sexta-feira, 29 de maio de 2020

SOLENIDADE DO PENTECOSTES - Missa da Vigília


I Leitura (Ez 37, 1-14) -  Naqueles dias, a mão do Senhor pairou sobre mim e o Senhor levou-me pelo seu espírito e colocou-me no meio de um vale que estava coberto de ossos. Fez-me andar à volta deles em todos os sentidos: os ossos eram em grande número, na superfície do vale, e estavam completamente ressequidos. Disse-me o Senhor: «Filho do homem, poderão reviver estes ossos?» Eu respondi: «Senhor Deus, Vós o sabeis». Disse-me então: «Profetiza acerca destes ossos e diz-lhes: Ossos ressequidos, escutai a palavra do Senhor. Eis o que diz o Senhor Deus a estes ossos: Vou introduzir em vós o espírito e revivereis. Hei de cobrir-vos de nervos, encher-vos de carne e revestir-vos de pele. Infundirei em vós o espírito e revivereis. Então sabereis que Eu sou o Senhor». Eu profetizei, segundo a ordem recebida. Quando eu estava a profetizar, ouvi um rumor e vi um movimento entre os ossos que se aproximavam uns dos outros. Vi que se tinham coberto de nervos, que a carne crescera e a pele os revestia; mas não havia espírito neles. Disse-me o Senhor: «Profetiza ao espírito, profetiza, filho do homem, e diz ao espírito: Eis o que diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e sopra sobre estes mortos, para que tornem a viver». Eu profetizei, como o Senhor me ordenara, e o espírito entrou naqueles mortos; eles voltaram à vida e puseram-se de pé: era um exército muito numeroso. Então o Senhor disse-me: «Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eles afirmaram: ‘Os nossos ossos estão ressequidos, desvaneceu-se a nossa esperança, estamos perdidos’. Por isso, profetiza e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus: Abrirei os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar, meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel. Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando Eu abrir os vossos túmulos e deles vos fizer ressuscitar, meu povo. Infundirei em vós o meu espírito e revivereis. Hei de fixar-vos na vossa terra e reconhecereis que Eu, o Senhor, digo e faço».

Salmo Responsorial    Sl 103 (104),1–2a.24.35c.27–28.29bc–30
R: ENVIAI, SENHOR, O VOSSO ESPÍRITO E RENOVAI A FACE DA TERRA.

Bendiz, ó minha alma, o Senhor. Senhor, meu Deus, como sois grande!
Revestido de esplendor e majestade, envolvido em luz como num manto.

Como são grandes, Senhor, as vossas obras! Tudo fizestes com sabedoria:
a terra está cheia das vossas criaturas! Bendiz, ó minha alma, o Senhor.

Todos de Vós esperam que lhes deis de comer a seu tempo.
Dais–lhes o alimento e eles o recolhem, abris a mão e enchem–se de bens.

Se lhes tirais o alento, morrem e voltam ao pó donde vieram.
Se mandais o vosso espírito, retomam a vida e renovais a face da terra.

II Leitura (Rm 8, 22-27) - Irmãos: Nós sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adopção filial e a libertação do nosso corpo. É em esperança que estamos salvos, pois ver o que se espera não é esperança: quem espera o que já vê? Mas esperar o que não vemos é esperá-lo com perseverança. Também o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos o que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, sabe que Ele intercede pelos santos, em conformidade com Deus.

Aleluia. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Aleluia.

Evangelho (Jo 7, 37-39) - No último dia, o mais solene da festa, Jesus estava de pé e exclamou: «Se alguém tem sede, venha a Mim e beba: do coração daquele que acredita em Mim correrão rios de água viva». Referia-se ao Espírito que haviam de receber os que acreditassem n’Ele. O Espírito ainda não viera, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.

«Do seu interior correrão rios de água viva»

Rev. D. Joan MARTÍNEZ Porcel (Barcelona, Espanha)

Hoje contemplamos Jesus no último dia da festa dos Tabernáculos, quando de pé gritou: «Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim, conforme a Escritura: ‘Do seu interior correrão rios de água viva’» (Jo 7,37-38). Referia-se ao Espírito. A vinda do Espírito é um teofania na que o vento e o fogo nos lembram a transcendência de Deus. Depois de receber ao Espírito, os discípulos falam sem medo. Na Eucaristia da vigília vemos ao Espírito como usualmente referimo-nos ao papel do Espírito em relação individual, porém hoje a palavra de Deus remarca sua ação na comunidade cristã: «Ele disse isso falando do Espírito que haviam de receber os que acreditassem nele» (Jo 7,39). O Espírito constitui a unidade firme e sólida que transforma a comunidade em um corpo só, o corpo de Cristo. Também, ele mesmo é a origem da diversidade de dons e carismas que nos diferenciam a todos e a cada um de nós.

A unidade é signo claro da presença do Espírito nas nossas comunidades. O mais importante da Igreja é invisível e, é precisamente a presença do Espírito que a vivifica. Quando olhamos a Igreja unicamente com olhos humanos, sem fazê-la objeto de fé, erramos, porque deixamos de perceber nela a força do Espírito. Na normal tensão entre unidade e diversidade, entre igreja universal e local, entre comunhão sobrenatural e comunidade de irmãos, necessitamos saborear a presença do Reino de Deus na sua Igreja peregrina. Na oração coleta da celebração eucarística da vigília pedimos a Deus que «os povos divididos (...) se congreguem por meio do teu Espírito e, reunidos, confessem teu nome na diversidade de suas línguas».

Agora devemos pedir a Deus saber descobrir o Espírito como alma de nossa alma e alma da Igreja.

Recebei o Espírito Santo

Jesus tinha falado demoradamente aos Apóstolos durante a Última Ceia. Mandar-lhes-ia o Espírito Santo para estar com eles, para os confortar, para os guiar na verdade.

Ao aparecer-lhes no Cenáculo, no domingo da Ressurreição, dá-lhes o poder de perdoar os pecados e diz-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoares os pecados ser-lhes-ão perdoados. Aqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».

É o Espírito Santo que atua através das mãos que absolvem em nome de Jesus. O Paráclito age na Igreja através dos sacramentos. Através deles derrama as graças que Jesus nos ganhou no Calvário.

O próprio Espírito é enviado porque Jesus morreu na cruz. «Se Eu não for o Paráclito não virá a vós» (Jo 16, 7).

No Baptismo renascemos para uma vida nova pela água e pelo Espírito Santo (cfr. Jo 3, 5). «Fomos batizados num só Espírito para constituirmos um só Corpo» (2.ª leit.). É o Paráclito que edifica a Igreja, que lhe dá a unidade, que a vivifica.

Na confirmação «a todos nós foi dado a beber um único Espírito» (2.ª leit.)

Cada ano a Igreja nos convida a crescer na devoção ao Divino Consolador, à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Ele é tantas vezes o grande desconhecido ou, pelo menos, o grande esquecido. E sem Ele não podemos fazer o mais pequeno ato bom: «Ninguém pode dizer Senhor Jesus a não ser pela ação do Espírito Santo» (2.ª leit.).

Avivemos, neste dia, o nosso desejo de O conhecer e de lembrá-Lo mais vezes. Peçamos que renove o nosso coração e transforme a face da terra, para que em toda a parte se viva o Evangelho de Cristo, que traz a paz e a alegria.

O fogo de Deus

No dia de Pentecostes o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos em forma de línguas de fogo, que encheram os seus corações e os levaram a sair da segurança do cenáculo, para irem por toda a terra a falar de Jesus. Com uma sabedoria e fortaleza que não tinham explicação humana.

Ele é o fogo do Amor de Deus, que jorra na Trindade e une o Pai e o Verbo, que o Pai gera ao conhecer-se a Si Mesmo desde toda a eternidade. E assim como essa Palavra viva, que exprime a sabedoria infinita de Deus, é uma outra Pessoa na unidade de Deus, também o Espírito Santo, amor infinito, é uma outra pessoa, dentro da unidade da natureza divina.

Por isso dizemos no Credo «que precede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho recebe a mesma adoração.»

«Na Sua vida íntima – diz S. João Paulo II – Deus «é amor» (1 Jo 4, 8.16), amor essencial, comum às três Pessoas divinas, mas amor pessoal é o Espírito Santo, como Espírito do Pai e do Filho. Por isso, Ele «perscruta as profundezas de Deus (1 Cor 2, 10) como Amor – Dom incriado. Pode dizer-se que, no Espírito Santo, a vida íntima de Deus uno e trino se torna totalmente dom, permuta de amor recíproco entre as Pessoas divinas; e ainda, que no Espírito Santo Deus «existe» à maneira de Dom. O Espírito Santo é a expressão pessoal desse doar-se, desse ser–amor. É Pessoa–Amor. É Pessoa–Dom. Temos aqui a riqueza insondável da realidade e o aprofundamento inefável do conceito de Pessoa em Deus, que só a Revelação divina nos dá a conhecer». (S. JOÃO PAULO II, Enc. Dominum et vivificantem, 10)

Peçamos ao Divino Consolador que nos ajude a penetrar no mistério dessa infinita da Trindade. Só guiados pelo amor o poderemos conseguir. O Pe. Garrigou Lagrange, grande teólogo dominicano, contava que um dia lhe apareceu no confessionário uma velhinha a fazer perguntas sobre a Santíssima Trindade. Estranhou a profundidade e a sabedoria que elas revelavam e perguntou: – A senhora onde é que estudou essas coisas? E a velhinha respondeu: – Mas, senhor padre, eu não se ler, mas quando rezo fico a pensar nelas. Aquela mulher, pela intimidade com Deus na oração, conhecia muito dos mistérios divinos e não o encontrara nos livros de teologia.

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