O homem liberto quer “seguir Jesus”, mas Jesus diz: “Vá para casa, para junto dos seus, e anuncia a eles o que o Senhor fez por você!”. Esta frase de Jesus, Marcos a dirige às comunidades e a todos nós. Para a maioria de nós “seguir Jesus” significa: “Vá para sua casa e anuncia aos seus o que o Senhor te fez!”

Para um confronto pessoal

1) Qual o ponto deste texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por que?

2) O homem curado quer seguir Jesus. Mas ele deve ficar em casa e contar a todo mundo o que Jesus fez por ele. O que Jesus fez por você que pode ser contado para os outros?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Domingo da IV Semana do Tempo Comum

 S. João Bosco, Presbítero

1ª Leitura (Dt 18,15-20): Moisés falou ao povo, dizendo: “O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: é a ele que devereis ouvir. Foi o que tu mesmo pediste ao Senhor, teu Deus, em Horeb, quando lhe disseste no dia da assembleia: ‘Oh! Não ouça eu mais a voz do Senhor, meu Deus, nem torne a ver mais esse fogo ardente, para que eu não morra!’ E o Senhor disse-me: ‘está muito bem o que disseram; eu lhes suscitarei um profeta como tu dentre seus irmãos: pôr-lhe-ei minhas palavras na boca, e ele lhes fará conhecer as minhas ordens. Mas ao que recusar ouvir o que ele disser de minha parte, pedir-lhe-ei contas disso. O profeta que tiver a audácia de proferir em meu nome uma palavra que eu lhe não mandei dizer, ou que se atrever a falar em nome de outros deuses, será morto”.

Salmo Responsorial- 94/95

R. Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus!

Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o rochedo que nos salva! * Ao seu encontro caminhemos com louvores e, com cantos de alegria, o celebremos!

Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! * Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: “Não fecheis os corações como em Meriba, como em Massa, no deserto, aquele dia, * em que outrora vossos pais me provocaram, apesar de terem visto as minhas obras”.

2ª Leitura (1 Cor 7,32-35): Irmãos, eu gostaria que estivésseis livres de preocupações. O homem não casado é solícito pelas coisas do Senhor e procura agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar à sua mulher, e, assim, está dividido. Do mesmo modo, a mulher não casada e a jovem solteira têm zelo pelas coisas do Senhor e procuram ser santas de corpo e espírito. Mas a que se casou preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar ao seu marido. Digo isso para o vosso próprio bem e não para vos armar um laço. O que eu desejo é levar-vos ao que é melhor, permanecendo junto ao Senhor, sem outras preocupações.

Aleluia. O povo que jazia nas trevas viu brilhar uma luz grandiosa; a luz despontou para aqueles que jaziam nas sobras da morte. Aleluia.

Evangelho (Mc 1,21-28): Entraram em Cafarnaum. No sábado, Jesus foi à sinagoga e pôs-se a ensinar. Todos ficaram admirados com seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas. Entre eles na sinagoga estava um homem com um espírito impuro; ele gritava: «Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!» Jesus o repreendeu: «Cala-te, sai dele!» O espírito impuro sacudiu o homem com violência, deu um forte grito e saiu. Todos ficaram admirados e perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Um ensinamento novo, e com autoridade: ele dá ordens até aos espíritos impuros, e eles lhe obedecem!» E sua fama se espalhou rapidamente por toda a região da Galileia.

«Um ensinamento novo, e com autoridade»

Rev. D. Jordi CASTELLET i Sala (Sant Hipòlit de Voltregà, Barcelona, Espanha)

Hoje, Cristo dirige-nos o seu grito enérgico, sem dúvidas e com autoridade: «Cala-te, sai dele!» (Mc 1,25). Disse-o aos espíritos malignos que vivem em nós e que não nos deixam ser livres, tal como Deus nos criou e desejou.

Se repararmos, os fundadores das ordens religiosas, a primeira norma que põem quando estabelecem a vida comunitária, é a do silêncio: numa casa onde se tenha que rezar, há de reinar o silêncio e a contemplação. Como diz o ditado: «O bem não faz ruído; o ruído não faz bem». Por isto, Cristo ordena àquele espírito maligno que se cale, porque a sua obrigação é render-se diante de quem é a palavra, que «se fez carne, e habitou entre nós» (Jo 1,14).

Mas é certo que com a admiração que sentimos diante do Senhor, se pode misturar também um sentimento de suficiência, de tal maneira que cheguemos a pensar tal como Santo Agostinho dizia nas próprias confissões: «Senhor, faz-me casto, mas ainda não». A tentação é a de deixar para mais tarde a própria conversão, porque agora não encaixa com os nossos próprios planos pessoais.

O chamamento ao seguimento radical de Jesus Cristo é para o aqui e agora, para tornar possível o seu reino, que irrompe com dificuldade entre nós. Ele conhece a nossa tibieza, sabe que não nos gastamos fortemente na opção do Evangelho, mas que queremos contemporizar, ir tirando, ir vivendo, sem alarido e sem pressa.

O mal não pode conviver com o bem. A vida santa não permite o pecado. «Ninguém pode servir a dois senhores; porque odiará um e amará o outro» (Mt 6,24), disse Jesus Cristo. Refugiemo-nos na árvore sagrada da Cruz e que a sua sombra se projete sobre a nossa vida, e deixemos que seja Ele quem nos conforte, nos faça entender o porquê da nossa existência e nos conceda uma vida digna de Filhos de Deus.

O profeta só tem que dizer as palavras de quem o manda, embora sejam duras de ouvir e difíceis de colocar em prática.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Desde o batismo, todo cristão é profeta. Da parte de Deus, o profeta anuncia a Boa Nova e denuncia o mal, em ordem à salvação dos homens. Quem escutar e prestar atenção se salvará. E, ai do profeta que não anunciar o que Deus lhe mandou! (1ª leitura).

Em primeiro lugar, ser profeta não significa preanunciar fatos futuros. Profeta não é só o que prediz de antemão o que vai acontecer, mas antes de tudo o que fala em lugar de outro. Não o que fala “antes”, mas “no lugar de”. O profeta judeu era propriamente o que falava em nome de Javé ou na sua honra, o que proclamava os seus louvores, o que pregava a sua doutrina e anunciava os seus decretos. Era o arauto, o interprete do Senhor. É certo que normalmente o Senhor governava o povo de Israel através dos seus legisladores. Mas às vezes queria manifestar vontades expressas, e para isso recorria ao profeta, não pedindo para ele um serviço, mas intimidando-o a cumprir uma ordem. Com frequência, como hoje com Moises (1ª leitura), enviava-o para falar diante de uma assembleia, sem que tivesse sido previamente convidado, e o profeta se via obrigado a ir das praças ao templo, e do templo aos palácios dos grandes, como um inoportuno, às vezes, como um estraga prazeres. Também o Senhor se valeu deles para anunciar o futuro. Assim predisseram muitos detalhes sobre o Messias que tinha que vir, e anunciaram que os grandes fatos do Antigo Testamento eram uma imagem do que aconteceria depois em Cristo e na Igreja. Fatos e palavras. Os profetas, com as suas palavras explicavam o sentido dos fatos, e anunciavam que no futuro esses fatos se repetiriam, mas num nível infinitamente superior. E chegou Cristo, o Grande Profeta definitivo.

Em segundo lugar, sim, Jesus é o Profeta definitivo que fala e age com autoridade. Não somente falaria em nome de Deus, mas que Ele mesmo seria a Fala de Deus, a Palavra de Deus, o Verbo de Deus. O Verbo feito carne. E veio para falar com todo o poder da majestade divina. Não só o que ensina a verdade, mas o que é a Verdade mesma. Não só o que marca o caminho da vida, mas que Ele mesmo é o Caminho e a Vida. Jesus falava com autoridade. Falar com autoridade é convencer e impulsionar. Para isso, se necessita uma coisa que todos têm; outra que poucos têm e outra que quase ninguém têm, e são: palavras prometedoras, que já saem sobrando; vida consequente com as palavras, que escasseia, e fatos que falem a vida e as palavras, que já faltam. Jesus com a sua palavra, a sua vida e os seus milagres assustava até os demônios e terminou com as suas interferências nas vidas dos homens; eis aqui o caso do possuído do evangelho de hoje. Só o poder de Jesus é capaz de exorcizar os homens, isto é, de tirar do corpo deles os demônios pós-modernos; o conforto materialista da vida, o hedonismo do prazer pelo prazer, o culto ao dinheiro, o culto ao êxito pessoal, o laicismo sem espírito, sem alma e sem Deus, a filosofia do descarto e da indiferença diante da pobreza humana. Estes são os únicos demônios que até agora eu conheço, a única autoridade em que creio e o único exorcismo que pratico, em nome de Jesus.

Finalmente, todo batizado também participa do profetismo de Jesus. Não só os sacerdotes são profetas. Também todo leigo batizado. Devemos oferecer a Deus os nossos lábios de modo que o Senhor possa continuar pregando através de nós durante todo o transcurso da história, expulsando esses demônios que continuam estragando os corpos e as almas de tantos que se deixam levar pelos feitiços prometendo a eterna juventude, como narra o escritor irlandês Oscar Wilde na sua obra “O retrato de Dorian Gray”, em troca de vender a sua alma ao Mefistófeles de bate à porta de nossa casa, parafraseando o Fausto do escritor e poeta alemão Goethe. E temos que pregar a boa nova em cima dos telhados: casa, fábrica, local de trabalho, escola, hospital, casa de anciãos… Até chegar a todas as periferias existenciais, físicas, morais e espirituais. Profetas que também saibamos denunciar com respeito todos os desvarios e injustiças de tantos -o pecado-, como fazia Cristo. E isto desde todos os meios lícitos e bons: meios de comunicação, púlpito, cátedras, mesa familiar. E não só com a palavra, mas, sobretudo com o exemplo de vida. Tomemos cuidado com os falsos profetas! Rapidamente se manifestam prometendo a teologia da prosperidade ou uma vida sem normas morais. Cristo já nos alertou.

Para refletir: Sou consciente de ser profeta desde o batismo? Anuncio com alegria e convencimento a Boa Nova do Evangelho, sem medo e sem temor? Denuncio o mal, sem colocar tempero no que diz Deus sobre os critérios mundanos? A quem não quis anunciar a mensagem de Cristo e denunciar com caridade o mal?

Para rezar: Medite estas palavras da primeira leitura: “Colocarei as minhas palavras na sua boca, e ele dirá tudo o que lhe ordenar”.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Sábado III do Tempo Comum


1ª Leitura (Hb 11,1-2.8-19): Irmãos: A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se veem. Ela valeu aos antigos um bom testemunho. Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber para onde ia. Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida, habitando em tendas, com Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa, porque esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus. Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade, porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. É por isso também que de um só homem __ um homem que a morte já espreitava nasceram descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia que há na praia do mar. Todos eles morreram na fé, sem terem obtido a realização das promessas. Mas vendo-as e saudando-as de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Aqueles que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria. Se pensassem na pátria de onde tinham saído, teriam tempo de voltar para lá. Mas eles aspiravam a uma pátria melhor, que era a pátria celeste. E como Deus lhes tinha preparado uma cidade, não Se envergonha de Se chamar seu Deus. Pela fé, Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha sido dito: «Por Isaac será assegurada a tua descendência». Ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o seu filho.

Salmo Responsorial: Lc 1

R. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo.

O Senhor nos deu um Salvador poderoso, na casa de David, seu servo, como prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos;

Para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos daqueles que nos odeiam; para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança:

O juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: de O servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, em santidade e justiça na sua presença, todos os dias da nossa vida.

Aleluia. Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito; quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Aleluia.

Evangelho (Mc 4,35-41): Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos discípulos: «Passemos para a outra margem!”» Eles despediram as multidões e levaram Jesus, do jeito como estava, consigo no barco; e outros barcos o acompanhavam. Veio, então, uma ventania tão forte que as ondas se jogavam dentro do barco; e este se enchia de água. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram-lhe: «Mestre, não te importa que estejamos perecendo?» Ele se levantou e repreendeu o vento e o mar: «Silêncio! Cala-te!» O vento parou, e fez-se uma grande calmaria. Jesus disse-lhes então: «Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?». Eles sentiram grande temor e comentavam uns com os outros: «Quem é este, a quem obedecem até o vento e o mar?»

«Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?»

Rev. D. Joaquim FLURIACH i Domínguez (St. Esteve de P., Barcelona, Espanha)

Hoje, o Senhor discute com os discípulos por sua falta de fé: «Ele disse-lhes: Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?» (Mc 4,40). Jesus Cristo já havia dado suficientes mostras de ser Ele o Enviado e, mesmo assim, não acreditam. Não notam que, tendo com eles o próprio Senhor, nada devem temer. Jesus faz um paralelismo claro entre “fé” e “valentia”.

Em outro lugar do Evangelho, ante uma situação onde os Apóstolos duvidam, se diz que ainda não podiam acreditar porque não haviam recebido o Espírito Santo. O senhor deverá ter muita paciência para continuar ensinando aos primeiros aquilo que eles mesmos nos mostrarão depois, e do que serão firmes e valentes testemunhas.

Estaria muito bem que nós também nos sentíssemos “repreendidos”. Com mais motivo ainda! Recebemos o Espírito Santo que nos faz sentir capazes de entender como realmente o Senhor está conosco no caminho da vida, se realmente buscamos fazer sempre a vontade do Pai. Objetivamente, não temos nenhum motivo para a covardia. Ele é o único Senhor do Universo, porque «Eles ficaram penetrados de grande temor e cochichavam entre si: Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» (Mc 4,41), como afirmam admirados os discípulos.

Então, o que é o que me dá medo? São motivos tão graves como para pôr em dúvida o poder infinitamente grande como é o do Amor que o Senhor nos tem? Esta é a pergunta que nossos irmãos mártires souberam responder, não com palavras, mas com sua própria vida. Como tantos irmãos nossos que, com a graça de Deus, cada dia fazem de cada contradição um passo mais no crescimento da fé e da esperança. Nós, por que não? É que não sentimos dentro de nós o desejo de amar ao Senhor com todo o pensamento, com todas as forças, com toda a alma?

Um dos grandes exemplos de valentia e de fé, temos em Maria, Auxilio dos cristãos, Rainha dos confessores. Ao pé da Cruz soube manter em pé a luz da fé... que se fez resplandecente no dia da Ressurreição!

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* O evangelho de hoje descreve a tempestade no lago e Jesus dormindo no barco. Nossas comunidades, muitas vezes, se sentem como um barquinho perdido no mar da vida, sem muita esperança de poder chegar no porto. Jesus parece estar dormindo no nosso barco, pois não aparece nenhum poder divino para salvar-nos das dificuldades e da perseguição. Em vista desta situação de desespero, Marcos recolhe vários episódios que revelam como Jesus presente no meio da comunidade. Nas parábolas revelou o mistério do Reino presente nas coisas da vida (Mc 4,1-34). Agora começa a revelar o mistério do Reino presente no poder que Jesus exerce a favor dos discípulos, a favor do povo e, sobretudo, a favor dos excluídos e marginalizados. Jesus vence o mar, símbolo do caos (Mc 4,35-41). Nele atua um poder criador! Jesus vence e expulsa o demônio (Mc 5,1-20). Nele atua um poder libertador! Jesus vence a impureza e a morte (Mc 5,21-43). Nele atua o poder de vida! É o Jesus vencedor! Não há motivo para as comunidades terem medo. Este é o motivo do relato da tempestade acalmada que meditamos no evangelho de hoje.

* Marcos 4,35-36: O ponto de partida: “Vamos para o outro lado”.

Foi um dia pesado de muito trabalho. Terminado o discurso das parábolas (Mc 4,1-34), Jesus diz: “Vamos para o outro lado!” Do jeito que Jesus estava, eles o levam no barco, de onde tinha feito o discurso das parábolas. De tão cansado, Jesus deita e dorme em cima de um travesseiro. Este é o quadro inicial que Marcos pinta. Quadro bonito, bem humano.

* Marcos 4,37-38: A situação desesperadora: “Não te importa que pereçamos?”

O lago da Galileia é cercado de altas montanhas. Às vezes, por entre as fendas das rochas, o vento cai em cima do lago e provoca tempestades repentinas. Vento forte, mar agitado, barco cheio de água! Os discípulos eram pescadores experimentados. Se eles acham que vão afundar, então a situação é perigosa mesmo! Jesus nem sequer acorda e continua dormindo. Este sono profundo não é só sinal do grande cansaço. É também expressão da confiança tranquila que ele tem em Deus. O contraste entre a atitude de Jesus e a dos discípulos é grande!

* Marcos 4,39-40: A reação de Jesus: “Vocês ainda não têm fé?”

Jesus acorda, não por causa das ondas, mas por causa do grito desesperado dos discípulos. Primeiro, ele se dirige ao mar e diz: “Fique quieto!” E logo o mar se acalma. Em seguida, se dirige aos discípulos e diz: “Por que vocês têm medo? Ainda não têm fé?” A impressão que se tem é que não era preciso acalmar o mar, pois não havia nenhum perigo. É como quando você chega numa casa e o cachorro, ao lado do dono, late muito. Aí não precisa ter medo, pois o dono está aí e controla a situação. O episódio do mar acalmado evoca o êxodo, quando o povo, sem medo, passava pelo meio das águas do mar (Ex 14,22). Evoca o profeta Isaías que dizia ao povo: “Quando passares pelas águas eu estarei contigo!” (Is 43,2) Jesus refaz o êxodo e realiza a profecia anunciada pelo Salmo 107(106),25-30.

* Marcos 4,41: O não saber dos discípulos: “Quem é este homem?”

Jesus acalmou o mar e disse: “Então, vocês não têm fé?” Os discípulos não sabem o que responder e se perguntam: “Quem é este homem a quem até o mar e o vento obedecem?” Jesus parece um estranho para eles! Apesar da longa convivência, não sabem direito quem ele é. Quem é este homem? Com esta pergunta na cabeça, as comunidades continuavam a leitura do evangelho. E até hoje, é esta mesma pergunta que nos leva a continuar a leitura dos Evangelhos. É o desejo de conhecer sempre melhor o significado de Jesus para a nossa vida.

* Quem é Jesus?

Marcos começa o seu evangelho dizendo: “Início da Boa Nova de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). No fim, na hora da morte de Jesus, um soldado pagão declara: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mc 15,39) No começo e no fim do Evangelho, Jesus é chamado Filho de Deus. Entre o começo e o fim, aparecem muitos outros nomes de Jesus. Eis a lista: Messias ou Cristo (Mc 1,1; 8,29; 14,61; 15,32); Senhor (Mc 1,3; 5,19; 11,3); Filho amado (Mc 1,11; 9,7); Santo de Deus (Mc 1,24); Nazareno (Mc 1,24; 10,47; 14,67; 16,6); Filho do Homem (Mc 2,10.28; 8,31.38; 9,9.12.31; 10,33.45; 13,26; 14,21.21.41.62); Noivo (Mc 2,19); Filho de Deus (Mc 3,11); Filho do Deus altíssimo (Mc 5,7); Carpinteiro (Mc 6,3); Filho de Maria (Mc 6,3); Profeta (Mc 6,4.15; 8,28); Mestre (frequente); Filho de Davi (Mc 10,47.48; 12,35-37); Bendito (Mc 11,9); Filho (Mc 13,32); Pastor (Mc 14,27); Filho do Deus bendito (Mc 14, 61); Rei dos judeus (Mc 15,2.9.18.26); Rei de Israel (Mc 15,32),

Cada nome, título ou atributo é uma tentativa de expressar o que Jesus significava para as pessoas. Mas um nome, por mais bonito que seja, nunca chega a revelar o mistério de uma pessoa, muito menos da pessoa de Jesus. Além disso, alguns destes nomes dados a Jesus, inclusive os mais importantes e os mais tradicionais, são questionados e colocados em dúvida pelo próprio Evangelho de Marcos. Assim, na medida em que avançamos na leitura do evangelho, Marcos nos obriga a rever nossas ideias e a nos perguntar, cada vez de novo: “Afinal, quem é Jesus para mim, para nós?” Quanto mais se avança na leitura do evangelho de Marcos, tanto mais se quebram os títulos e os critérios. Jesus não cabe em nenhum destes nomes, em nenhum esquema, em nenhum título. Ele é maior! Aos poucos, o leitor, a leitora, vai se entregando e desiste de querer enquadrar Jesus em algum conceito conhecido ou ideia já pronta, e o aceita do jeito que ele mesmo se apresenta. O amor capta, a cabeça, não!

Para um confronto pessoal

1. As águas do mar da vida, alguma vez, já ameaçaram afogar você? O que o salvou?

2. Qual era o mar agitado no tempo de Jesus? Qual era o mar agitado na época em que Marcos escreveu o seu evangelho? Qual é, hoje, o mar agitado para nós?

3. Leia Isaías 43,2 e também Salmo 107(106),25-30, e compare-os com o episódio da tempestade acalmada. Qual a conclusão que você tira?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

29 de janeiro

 Beata Arcângela Girlani

Virgem de nossa Ordem

Nascida em Trino Vercellese, na Itália Setentrional, em meados do séc. XV, tomou o hábito carmelita em Parma, onde também veio a ser prioresa. Mais tarde exerceu o mesmo cargo no novo Mosteiro de Mântua, por ela fundado, onde morreu no dia 25 de janeiro de 1495. Animada por um vivo sentido da presença do Deus uno e trino, distinguiu-se pela sua especial devoção à SS. Trindade. Em colaboração com o Padre-Geral B. João Soreth, e seguindo as Constituições por ele renovadas, favoreceu uma observância viva do espírito do Carmelo nos mosteiros que lhe tinham sido confiados. O seu culto imemorial foi aprovado a 1 de outubro de 1864 pelo Papa Pio IX.

HINO DE LAUDES E VÉSPERAS

Arcângela bem-aventurada,

que chama te conduziu

à celestial morada?

 

Que olhar te atraiu?

Que doce voz te chamou?

Que amor te seduziu?

 

Ao seu amor aspiraste

e pra de todo o ganhar

os bens do mundo deixaste.

 

Vê-te o Carmelo chegar

humilde e fervorosa ...

Quanta luz hás de espalhar!

 

"Como és bela e graciosa!

Os teus olhos me fascinam:

levanta-te e vem, ó formosa!"

 

Dos que no exílio caminham

rumo à eternidade

sê Anjo de Caridade!

Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.

Oração

Senhor, que fizestes da bem-aventurada Arcângela uma enamorada do mistério da vossa eterna Trindade, concedei-nos, por sua intercessão, que, saboreando na terra a felicidade da vossa glória, Vos contemplemos um dia no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Sexta-feira da 3ª semana do Tempo Comum

 Beata Arcângela Girlani, Virgem de nossa Ordem

1ª Leitura (Hb 10,32-39): Irmãos: Lembrai-vos dos primeiros dias, em que, depois de terdes sido iluminados, suportastes tão grandes e dolorosos combates, ora expostos publicamente aos insultos e tribulações, ora tornando-vos solidários com os que eram assim tratados. De facto, compartilhastes o sofrimento dos prisioneiros e aceitastes com alegria a espoliação dos vossos bens, sabendo que possuís riqueza melhor e duradoira. Não queirais, portanto, perder a vossa confiança, que terá uma grande recompensa. Vós tendes necessidade de perseverança, para cumprir a vontade de Deus e alcançar os bens prometidos. Porque «ainda um pouco e bem pouco tempo, e Aquele que há de vir não tardará». Ora «o meu justo viverá pela fé, mas se retroceder, não agradará à minha alma». Nós não somos daqueles que retrocedem para a sua perdição, mas daqueles que perseveram na fé para salvar a sua alma.

Salmo Responsorial: 36

R. A salvação dos justos vem do Senhor.

Confia no Senhor e pratica o bem, possuirás a terra e viverás tranquilo. Põe no Senhor as tuas delícias e Ele satisfará os anseios do teu coração.

Confia ao Senhor o teu destino e tem confiança, que Ele atuará. Fará brilhar a tua luz como a justiça e como o sol do meio dia os teus direitos.

O Senhor consolida os passos do homem e aprova os seus caminhos. Se cair, não ficará por terra, porque o Senhor o tomará pela mão.

A salvação dos justos vem do Senhor, Ele é o seu refúgio no tempo da tribulação. O Senhor os ajuda e defende, porque n’Ele procuraram refúgio.

Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.

Evangelho (Mc 4,26-34): Jesus dizia-lhes: «O Reino de Deus é como quando alguém lança a semente na terra. Quer ele esteja dormindo ou acordado, de dia ou de noite, a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra produz o fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, finalmente, os grãos que enchem a espiga. Ora, logo que o fruto está maduro, mete-se a foice, pois o tempo da colheita chegou». Jesus dizia-lhes: «Com que ainda podemos comparar o Reino de Deus? Com que parábola podemos apresentá-lo? É como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes. Mas, depois de semeada, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças, com ramos grandes a tal ponto que os pássaros do céu podem fazer seus ninhos em sua sombra». Jesus lhes anunciava a palavra usando muitas parábolas como estas, de acordo com o que podiam compreender. Nada lhes falava sem usar parábolas. Mas, quando estava a sós com os discípulos, lhes explicava tudo.

«O Reino de Deus é como quando alguém lança a semente na terra e a terra produz o fruto por si mesma»

Rev. D. Jordi PASCUAL i Bancells (Salt, Girona, Espanha)

Hoje, Jesus fala às pessoas de uma experiência muito próxima das suas vidas: «Um homem lança a semente na terra (…); a semente germina e cresce (…). A terra produz o fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, finalmente, os grãos que enchem a espiga» (Mc 4,26-28). Refere-se, com estas palavras, ao Reino de Deus, que consiste na «santidade e graça, Verdade e Vida, justiça, amor e paz» (Prefácio da Solenidade de Cristo Rei), que Jesus Cristo nos veio trazer. Este Reino tem de ser uma realidade, em primeiro lugar dentro de cada um de nós; depois, no nosso mundo.

Pelo Batismo, Jesus semeou, na alma de cada cristão, a graça, a santidade, a Verdade… Temos de fazer crescer esta semente para que frutifique em abundância de boas obras: de serviço e caridade, de amabilidade e generosidade, de sacrifício para cumprir bem o nosso dever de cada dia e para fazer felizes aqueles que nos rodeiam, de oração constante, de perdão e compreensão, de esforço para crescer em virtudes, de alegria…

Assim, este Reino de Deus – que começa dentro de cada um – se estenderá a nossa família, a nossa cidade, a nossa sociedade, ao nosso mundo. Porque quem vive assim, «que faz senão preparar o caminho do Senhor (…), a fim de que nele penetre a força da graça, que o ilumine a luz da verdade, que faça retos os caminhos que conduzem a Deus?» (São Gregório Magno).

A semente começa pequena, como «um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes. Mas, depois de semeada, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças» (Mc 4,31-32). Porém, a força de Deus difunde-se e cresce com um vigor surpreendente. Como nos primeiros tempos do Cristianismo, Jesus pede-nos hoje que difundamos o seu Reino por todo o mundo.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* É bonito ver como Jesus, cada vez de novo, buscava na vida e nos acontecimentos elementos e imagens que pudessem ajudar o povo a perceber e experimentar a presença do Reino. No evangelho de hoje ele, novamente, conta duas pequenas histórias que acontecem todos os dias na vida de todos nós: “A história da semente que cresce sozinha” e “A história da pequena semente de mostarda que cresce e se torna grande”.

* A história da semente que cresce sozinha. O agricultor que planta conhece o processo: semente, fiozinho verde, folha, espiga, grão. Ele não mete a foice antes do tempo. Sabe esperar. Mas não sabe como a terra, a chuva, o sol e a semente têm esta força de fazer crescer uma planta do nada até a fruta. Assim é o Reino de Deus. Tem processo, tem etapas e prazos, tem crescimento. Vai acontecendo. Produz fruto no tempo marcado. Mas ninguém sabe explicar a sua força misteriosa. Ninguém é dono. Só Deus!

* A história da pequena semente de mostarda que cresce e se torna grande. A semente de mostarda é pequena, mas ela cresce e, no fim, os passarinhos vêm para fazer seu ninho nos ramos. Assim é o Reino. Começa bem pequeno, cresce e estende seus ramos para os passarinhos fazerem seus ninhos. Começou com Jesus e uns poucos discípulos e discípulas. Foi perseguido e caluniado, preso e crucificado. Mas cresceu e foi estendendo seus ramos. A parábola deixa uma pergunta no ar que vai ter resposta mais adiante no evangelho: Quem são os passarinhos? O texto sugere que se trata dos pagãos que vão poder entrar na comunidade e ter parte no Reino.

* O motivo que levava Jesus a ensinar por meio de parábolas. Jesus contava muitas parábolas. Tudo tirado da vida do povo! Assim ele ajudava as pessoas a descobrir as coisas de Deus no quotidiano. Tornava o quotidiano transparente. Pois o extraordinário de Deus se esconde nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. O povo entendia da vida. Nas parábolas recebia a chave para abri-la e encontrar dentro dela os sinais de Deus.

Para um confronto pessoal

1) Jesus não explica as parábolas. Ele conta as histórias e provoca em nós a imaginação e a reflexão da descoberta. O que você descobriu nestas duas parábolas?

2) Tornar a vida transparente é o objetivo das parábolas. Ao longo dos anos, sua vida ficou mais transparente ou aconteceu o contrário?