sábado, 18 de julho de 2020

20 de julho


SOLENIDADE DE NOSSO PAI SANTO ELIAS, PROFETA


1ª LEITURA: (1Rs 19,1-9.11-14) - Acab contou a Jezabel tudo que Elias tinha feito e como tinha passado ao fio da espada todos os profetas de Baal. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias para lhe dizer: “Os deuses me cumulem de castigos, se amanhã, a esta hora, eu não tiver feito contigo o mesmo que fizeste com a vida desses profetas”. Elias ficou com medo e, para salvar sua vida, partiu. Chegou a Bersabéia de Judá e ali deixou o seu servo. Depois, adentrou o deserto e caminhou o dia todo. Sentou-se, finalmente, debaixo de um junípero e pediu para si a morte, dizendo: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais”. E, deitando-se no chão, adormeceu à sombra do junípero. De repente, um anjo tocou-o e disse: “Levanta-te e come!” Ele abriu os olhos e viu junto à sua cabeça um pão assado na pedra e um jarro de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir. Mas o anjo do SENHOR veio pela segunda vez, tocou-o e disse: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus. Chegando ali, entrou numa gruta, onde passou a noite. Então a palavra do SENHOR veio a ele, dizendo: “Que fazes aqui, Elias?” Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo SENHOR, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua aliança, demoliram teus altares, mataram à espada teus profetas. Só eu escapei; mas agora querem matar-me também”. O SENHOR disse-lhe: “Sai e permanece sobre o monte diante do SENHOR”. Então o SENHOR passou. Antes do SENHOR, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o SENHOR não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o SENHOR não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o SENHOR não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta. Ouviu, então, uma voz que dizia: “Que fazes aqui, Elias?”  Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo SENHOR, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua aliança, demoliram teus altares e mataram à espada teus profetas. Só eu escapei. Mas, agora, querem matar-me também”.

SALMO DE MEDITAÇÃO
R. Diante dos olhos, tenho sempre presente o Senhor.

Diante dos meus olhos tenho presente o Senhor.
Protege-me, ó Deus: em ti me refugio.
Eu digo ao SENHOR: “És tu o meu Senhor,
Fora de ti não tenho bem algum”.

O SENHOR é a minha parte da herança e meu cálice.
Nas tuas mãos, a minha porção.
Para mim a sorte caiu em lugares deliciosos,
maravilhosa é minha herança.

Sempre coloco à minha frente o SENHOR,
Ele está à minha direita, não vacilo.
Disso se alegra meu coração, exulta a minha alma;
também meu corpo repousa seguro,

Pois não vais abandonar minha vida no sepulcro,
nem vais deixar que teu santo experimente a corrupção,
O caminho da vida me indicarás, alegria plena à tua direita, para sempre.

2ª LEITURA (1Pd 1,8-12) – Irmãos: sem terdes visto o Senhor, vós o amais. Sem que agora o estejais vendo, credes nele. Isto será para vós fonte de alegria inefável e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação.  Esta salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. Eles profetizaram a respeito da graça que estava destinada para vós. Procuraram saber a que época e a que circunstâncias se referia o Espírito de Cristo, que estava neles, ao anunciar com antecedência os sofrimentos de Cristo e a glória que viria depois.  Foi-lhes revelado que não para si mesmos, mas para vós é que estavam ministrando esses ensinamentos, que agora são anunciados a vós. Agora vo-los anunciam aqueles que vos pregam a Boa Nova em virtude do Espírito Santo, enviado do céu; são revelações que até os anjos desejam contemplar! – Palavra do Senhor.

Aleluia. “Moisés e Elias conversavam com Jesus. sobre a saída deste mundo que Jesus iria consumar em Jerusalém. Aleluia

EVANGELHO (Lc 9,28B-36) - Naquele tempo, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou branca e brilhante. Dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias. Apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a saída deste mundo que Jesus iria consumar em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Quando acordaram, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. E enquanto esses homens iam se afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Nem sabia o que estava dizendo. Estava ainda falando, quando desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Ao entrarem na nuvem, os discípulos ficaram cheios de temor. E da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” Enquanto a voz ressoava, Jesus ficou sozinho. Os discípulos ficaram calados e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

Meditação de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Cada capítulo traz um assunto determinado. Vejamos: 1Rs 17 descreve sua ida para o outro lado do Jordão para junto da viúva, da qual recebeu a confirmação da sua missão como “o Homem de Deus em cuja boca habita a palavra de Deus” (1Rs 17,24). 1Rs 18 narra a sua atuação no Monte Carmelo enfrentando o rei Acab, a rainha Jezabel e os falsos profetas de Baal (cf. 1Rs 18,30-40). 1Rs 19 menciona a sua fraqueza, sua crise de fé e a maneira de superá-la. Na Brisa leve, ele se reencontra consigo mesmo, com Deus e com a missão (Cf. 1Rs 19,12-13) 1Rs 21 descreve como Elias assumiu a defesa de Nabot, um agricultor, e como criticou a manipulação da religião pela rainha Jezabel (cf. 1Rs 21,17-24). 2Rs 1 mostra como Elias, sentado no alto do monte, enfrenta os que não reconhecem a Javé como o Deus da vida (cf. 2Rs 1,9-16). 2Rs descreve como Elias foi arrebatado pelo Espírito e como deixou a dupla porção do seu espírito para Eliseu, seu sucessor (Cf. 2Rs 2,7-15). Nessas seis histórias, o povo olhava como num espelho para descobrir sua própria missão profética como povo de Deus.

ELIAS, O HOMEM DO CAMINHO

O símbolo que unifica as histórias do profeta Elias na Bíblia é a imagem do homem que caminha. Caminhar sempre! Esta imagem do caminho é retomada na tradição da nossa Ordem. O livro dos primeiros monges descreve o itinerário místico, realizado pelo profeta, e apresenta a experiência de Elias como modelo do caminho que o carmelita deve percorrer para chegar à união com Deus. Desde que Elias se abriu à ação da Palavra de Deus, sua vida mudou por completo. Agora, é só movimento. Já não pode parar. Deve andar sempre. Sair de um lugar para outro: para a torrente de Carit (1Rs 17,3), para Sarepta na Sidônia (1Rs 17,9), para encontrar o rei Acab no carmelo (1Rs 18,1), para o Monte Horeb (1Rs 19,8), para ungir Eliseu (1Rs 19,15-16), para denunciar o rei na vinha de Nabot (1Rs 21,17-19), para Betel (2Rs 2,2), para Jericó (2Rs 2,4), para o Jordão (2R 2,6), para ser arrebatado (2Rs 2,11) e… para voltar no fim dos tempos (Eclo 48,10). Um peregrinar constante em busca de deus, desde Carit até o arrebatamento ao céu (2Rs 2,11). Ele já não se pertence. Pertence a Deus e ao povo de Deus.

ELIAS, O HOMEM DA PALAVRA

“Agora sei que você é um homem de Deus e que a Palavra de Deus habita em você!” (1Rs 17,17). “Sua palavra ardia como uma tocha!” (Eclo 48,1). De um lado, a Palavra chama Elias, tanto nos momentos de coragem, como nos de desânimo. De outro lado, o próprio Elias se abre, para que a Palavra tome conta dele e o leve por caminhos dos quais ele mesmo nem sempre percebe todo o alcance. Ele obedece à Palavra e, assim, revela Deus ao povo e é reconhecido pelo povo como “homem de Deus” (1Rs 17,24; 2 Rs 1,9). Sua palavra tornou-se Palavra de Deus para os outros que, por sua vez, obedeciam a Elias: a viúva de Sarepta (1Rs 17,15); Abdias, o chefe do palácio (1Rs 18,14-16), o próprio povo (1Rs 18,24.30), o profeta Eliseu (1r 19,19-21).

ELIAS, O HOMEM DA ORAÇÃO

“Vivo é o senhor em cuja presença estou” (1Rs 17,1; 18,15). “Elias era um homem fraco como nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos” (Tg 5,17-18). A tradição carmelitana tem aqui, nestas duas frases da Bíblia sobre Elias, um dos pontos fundamentais da sua espiritualidade. Elias estava ligado a Javé pela oração. Ele reza e consegue de volta a vida do filho da viúva (1rs 17,20). Critica a oração dos profetas de Baal (1rs 18,27) e pede para que Deus se manifeste ao povo no monte Horeb (1Rs 18,36-37). Ao rezar, ele se curva, coloca a cabeça entre os joelhos. Ele insiste e não desiste. Por sete vezes, manda o empregado subir a montanha, até aparecer a nuvenzinha que trouxe a chuva (1rs 18,41-46). Reza na fraqueza, queixando-se a Deus (1rs 19,10.14), pedindo a morte (1Rs 19,4). Confronta-se com Deus na brisa leve (1rs 19,12). A oração era o espaço que lhe dava condições de descobrir a presença de Deus na brisa leve, de defender a aliança e a vida do povo, de viver em conflito permanente, sem desmoronar.

ELIAS, O HOMEM DA RECONSTRUÇÃO DA VIDA COMUNITÁRIA

Elias reconstruiu o altar com doze pedras, símbolo da reconstrução das doze tribos (1Rs 18,30-32). A organização em tribos representava a nova maneira fraterna de conviver, diferente do jeito de viver no sistema do faraó. É aqui também que se situa o centro da esperança do povo pelo retorno do profeta Elias. Tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento, ambos eles esperam que Elias volte para “reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais” (Ml 3,23-24; Eclo 48,10; Lc 1,17). A preocupação com a reconstrução da vida comunitária é o outro lado do desejo de contemplar e revelar o rosto de Deus como Javé. O que caracteriza a experiência de Deus na história do povo hebreu é a igualdade dos dois mandamentos: amar a Deus e amar ao próximo (Lc 10,27; Mt 7,12). Deus se revela como pai, o Deus de todos. A expressão humana desta fé em Deus como pai é a organização da vida em comunidade. Uma comunidade dividida é a negação desta fé. Ela esconde o rosto de Deus.

ELIAS, O HOMEM DO FOGO DO ESPÍRITO

“O profeta Elias surgiu como um fogo, sua palavra queimava como uma tocha” (Eclo 48,1). “por três vezes fez descer o fogo do céu” (Eclo 48,3). No fim da sua vida ele foi “arrebatado num turbilhão de fogo, num carro puxado por cavalos de fogo” (Eclo 48,9). O fogo é expressão da ação do espírito (cf. At 2,3-4). Elias passou a ser conhecido como o homem disponível para Deus que já não se pertencia. Deus podia dispor dele e arrebatá-lo como e quando quisesse (1Rs 18,12; 2Rs 2,3.5). O próprio Deus passou a ser conhecido como o “Deus de Elias” (2Rs 2,14). Eliseu pediu: “que me seja dada uma dupla porção do teu espírito” (2Rs 2,9). O espírito de Elias repousou sobre Eliseu, seu sucessor (2Rs 2,15). Os discípulos o reconheceram quando Eliseu, usando a capa de Elias, separou as águas do Rio Jordão (2Rs 2,14). Elias, o homem do fogo do espírito! A Regra do Carmo une Palavra e Espírito quando diz: “que a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, habite abundantemente em sua boca e em seu coração, e tudo que vocês tiverem de fazer, seja feito na Palavra do senhor” (RC 19). Ela deseja para nós a “bênção do Espírito Santo” (RC 1). Que o povo possa dizer de nós: “o espírito de Elias repousa sobre eles” (cf. 2Rs 2,15).

Elias é o mais ecumênico de todos os santos. 
Até hoje é venerado por judeus, cristãos e muçulmanos. O Eclesiástico vê em Elias o homem obediente à palavra (Eclo 48,1-11). Malaquias espera o retorno dele como o homem da aliança (Ml 2,23-24). No Evangelho de Lucas ele aparece como o homem que reorganiza o povo (Lc 1,17). Na transfiguração, ao lado de Moisés, ele encarna a profecia (Lc 9,30). Para Paulo ele é o homem que denuncia a infidelidade (Rom 11,2-4). Tiago resume a vida de Elias como homem da oração (Tg 5,17-18). No Apocalipse ele é o homem do testemunho até à morte (Ap 11,3.5.6). Na tradição rabínica ele é a imagem do homem do deserto. A devoção popular invoca Elias como o santo dos impossíveis. A tradição carmelitana acentua nele o homem do caminho. O profeta Elias é um ícone eloquente do caminho que nós carmelitas queremos percorrer.

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