Salmo Responsorial: 94
R. Se hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações.
Vinde,
exultemos de alegria no Senhor, aclamemos a Deus, nosso Salvador. Vamos à sua
presença e demos graças, ao som de cânticos aclamemos o Senhor.
Vinde,
prostremo-nos em terra, adoremos o Senhor que nos criou. Pois Ele é o nosso
Deus e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
Quem dera
ouvísseis hoje a sua voz: «Não endureçais os vossos corações, como em Meriba,
no dia de Massa no deserto, onde vossos pais Me tentaram e provocaram, apesar
de terem visto as minhas obras».
2ª Leitura (Rom
13,8-10): Irmãos: Não devais a ninguém coisa
alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo,
cumpre a lei. De facto, os mandamentos que dizem: «Não cometerás adultério, não
matarás, não furtarás, não cobiçarás», e todos os outros mandamentos,
resumem-se nestas palavras: «Amarás ao próximo como a ti mesmo». A caridade não
faz mal ao próximo. A caridade é o pleno cumprimento da lei.
Aleluia. Em Cristo,
Deus reconcilia o mundo consigo e confiou-nos a palavra da reconciliação.
Aleluia.
Evangelho (Mt
18,15-20): «Se teu irmão pecar contra ti, vai
corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão. Se ele
não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, de modo que toda questão
seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Se ele não vos der
ouvido, dize-o à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se
fosse um pagão ou um publicano. Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na
terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no
céu. Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre
qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. Pois
onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles».
«Se teu irmão pecar
contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós!»
Prof. Dr. Mons. Lluís CLAVELL (Roma, Itália)
O versículo
final oferece-nos a chave para resolver os problemas que se apresentam na
Igreja ao longo da história: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome,
eu estou ali, no meio deles» (Mt, 18,20). Jesus está presente em todos os
períodos da vida da sua Igreja, seu “Corpo místico” animado pela ação
incessante do Espírito Santo. Somos sempre irmãos, quer a comunidade seja
grande, quer seja pequena.
«Se teu
irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás
ganho o teu irmão» (Mt, 18,15). Que bonita e leal é a relação de fraternidade
que Jesus nos ensina! Perante uma falta contra mim, ou contra outro, hei de
pedir ao Senhor a sua graça para perdoar, para compreender e, finalmente, para
tratar de corrigir o meu irmão.
Hoje não é
tão fácil como quando a Igreja era menos numerosa. Mas, se pensamos as coisas
em diálogo com o nosso Pai Deus, Ele nos iluminará para encontrar o tempo, o
lugar e as palavras oportunas para cumprir o nosso dever de ajudar. É
importante purificar o nosso coração. São Paulo anima-nos a corrigir o próximo
com retidão de intenção: «Irmãos, no caso de alguém ser surpreendido numa
falta, vós que sois espirituais, corrigi esse tal, em espírito de mansidão, mas
não descuides de ti mesmo, para não seres surpreendido, tu também, pela
tentação» (Gal 6,1).
O afeto
profundo e a humildade nos levarão a procurar a suavidade. «Fazei-o com mãos
maternais, com a infinita delicadeza das nossas mães, quando nos curavam as
feridas, grandes ou pequenas, provocadas pelas nossas brincadeiras e pelas
nossas quedas da infância» (São Josemaria). Assim nos corrige a Mãe de Jesus e
nossa Mãe com inspirações para amar mais a Deus e aos irmãos.
"Correção
fraterna: sinal de amor verdadeiro".
Postado por ✝
icatolica.
Em primeiro
lugar, a correção fraterna parece uma das constantes da pedagogia de Deus já no
Antigo Testamento. Quantas vezes Moises teve que corrigir, em nome de Deus,
esse povo de cabeça dura, e os mesmos profetas! Deus “bate” para aprendermos
(cf. Jr 2, 30; 5,3; Ez 6, 9), ou para purificar-nos (cf. Is 1, 24), ou para
expiar as nossas culpas (cf. Mi 7, 9). Feliz o homem que Deus corrige! (cf. Jó
5, 17). Deus a quem ama, repreende (cf. Dt 8, 5; Prov 3, 11). O mesmo Deus pede
para corrigir o próximo (cf. Lev 19, 17).
Em segundo
lugar, Jesus exercitou a correção fraterna com os seus apóstolos, com os chefes
religiosos e políticos do seu tempo, e com a turba. Jesus corrige os seus
discípulos, os seus horizontes raquíticos, humanos, ambiciosos. Jesus corrige a
hipocrisia dos chefes religiosos, e por querer manipular a Deus. Jesus corrige
os excessos, as injustiças e os abusos e a corrupção dos chefes políticos e
lhes diz que a autoridade é serviço e não domínio. Jesus corrige a inconstância
da turba, os seus caprichos, os seus interesses egoístas; muitos seguem Jesus
para arrancar Dele curas e pão, sem as devidas disposições de fé e confiança
Nele. Jesus corrige porque ama e porque quer a salvação de todos.
Finalmente,
também nós deveríamos colocar em prática esta correção fraterna. Amar o próximo
não é sempre sinônimo de calar ou deixar que siga pelos maus caminhos, se em
consciência estamos convencidos de que é este o caso. Amar o irmão não somente
é acolhê-lo ou ajudá-lo na sua necessidade ou aguentar as suas faltas; também,
às vezes, é saber dizer para ele uma palavra de admoestação e correção não para
que fique pior em nenhum dos seus caminhos. O que corre o perigo de se
extraviar, ou já se extraviou, não se pode deixar sozinho. Se o teu irmão peca,
não deixes de amá-lo: ajuda-o. Correção fraterna, primeiro na nossa família,
corrigindo o esposo ou a esposa, os filhos, os pontos objetivos que têm que
superar. Depois, entre os nossos amigos, se nos consta que caminham por maus
caminhos. Mais tarde, nos nossos trabalhos, se virmos que existe corrupção,
malversação de fundos ou enganos. O bispo ou o pároco devem exercer a sua guia
pastoral na diocese ou na paróquia, respectivamente. E logicamente também nos
nossos grupos e comunidades eclesiais e paroquiais, para que não nos corroam a
inveja, a murmuração e as ambições. “Quando alguém incorra em alguma falta,
vós, os espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão e cuida-te, porque tu
também podes ser tentado” (Gal 6, 1).
Para refletir
(1) Cristo está presente na sua Igreja; jamais
a deixará, “pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí,
no meio deles”.
Caríssimos, quantas vezes tal afirmação foi distorcida como se bastasse que uns
quatro gatos pingados se reunissem com a Bíblia e aí estaria Jesus. Nada disso!
O sentido é exatamente o contrário. Aqui, neste capítulo 18 de São Mateus,
Jesus está falando sobre a vida da Igreja, comunidade que ele fundou e entregou
aos apóstolos, tendo Pedro por chefe. Os dois ou três aos quais se refere o
Senhor são os líderes da Comunidade que vão decidir a questão do irmão que não
quer ouvir os outros e divide a Comunidade! O que a Igreja liga ou desliga na
terra – e são os pastores (os Bispos com o Papa) que têm, em última análise,
essa responsabilidade – o Senhor ratifica no céu: “Em verdade vos digo, tudo o
que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra,
será desligado no céu!” A autoridade que Cristo deu a Pedro de um modo todo
especial, deu-a, aos demais Bispos, os pastores autênticos da sua Igreja, em
comunhão com Pedro. Pois bem, onde dois ou três, como Igreja, estiverem
reunidos em nome do Senhor, ele estará ali, ratificando suas decisões. Que
fique claro: não se pode agradar a Cristo, ser-lhe fiel, rompendo com a sua
Igreja! Ela, por mais que seja frágil por causa da nossa fragilidade, é a
Comunidade que o Senhor reuniu, sustenta e na qual se faz presente atuante!
(2) Essa Igreja é uma Comunidade de amor. O amor cristão não é simplesmente
amizade ou simpatia humana, mas o fruto da presença do próprio Espírito de
Amor, o Espírito Santo em nós: “O amor de Deus foi derramado nos nossos
corações pelo Espírito que nos foi dado!” (Rm 5,5) É desse amor que fala São
Paulo no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios; é esse amor que “cobre
uma multidão de pecados” (Tg 5,20), é esse amor que é “a plenitude da Lei”. Só
ama assim quem se abre para o amor de Cristo, deixando-se guiar e impregnar
pelo seu Espírito de amor! Ora, caríssimos, a Igreja deve ser o ambiente
impregnado desse amor, mais forte que nossas diferenças de temperamento, de opiniões,
de modo de agir… Onde está o amor, a caridade, Deus aí está; onde o amor reina,
o Reino de Deus está presente neste mundo! A Igreja deve ser o lugar do amor,
lugar do Reino!
(3) Essa Comunidade de amor é
Comunidade de compromisso, de responsabilidade no seguimento de Cristo. Por isso, não se pode usar o amor
para acobertar a covardia, a tibieza, a frieza para com o Senhor e os irmãos e
os desmandos na Comunidade! O amor é exigente: “O amor de Cristo nos impele”
(cf. 2Cor 5,14). A infidelidade ao amor a Cristo e aos irmãos é, precisamente,
o pecado, que gera a divisão, a desunião, que faz sangrar a Igreja. Por isso
Jesus nos exorta à correção fraterna, desde aquela simples, feita entre irmãos,
até a correção formal e mais solene, feita pelo Bispo ou até mesmo pelo Papa,
como Chefe Supremo da Igreja de Cristo neste mundo: “Se o teu irmão pecar
contra ti, vai corrigi-lo; se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas
pessoas; se ele não der ouvido, dize-o à Igreja”. Muitas vezes, vê-se confundir
amor e misericórdia com a covardia ou o comodismo de não corrigir. Ora,
caríssimos, a correção é um modo de amar, é um modo de preocupar-se com o outro
e com a Comunidade que é ferida pelo pecado e o mau exemplo. A correção pode
salvar o irmão. Quantos escândalos nas nossas Comunidades poderiam ter sido
evitados se houvera a correção no momento oportuno e do modo discreto e sincero
que Jesus nos recomenda. Isso vale para a Igreja menorzinha, que é nossa
família doméstica, vale para o grupo do qual participamos, vale para a
paróquia, a diocese e a Igreja universal (não a “do Reino de Deus”, mas a de
Cristo!), espalhada por toda a terra. A omissão em corrigir é covardia, é falta
de amor à Comunidade que é a Igreja, é pecado de omissão e desatenção pelo
irmão. Certamente, tal correção deverá ser feita sempre com amor, com
discernimento, com caridade fraterna. São Bento, na sua Regra, dá um preceito
encantador: “In tribulationem subvenire” – poderíamos traduzir assim: “socorrer
na tribulação”. Mas, a palavra latina é subvenire: vir por baixo, vir de baixo.
Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por baixo
para sustentar, amparar e ajudar, para salvar; não vem com a soberba de quem
está por cima para massacrar! Corrigir, sim, mas como Deus, que em Jesus, veio
por baixo, na pobreza do presépio e na humilhação da cruz! Aí a correção terá
mais chance de surtir efeito!
(4) Na Comunidade de amor às vezes
pode ser necessária a punição.
Pode ser que não surta efeito a correção fraterna; pode ser que aquele que é
corrigido teime na sua dureza de propósito e repouse no erro. Jesus mesmo prevê
tal possibilidade no Evangelho de hoje. E, então, o próprio Senhor exorta a que
tal irmão seja punido. Que escândalo para a nossa mentalidade atual! O pobre do
Papa Bento XVI, antigo Cardeal Ratzinger, sabe o quanto foi difamado porque
teve que impor penalidades a teólogos ou outros irmãos que, após a correção,
não se emendaram! A nossa tendência é somente recordar do Senhor as palavras
que agradam! No entanto, a punição na Igreja não é pela vingança ou o desafogo,
mas deverá ser sempre medicinal, isto é, para produzir o arrependimento e a
correção, restabelecendo a paz na Comunidade e a salvação do irmão. Que os pais
tenha a coragem de corrigir, os Bispos e o Santo Padre também. Aliás, de João
Paulo II e Bento XVI, sabemos que a têm, graças a Deus!
(5) Qual o fruto de uma comunidade assim? A saúde fraterna: a alegria
de viver como irmãos: “Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão!” Oh, que
palavra tão doce: ganhar o irmão! Eis aqui o motivo último da correção
fraterna! Pensemos bem, caríssimos: a Igreja não é um clube de amigos, mas uma
família de irmãos em Cristo! É o amor do Senhor Jesus Cristo que nos une. A
alegria da comunhão fraterna somente será experimentada na sinceridade das
nossas relações. Correção, sim; crítica destrutiva, murmuração, difamação, não!
Neste sentido, todos nós precisamos fazer um sério exame de consciência, seja
em nível de família, como naquele de grupos e paróquias e, até mesmo, de
Diocese!
São esses
os aspectos que a Palavra de Deus nos põe hoje. Recordemos a exortação do
Senhor pela boca de Ezequiel: se não corrigirmos o irmão e ele morrer no seu
pecado, a culpa é nossa; se ele se corrigir, ganhamos o irmão: viveremos nós e
viverá ele – eis a marca do Reino de Deus neste mundo! Que ele aconteça em
nossas comunidades! Amém.
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