domingo, 16 de agosto de 2020

Terça-feira da 20ª semana do Tempo Comum

 Btos. João Baptista Duverneil, Miguel Luís Brulard e Tiago Gagnot, Presbíteros e mártires de nossa Ordem

1ª Leitura (Ez 28,1-10): O Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo: «Filho do homem, diz ao soberano de Tiro: Assim fala o Senhor Deus: O teu coração encheu-se de orgulho e dizes: ‘Eu sou um deus, estou sentado em trono divino no meio dos mares’. Mas tu que és um homem e não Deus, alimentas em teu coração pretensões divinas! És então mais sábio que Daniel e nenhum segredo é obscuro para ti! Pela tua habilidade e inteligência, adquiriste grandes riquezas e acumulaste ouro e prata nos teus tesouros. Tão grande é a tua habilidade no comércio que multiplicaste a tua fortuna e com ela se encheu de orgulho o teu coração. Por isso, assim fala o Senhor Deus: Porque alimentas em teu coração pretensões divinas, vou fazer que venham estrangeiros contra ti, os mais ferozes de entre os povos. Eles brandirão a espada contra a tua fina habilidade e profanarão o teu esplendor. Far-te-ão descer à cova e morrerás de morte violenta, no meio dos mares. Ainda irás dizer na presença dos teus executores: ‘Eu sou um deus’? Mas tu és um homem e não um deus, nas mãos daqueles que vão matar-te. Terás a morte dos infiéis às mãos dos estrangeiros, porque Eu falei» – diz o Senhor Deus.

Salmo Responsorial:

R. Eu sou o Senhor da morte e da vida.

O Senhor disse: «Vou reduzi-los ao pó da terra e apagar a sua memória de entre os homens. Mas temi a arrogância do inimigo, o desprezo dos seus adversários.

Porque diriam: ‘Triunfou o nosso poder, à nossa força não resiste o seu Deus’; porque são um povo de insensatos, neles não há discernimento.

Como poderia um só homem perseguir mil e dois pôr em fuga dez mil, se o seu Protetor os não tivesse abandonado, se o Senhor não os entregasse às suas mãos?»

Está próximo o dia da ruína, iminente o seu destino, porque o Senhor defenderá o seu povo, terá piedade dos seus servos.

Aleluia. Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza. Aleluia.

Evangelho (Mt 19,23-30): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Em verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus. E digo ainda: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus». Ouvindo isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: «Quem, pois, poderá salvar-se?». Jesus olhou bem para eles e disse: «Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível». Em seguida, Pedro tomou a palavra e disse-lhe: «Olha! Nós deixamos tudo e te seguimos. Que haveremos de receber?». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo, quando o mundo for renovado e o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes, havereis de sentar-vos em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna. Ora, muitos que são primeiros serão últimos, e muitos que são últimos serão primeiros».

«Dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus (...) Quem, pois, poderá salvar-se?»

Rev. D. Fernando PERALES i Madueño (Terrassa, Barcelona, Espanha)

Hoje, contemplamos a reação que suscitou entre os ouvintes o diálogo do jovem rico com Jesus: «Quem, pois, poderá salvar-se?» (Mt 19,25). As palavras do Senhor dirigidas ao jovem rico são manifestamente duras, pretendem surpreender, despertar as nossas sonolências. Não se tratam de palavras isoladas, acidentais no Evangelho: repete vinte vezes este tipo de mensagem. Devemos recordá-lo: Jesus adverte contra os obstáculos que implicam as riquezas, para entrar na vida...

E, no entanto, Jesus amou e chamou homens ricos, sem lhes exigir que abandonassem as suas responsabilidades. A riqueza em si mesma não é má, a não ser que a sua origem tenha sido adquirida de forma injusta, ou o seu destino, que se utilize de forma egoísta sem ter em conta os mais desfavorecidos, se fecha o coração aos verdadeiros valores espirituais (onde não há necessidade de Deus).

«Quem, pois, poderá salvar-se?». Jesus responde: «Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível». (Mt 19,26). «Senhor, tu conheces bem as habilidades dos homens para atenuar a tua Palavra. Tenho que o dizer, Senhor ajuda-me! Converte o meu coração».

Depois do jovem rico ter ido embora, entristecido pelo seu apego às suas riquezas, Pedro tomou a palavra e disse: «Concede, Senhor, à tua Igreja, aos teus Apóstolos que sejam capazes de deixar tudo por Ti».

«Quando o mundo for renovado e o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória?» (Mt 19,28). O Teu pensamento dirige-se para esse “dia”, até esse futuro. Tu és um homem com tendência para o fim do mundo, para a plenitude do homem. Nesse tempo, Senhor, tudo será novo, renovado, belo.

Jesus Cristo diz-nos: «Vós que deixastes tudo pelo Reino, vos sentareis com o Filho do Homem... Recebereis cem vezes mais do que tiveres deixado... E herdareis a vida eterna...» (cf. Mt 19,28-29).

O futuro que Tu prometes aos teus, aos que te seguiram renunciando a todos os obstáculos... É um futuro feliz, é a abundância da vida, é a plenitude divina.

«Obrigado, Senhor. Conduz-me até esse dia!».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje é a continuação imediata do evangelho de ontem. Traz o comentário de Jesus a respeito da reação negativa do jovem rico.

* Mateus 19,23-24: O camelo e o fundo da agulha.

Depois que o jovem foi embora, Jesus comentou a decisão dele e disse: "Eu garanto a vocês: um rico dificilmente entrará no Reino do Céu. E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus". Duas observações a respeito desta afirmação de Jesus: 1) O provérbio do camelo e do buraco da agulha se usava para dizer que uma coisa era impossível e inviável, humanamente falando. 2) A expressão “um rico entrar no Reino” trata, não em primeiro lugar da entrada no céu depois da morte, mas sim da entrada na comunidade ao redor de Jesus. E até hoje é assim. Os ricos dificilmente entram e se sentem em casa nas comunidades que tentam viver o evangelho de acordo com as exigências de Jesus e que procuram abrir-se para os pobres, os migrantes e os excluídos da sociedade.

* Mateus 19,25-26: O espanto dos discípulos

O jovem tinha observado os mandamentos, mas sem entender o porquê da observância. Algo semelhante estava acontecendo com os discípulos. Quando Jesus os chamou, fizeram exatamente o que Jesus tinha pedido ao jovem: largaram tudo e foram atrás de Jesus (Mt 4, 20.22). Mesmo assim, ficaram espantados com a afirmação de Jesus sobre a quase impossibilidade de um rico entrar no Reino de Deus. Sinal de que não tinham entendido bem a resposta de Jesus ao moço rico: “Vai vende tudo, dá para os pobres e vem e segue-me!” Pois, se o tivessem entendido, não teriam ficado tão chocados com a exigência de Jesus. Quando a riqueza ou o desejo da riqueza ocupa o coração e o olhar, a pessoa já não consegue perceber o sentido da vida e do evangelho. Só Deus mesmo para ajudar! "Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível."

* Mateus 19,27: A pergunta de Pedro.

O pano de fundo da incompreensão dos discípulos transparece na pergunta de Pedro: “Olhe, nós deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos receber?” Apesar da generosidade tão bonita do abandono de tudo, eles mantinham a mentalidade anterior. Abandonaram tudo para receber algo em troca. Ainda não entendiam bem o sentido do serviço e da gratuidade.

* Mateus 19,28-30: A resposta de Jesus

"Eu garanto a vocês: no mundo novo, quando o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, vocês, que me seguiram, também se sentarão em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e terá como herança a vida eterna. Muitos que agora são os primeiros, serão os últimos; e muitos que agora são os últimos, serão os primeiros".  Nesta resposta, Jesus descreve o mundo novo, cujos fundamentos estavam sendo lançados pelo trabalho dele e dos discípulos. Jesus acentua três pontos importantes:

(1) Os discípulos vão sentar nos doze tronos junto com Jesus para julgar as doze tribos de Israel (cf. Ap 4,4).

(2) Vão receber em troca muitas vezes aquilo que tinham abandonado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, e terão a herança da vida eterna garantida.

(3) O mundo futuro será a inversão do mundo atual. Nele os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. A comunidade ao redor de Jesus é semente e amostra deste mundo novo. Até hoje as pequenas comunidades dos pobres continuam sendo semente e amostra do Reino.

* Cada vez que, na história do povo da Bíblia, surge um movimento para renovar a Aliança, ele começa restabelecendo os direitos dos pobres, dos excluídos. Sem isto, a Aliança não se refaz! Assim faziam os profetas, assim faz Jesus. Ele denuncia o sistema antigo que, em nome de Deus, excluía os pobres. Jesus anuncia um novo começo que, em nome de Deus, acolhe os excluídos. Este é o sentido e o motivo da inserção e da missão da comunidade de Jesus no meio dos pobres. Ela atinge a raiz e inaugura a Nova Aliança.

Para um confronto pessoal

1) Abandonar casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, por causa do nome de Jesus.  Como isto acontece na sua vida? O que já recebeu de volta?

2) Hoje, a maioria dos países pobres não é da religião cristã, enquanto a maioria dos países ricos é da religião cristã. Como se aplica hoje o provérbio do camelo que não passa pelo fundo de uma agulha?

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