Beato Pio IX, Papa "Confrade Carmelita" |
Salmo Responsorial: 118
R. Ensinai-me, Senhor, os vossos
mandamentos.
Como há de o
jovem manter puro o seu caminho? Guardando as vossas palavras. De todo o
coração Vos procuro, não me deixeis afastar dos vossos andamentos.
Conservo a
vossa palavra dentro do coração, para não pecar contra Vós. Bendito sejais,
Senhor,
ensinai-me os
vossos decretos.
Enuncio com
os meus lábios todos os juízos da vossa boca. Sinto mais alegria em seguir as
vossas ordens do que em todas as riquezas.
Aleluia. As minhas
ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas
seguem-Me. Aleluia.
Evangelho (Mc 6,30-34): Os
apóstolos se reuniram junto de Jesus e lhe contaram tudo o que tinham feito e
ensinado. Ele disse-lhes: «Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um
pouco!». Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham nem
tempo para comer. Foram, então, de barco, para um lugar deserto, a sós. Muitos
os viram partir e perceberam a intenção; saíram então de todas as cidades e, a
pé, correram à frente e chegaram lá antes deles. Ao sair do barco, Jesus viu
uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas
que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas.
«Vinde, a sós, para um
lugar deserto, e descansai um pouco! Havia, de fato, tanta gente chegando e
saindo, que não tinham nem tempo para comer»
Rev. D. David COMPTE i Verdaguer(Manlleu, Barcelona,
Espanha)
Sta Jojefina Bakita, Virgem |
Uma situação.
Os Apóstolos estão “estressados”: «Ele disse-lhes: Vinde à parte, para algum
lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que iam e vinham e
nem tinham tempo para comer» (Mc 6,31). Frequentemente nós nos vemos achegados
à mesma mudança. O trabalho exige boa parte de nossas energias; a família, onde
cada membro quer palpar nosso amor; as outras atividades nas que nos
comprometemos, que nos fazem bem e, ao mesmo tempo, beneficiam a terceiros...
Querer é poder? Talvez seja mais razoável reconhecer que não podemos tudo
aquilo que gostaríamos.
Uma
necessidade. O corpo, a cabeça e o coração reclamam um direito: descanso.
Nestes versículos temos um manual, frequentemente ignorado, sobre o descanso.
Aí destaca a comunicação. Os Apóstolos «Os apóstolos voltaram para junto de
Jesus e contaram-lhe tudo o que haviam feito e ensinado» (Mc 6,30). Comunicação
com Deus, seguindo o fio do mais profundo de nosso coração. E — que surpresa!—
encontramos a Deus que nos espera. E espera encontrar-nos com nossos cansaços.
Jesus lhes
diz: «Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco. Porque
eram muitos os que iam e vinham e nem tinham tempo para comer» (Mc 6,31). No
plano de Deus há um lugar para o descanso! É mais, nossa existência, com todo
seu peso, deve descansar em Deus. O descobriu o inquieto Agostinho: «Nos
criastes para ti e nosso coração está inquieto até que não descanse em ti». O
repouso de Deus é criativo; não “anestésico”: encontrar-se com seu amor centra
nosso coração e nossos pensamentos.
Um paradoxo.
A cena do Evangelho acaba “mal”: os discípulos não podem repousar. O plano de
Jesus fracassa: são abordados pelas pessoas. Não puderam “desconectar”. Nós,
com frequência, não podemos liberar-nos de nossas obrigações (filhos, conjugue,
trabalho...): seria como trair-nos! Impõe-se encontrar a Deus nestas
realidades. Se existe comunicação com Deus, se nosso coração descansa Nele,
relativizaremos tensões inúteis... E a realidade —desnuda de quimeras— mostrará
melhor o sinal de Deus. Nele, ali, repousaremos.
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje está em vivo contraste com o de
ontem! De um lado, o banquete de morte, promovido por Herodes com os grandes do
reino no palácio da Capital, durante o qual João Batista foi assassinado, (Mc
6,17-29). Do outro lado, o banquete de vida, promovido por Jesus com o povo
faminto da Galileia lá no deserto (Mc 6,30-44). O evangelho de hoje só traz a
introdução à multiplicação dos pães descrevendo o ensino de Jesus.
* Marcos 6,30-32. O acolhimento dado
aos discípulos.
“Os apóstolos
se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Havia aí
tanta gente que chegava e saía, a tal ponto que Jesus e os discípulos não
tinham tempo nem para comer. Então Jesus disse para eles: Vamos sozinhos para
algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco" Estes versículos
mostram como Jesus formava seus discípulos. Ele se preocupava não só com o
conteúdo da pregação, mas também com o descanso. Levou-os a um lugar mais tranquilo
para poder descansar e fazer uma revisão.
* Marcos 6,33-34. O acolhimento dado
ao povo.
O povo
percebeu que Jesus tinha ido para o outro lado do lago, e eles foram atrás dele
procurando alcançá-lo andando por terra até o outro lado. “Quando saiu da
barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como
ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles”. Ao ver
aquela multidão, Jesus ficou com dó, “pois eles estavam como ovelhas sem
pastor”. Ele esqueceu o descanso e começou a ensinar. Ao perceber o povo sem
pastor, Jesus começou a ser pastor. Começou a ensinar. Como diz o Salmo: “O
Senhor é meu pastor! Nada me falta! “Ele me guia por bons caminhos, por causa
do seu nome. Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois
junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo. Diante de mim
preparas a mesa, à frente dos meus opressores” (Sl 23,1.3-5).” Jesus queria
descansar junto com os discípulos, mas o desejo de atender à necessidade do
povo levou-o a deixar de lado o descanso. Algo semelhante aconteceu quando ele
se encontrou coma a samaritana. Os discípulos foram buscar comida. Quando
voltaram, disseram a Jesus: “Mestre, come alguma coisa!” (Jo 4,31), mas ele
respondeu: “Eu tenho um alimento para comer que vocês não conhecem” (Jo 4,32).
O desejo de atender à necessidade do povo samaritano levou-a a esquecer a fome.
“Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”
(Jo 4,34). Em primeiro lugar o atendimento ao povo que o procurava. A comida
vem depois.
Então Jesus começou a ensinar muitas
coisas para eles
O evangelho
de Marcos muitas vezes informa que Jesus ensinava. O povo ficava impressionado:
“Um novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente dos escribas!” (Mc
1,22.27). Ensinar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o
costume dele (Mc 10,1). Por mais de quinze vezes Marcos diz que Jesus ensinava,
mas raramente diz o que ele ensinava. Será que Marcos não se interessava pelo
conteúdo? Depende do que a gente entende por conteúdo! Ensinar não é só uma questão
de ensinar verdades novas para o povo decorar. O conteúdo que Jesus tinha para
dar transparecia não só nas palavras, mas também nos gestos e no próprio jeito
de ele se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está desligado da pessoa
que o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Mc 6,34). Queria bem ao povo.
A bondade e o amor que transparecem nas suas palavras faziam parte do conteúdo.
Eram o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como leite derramado. Este novo
jeito de ensinar de Jesus manifestava-se de muitas maneiras. Jesus aceita como
discípulos não só homens, mas também mulheres. Ensina não só na sinagoga, mas
em qualquer lugar onde houvesse gente para escutá-lo: na sinagoga, em casa, na
praia, na montanha, na planície, no caminho, no barco, no deserto. Não cria
relacionamento de aluno-professor, mas sim de discípulo-mestre. O professor dá
aula e o aluno está com ele só durante o tempo de aula. O mestre dá testemunho
e o discípulo convive com ele 24 horas por dia. É mais difícil ser mestre do
que professor! Nós não somos alunos de Jesus, mas sim discípulos e discípulas!
O ensino de Jesus era uma comunicação que transbordava da abundância do coração
nas formas mais variadas: como conversa que tenta esclarecer os fatos (Mc
9,9-13), como comparação ou parábola que faz o povo pensar e participar (Mc
4,33), como explicação do que ele mesmo pensava e fazia (Mc 7,17-23), como
discussão que não foge do polêmico (Mc 2,6-12), como crítica que denuncia o
falso e o errado (Mc 12,38-40). Era sempre um testemunho do que ele mesmo
vivia, uma expressão do seu amor! (Mt 11,28-30).
Para um confronto pessoal
1. Como você faz quando deve ensinar aos outros algo da fé
e da religião? Imita Jesus?
2. Jesus se preocupa não só com o conteúdo, mas também com
o descanso. Como foi o ensino de religião que você recebeu na infância? As
catequistas imitavam Jesus?
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