Beato John Henry Newman. Bispo |
Salmo
Responsorial: 85
R. Senhor, sois um
Deus paciente e cheio de misericórdia.
Tende
piedade de mim, Senhor, que a Vós clamo todo o dia. Alegrai a alma do vosso
servo, porque a Vós, Senhor, elevo a minha alma.
Vós,
Senhor, sois bom e indulgente, cheio de misericórdia para com todos os que Vos
invocam. Ouvi, Senhor, a minha oração, atendei a voz da minha súplica.
Todos
os povos que criastes virão adorar-Vos, Senhor, e glorificar o vosso nome,
porque Vós sois grande e operais maravilhas, Vós sois o único Deus.
Aleluia.
Recebestes o espírito de adoção filial; nele clamamos: «Abba, ó Pai». Aleluia.
Evangelho
(Lc 11,1-4): Um dia, Jesus estava orando num certo
lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: «Senhor, ensina-nos a
orar, como também João ensinou a seus discípulos». Ele respondeu: «Quando
orardes, dizei: Pai, santificado seja teu nome; venha o teu Reino; dá-nos, a cada
dia, o pão cotidiano, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos
a todo aquele que nos deve; e não nos introduzas em tentação».
«Senhor, ensina-nos a
orar, como também João ensinou a seus discípulos»
Fr. Austin Chukwuemeka IHEKWEME (Ikenanzizi, Nigéria)
Pio XII, Papa |
Vemos
em seguida que a oração, segundo Jesus, é um trato do tipo pai-filho. Isto é,
um assunto familiar baseado em uma relação de familiaridade e amor. A imagem de
Deus como pai nos fala de uma relação baseada no afeto e na intimidade, e não
no de poder e autoridade.
Rezar
como cristãos supõe em uma situação onde vemos a Deus como pai e lhe falamos,
como seus filhos: «Orar é falar com Deus. Mas, de que? -De que? Dele, de você:
alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações
diárias..., fraquezas! e ações de graças e petições: e Amor e desagravo. Em
duas palavras: conhecer-lhe e conhecer você: tratar-se!» (São Josemaria).
Quando
os filhos falam com seus pais prestam atenção em uma coisa: transmitir em palavras
e linguagem corporal o que sentem no coração. Chegamos a ser melhores mulheres
e homens de oração quando nosso trato com Deus se faz mais íntimo, como o de um
pai com seu filho. Disso nos deixou como exemplo o próprio Jesus. Ele é o
caminho.
E,
se acode à Virgem, mestra de oração, que fácil lhe será! De fato, «a
contemplação de Cristo tem em Maria seu modelo insuperável. O rosto do Filho
lhe pertence de um modo especial (...). Ninguém se dedicou com a assiduidade de
Maria à contemplação do rosto de Cristo» (João Paulo II).
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
No Evangelho de hoje continua o relacionamento conflituoso entre Jesus e as
autoridades religiosas da época. Hoje, na igreja acontece o mesmo conflito.
Numa determinada diocese, o bispo convocou os pobres a participar ativamente.
Eles atenderam ao pedido e em grande número começaram a participar. Surgiu um
grave conflito. Os ricos diziam que foram excluídos e alguns sacerdotes
começaram a dizer: “O bispo só faz política e esquece o evangelho!”
* Lucas 11,42: Ai de
vocês, que deixam de lado a justiça e o amor
“Ai
de vocês, fariseus, porque vocês pagam o dízimo da hortelã, da arruda e de
todas as outras ervas, mas deixam de lado a justiça e o amor de Deus. Vocês
deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”. Esta crítica de Jesus contra os líderes
religiosos daquela época pode ser repetido contra muitos líderes religiosos dos
séculos seguintes, até hoje. Muitas vezes, em nome de Deus, insistimos em
detalhes e esquecemos a justiça e o amor. Por exemplo, o jansenismo tornou
árida a vivência da fé, insistindo em observâncias e penitências que desviaram
o povo do caminho do amor. A irmã carmelita Santa Teresa de Lisieux foi criada
nesse ambiente jansenista que marcava a França no fim do século XIX. Foi a
partir de uma dolorosa experiência pessoal, que ela soube recuperar a
gratuidade do amor de Deus como a força que deve animar por dentro a
observância das normas. Pois, sem a experiência do amor, as observâncias fazem
de Deus um ídolo.
A
observação final de Jesus dizia: “Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de
lado aquilo”. Esta advertência faz lembrar uma outra observação de Jesus que
serve de comentário: "Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas.
Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. Eu garanto a vocês: antes que o
céu e a terra deixem de existir, nem sequer uma letra ou vírgula serão tiradas
da Lei, sem que tudo aconteça. Portanto, quem desobedecer a um só desses
mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será
considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem os praticar e
ensinar, será considerado grande no Reino do Céu. Com efeito, eu lhes garanto:
se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês
não entrarão no Reino do Céu" (Mt 5,17-20)
* Lucas 11,43: Ai de
vocês, que gostam dos lugares de honra
“Ai
de vocês, fariseus, porque gostam do lugar de honra nas sinagogas, e de serem
cumprimentados em praças públicas”.
Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento hipócrita de
alguns fariseus. Estes tinham gosto em circular pelas praças com longas
túnicas, receber as saudações do povo, ocupar os primeiros lugares nas
sinagogas e os lugares de honra nos banquetes (cf. Mt 6,5; 23,5-7). Marcos
acrescenta que eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas
preces em troca de dinheiro! Pessoas assim vão receber um julgamento mais
severo (Mc 12,38-40). Hoje acontece o mesmo na nossa igreja.
* Lucas 11,44: Ai de
vocês, túmulos escondidos
“Ai
de vocês, porque são como túmulos que não se veem, e os homens pisam sobre eles
sem saber". Lucas modificou a comparação. Em Mateus se diz: “Vocês são
como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios
de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora, parecem justos
diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt
23,27-28). A imagem de “sepulcros
caiados” fala por si e não precisa de comentário. Por meio dela, Jesus condena
os que mantêm uma aparência fictícia de pessoa correta, mas cujo interior é a
negação total daquilo que querem fazer aparecer para fora. Lucas fala em
sepulcros escondidos: “Ai de vocês, porque são como túmulos que não se veem, e
os homens pisam sobre eles sem saber". Quem pisa ou toca num sepulcro
torna-se impuro, mesmo quando o sepulcro existe escondido debaixo do chão. A
imagem é muito forte: por fora, o fariseu de sempre parece justo e bom, mas
esse aspecto é um engano, pois dentro dele existe um sepulcro escondido que,
sem o povo se dar conta, espalha um veneno que mata, comunica uma mentalidade
que afasta de Deus, sugere uma compreensão errada da Boa Nova do Reino. Uma
ideologia que faz do Deus vivo um ídolo morto!
* Lucas 11,45-46:
Crítica do doutor da lei e a resposta de Jesus
“Um
especialista em leis tomou a palavra, e disse: "Mestre, falando assim
insultas também a nós!" Na resposta
Jesus não voltou atrás mas deixou bem claro que a mesma crítica valia também
para os escribas: "Ai de vocês também, especialistas em leis! Porque vocês
impõem sobre os homens cargas insuportáveis, e vocês mesmos não tocam essas
cargas nem com um só dedo”. No Sermão da Montanha, Jesus expressou a mesma
crítica que serve de comentário: “Os doutores da Lei e os fariseus têm
autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vocês devem fazer e
observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e
não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles
mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt
23,2-4).
Para um confronto
pessoal
1) A hipocrisia mantém uma aparência
enganadora. Até onde atua em mim a hipocrisia? Até onde a hipocrisia atua na
nossa igreja?
2) Jesus criticava os escribas que
insistiam na observância disciplinar das coisas miúdas da lei como dízimo da
hortelã, da arruda e de todas as ervas, e esqueciam de insistir no objetivo da
lei que é a prática da justiça e do amor. Vale para mim esta crítica?
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