Comemoração dos Fiéis Defuntos da Ordem do Carmo
Sto Alberto Magno, Bispo e Doutor da Igreja
Salmo Responsorial:
127
R. Ditoso o que segue o caminho do
Senhor.
Feliz de ti
que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas
mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
Tua esposa
será como videira fecunda, no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos
de oliveira, ao redor da tua mesa. Assim será abençoado o homem que teme o
Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém todos os
dias da tua vida.
2ª Leitura (1Tes
5,1-6): Irmãos: Sobre o tempo e a ocasião,
não precisais que vos escreva, pois vós próprios sabeis perfeitamente que o dia
do Senhor vem como um ladrão noturno. E quando disserem: «Paz e segurança», é
então que subitamente cairá sobre eles a ruína, como as dores da mulher que
está para ser mãe, e não poderão escapar. Mas vós, irmãos, não andais nas
trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão, porque todos vós
sois filhos da luz e filhos do dia: nós não somos da noite nem das trevas. Por
isso, não durmamos como os outros, mas permaneçamos vigilantes e sóbrios.
Aleluia. Permanecei em
Mim e Eu permanecerei em vós, diz o Senhor. Quem permanece em Mim dá fruto
abundante. Aleluia.
Evangelho (Mt
25,14-30): Naquele tempo, Jesus disse aos
discípulos: «O Reino dos Céus é também como um homem que ia viajar para o
estrangeiro. Chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens: a um, cinco
talentos, a outro, dois e ao terceiro, um -a cada qual de acordo com sua
capacidade. Em seguida viajou. O servo que havia recebido cinco talentos saiu
logo, trabalhou com eles e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia
recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só, foi
cavar um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito
tempo, o senhor voltou e foi ajustar contas com os servos. Aquele que havia
recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: Senhor, tu me
entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei. O senhor lhe
disse: Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de
tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!
Chegou também o que havia recebido dois talentos e disse: Senhor, tu me
entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei. O senhor lhe disse:
Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão
pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor! Por
fim, chegou aquele que havia recebido um só talento, e disse: Senhor, sei que
és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ajuntas onde não semeaste.
Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te
pertence. O senhor lhe respondeu: Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu colho onde
não plantei e que ajunto onde não semeei. Então devias ter depositado meu
dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me
pertence. Em seguida, o senhor ordenou: Tirai dele o talento e dai àquele que
tem dez! Pois a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas
daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. E quanto a este servo
inútil, lançai-o fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!».
«A todo aquele que tem
será dado mais, e terá em abundância»
P. Antoni POU OSB Monge de
Montserrat (Montserrat, Barcelona, Espanha)
Deus, ao
dar-nos a vida, entregou-nos também umas possibilidades -maiores ou mais
pequenas- de desenvolvimento pessoal, ético e religioso. Não importa se cada um
tem muito ou pouco, o importante é que temos de fazer render o que recebemos. O
homem da nossa parábola, que esconde o seu talento por medo do seu senhor, não
soube arriscar: «Aquele que havia recebido um só, foi cavar um buraco na terra
e escondeu o dinheiro do seu senhor» (Mt 25,18). Talvez seja este o núcleo da
parábola: temos que ter a percepção de um Deus que nos faz sair de nós
próprios, que nos anima a viver a liberdade pelo Reino de Deus.
A palavra
talento desta parábola -que não é mais do que uma medida de peso que representa
30 kg de prata- fez tanto sucesso, que até já se emprega na linguagem popular
para designar as qualidades duma pessoa. Porém, a parábola não exclui que os
talentos que Deus nos deu não sejam somente as nossas possibilidades, mas
também as nossas limitações. O que somos e o que temos, esse é o material com
que Deus quer fazer de nós uma nova realidade.
A frase «a
todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não
tem, até o que tem lhe será tirado» (Mt 25,29), não é, naturalmente, uma máxima
para animar ao consumo, antes só se pode entender em relação ao amor e a
generosidade. Efetivamente, se correspondemos aos dons de Deus, confiando na
sua ajuda, então experimentaremos que Ele é que dá o incremento: «As histórias
de tantas pessoas simples, bondosas, a quem a fé fez boas, demonstram que a fé
produz efeitos muito positivos (...). E, pelo contrário, também temos de
constatar que a sociedade, com a evaporação da fé, se tornou mais dura... »
(Bento XVI).
Deus dá a cada um uns
talentos segundo a nossa capacidade: a um, cinco; a um segundo, dois; e ao
terceiro, um. Talentos materiais e naturais, talentos humanos e talentos espirituais.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Em primeiro
lugar, comentemos o que são os talentos. Se formos à ilha de Creta, no mar
Egeu, e visitarmos o palácio vermelho do rei Mino poderemos encontrar no museu
os talentos: uns bloques mais planos, mais ou menos quadrados ou lobulados, de
uns 45 centímetros de lado e peso de 26 a 36 quilos. Não são moedas de bolso,
mas pesos de pagamento e que, segundo tempos e culturas, foram de ouro, prata e
bronze. Um talento era um peso. Equivalia a 21.000 gramas de prata. Para
entender isto, se um denario equivalia a 4 gramas de prata, então um talento
equivalia a 6.000 denarios. Um trabalhador que quisesse ganhar somente um
talento, teria que trabalhar 6.000 dias, ou melhor dito, quase 20 anos! Se
fizermos os cálculos corretos, poderemos entender que o servo que recebeu cinco
talentos, na realidade, recebeu um salário de 100 anos, o que recebeu dois
recebeu o equivalente a um salário de 40 anos e que recebeu só um talento
estava recebendo o salário de 20 anos de trabalho.
Em segundo
lugar, o que temos que fazer com esses talentos espirituais, intelectuais,
profissionais, esportivos, culturais… que Deus generosamente nos deu
gratuitamente? No evangelho está a clave: negociar. Isto é, colocar o dinheiro
no banco, fazer préstimos com juros, investi-lo em valores. O dono elogiou os
dois criados que fizeram isto, e mandou para fora o que não fez. Agora o que
aconteceria com o que desperdiçasse a torto e a direito o talento, ou roubasse
o talento por negligencia? Não quero nem pensar nessa situação, pois já fico
arrepiado. Este evangelho advoga pelo sistema “capitalismo-cuidado aqui! -espiritual”.
O senhor da parábola é o Filho de Deus que, antes de partir para o seu destino
estrangeiro, que é o céu, nos deixou uma fortuna- a vida e uma pátria, a
família, a inteligência, a vontade, a afetividade, a sexualidade, os amigos, a
saúde, a fé, as virtudes teologais e cardeais, os sacramentos, o perdão, o
amor, a justiça, o matrimonio, o sacerdócio ou a vida religiosa, etc. E agora,
vamos negociar! E, se não, aprendamos da parábola que outros farão o que nós
deixarmos de fazer e se cumprirá o evangelho: passará a fortuna para outros
para que eles negociem e, o que não quis negociar, que se responsabilize das
consequências da sua preguiça, do seu esbanjo e da sua inconsciência e
superficialidade.
Finalmente,
uma coisa é o talento, a letra do evangelho e outra a música, que é o talante.
Jesus estava falando para os seus discípulos, mas estavam escutando os
fariseus. O fariseu era bem cumpridor: tinha 613 mandamentos e cumpria todos,
claro que cumpria! Ao pé da letra. Para talante imobilista, tinha o seu. Mas
Cristo pedia talante investidor, criativo, esforçado. E aqui vem a parte que
nos pede Cristo diante desses talentos: o nosso engenho para investir
honestamente no banco da vontade esses talentos que Ele nos deu gratuitamente e
com tanto amor e esperança. Negociar, empreender, comprometer-se. Arriscando
tudo. Sem medo do medo de colocar em jogo a salvação, que só se arrisca quando,
como condena Jesus no evangelho, a gente se anota como conservador, prudente e
seguro, vago e covarde. E assim, de um evangelho, que no primeiro golpe de
vista, parece capitalista, resulta que é um evangelho, não de talentos somente,
mas também de talantes.
Para
refletir: Estou fazendo render os talentos naturais e espirituais que Cristo me
deu? Vou ter que escutar Dele: “Servo mau e preguiçoso”? Ou escutarei, ao contrário:
“Parabéns, servo bom e fiel”?
Para rezar:
Senhor, obrigado pelos talentos que me destes, sem que eu os merecesse.
Perdoai-me se até hoje desperdicei, gastei mal ou enterrei algum destes
talentos. Dai-me vontade, engenho e responsabilidade para de agora em adiante
possa investir neles para vossa Glória, para o bem da humanidade e para minha
própria santificação.
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