São Carlos Borromeu, bispo
Salmo Responsorial: 26
R. O Senhor é a minha luz e a minha
salvação.
O Senhor é
minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é protetor da minha vida:
de quem hei de ter medo?
Uma coisa
peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da
minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e visitar o seu santuário.
Espero vir
a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor.
Aleluia. Felizes de
vós, se sois ultrajados pelo nome de Cristo, porque o Espírito de Deus repousa
sobre vós. Aleluia.
Evangelho (Lc
14,25-33): Grandes multidões acompanhavam Jesus.
Voltando-se, ele lhes disse: Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai
e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua
própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não
caminha após mim, não pode ser meu discípulo. De fato, se algum de vós quer
construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos, para ver se
tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não
será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a zombar: Este homem
começou a construir e não foi capaz de acabar! Ou ainda: um rei que sai à
guerra contra um outro não se senta primeiro e examina bem se com dez mil
homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê
que não pode, envia uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, para
negociar as condições de paz. Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se
não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!
«Quem não carrega sua
cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo»
Rev. D. Joan GUITERAS i Vilanova (Barcelona, Espanha)
Discípulo
significa seguidor. Seguir as pisadas do Mestre, ser como Ele, pensar como Ele,
viver como Ele... O discípulo convive com o Mestre e o acompanha. O Senhor
ensina com atos e com palavras. Viram claramente a atitude de Cristo entre o
Absoluto e o relativo. Ouviram muitas vezes da sua boca que Deus é o primeiro
valor da existência. Admiraram a relação entre Jesus e o Pai celestial. Viram a
dignidade e a confiança com que orava ao pai. Admiraram a sua pobreza radical.
Hoje o
Senhor fala-nos com termos claros. O autêntico discípulo há de amar com todo o
seu coração e toda a sua alma a nosso Senhor Jesus Cristo, por cima de todo o
vínculo, inclusive do mais íntimo: Se alguém vem a mim, mas não me prefere...
até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26-17). Ele ocupa o
primeiro lugar na vida do seguidor. Diz Santo Agostinho: Respondamos ao pai e à
mãe: Eu vos amo em Cristo, não no lugar de Cristo. O seguimento precede
inclusive ao amor pela própria vida. Seguir Jesus, ao fim e ao cabo, implica
abraçar a cruz. Sem cruz não há discípulo.
O
chamamento evangélico exorta à prudência, quer dizer, à virtude que dirige a
atuação adequada. Quem quer construir uma torre deve calcular se a poderá
terminar. O rei que tem que combater decide se vai à guerra ou pede a paz
depois de considerar o número de soldados de que dispõe. Quem quer ser
discípulo do Senhor tem que renunciar a todos os seus bens. A renúncia será a
melhor aposta!
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 14,25: Exemplo de catequese
O evangelho
de hoje é um exemplo bonito de como Lucas transforma as palavras de Jesus em
catequese para o povo das comunidades. Ele diz: “Grandes multidões acompanhavam
Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala para as grandes multidões, isto é,
fala para todos, para o povo das comunidades do tempo de Lucas e inclusive para
nós hoje. No ensinamento que segue, ele coloca as condições para alguém poder
ser discípulo de Jesus.
* Lucas 14,25-26: Primeira condição:
odiar pai e mãe
Alguns
diminuem a força da palavra odiar e traduzem “dar preferência a Jesus acima dos
pais”. O texto original usa a expressão “odiar os pais”. Em outro lugar Jesus
manda amar e honrar os pais (Lc 18,20). Como explicar esta contradição? Será
que é uma contradição? No tempo de Jesus a situação social e econômica levava
as famílias a se fechar sobre si mesmas e as impedia de cumprir a lei do
resgate (goel), isto é, de socorrer os irmãos e as irmãos da comunidade (clã)
que estavam ameaçados de perder sua terra ou de cair na escravidão (cf. Dt
15,1-18; Lev 25,23-43). Fechadas sobre si mesmas, as famílias enfraqueciam a
vida em comunidade. Jesus quer refazer a vida em comunidade. Por isso pede que
se rompa a visão estreita da pequena família que se fecha sobre si mesma e pede
para que as famílias se abram e se unam entre si na grande família, na
comunidade. Este é o sentido de odiar pai e mãe, mulher filhos, irmãos e irmãs.
Jesus mesmo, quando os parentes da sua pequena família queiram levá-lo da volta
para Nazaré, não atendeu ao pedido deles. Ignorou ou odiou o pedido deles e
alargou a família, dizendo: “Meu irmão, minha irmã, minha mãe é todos aquele
que faz a vontade do Pai” (Mc 3,20-21.31-35). Os vínculos familiares não podem
impedir a formação da Comunidade. Esta é a primeira condição.
* Lucas 14,27: Segunda condição:
carregar a cruz
“Quem não
carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. Para
entender bem o alcance desta segunda exigência devemos olhar o contexto em que
Lucas coloca esta palavra de Jesus. Jesus está indo para Jerusalém onde será
crucificado e morto. Seguir Jesus e carregar a cruz atrás dele significa ir com
ele até Jerusalém para ser crucificado com ele. Isto evoca a atitude das mulheres
que “haviam seguido a Jesus e servido a ele, desde quando ele estava na Galileia.
Muitas outras mulheres estavam aí, pois tinham subido com Jesus a Jerusalém”
(Mc 15,41). Evoca também a frase de Paulo na carta aos Gálatas: “Quanto a mim,
que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio
do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. Crucificado para o
mundo” (Gl 6,14)
* Lucas 14,28-32: Duas parábolas
As duas têm
o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem antes de tomar uma decisão. Na
primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês quer construir uma torre, será
que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o
suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz
de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: Esse homem
começou a construir e não foi capaz de acabar!” Esta parábola não precisa de
explicação. Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua maneira de
seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de tomar a
decisão de ser discípulo de Jesus.
A segunda
parábola: “Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai
sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o
outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia
mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está
longe”. Esta parábola tem o mesmo objetivo que a precedente. Alguns perguntam:
“Como é que Jesus foi usar um exemplo de guerra?” A pergunta é pertinente para
nós que conhecemos as guerras de hoje. Só a segunda guerra mundial (1939 a
1945) causou a morte de 54 milhões de pessoas! Naquele tempo, porém, as guerras
eram como a concorrência comercial entre as empresas de hoje que lutam entre si
para ter mais lucro.
* Lucas 14,33: Conclusão para o
discipulado
A conclusão
é uma só: ser cristão, seguir Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita gente, ser
cristão não é opção pessoal nem decisão de vida, mas um simples fenômeno
cultural. Não lhes passa pela cabeça de fazer uma opção. Quem nasce brasileiro
é brasileiro. Quem nasce japonês é japonês. Não precisa optar. Já nasce assim e
vai morrer assim. Muita gente é cristão porque nasceu assim e morre assim, sem
nunca ter tido a ideia de optar e de assumir o que já é por nascimento.
Para um confronto pessoal
1) Ser cristão é coisa séria. Devo calcular bem minha
maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na minha vida?
2) “Odiar os pais”; Comunidade ou família! Como você combina
as duas coisas? Consegue unir as duas em harmonia?
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