Textos: Atos 1, 1-11; Heb 9, 24-28; 10,
19-23; Lc 24, 46-53
Evangelho
(Lc 24,46-53): Naquele tempo, Jesus disse aos
discípulos: «Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao
terceiro dia, e no seu nome será anunciada a conversão, para o perdão dos
pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas
destas coisas. Eu enviarei sobre vós o que meu Pai prometeu. Por isso,
permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto». Então Jesus
levou-os para fora da cidade, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e
abençoou-os. E enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu.
Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria, e
estavam sempre no templo, bendizendo a Deus.
«E enquanto os
abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu»
Dom Josep ALEGRE Abade de Santa Mª Poblet (Tarragona,
Espanha)
Hoje,
Ascensão do Senhor, recordamos mais uma vez a "missão que" temos
confiada: «Vós sois as testemunhas destas coisas» (Lc 24,48). A palavra de Deus
continua sendo hoje atualidade viva: «Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos
dará força (...) e sereis minhas testemunhas» (At 1,8) até os confins do mundo.
A palavra de Deus é exigência de urgente atualidade: «Ide por todo o mundo e
pregai o Evangelho a toda criatura» (Mc 16,15).
Nesta
Solenidade ressoa com força o convite de nosso Mestre, que —revestido da nossa humanidade—
acabada a sua missão neste mundo, deixa nos para sentar-se à destra do Pai e
enviar-nos a força do alto, o Espírito Santo.
Mas
eu devo perguntar-me: —o Senhor atua por meio de mim? Quais são os sinais que
acompanham a minha testemunha? Algo me recorda os versos de um poeta: «Não
podes esperar até que Deus chegue e te diga 'Eu sou'. Um Deus que declara o seu
poder carece de sentido. “Deves saber que Deus sopra por meio de ti desde o
começo, e se teu peito arde e nada denota então Deus está obrando nele».
E
este deve ser o nosso sinal: o fogo que arde em nosso interior, o fogo que
—como no profeta Jeremias— não se pode conter: a Palavra viva de Deus. E
precisamos dizer: Povos todos, batei palmas, aclamai a Deus com vozes alegres.
Deus subiu por entre aclamações, o SENHOR ao som da trombeta. Cantai hinos a
Deus, cantai hinos; cantai hinos ao nosso rei, cantai hinos!» (Sal 47,2.6-7).
O
seu reinado está se formando no coração dos povos, em seu coração, como uma
semente pronta para brotar. —Canta, dança para o Senhor. E se não sabe como
fazê-lo, ponha a Palavra nos seus lábios até que desça ao seu coração: —Deus,
Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, me dá espírito de sabedoria e revelação para
conhecer-te. Ilumina os olhos do meu coração para compreender o teu chamado à
esperança, a riqueza da glória que tendes preparada e a grandeza do teu poder
que despregastes com a ressurreição de Cristo.
A Ascensão do Senhor
nos convida a “voar” ao céu com a mente e com o coração.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Este
mistério glorioso da vida do Senhor se resume assim: Jesus, depois da sua vida
na terra, de ter deixado instituída a sua Igreja e ter-nos presenteado a sua
presença ressuscitada e perpétua nos sacramentos, voltou para o céu, de onde
tinha descido para realizar a salvação da humanidade, para se sentar à direita
do Pai e ser o nosso intercessor. E desde lá nos enviaria o Espírito Santo que
guiaria a Igreja e nos guiaria a cada um esse céu prometido e almejado por todo
coração humano.
Em
primeiro lugar, neste dia o homem deveria almejar “voar” ao céu. Conta a
mitologia que o primeiro homem que realizou o sonho imortal de todos os
mortais, voar, foi Icaro, filho de Dédalo, o engenheiro construtor do labirinto
de Creta. Graças a umas asas de plumagem e vime, que o seu pai construiu para
ele e colou com cera nas suas costas, Icaro decolou um dia da ilha de Creta
rumo ao Olimpo, que era o céu dos deuses pagãos. Mas, ao sobrevoar o mar Egeu,
atravessou as nuvens, o sol pegou forte, derreteu a cera, descolou as asas e,
todo seu gozo num poço, e o pobre Icaro caiu no mar entre as ilhas de Samos,
pátria pequena do teorema de Pitágoras, e a de Patmos, desterro do evangelista
São João. Mas com o fracasso de Icaro a vontade dos homens não terminou de
decolar desde a terra ao céu. No dia 12 de abril de 1961, o cosmonauta russo
Iuri A. Gagarin decolou da base siberiana de Baikonur às 9:07 da manhã e, à
bordo da sua cápsula espacial Wostok, em 89 minutos traçou um eclipse de 175 e
327 Km de altura ao redor da terra. E embora este russo se burlou de Deus
dizendo: “Estive no céu e não encontrei Deus”, contudo, o homem continua
almejando o céu. E é uma verdade de fé que o céu existe. E que ali está Deus. E
que Jesus, um dia como hoje subiu ao céu pela vertical do Monte das Oliveiras.
Em
segundo lugar, Jesus não é nem um Icaro nem outro Gagarin. Mas esta grande
notícia da Ascensão do Senhor é de um evento teológico de primeira magnitude,
que desviou o curso da história humana, transtornou os planos dos homens e hoje
nós somos testemunhas disso. Ensina o seguinte: terminaram as páginas da
história em que alguns homens e mulheres privilegiados viveram a proximidade
imediata e sensível de Jesus ressuscitado, e agora tem que passar página. Já nunca
mais nenhum mortal voltará a vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, senti-lo … de carne e
osso. Passemos página. E agora começa a história da presença ressuscitada,
mística, mas real de Cristo que disse: “Eu estarei com vocês todos os dias até
o fim do mundo” (Mt 28, 19-20). Começou a era da igreja de Jesus, que disse:
“Serão as minhas testemunhas… até os últimos confins da terra” (Atos 1, 8), e
somos. Esta é a era do Espírito de Jesus, que disse: “Serão batizados com o
Espírito Santo” (Atos 1,5), e fomos. Quando Jesus falou aos apóstolos por vez
última, não voltaram a vê-lo com os olhos do corpo, mas começaram a sentir a
presença com os olhos da fé e pensaram: realmente subiu ao céu e está sentado à
direita do Pai. Isto é a Ascensão.
Finalmente,
e os homens de hoje, será que sentem esta presença de Cristo e almejam o céu?
Alguns têm olhos que mimam e cevam e não se cansam. E por isso, não olham para
o céu. Outros entre tantas diversões fazem pesado o coração e não se elevam às
alturas celestiais. Vivem o conselho do poeta Horácio: “Carpe diem”, aproveita
o dia, e o espremem como um limão, até a última gota; e depois experimentam
ressaca, solidão, chatice e até nojo. E o céu? Nada. Não obstante, tem coisas
ainda que levantam o ânimo e nos convidam a olhar para cima; o sorriso limpo da
criança, um pouco de beleza num anoitecer, um “gosto de você” mas bem dito, um
adeus com sincera saudade, um telefonema de um amigo, o espetáculo do mar
sereno, um minuto de liberdade, um momento de oração íntima numa capela onde
acesa a vela do Santíssimo. Tudo isto nos convida olhar e a “voar” ao céu, ao
menos por momentos. E alegar e dar sentido a nossa existência, às nossas dores
e fatigas, aos nossos atos de generosidade e de bondade. Não, a vida não acaba
aqui. Depois da nossa paixão e morte, virá a ressurreição e a ascensão. Como
com Jesus. Ascendemos para adentrar em Deus, encontrarmo-nos com Ele e
desfrutar da sua amorosa presença. E Ele está nos esperando. E Cristo, já nos
preparou uma morada. Neste dia se acabam as saudades e as penas, pois chegamos
ao nosso céu natal. Ali tudo é alegria e júbilo e amor. Mas com Deus e os
amigos de Deus.
Para
refletir: Quantas
vezes penso diariamente no céu? Do que é que eu gosto mais do céu? O que faço
para poder chegar um dia a esse céu que Cristo nos abriu com a sua Ascensão? A
certeza do céu faz para mim mais suportável o sofrimento e a cruz na minha
vida? O que faço para levar todos os meus seres querido ao céu?
Para
rezar: rezemos com
Frei Luis de Leon no seu Ode na Ascensão:
E
deixais, Pastor santo,
A
vossa grei neste vale fundo, escuro,
Com
solidão e pranto;
E
Vós, rompendo o puro
Ar,
vos dirigis ao imortal seguro? …
Que
olharão os olhos
Que
viram do vosso rosto a formosura,
Que
não se converta em raiva?
Quem
ouviu vosso doçura,
O
que não terá por surdo e desventura? …
Doce
Senhor e amigo,
Doce
padre e irmão, doce esposo,
Detrás
de Vós eu sigo:
Ou
posto em tenebroso
Ou
posto em lugar claro e glorioso.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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