15 de setembro: N.Sra das Dores |
Salmo Responsorial: 50
R. Vou partir e vou ter com meu pai.
Compadecei-Vos
de mim, ó Deus, pela vossa bondade, pela vossa grande misericórdia, apagai os
meus pecados. Lavai-me de toda a iniquidade e purificai-me de todas as faltas.
Criai em
mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença e não retireis de mim o vosso
espírito de santidade.
Abri,
Senhor, os meus lábios e a minha boca anunciará o vosso louvor. Sacrifício
agradável a Deus é um espírito arrependido: não desprezeis, Senhor, um espírito
humilhado e contrito.
2ª Leitura (1Tim
1,12-17): Caríssimo: Dou graças Àquele que me
deu força, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que me julgou digno de confiança e me
chamou ao seu serviço, a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento.
Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, quando ainda era
descrente. A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade
que temos em Cristo Jesus. É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a
aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o
primeiro deles. Mas alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente,
Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para os que
hão de acreditar n’Ele, para a vida eterna. Ao Rei dos séculos, Deus imortal,
invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Aleluia. Em Cristo,
Deus reconcilia o mundo consigo e confiou-nos a palavra da reconciliação.
Aleluia.
Evangelho (Lc 15,1-32): Todos os
publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus e os
escribas, porém, murmuravam contra ele. «Este homem acolhe os pecadores e come
com eles». Então ele contou-lhes esta parábola: «Quem de vós que tem cem
ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás daquela
que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, alegre a põe nos ombros e,
chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo!
Encontrei a minha ovelha que estava perdida ’ Eu vos digo: assim haverá no céu
alegria por um só pecador que se converte, mais do que por noventa e nove
justos que não precisam de conversão. E se uma mulher tem dez moedas de prata e
perde uma, não acende a lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até
encontrá-la? Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos
comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!’ Assim, eu vos digo, haverá
alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte». E Jesus
continuou. «Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai,
dá-me a parte da herança que
me cabe’. E o pai dividiu os bens entre
eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para
um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha
esbanjado tudo o que possuía, chegou uma grande fome àquela região, e ele
começou a passar necessidade. Então, foi pedir trabalho a um homem do lugar,
que o mandou para seu sítio cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com a
comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse:
«Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de
fome. Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra Deus e contra
ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus
empregados’. Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe,
seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o
e o cobriu de beijos. O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e
contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos
empregados: «Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe
um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o, para
comermos e festejarmos. Pois este meu filho estava morto e tornou a viver;
estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho
estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança.
Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. Ele
respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque
recuperou seu filho são e salvo’. Mas ele ficou com raiva e não queria entrar.
O pai, saindo, insistiu com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho
para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E nunca me
deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Mas quando chegou esse teu
filho, que esbanjou teus bens com as prostitutas, matas para ele o novilho
gordo’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é
meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava
morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado’».
«Haverá (...) alegria
entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte»
Rev. D. Alfonso RIOBÓ Serván (Madrid, Espanha)
Podemos
retornar ao começo da passagem, para encontrar a ocasião que permite a Jesus
Cristo expor esta parábola. Sucedia, segundo nos diz a Escritura, que «Todos os
publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar» (Lc 15,1), e
isto surpreendia aos fariseus e escribas, que murmuravam: «Os fariseus e os
escribas, porém, murmuravam contra ele. «Este homem acolhe os pecadores e come
com eles» (Lc 15,2). Parece-lhes que o Senhor não deveria compartilhar seu
tempo e sua amizade com pessoas de vida pouco correta. Fecham-se ante quem,
longe de Deus, necessita conversão.
Mas, se a
parábola ensina que ninguém está perdido para Deus, e anima a todo pecador
enchendo-lhe de confiança e fazendo-lhe conhecer sua bondade, encerra também um
importante ensinamento para quem, aparentemente, não necessita converter-se:
não julgue que alguém é “mal” nem exclua a ninguém, procure atuar em todo
momento com a generosidade do pai que aceita a seu filho. O receio do filho
mais velho, relatado ao final da parábola, coincide com o escândalo inicial dos
fariseus.
Nesta
parábola não somente é convidado à conversão quem patentemente a necessita, mas
também quem não acha necessitá-la. Seus destinatários não são somente os
publicanos e pecadores, mas igualmente os fariseus e escribas; não são somente
os que vivem dando as costas a Deus, e talvez nós, que recebemos tanto Dele e
que, no entanto, nos conformamos com o que lhe damos em troca e não são
generosos no tratamento com os outros. Introduzido no mistério do amor de Deus
— nos diz o Concilio Vaticano II— recebemos uma chamada a começar uma relação
pessoal com Ele mesmo, a empreender um caminho espiritual para passar do homem
velho ao novo homem perfeito segundo Cristo.
A conversão
que necessitamos poderia ser menos chamativa, mas talvez haja de ser mais
radical e profunda, e mais constante e mantida: Deus nos pede que nos
convertamos ao amor.
A misericórdia do
Senhor é o amor gratuito de Deus a cada um de nós, recomeçando sempre, todas as
vezes que nos afastamos d’Ele.
Geraldo Morujão
A leitura
de hoje, na sua forma longa, engloba todo o cap. 15 de S. Lucas, com as três
parábolas da misericórdia divina; todas as três põem em evidência a alegria que
Deus sente com o reencontro com o pecador, representado na ovelha perdida (vv.
4-7), na dracma perdida (8-10) e no filho perdido (11-32). Nas duas primeiras
Deus é representado à procura do pecador; na terceira, no impressionante
acolhimento que lhe presta. Estas parábolas são exclusivas do Evangelho de S.
Lucas; a parábola da ovelha perdida também aparece em Mt 18, 10-14, mas num
outro sentido: visa o cuidado que os chefes da Igreja devem pôr em não deixar
que se perca nenhum dos pequeninos, isto é, aqueles fiéis que pela sua
fragilidade correm mais risco de se perderem.
Alguém
considerou a parábola do filho pródigo «o evangelho dos evangelhos». É a mais
bela e a mais longa das parábolas de Jesus, impregnada duma finíssima
psicologia própria de quem no-la contou, Jesus, que conhece a infinita
misericórdia do coração de Deus, que é o seu próprio coração, e que penetra na
profundidade da alma humana (cf. Jo 2, 25), onde se desenrola o tremendo drama
do pecado. «Aquele filho, que recebe do pai a parte do património que lhe
corresponde, e abandona a casa para o desbaratar num país longínquo, vivendo
uma vida libertina, é, em certo sentido, o homem de todos os tempos, começando
por aquele que em primeiro lugar perdeu a herança da graça e da justiça
original. A analogia neste ponto é muito ampla. A parábola aborda
indirectamente todo o tipo de rupturas da aliança de amor, todas as perdas da
graça, todo o pecado» (Encíclica Dives in misericordia, nº 5; ver tb. Catecismo
da Igreja Católica, nº 1439).
«Dá-me a parte da herança»: segundo Dt 21, 17 pertencia-lhe um
terço, havendo só dois filhos. O pai podia fazer as partilhas em vida (cf. Sir
30, 28ss).
«Partiu…»: o pecado do filho foi abandonar o
pai, esbanjar os seus bens e levar uma vida dissoluta.
«Uma grande fome: é a imagem do vazio e insatisfação
que sente o homem quando está longe de Deus, em pecado. «Guardar porcos» era
uma humilhação abominável para um judeu, a quem estava proibido criar e comer
estes animais impuros. Esta situação para um filho duma boa família era
absolutamente incrível, o cúmulo da baixeza e da servidão. As «alfarrobas»: o
rapaz já se contentaria com uma tão indigesta e indigna comida, mas, na hora de
se dar uma ração dessas aos porcos, ninguém se lembrava daquele miserável
guardador! Aqui fica bem retratada a vileza do pecado e a escravidão a que se
submete o homem pecador (cf. Rom 1, 25; 6, 6; Gal 5, 1). O filho pretendia ser
livre da tutela do pai, mas acaba por perder a liberdade própria da sua
condição: imagem do pecador que perde a liberdade dos filhos de Deus (cf. Rom
8, 21; Gal 4, 31; 5, 13) e se sujeita à tirania do demónio, das paixões.
«Então, caindo em si…» A degradação a que a loucura do seu
pecado o tinha levado fê-lo reflectir (é o começo da conversão) e enveredar
pela única saída digna e válida.
«Vou-me embora»: A tradução latina (surgam =
levantar-me-ei) do particípio gráfico (mas não ocioso) do original grego –
«levantando-me, vou ter…» – é muito mais expressiva do que a tradução
litúrgica, pois, duma forma viva, indica a atitude de quem começa a erguer-se
da sua profunda miséria.
«Pequei contra o Céu e contra ti»: nesta expressão retrata-se a
dimensão transcendente do pecado; não é uma simples ofensa a um homem, é
ofender a Deus, uma ofensa de algum modo infinita! O filho não busca desculpas,
reconhece sinceramente a enormidade da sua culpa.
«Trata-me como um dos teus
trabalhadores». É
maravilhoso considerar como naquele filho arrependido começa a brotar o amor ao
pai; o que ele ambiciona é ir para junto do pai, estar junto a ele é o que o
pode fazer feliz! Melhorar a sua situação material não é o que mais o preocupa,
pois, para isso, qualquer proprietário da sua pátria o podia admitir como
jornaleiro; assim a parábola não descreve uma atitude interesseira do filho,
mas a humildade e a contrição de quem se reconhece pecador. Por outro lado, ele
não se atreve a pedir ao pai que o admita no gozo da sua antiga condição de
filho, porque reconhece a sua indignidade: «já não mereço ser chamado teu filho».
«Ainda ele estava longe, quanto o
pai o viu». Este
pormenor faz pensar que o pai não só desejava ansiosamente o regresso do filho,
mas também, muitas vezes, observava ao longe os caminhos, impaciente de ver o
filho chegar quanto antes, uma enternecedora imagem de como Deus aguarda a
conversão do pecador. «Encheu-se de compaixão»: o verbo grego é muito
expressivo e difícil de traduzir com toda a sua força, esplankhnístê:
«comoveram-se-lhe as entranhas» (tà splánkhna). «E correu…»: é impressionante o
contraste entre o pai que corre para o filho e o filho que simplesmente caminha
para o filho – «a misericórdia corre» (comenta Sto. Agostinho); «cobrindo-o de
beijos», numa boa tradução que tem em conta a forma iterativa do verbo grego, é
uma belíssima e expressiva imagem do amor de Deus para com um pecador
arrependido!
«Pai, pequei». Apesar de se ver assim recebido
pelo pai, o filho não se escusa de confessar o seu pecado e de manifestar a
atitude interior que o move a regressar.
«A melhor túnica,
o anel, o calçado», são uma imagem
da graça, o traje nupcial (cf. Mt 22, 11-13); assim nos espera o Senhor no
Sacramento da Reconciliação, não para nos ralhar, recriminar, mas para nos
admitir na sua antiga intimidade, restituindo-nos, cheio de misericórdia, a
graça perdida.
«Comamos e festejemos», a imagem da Sagrada Eucaristia,
segundo um sentido espiritual corrente.
«O filho mais velho»: esta segunda parte da parábola não
se pode limitar a uma censura dos fariseus e escribas (v. 2), cumpridores, mas
insensíveis ao amor – o mais velho é que é, no fim de contas, o filho mau –; a
parábola é também uma lição para todos, a fim de que imitem a misericórdia de
Deus para com um irmão que pecou (cf. Lc 6, 36); ele é sempre «o teu irmão» (v.
33), e não há direito de que não se tome a sério a misericórdia de Deus, com
aquela despeitada ironia: «esse teu filho» (v 30). A misericórdia de Deus é tão
grande, que ultrapassa uma lógica meramente humana; esta segunda parte da
parábola põe em evidência a misericórdia de Deus a partir do contraste com a
mesquinhez do filho mais velho.
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