Bto Luís Morbioli, Penitente Terceiro Carmelita |
1ª
Leitura (Sab 18,14-16; 19,6-9): Quando um silêncio profundo envolvia
todas as coisas e a noite estava no meio do seu curso, a vossa palavra
omnipotente, Senhor, veio do alto dos Céus, do seu trono real. Como implacável
guerreiro, para o meio duma terra de ruína, trazia, como espada afiada, o vosso
decreto irrevogável. Parou e encheu de morte o universo; tocava o céu e
caminhava sobre a terra. Toda a criação, obedecendo às vossas ordens, tomava
novas formas segundo a sua natureza, para guardar sãos e salvos os vossos
filhos. Viu-se a nuvem cobrir de sombra o acampamento, a terra enxuta surgir do
que antes era água, o Mar Vermelho tornar-se um caminho livre e as ondas
impetuosas uma planície verdejante. Por ali passou um povo inteiro, protegido
pela vossa mão, contemplando prodígios admiráveis. Expandiram-se como cavalos
na pradaria e saltavam como cordeiros, cantando a vossa glória, Senhor, seu
libertador.
Salmo
Responsorial: 104
R. Recordai as
maravilhas do Senhor.
Cantai
salmos e hinos ao Senhor, proclamai todas as suas maravilhas. Gloriai-vos no
seu nome santo, exulte o coração dos que procuram o Senhor.
Feriu
de morte todos os primogénitos do Egito, as primícias da sua raça e fez sair o
seu povo carregado de prata e ouro e não havia enfermo nas suas tribos.
Não
Se esqueceu da palavra sagrada que dera a Abraão, seu servo; e fez sair o povo
com alegria, os seus eleitos com gritos de júbilo.
Aleluia. Deus
chamou-nos por meio do Evangelho, para alcançarmos a glória de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Aleluia.
Evangelho
(Lc 18,1-8): Jesus contou aos discípulos uma
parábola, para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir:
«Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Na
mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, e lhe pedia:
Fazei-me justiça contra o meu adversário! Durante muito tempo, o juiz se
recusou. Por fim, ele pensou: Não temo a Deus e não respeito ninguém. Mas esta
viúva já está me importunando. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha,
por fim, a me agredir!» E o Senhor acrescentou: «Escutai bem o que diz esse
juiz iníquo! E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite
gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará
justiça bem depressa. Mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar
fé sobre a terra?»
«A necessidade de orar
sempre, sem nunca desistir»
+ Rev. D. Joan FARRÉS i Llarisó (Rubí, Barcelona,
Espanha)
Sta Gertrudes, Virgem |
Hoje,
nos últimos dias do tempo litúrgico, Jesus exorta-nos a orar, a dirigir-nos a
Deus. Podemos pensar como aqueles pais e mães de família que esperam -todos os dias!
- que os seus filhos lhes digam algo, que lhes demonstrem o seu afeto amoroso.
Deus,
que é Pai de todos, também o espera, Jesus nos diz muitas vezes no Evangelho, e
sabemos que falar com Deus é fazer oração. A oração é a voz da fé, da nossa
crença nele, também da nossa confiança, e tomara fosse sempre manifestação do
nosso amor.
Para
que a nossa oração seja perseverante e confiada, diz São Lucas, que «Jesus
contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de orar
sempre, sem nunca desistir» (Lc 18,1). Sabemos que a oração se pode fazer
louvando o Senhor ou dando graças, ou reconhecendo a própria debilidade humana
-o pecado-, implorando a misericórdia de Deus, mas na maioria das vezes será
pedindo alguma graça ou favor. E, mesmo que no momento não se consiga o que se pede,
só o fato de se poder dirigir a Deus, o fato de poder contar a esse Alguém a
pena ou a preocupação, já é a obtenção de algo, e seguramente, -mesmo que não
de imediato, mas no tempo-, obterá resposta, porque «Deus, não fará justiça aos
seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? (Lc 18,7).
São
João Clímaco, a propósito desta parábola evangélica, diz que «aquele juiz que
não temia a Deus, cede frente à insistência da viúva para não ter mais o peso
de a ouvir. Deus fará justiça à alma, viúva dele pelo pecado, frente ao Corpo,
o seu primeiro inimigo, e frente aos demônios, os seus adversários invisíveis.
O Divino Comerciante saberá intercambiar bem as nossas boas mercadorias, pôr à
disposição os seus grandes bens com amorosa solicitude e estar pronto para
acolher as nossos súplicas».
Perseverança
na oração, confiança em Deus. Dizia Tertuliano que «só a oração vence a Deus».
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sta Margarida da Escócia, Viúva |
* O Evangelho de hoje
traz um outro assunto muito caro a Lucas, a saber, a oração. É a segunda vez que Lucas traz
palavras de Jesus para ensinar como rezar. Na primeira vez (Lc 11,1-13),
ensinou o Pai-Nosso e, por meio de comparações e parábolas, ensinou que devemos
rezar com insistência sem esmorecer. Agora, nesta segunda vez (Lc 18,1-8), ele
recorre novamente a uma parábola tirada da vida para ensinar a insistência na
oração. É a parábola da viúva que incômoda o juiz sem moral. A maneira de apresentar a parábola é muito didática.
Primeiro, Lucas dá uma breve introdução que serve como chave de leitura. Em
seguida, Jesus conta a parábola. No fim, o próprio Jesus faz a aplicação.
* Lucas 18,1: A
introdução
Lucas
introduz a parábola com a seguinte frase: "Contou-lhes ainda uma parábola
para mostrar a necessidade de orar sempre, sem jamais desanimar". A
recomendação para “orar sem desanimar” aparece muitas vezes no Novo Testamento
(1 Tes 5,17; Rm 12,12; Ef 6,18; etc). Este é um traço característico da
espiritualidade das primeiras comunidades cristãs.
* Lucas 18,2-5: A
parábola
Em
seguida, Jesus traz dois personagens da vida real: um juiz sem consideração por
Deus e sem consideração para com as pessoas, e uma viúva que luta pelos seus
direitos junto do juiz. O simples fato de Jesus trazer estes dois personagens
revela a consciência crítica que ele tinha da sociedade do seu tempo. A
parábola apresenta o povo pobre lutando no tribunal pelos seus direitos. O juiz
resolve atender à viúva e fazer-lhe justiça. O motivo é este: ficar livre da
chateação da viúva e não ser esbofeteado por ela. Motivo bem interesseiro. Mas
a viúva conseguiu o que ela queria! Este é o fato da vida diária, usado por
Jesus para ensinar como rezar.
* Lucas 18,6-8: A
aplicação
Jesus
aplica a parábola: "Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. E Deus
não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que
vai fazê-los esperar? Eu lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem
depressa”. Se não fosse Jesus, nós não teríamos tido a coragem de comparar Deus
com um Juiz ateu sem moral! No fim, Jesus expressa uma dúvida: "Mas, o
Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?"
Ou seja, será que vamos ter a coragem de esperar, de ter paciência, mesmo que
Deus demore em atender?
* Jesus orante. Os primeiros cristãos conservaram
uma imagem de Jesus orante, em contato permanente com o Pai. De fato, a
respiração da vida de Jesus era fazer a vontade do Pai (Jo 5,19). Jesus rezava
muito e insistia, para que o povo e seus discípulos também rezassem. Pois é no
confronto com Deus, que a verdade aparece e que a pessoa se encontra consigo
mesma em toda a sua realidade e humildade.
Lucas é o evangelista que mais nos informa sobre a vida de oração de
Jesus. Ele apresenta Jesus em constante oração. Eis alguns dos momentos em que
Jesus aparece rezando. Você pode completar a lista:
*
Aos doze anos de idade, ele vai no Templo, na Casa do Pai (Lc 2,46-50).
*
Na hora de ser batizado e de assumir a missão, ele reza (Lc 3,21).
*
Na hora de iniciar a missão, passa quarenta dias no deserto (Lc 4,1-2).
*
Na hora da tentação, ele enfrenta o diabo com textos da Escritura (Lc 4,3-12).
*
Jesus tem o costume de participar das celebrações nas sinagogas aos sábados (Lc
4,16)
*
Procura a solidão do deserto para rezar (Lc 5,16; 9,18).
*
Na véspera de escolher os doze Apóstolos, passa a noite em oração (Lc 6,12).
*
Reza antes das refeições (Lc 9,16; 24,30).
*
Na hora de fazer levantamento da realidade e de falar da sua paixão, ele reza
(Lc 9,18).
*
Na crise, sobe o Monte para rezar e é transfigurado enquanto reza (Lc 9,28).
*
Diante da revelação do Evangelho aos pequenos, ele diz: “Pai eu te agradeço!”
(Lc 10,21)
*
Rezando, desperta nos apóstolos vontade de rezar (Lc 11,1).
*
Rezou por Pedro para ele não desfalecer na fé (Lc 22,32).
*
Celebra a Ceia Pascal com seus discípulos (Lc 22,7-14).
*
No Horto das Oliveiras, ele reza, mesmo suando sangue (Lc 22,41-42).
*
Na angústia da agonia pede aos amigos para rezar com ele (Lc 22,40.46).
*
Na hora de ser pregado na cruz, pede perdão pelos carrascos (Lc 23,34).
*
Na hora da morte, ele diz: "Em tuas mãos entrego meu espírito!" (Lc
23,46; Sl 31,6)
*
Jesus morre soltando o grito do pobre (Lc 23,46).
* Esta longa lista
mostra o seguinte.
Para Jesus, a oração estava intimamente ligada à vida, aos fatos concretos, às
decisões que devia tomar. Para poder ser fiel ao projeto do Pai, ele buscava
ficar a sós com ele. Escutá-lo. Nos momentos difíceis e decisivos de sua vida,
Jesus rezava os Salmos. Como todo judeu piedoso, conhecia-os de memória. A
recitação dos Salmos não matou nele a criatividade. Pelo contrário. Jesus
chegou a fazer um salmo que ele transmitiu para nós. É o Pai Nosso. Sua vida
era uma oração permanente: "Eu a cada momento faço o que o Pai me mostra
para fazer!" (Jo 5,19.30) A ele se aplica o que diz o Salmo: "Eu sou
oração!" (Sl 109,4)
Para um confronto
pessoal
1. Tem gente que diz que não sabe
rezar, mas conversa com Deus o dia todo. Você conhece pessoas assim? Conte. Há
muitas maneiras do povo hoje expressar a sua devoção e oração. Quais?
2. O que estas duas parábolas nos
ensinam sobre a oração? O que elas nos ensinam sobre a maneira de ver a vida e
as pessoas?
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