segunda-feira, 10 de junho de 2019

Pentecostes


Textos: Atos 2, 1-11; Rom 8, 8-17; 10, 19-23; Jo 14, 15-16.23b-26

1ª Leitura (At 2,1-11): Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e posou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».

Salmo Responsorial: 103
R/. Enviai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra.

Bendiz, ó minha alma, o Senhor. Senhor, meu Deus, como sois grande! Como são grandes, Senhor, as vossas obras! A terra está cheia das vossas criaturas.

Se lhes tirais o alento, morrem e voltam ao pó donde vieram. Se mandais o vosso espírito, retomam a vida e renovais a face da terra.

Glória a Deus para sempre! Rejubile o Senhor nas suas obras. Grato Lhe seja o meu canto e eu terei alegria no Senhor.

2ª Leitura (1Cor 12,3b-7.12-13): Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nós foi dado a beber um único Espírito.

SEQUÊNCIA: Vinde, ó santo Espírito, vinde, Amor ardente, acendei na terra vossa luz fulgente. Vinde, Pai dos pobres: na dor e aflições, vinde encher de gozo nossos corações. Benfeitor supremo em todo o momento, habitando em nós sois o nosso alento. Descanso na luta e na paz encanto, no calor sois brisa, conforto no pranto. Luz de santidade, que no Céu ardeis, abrasai as almas dos vossos fiéis. Sem a vossa força e favor clemente, nada há no homem que seja inocente. Lavai nossas manchas, a aridez regai, sarai os enfermos e a todos salvai. Abrandai durezas para os caminhantes, animai os tristes, guiai os errantes. Vossos sete dons concedei à alma do que em Vós confia: Virtude na vida, amparo na morte, no Céu alegria.

Aleluia. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Aleluia.

Evangelho (Jo 20,19-23): Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: «A paz esteja convosco». Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus disse de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio». Então, soprou sobre eles e falou: «Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos».

«Recebei o Espírito Santo»

Mons. Josep Àngel SAIZ i Meneses Bispo de Terrassa. (Barcelona, Espanha)

Hoje, no dia de Pentecostes se realiza o cumprimento da promessa que Cristo fez aos Apóstolos. Na tarde do dia de Páscoa soprou sobre eles e lhes disse: «Recebei o Espírito Santo» (Jo 20,22). A vinda do Espírito Santo o dia de Pentecostes renova e leva à plenitude esse dom de um modo solene e com manifestações externas. Assim culmina o mistério pascal.

O Espírito que Jesus comunica cria no discípulo uma nova condição humana e produz unidade. Quando o orgulho do homem lhe leva a desafiar a Deus construindo a torre de Babel, Deus confunde as suas línguas e não podem se entender. Em Pentecostes acontece o contrário: por graça do Espírito Santo, os Apóstolos são entendidos por pessoas das mais diversas procedências e línguas.

O Espírito Santo é o Mestre interior que guia ao discípulo até a verdade, que lhe move a obrar o bem, que o consola na dor, que o transforma interiormente, dando-lhe uma força, uma capacidade nova.

O primeiro dia de Pentecostes da era cristã, os apóstolos estavam reunidos em companhia de Maria e, estavam em oração. O recolhimento, a atitude orante é imprescindível para receber o Espírito. «De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles» (At 2,2-3).

Todos ficaram cheios do Espírito Santo e, puseram-se a predicar valentemente. Aqueles homens atemorizados tinham sido transformados em valentes predicadores que não temiam o cárcere, nem a tortura, nem o martírio. Não é estranho; a força do Espírito estava neles.

O Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é a alma da minha alma, a vida da minha vida, o ser de meu ser; é o meu santificador, o hóspede do meu interior mais profundo. Para chegar à maturação na vida de fé é preciso que a relação com Ele seja cada vez mais consciente, mais pessoal. Nesta celebração de Pentecostes abramos as portas de nosso interior de par em par.


MISSA DA VIGÍLIA (Jo 7,37-39)

«Do seu interior correrão rios de água viva»

Rev. D. Joan MARTÍNEZ Porcel (Barcelona, Espanha)

Hoje contemplamos Jesus no último dia da festa dos Tabernáculos, quando de pé gritou: «Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim, conforme a Escritura: ‘Do seu interior correrão rios de água viva’» (Jo 7,37-38). Referia-se ao Espírito. A vinda do Espírito é um teofania na que o vento e o fogo nos lembram a transcendência de Deus. Depois de receber ao Espírito, os discípulos falam sem medo. Na Eucaristia da vigília vemos ao Espírito como usualmente referimo-nos ao papel do Espírito em relação individual, porém hoje a palavra de Deus remarca sua ação na comunidade cristã: «Ele disse isso falando do Espírito que haviam de receber os que acreditassem nele» (Jo 7,39). O Espírito constitui a unidade firme e sólida que transforma a comunidade em um corpo só, o corpo de Cristo. Também, ele mesmo é a origem da diversidade de dons e carismas que nos diferenciam a todos e a cada um de nós.

A unidade é signo claro da presença do Espírito nas nossas comunidades. O mais importante da Igreja é invisível e, é precisamente a presença do Espírito que a vivifica. Quando olhamos a Igreja unicamente com olhos humanos, sem fazê-la objeto de fé, erramos, porque deixamos de perceber nela a força do Espírito. Na normal tensão entre unidade e diversidade, entre igreja universal e local, entre comunhão sobrenatural e comunidade de irmãos, necessitamos saborear a presença do Reino de Deus na sua Igreja peregrina. Na oração coleta da celebração eucarística da vigília pedimos a Deus que «os povos divididos (...) se congreguem por meio do teu Espírito e, reunidos, confessem teu nome na diversidade de suas línguas».

Agora devemos pedir a Deus saber descobrir o Espírito como alma de nossa alma e alma da Igreja.

As maravilhas que faz o Espírito Santo no mundo, na Igreja e em nossas almas.

Pe Antonio Rivero LC

“Sempre que o Espírito Santo intervém, deixa-nos atônitos”, disse o cardeal Van Thuan quando pregou o retiro espiritual no ano 2000 para o Papa e para a cúria romana. E só quem tem fé descobre as secretas e clamorosas maravilhas do Espírito Santo.

Em primeiro lugar, as maravilhas que faz o Espírito Santo no cosmos e na natureza. Não é incrível a ação do Espírito que faz 15.000 milhões de anos apertou o botão e desencadeou o Bing Bang e, do estouro de um átomo milhares de vezes menor do que ponta de um alfinete, brotaram a matéria e a energia, o tempo e o espaço, as galáxias, as estrelas, os sois e os planetas, o céu e a terra com o mar, os dias e as noites, o homem e a mulher. Pois aquele Espírito era o Espírito Santo, o Espírito de Deus. Dizem os livros sagrados do Novo Testamento que o Espírito é o Espírito da verdade, do amor e da santidade, da unidade com a igualdade e a fraternidade universais, da esperança, da alegria e da paz. Ou seja, que tudo isso que buscamos e não encontramos, que os políticos prometem e não dão, que desejamos e com que nos frustramos, é, e nós sem dar-nos conta!, o Espírito Santo de Deus e do homem.  

Em segundo lugar, as maravilhas que faz o Espírito Santo na igreja. Basta repassar as folhas da história da Igreja, desde os seus inícios. A Igreja, comunhão vivente na fé dos apóstolos que ela transmite, é o lugar do nosso conhecimento do Espírito Santo: nas Escrituras que Ele inspirou; na Tradição que Ele conservou, e da qual os Padres da Igreja são testemunhas sempre atuais; no Magistério da Igreja, ao que Ele assiste; na liturgia sacramental- em cada sacramento-, através das suas palavras e dos seus símbolos, onde o Espírito Santo nos coloca em comunhão com Cristo; na oração na que Ele intercede por nós; nos carismas e ministérios mediante os quais se edifica a Igreja; nos sinais de vida apostólica e missionária; no testemunho dos santos, onde Ele manifesta a sua santidade e continua a obra da salvação. Aí está também o Espírito Santo em todos os Concílios que ao longo dos séculos se celebraram para explicar, esclarecer e aprofundar a doutrina, para condenar as heresias e para conservar intacta a fé da Igreja. Aí está o Espírito Santo assistindo o Papa quando fala “ex cathedra” em matéria de fé e de moral, e por isso é infalível. Ou quando o Espírito Santo inspira ao Papa iniciativas incríveis: Jornada Mundial da Juventude, Anos Santos, Anos Extraordinários. A Igreja não é uma sociedade como qualquer outra; não nasce porque os apóstolo tenham sido afins; nem porque tenham convivido juntos por três anos; nem sequer pelo seu desejo de continuar a obra de Jesus. O que faz e constitui como Igreja todos o que “estavam juntos no mesmo lugar” (Atos 2,1), é que “todos ficaram cheios do Espírito Santo” (Atos 2,4). Tudo o que a Igreja anuncia, testemunha e celebra é sempre graças ao Espírito Santo. São dois mil anos de trabalho apostólico, com tropeços e vitórias; acertos e erros, toda uma história de luta por fazer presente o Reino de Deus entre os homens, que não terminará até o fim do mundo, pois Jesus antes de partir nos prometeu: “… eu estarei com vocês, todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28.20).     

Finalmente, as maravilhas que faz o Espírito Santo na nossa alma. Se um pecador se arrepende e se converte, é devido à ação secreta e interior do Espírito Santo. Se uma boa alma se lança a uma vida mais fervorosa e santa, e deixa a mediocridade, sem dúvida alguma que tem sido o Espírito Santo quem o inspirou e lhe deu a graça para essa mudança. E quando um santo está disposto ao martírio, não é pelas suas próprias forças. Só o Espírito Santo, com o dom de fortaleza, reveste esse homem da valentia necessária para enfrentar dito martírio. Confirma-nos isto o famoso filme baseado no drama do escritor francês Georges Bernanos “Diálogo de carmelitas”; freiras condenadas ao patíbulo e levadas à guilhotina no tempo da revolução francesa; subiam uma a uma cantando o hino do “Veni Creator Spiritus”, hino do século VIII dedicado ao Espírito Santo. Qual foi a surpresa nessa obra? Uma freira, da nobreza francesa, que por medo à morte foi embora do convento, que por medo à execução do martírio se escapou do convento… e agora foi a última em subir o cadafalso e terminar o hino, cheia de valentia do Espírito Santo. Quem inspira os homens e mulheres a fundar uma Congregação religiosa ou um Movimento ou Comunidade? O Espírito Santo que é luz para as mentes. Nos momentos de dor e de aflição, quem deveria nos consolar? Que nos confirme o cardeal Van Thuan, que esteve nos cárceres do Vietnam durante quatorze anos, nove dos quais isolado. Quando ele não tinha força para rezar, o Espírito Santo inspirava ao carcereiro comunista para que cantasse, todas as manhãs ao descer para fazer ginástica, o hino “Veni Creator Spiritus”, que o mesmo Van Thuan tinha ensinado para ela.  Só o Espírito Santo, que é o Divino Consolador, podia fazer essas coisas e deixar-nos atónitos. Nos momentos de decisões importantes na vida, quem devemos invocar? O espirito Santo. Quando um matrimônio supera uma crise e se perdoam esposo e esposa, quem está detrás? O Espírito Santo que é Espírito de união e harmonia.       

Para refletir: “Sem o Espírito Santo, Deus está longe, Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade uma dominação, a missão uma propaganda, o culto uma evocação e o agir cristão uma moral de escravos. Mas Nele: o cosmos se subleva e geme nas dores do Reino. Cristo ressuscitado está presente, o Evangelho é potência de vida, a Igreja é comunhão trinitária, a autoridade é serviço libertador, a missão é Pentecostes, a liturgia é memória e antecipação, o agir humano se deifica” (Inácio de Laodicea).

Para rezar: rezemos com Santo Agostinho:
Espírito Santo, inspirai-nos, para pensarmos santamente.
Espírito Santo, incitai-nos, para agirmos santamente.
Espírito Santo, atrai-nos, para amarmos as coisas santas.
Espírito Santo, fortalecei-nos, para defender as coisas santas.
Espírito Santo, ajudai-nos, para não perder nunca as coisas santas.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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