Stos Francisco e Jacinta Marto |
1ª Leitura (Tg 2,1-9): Meus irmãos:
A fé em Nosso Senhor Jesus Cristo não deve admitir acepção de pessoas. Pode
acontecer que na vossa assembleia entre um homem bem vestido e com anéis de
ouro e entre também um pobre e mal vestido. Talvez olheis para o homem bem
vestido e lhe digais: «Tu, senta-te aqui em bom lugar»; e ao pobre: «Tu, fica
aí de pé»; ou então: «Senta-te aí, abaixo do estrado dos meus pés». Não
estareis a estabelecer distinções entre vós e a tornar-vos juízes com maus
critérios? Escutai, meus caríssimos irmãos: Não escolheu Deus os pobres deste
mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu àqueles que O
amam? Vós, porém, desprezais o pobre. Não são os ricos que vos oprimem e
arrastam aos tribunais? Não são eles que ultrajam o nome sublime que sobre vós
foi invocado? Assim, se cumprirdes a lei régia da Escritura: «Amarás o teu
próximo como a ti mesmo», procedeis bem. Mas se fizerdes distinção de pessoas,
cometeis pecado, porque a Lei vos acusa como transgressores.
Salmo Responsorial: 33
R. O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca. A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.
Enaltecei comigo o Senhor e
exaltemos juntos o seu nome. Procurei o Senhor e Ele atendeu-me, libertou-me de
toda a ansiedade.
Voltai-vos para Ele e ficareis
radiantes, o vosso rosto não se cobrirá de vergonha. Este pobre clamou e o
Senhor o ouviu, salvou-o de todas as angústias.
Aleluia. As vossas palavras, Senhor, são Espírito e vida: Vós tendes
palavras de vida eterna. Aleluia.
Evangelho (Mc 8,27-33): Jesus e seus
discípulos partiram para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho, ele
perguntou aos discípulos: «Quem dizem as pessoas que eu sou?». Eles
responderam: «Uns dizem João Batista; outros, Elias; outros ainda, um dos
profetas». Jesus, então, perguntou: «E vós, quem dizeis que eu sou? ». Pedro
respondeu: «Tu és o Cristo». E Jesus os advertiu para que não contassem isso a
ninguém. E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer
muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e,
depois de três dias, ressuscitar. Falava isso abertamente. Então, Pedro,
chamando-o de lado, começou a censurá-lo. Jesus, porém, voltou-se e, vendo os
seus discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai para trás de mim, satanás!
Pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!».
«Quem dizem as pessoas que eu sou? (…) E vós, quem dizeis que eu sou?»
Rev. D. Joan Pere
PULIDO i Gutiérrez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)
Hoje continuamos a ouvir a
Palavra de Deus com a ajuda do Evangelho de São Marcos. Um evangelho com uma
inquietação bem clara: descobrir quem é este Jesus de Nazaré. Marcos foi nos
oferecendo, com os seus textos, a reação de diferentes personagens perante
Jesus: os doentes, os discípulos, os escribas e fariseus. Hoje nos pede
diretamente a nós: «E vós, quem dizeis que eu sou?» (Mc 8,29).
Certamente, os que nos chamamos
cristãos temos o dever fundamental de descobrir a nossa identidade para dar
testemunho da nossa fé, dando bom exemplo com a nossa vida. Este dever urge-nos
para poder transmitir uma mensagem clara e compreensível aos nossos irmãos e
irmãs que podem encontrar em Jesus uma Palavra de Vida que dê sentido a tudo o
que pensam, dizem e fazem, mas este testemunho deve começar sendo nós próprios
conscientes do nosso encontro pessoal com Ele. S. João Paulo II, na sua Carta
apostólica “Novo millennio ineunte”, escreveu-nos: «O nosso testemunho seria
enormemente deficiente se não fossemos os primeiros contempladores do seu
rosto».
São Marcos, com este texto,
oferece-nos um bom caminho de contemplação de Jesus. Primeiro Jesus pergunta
que dizem as pessoas que Ele é; e podemos responder como os discípulos: João
Batista, Elias, uma personagem importante, bom, atraente. Uma resposta boa, sem
dúvida, mas ainda longe da Verdade de Jesus. Ele pergunta-nos: «E vós, quem
dizeis que eu sou?» (Mc 8,29). É a pergunta da fé, da implicação pessoal. A
resposta apenas a encontramos na experiência do silencio e da oração. É o
caminho da fé que recorre Pedro, e o que devemos também nós fazer.
Irmãos e irmãs, experimentemos
desde a nossa oração a presença libertadora do amor de Deus presente nas nossas
vidas. Ele continua fazendo aliança conosco com signos claros da sua presença,
como aquele arco posto nas nuvens prometido a Noé.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* O Evangelho de hoje fala da cegueira de Pedro que não entende a
proposta de Jesus quando este fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus
como Messias, mas não como Messias sofredor. Ele está influenciado pelo
“fermento de Herodes e dos fariseus”, isto é, pela propaganda do governo da
época que só falava do Messias como rei glorioso. Pedro parecia cego. Não
enxergava nada e ainda queria que Jesus fosse como ele, Pedro, o queria. Para
entender bem todo o alcance desta cegueira de Pedro é importante colocá-la no
seu contexto literário.
* Contexto literário: O evangelho de Marcos traz três anúncios da
paixão e morte de Jesus: o primeiro em Marcos 8,27-38; o segundo em Mc 9,30-37
e o terceiro em Mc 10,32-45. Este conjunto, que vai de Mc 8,27 até Mc 10,45, é
uma longa instrução de Jesus aos discípulos para ajudá-los a superar a crise
provocada pela Cruz. A instrução é introduzida pela cura de um cego (Mc
8,22-26) e, no fim, é encerrada pela cura de outro cego (Mc 10,46-52). Os dois
cegos representam a cegueira dos discípulos. A cura do primeiro cego foi
difícil. Jesus teve que realizá-la em duas etapas. Igualmente difícil era a
cura da cegueira dos discípulos. Jesus teve que fazer uma longa explicação a
respeito do significado da Cruz para ajudá-los a enxergar, pois era a cruz que
estava provocando neles a cegueira. Vejamos de perto a primeira cura do cego:
* Marcos 8,22-26: A primeira cura do cego.
Trouxeram um cego, pedindo que
Jesus o curasse. Jesus o curou, mas de um jeito diferente. Primeiro, ele o
levou para fora do povoado. Em seguida, cuspiu nos olhos dele, impôs as mãos e
perguntou: Você está vendo alguma coisa? O homem responde: Vejo pessoas;
parecem árvores que andam! Enxergava só uma parte. Trocava árvore por gente, ou
gente por árvore! Foi só na segunda tentativa que Jesus o curou. Esta descrição
da cura do cego introduz a instrução aos discípulos. Na realidade, o cego era
Pedro. Ele aceitava Jesus como messias, mas só como messias glorioso. Enxergava
só uma parte! Não queria o compromisso da Cruz! Será também em várias
tentativas que Jesus vai curar a cegueira dos discípulos.
* Marcos 8,27-30. Levantamento da realidade: Quem diz o povo que eu sou?
Jesus perguntou: “Quem diz o povo
que eu sou?”. Eles responderam relatando as várias opiniões: - “João Batista”. -
“Elias ou um dos profetas”. Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus
perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. Pedro respondeu: “O senhor é o
Cristo, o Messias!” Isto é, o Senhor é aquele que o povo está esperando! Jesus
concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isto ao povo. Por que Jesus
proibiu? É que naquele tempo, todos esperavam a vinda do Messias, mas cada um
do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz,
profeta! Ninguém parecia estar esperando o Messias servidor e sofredor,
anunciado por Isaías (Is 42,1-9).
* Marcos 8,31-33. Primeiro anúncio da paixão.
Em seguida, Jesus começa a
ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor
anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça
(Is 49,4-9; 53,1-12). Pedro leva susto, chama Jesus de lado para desaconselhá-lo.
E Jesus responde a Pedro: “Vá embora Satanás! Você não pensa as coisas de Deus,
mas as dos homens!” Pedro pensava ter dado a resposta certa. De fato, ele disse
a palavra certa: “Tu és o Cristo!” Mas não lhe deu o sentido certo. Pedro não
entendeu Jesus. Era como o cego. Trocava gente por árvore! A resposta de Jesus
foi duríssima: “Vá embora, Satanás!” Satanás é uma palavra hebraica que
significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não
permite que alguém o afaste da sua missão. Literalmente, o texto diz: “Atrás de
mim, Satanás!” Pedro deve seguir Jesus. Não deve inverter os papeis e pretender
que Jesus siga a Pedro.
Para um confronto pessoal
1) Acreditamos todos em Jesus. Mas um entende Jesus de um jeito,
outro o entende de outro jeito. Qual é, hoje, a imagem mais comum que o povo
tem de Jesus? Qual a resposta que o povo daria hoje à pergunta de Jesus? E eu
que resposta dou?
2) O que nos impede hoje de reconhecer Jesus como o Messias?
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