Salmo Responsorial: 27
R. Espero contemplar a bondade do
Senhor na terra dos vivos.
Ouvi,
Senhor, a voz da minha súplica, tende compaixão de mim e atendei-me. Diz-me o
coração: «Procurai a sua face». A vossa face, Senhor, eu procuro.
Não
escondais de mim o vosso rosto, nem afasteis com ira o vosso servo. Não me
rejeiteis nem me abandoneis, meu Deus e meu Salvador.
Espero vir
a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê
forte. Tem coragem e confia no Senhor.
Aleluia. Está próximo
o reino de Deus: arrependei-vos e acreditai no Evangelho. Aleluia.
Evangelho (Lc 10,1-12):
Naquele tempo, O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a
dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir. E
dizia-lhes: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois,
ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita. Eis que vos
envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem
sandálias, e não vos demoreis para saudar ninguém pelo caminho! Em qualquer
casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa! Se ali morar um
amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, ela retornará a vós.
Permanecei naquela mesma casa; comei e bebei do que tiverem, porque o
trabalhador tem direito a seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando
entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai
os doentes que nela houver e dizei: O Reino de Deus está próximo de vós. Mas
quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas,
dizei: Até a poeira de vossa cidade que se grudou aos nossos pés, sacudimos
contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo! Eu vos digo:
naquele dia, Sodoma receberá sentença menos dura do que aquela cidade».
«Pedi (...) ao Senhor
da colheita que mande trabalhadores para sua colheita»
Rev. D. Ignasi NAVARRI i Benet (La Seu d'Urgell, Lleida, Espanha)
«A colheita
é grande, mas os trabalhadores são poucos» (Lc 10,2): É interessante esse
sentido positivo da missão, pois o texto não diz: «Há muito para semear e
poucos trabalhadores». Tal vez, hoje teríamos que falar desse jeito, pelo
grande desconhecimento de Jesus Cristo e sua Igreja em nossa sociedade. Um
olhar esperançado da missão gera otimismo e ilusão. Não nos deixemos abater
pela desilusão e a desesperança.
No início,
a missão que nos espera é, ao mesmo tempo, apaixonante e difícil. O anúncio da
Verdade e da Vida, nossa missão, não pode nem deve pretender forçar a adesão,
pelo contrário, deve suscitar uma livre adesão. As ideias, devem se propor e
não impor, nos lembra o Papa.
«Não leveis
bolsa, nem sacola, nem sandálias...» (Lc 10,4): a única força do missionário
deve ser Cristo. E para que ele encha sua vida, é preciso que o evangelizador
se esvazie de tudo aquilo que não é Cristo. A pobreza evangélica é um requisito
importante e, ao mesmo tempo, o testemunho mais crível que o apóstolo pode dar,
além de que só esse desprendimento nos fará livres.
O
missionário anuncia a paz. É portador de paz, porque leva a Cristo, o Príncipe
da Paz. Por isso, «Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz
esteja nesta casa! Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre
ele; senão, ela retornará a vós» (Lc 10,5-6). Nosso mundo, nossas famílias,
nosso Eu pessoal, têm necessidade de Paz. Nossa missão é urgente e apaixonante.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
Na verdade,
acontece que, por vezes, o mensageiro não é aceito (9,52 e, portanto, deve
aprender a ser "entregue", sem se deixar desanimar pela recusa dos
homens (9,54-55).
Três cenas
curtas fazem o leitor a compreender o que significa seguir a Jesus que vai a
Jerusalém para ser retirado do mundo. Na primeira cena é apresentado a um homem
que quer seguir Jesus onde quer que vá; Jesus convida-o a abandonar tudo o que
proporciona bem-estar e segurança. Aqueles que querem segui-lo devem
compartilhar o seu destino de nômade.
Na segunda
cena é Jesus quem toma a iniciativa e chama um homem cujo pai acabou de morrer.
O homem pede um tempo para cumprir com o seu dever de enterrar o pai. A
urgência de proclamar o reino supera esse dever: a preocupação de enterrar os
mortos é inútil, porque Jesus vai além das portas da morte e o exige inclusive
para aqueles que o seguem.
Finalmente
na terceira cena é apresentado a um homem que se oferece para seguir Jesus, mas
apresenta uma condição: despedir-se antes de seus pais. Entrar no reino não
admite atrasos. Após esta tríplice renúncia, a expressão de Lc 9,62: "Quem
põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus," introduz o tema do capítulo 10.
• A dinâmica do
relato. O trecho, que é o objeto
de nossa meditação, começa com expressões bastante densas. A primeira:
"Depois disto”, se refere à oração de Jesus e à sua firme decisão de ir a
Jerusalém. A segunda relaciona-se com o verbo "designar": "designou
setenta e dois outros discípulos e mandou-os ..." (10,1), onde se
especifica que os mandou adiante de si, ou seja, com a mesma resolução que ele
se encaminha para Jerusalém.
As
recomendações, que Jesus lhes dá antes do envio, são um convite para estar
cientes da realidade em que eles são enviados: colheita abundante em contraste
com o pequeno número de operários. O Senhor da colheita chega com toda a sua
força, mas a alegria desta chegada é dificultada pelo pequeno número de
operários. Daí o convite categórico à oração: "Rogai ao Senhor da messe
que mande operários para a sua messe" (v. 2). A iniciativa de enviar em
missão é de responsabilidade do Pai, mas Jesus transmite a ordem:
"Ide", e, em seguida, indica como seguir (vv. 4-11). Ela começa com o
equipamento: sem bolsa, nem alforje, nem sandálias. Estes elementos denotam a
fragilidade daquele que é enviado e a sua dependência da ajuda que recebe do
Senhor e dos habitantes da cidade.
As
prescrições positivas são sintetizadas em primeiro lugar na chegada à casa (vv.
5-7) e, em seguida, no êxito na cidade (vv. 8-11). Em ambos os casos não se exclui
a rejeição. A casa é o primeiro lugar onde os missionários tem os primeiros
intercâmbios, os primeiros relacionamentos, valorizando os gestos humanos de
comer, beber e descansar, como mediações simples e comuns para comunicar o
evangelho. A “paz" é o dom que precede a missão deles, ou seja, a
plenitude da vida e relacionamentos, e a alegria verdadeira e real é o sinal
que marca a chegada do Reino. Não é necessário buscar conforto, é essencial ser
acolhido. A cidade torna-se, no entanto, o maior campo de missão: ali se
desenvolve a vida, a atividade política, a possibilidade de conversão, de
aceitação ou rejeição.
A este
último aspecto se une o ato de sacudir a poeira (vv. 10-11), como que se os
discípulos, ao abandonar a cidade que os rejeitou, dissessem aos moradores que
estes não aprenderam nada ou ainda poderia expressar o corte de relações.
Finalmente, Jesus lembra a culpa daquela cidade que se fecha para a proclamação
do evangelho (v. 12).
Para um confronto pessoal
1) Todos os dias, você é enviado pelo Senhor para
anunciar o Evangelho aos seus íntimos (a casa) e aos homens (da cidade). Você
está assumindo um estilo pobre, essencial, no testemunho de sua identidade como
um cristão?
2) Você está ciente de que o sucesso de seu testemunho
não depende de sua capacidade individual, mas somente do Senhor que envia e da
sua disponibilidade?
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