domingo, 5 de julho de 2020

Terça-feira da 14ª semana do Tempo Comum


1ª Leitura (Os 8,4-7.11.13): Eis o que diz o Senhor: «Os filhos de Israel nomearam reis sem o meu consentimento, escolheram chefes sem Me terem consultado. Com a prata e o ouro que possuíam, fabricaram ídolos para sua perdição. – Considero abominável, ó Samaria, o bezerro que adoras! – Contra eles se inflamou a minha ira: até quando serão incapazes de se purificarem? Aquele ídolo provém de Israel; foi um artífice que o fez, ele não é Deus! Mas o bezerro de Samaria será feito em pedaços: já que semeiam ventos, colhem tempestades. Caule sem espiga não produz farinha; e ainda que a produzisse, os estrangeiros a comeriam. Efraim levantou muitos altares, mas só lhe serviram para pecar ainda mais. Se Eu lhe puser por escrito mil preceitos da minha lei, serão considerados como obra de um estranho. Eles oferecem sacrifícios e comem a carne imolada, mas o Senhor não os aceitará. O Senhor recordará o seu pecado e castigará as suas faltas e eles terão de voltar para o Egito».

Salmo Responsorial: 113
R. A casa de Israel confia no Senhor.

O nosso Deus está no céu, faz tudo o que Lhe apraz. Os ídolos dos gentios são ouro e prata, são obra das mãos do homem.

Têm boca e não falam, têm olhos e não veem. Têm ouvidos e não ouvem, têm nariz mas sem olfato.

Têm mãos e não palpam, têm pés e não andam. Serão como eles os que os fazem e quantos neles põem a sua confiança.

A casa de Israel confia no Senhor, Ele é o seu auxílio e o seu escudo. A casa de Aarão confia no Senhor, Ele é o seu auxílio e o seu escudo.

Aleluia. Eu sou o bom pastor, diz o Senhor; conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me. Aleluia.

Evangelho (Mt 9,32-38): Naquele tempo as pessoas trouxeram a Jesus um possesso mudo. Expulso o demônio, o mudo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e diziam: «Nunca se viu coisa igual em Israel». Os fariseus, porém, diziam: «É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios». Jesus começou a percorrer todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e curando todo tipo de doença e de enfermidade. Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!».

«Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!»

Rev. D. Joan SOLÀ i Triadú (Girona, Espanha)

Hoje, o Evangelho nos fala da cura de um endemoninhado mudo, que provoca diferentes reações nos fariseus e na multidão. Enquanto os fariseus, ante a evidência de um prodígio inegável, atribuem isso a poderes demoníacos - «É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios» (Mt 9,34), a multidão fica maravilhada: «Nunca se viu coisa igual em Israel» (Mt 9,33). São João Crisóstomo, comentando essa passagem, diz: «O que verdadeiramente incomodava aos fariseus era que consideravam Jesus superior a todos, não somente aos que existiam então, mas a todos os que haviam existido anteriormente».

Jesus não se abala ante a aversão dos fariseus, Ele continua fiel à sua missão. Na verdade, Jesus, ante a evidência de que os guias de Israel, ao invés de guiar e instruir o rebanho, o estavam afastando do bom caminho, apiedou-se daquela multidão cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. Que as multidões desejam e agradeçam uma boa orientação ficou comprovado nas visitas pastorais do São João Paulo II a tantos países do mundo. Quantas multidões reunidas em volta dele! Como escutavam sua palavra, sobretudo os jovens! E o Papa não rebaixava o Evangelho, mas o pregava com todas as suas exigências.

Todos nós, «se fôssemos consequentes com a nossa fé - nos diz São Josémaria Escrivã - se olhássemos à nossa volta e contemplássemos o espetáculo da História e do Mundo, não poderíamos senão deixar crescer nos nossos corações os mesmos sentimentos que animaram os de Jesus Cristo», o que nos conduziria a uma generosa tarefa apostólica. Mas é evidente a desproporção que existe entre o grande número de pessoas que esperam a pregação da Boa Nova e a escassez de operários. A solução Jesus nos dá ao final do Evangelho: Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita! (cf. Mt 9,38).

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) a cura de um endemoninhado mudo (Mt 9,32-34) e (2) um resumo das atividades de Jesus (Mt 9,35-38). Estes dois episódios encerram a parte narrativa dos capítulos 8 e 9 do evangelho de Mateus na qual o evangelista procura mostrar como Jesus praticava os ensinamentos dados no Sermão da Montanha (Mt 5 a 7). No capítulo 10, cuja meditação começa no evangelho de amanhã, veremos o segundo grande discurso de Jesus: o Sermão da Missão (Mt 10,1-42).

* Mateus 9,32-33a: A cura de um mudo.
Num único versículo, Mateus descreve como trouxeram um endemoninhado mudo até Jesus, como Jesus expulsou o demônio e como o mudo começou a falar de novo. O que impressiona na atitude de Jesus, aqui e em todos os quatro evangelhos, é o cuidado e o carinho com as pessoas doentes. As doenças eram muitas, e a previdência social, inexistente. As doenças não eram só as deficiências corporais: mudez, surdez, paralisia, lepra, cegueira e tantos outros males. No fundo, estas doenças eram apenas a manifestação de um mal muito mais amplo e mais profundo que arruinava a saúde do povo, a saber, o total abandono e o estado deprimente e desumano em que ele era obrigado a viver. As atividades e as curas de Jesus se dirigiam não só contra as deficiências corporais, mas também e sobretudo contra esse mal maior do abandono material e espiritual em que o povo era condenado a passar os poucos anos da sua vida. Pois, além da exploração econômica que roubava a metade do orçamento familiar, a religião oficial da época, em vez de ajudar o povo a encontrar em Deus uma força para resistir e ter esperança, ensinava que as doenças eram castigo de Deus pelo pecado. Aumentava nele o sentimento de exclusão e de condenação. Jesus fazia o contrário. O acolhimento cheio de ternura e a cura dos enfermos faziam parte do esforço mais amplo para refazer o relacionamento humano entre as pessoas e restabelecer a convivência comunitária e fraterna nos povoados e aldeias da Galileia, sua terra.

* Mateus 9,33b-34: A dupla interpretação da cura do mudo
Diante da cura do endemoninhado mudo, a reação do povo é de admiração e de gratidão: “Nunca se viu coisa semelhante em Israel!” A reação dos fariseus é de desconfiança e de malícia: “É pelo príncipe dos demônios que ele expulse os demônios!” Não podendo negar os fatos que provocam a admiração do povo, a única maneira que os fariseus encontravam para neutralizar a influência de Jesus junto ao povo era atribuir a expulsão ao poder maligno. Marcos traz uma longa argumentação de Jesus para mostrar a malícia e a falta de coerência da interpretação dos fariseus (Mc 3,22-27). Mateus não traz nenhuma resposta de Jesus à interpretação dos fariseus, pois quando a malícia é evidente, a verdade brilha por si mesma.

* Mateus 9,35:  Incansável, Jesus percorre os povoados
É bonita a descrição da atividade incansável de Jesus, na qual transparece a dupla preocupação a que aludimos: o acolhimento cheio de ternura e a cura dos enfermos: “Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade”. Nos capítulos anteriores, Mateus já tinha aludido várias vezes a esta atividade ambulante de Jesus pelos povoados Galileia (Mt 4,23-24; 8,16).

* Mateus 9,36:  A compaixão de Jesus.
“Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. Os que deviam ser os pastores não eram pastores, não cuidavam do rebanho. Jesus procura ser o pastor (Jo 10,11-14). Mateus vê aqui a realização da profecia do Servo de Javé que “levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças” (Mt 8,17 e Is 53,4). Como Jesus, a grande preocupação do Servo era “encontrar uma palavra de conforto para quem estava desanimado” (Is 50,4). A mesma compaixão para com o povo abandonado, Jesus a mostrou por ocasião da multiplicação dos pães: são como ovelhas sem pastor (Mt 15,32). O evangelho de Mateus tem uma preocupação constante em revelar aos judeus convertidas das comunidades da Galileia e da Síria que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas. Por isso, frequentemente, ele mostra como nas atividades de Jesus se realizam as profecias (cf. Mt 1,23; 2,5.15.17.23; 3,3; 4,14-16; etc).

* Mateus 9,37-38:  A messe é grande e os operários são poucos
Jesus transmite aos discípulos a preocupação e a compaixão que o animam por dentro: "A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita".

Para um confronto pessoal
1) Compaixão diante das multidões cansadas e famintas. Na história da humanidade, nunca houve tanta gente cansada e faminta como hoje. A TV divulga os fatos, mas não oferece resposta. Será que nós cristãos conseguimos ter em nós a mesma compaixão de Jesus e irradiá-la aos outros?
2) A bondade de Jesus para com os pobres incomodava os fariseus. Estes recorrem à malícia para desfazer e neutralizar o incômodo que Jesus causava. Existem muitas atitudes boas nas pessoas que me incomodam? Como eu as interpreto: com admiração agradecida como o povo ou com malícia como os fariseus?

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