Salmo Responsorial: 87
R. Senhor, chegue até Vós a minha
súplica.
A Vós
clamo, Senhor, todo o dia, estendo para Vós as minhas mãos. Fareis Vós
maravilhas entre os mortos? Irão levantar-se os defuntos para Vos louvar?
Haverá no
sepulcro quem fale da vossa bondade ou da vossa fidelidade no reino dos mortos?
Serão conhecidas nas trevas as vossas maravilhas, na terra do esquecimento a
vossa justiça?
Eu, porém,
clamo por Vós, Senhor, de manhã a minha oração sobe à vossa presença. Porque me
afastais de Vós, Senhor, porque escondeis de mim o vosso rosto?
Aleluia. Considero
todas as coisas como prejuízo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar.
Aleluia.
Evangelho (Lc
9,57-62): Enquanto estavam a caminho, alguém
disse a Jesus: «Eu te seguirei aonde quer que tu vás». Jesus respondeu: «As
raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem
onde reclinar a cabeça». Então disse a outro: «Segue-me». Este respondeu:
«Permite-me primeiro ir enterrar meu pai». Jesus respondeu: «Deixa que os
mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai e anuncia o Reino de Deus». Um
outro ainda lhe disse: «Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro
despedir-me dos de minha casa». Jesus, porém, respondeu-lhe: «Quem põe a mão no
arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus».
«Segue-me»
Frei Lluc TORCAL Monge do Monastério de Sta. Mª de
Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
A vida
cristã é este seguimento radical de Jesus. Radical, não só porque em toda a sua
duração quere estar debaixo da guia do Evangelho (porque compreende, portanto,
todo o tempo da nossa vida), mas sim -sobretudo- porque todos os seus aspectos
-desde os mais extraordinários até aos mais ordinários- querem ser e hão de ser
manifestação do Espírito Santo de Jesus Cristo que nos anima. Efetivamente,
desde o Batismo, a nossa já não é a vida de uma pessoa qualquer: levamos a vida
de Cristo inserida em nós! Pelo Espírito Santo derramado nos nossos corações,
já não somos nós que vivemos, senão que é Cristo que vive em nós. Assim é a
vida do cristão, é vida cheia de Cristo, ressume Cristo desde as suas raízes
mais profundas: esta é a vida somos chamados a viver.
O Senhor,
quando veio ao mundo, ainda que «todo o gênero humano tinha o seu lugar, Ele
não o teve: não encontrou lugar no meio dos homens (...), só numa manjedoura,
no meio do gado e dos animais, e ao lado das pessoas mais simples e inocentes.
Por isso disse: As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o
Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça» (São Jerônimo). O Senhor
encontrará sitio no meio de nós se como João Batista, deixamos que Ele cresça e
que nós diminuamos, quer dizer, se deixamos crescer a Aquele que já vive em nós
sendo dúcteis e dóceis ao seu Espírito, a fonte de toda humildade e inocência.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 9,56-58: O primeiro dos três
novos discípulos
“Enquanto
iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: "Eu te seguirei para onde
quer que fores." Mas Jesus lhe respondeu: "As raposas têm tocas e os
pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça."
A esta primeira pessoa que quer ser discípulo, Jesus pede o despojamento total
de tudo: não ter onde reclinar a cabeça, nem buscar uma falsa segurança onde
reclinar o pensamento da cabeça.
* Lucas 9,59-60: O segundo dos três
novos discípulos
“Jesus
disse a outro: Siga-me. Esse respondeu: Deixa primeiro que eu vá sepultar meu
pai." Jesus respondeu: Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos;
mas você, vá anunciar o Reino de Deus." A esta segunda pessoa chamada por
Jesus para segui-lo, Jesus pede para deixar que os mortos enterrem seus mortos.
Trata-se de um provérbio popular usado para dizer: deixe para lá as coisas do
passado. Não perca tempo com o que já passou e olhe para a frente. Depois de
ter descoberto a vida nova em Jesus, o discípulo não deve perder tempo com o
que já passou.
* Lucas 9,61-62: O terceiro dos três
novos discípulos
“Outro
ainda lhe disse: Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me
despedir do pessoal de minha casa. Mas Jesus lhe respondeu: Quem põe a mão no
arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus". A esta terceira
pessoa chamada para ser discípulo, Jesus pede para romper com os laços
familiares. Em outra ocasião ele tinha dito: “Quem ama seu pai e sua mãe mais
do que a mim, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26; Mt 10,37). Jesus é mais
exigente que o profeta Elias que permitiu que Eliseu despedir-se dos seus pais
(1Rs 19,19-21). Significa também romper com os laços nacionalistas da raça e
com a estrutura da família patriarcal.
* São três exigências fundamentais
apresentadas como condição para alguém poder ser discípulo ou discípula de
Jesus: (1) abandonar os bens materiais, (2) não
se agarrar aos bens pessoais vividos e acumulados no passado, e (3) romper com os laços familiares. Na realidade,
ninguém, nem mesmo querendo, pode romper com os laços familiares, nem com as
coisas vividas no passado. O que se exige é saber reintegrar tudo (bens
materiais, vida pessoal e vida familiar) de maneira nova em torno do novo eixo
que é Jesus e a Boa Nova de Deus que ele nos trouxe.
* Jesus, ele mesmo, viveu e realizou
o que pedia dos seus seguidores e seguidoras. Com a sua decisão de subir para
Jerusalém Jesus revela qual é o seu projeto. A sua viagem a Jerusalém (Lc 9,51
a 19,27) é apresentada como assunção (Lc 9,51), êxodo (Lc 9,31) ou travessia
(Lc 17,11). Chegando em Jerusalém, ele realiza o êxodo, a assunção ou a
travessia definitiva deste mundo para o Pai (Jo 13,1). Só uma pessoa
verdadeiramente livre poderia realizá-lo, pois um tal êxodo supõe a entrega
radical da própria vida pelo irmãos (Lc 23,44-46; 24,51). Este é o êxodo, a
travessia, a assunção que as comunidades devem realizar para levar adiante o
projeto de Jesus.
Para um confronto pessoal
1) Compare cada uma das três exigências com a sua própria
vida?
2) Quais os problemas que apareceram em sua vida como consequência
da decisão que tomou de seguir Jesus?
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