quinta-feira, 30 de maio de 2019

Ascensão do Senhor


Textos: Atos 1, 1-11; Heb 9, 24-28; 10, 19-23; Lc 24, 46-53

Evangelho (Lc 24,46-53): Naquele tempo, Jesus disse aos discípulos: «Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome será anunciada a conversão, para o perdão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas destas coisas. Eu enviarei sobre vós o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto». Então Jesus levou-os para fora da cidade, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. E enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu. Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria, e estavam sempre no templo, bendizendo a Deus.

«E enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu»

Dom Josep ALEGRE Abade de Santa Mª Poblet (Tarragona, Espanha)

Hoje, Ascensão do Senhor, recordamos mais uma vez a "missão que" temos confiada: «Vós sois as testemunhas destas coisas» (Lc 24,48). A palavra de Deus continua sendo hoje atualidade viva: «Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força (...) e sereis minhas testemunhas» (At 1,8) até os confins do mundo. A palavra de Deus é exigência de urgente atualidade: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura» (Mc 16,15).

Nesta Solenidade ressoa com força o convite de nosso Mestre, que —revestido da nossa humanidade— acabada a sua missão neste mundo, deixa nos para sentar-se à destra do Pai e enviar-nos a força do alto, o Espírito Santo.

Mas eu devo perguntar-me: —o Senhor atua por meio de mim? Quais são os sinais que acompanham a minha testemunha? Algo me recorda os versos de um poeta: «Não podes esperar até que Deus chegue e te diga 'Eu sou'. Um Deus que declara o seu poder carece de sentido. “Deves saber que Deus sopra por meio de ti desde o começo, e se teu peito arde e nada denota então Deus está obrando nele».

E este deve ser o nosso sinal: o fogo que arde em nosso interior, o fogo que —como no profeta Jeremias— não se pode conter: a Palavra viva de Deus. E precisamos dizer: Povos todos, batei palmas, aclamai a Deus com vozes alegres. Deus subiu por entre aclamações, o SENHOR ao som da trombeta. Cantai hinos a Deus, cantai hinos; cantai hinos ao nosso rei, cantai hinos!» (Sal 47,2.6-7).

O seu reinado está se formando no coração dos povos, em seu coração, como uma semente pronta para brotar. —Canta, dança para o Senhor. E se não sabe como fazê-lo, ponha a Palavra nos seus lábios até que desça ao seu coração: —Deus, Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, me dá espírito de sabedoria e revelação para conhecer-te. Ilumina os olhos do meu coração para compreender o teu chamado à esperança, a riqueza da glória que tendes preparada e a grandeza do teu poder que despregastes com a ressurreição de Cristo.

A Ascensão do Senhor nos convida a “voar” ao céu com a mente e com o coração.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Este mistério glorioso da vida do Senhor se resume assim: Jesus, depois da sua vida na terra, de ter deixado instituída a sua Igreja e ter-nos presenteado a sua presença ressuscitada e perpétua nos sacramentos, voltou para o céu, de onde tinha descido para realizar a salvação da humanidade, para se sentar à direita do Pai e ser o nosso intercessor. E desde lá nos enviaria o Espírito Santo que guiaria a Igreja e nos guiaria a cada um esse céu prometido e almejado por todo coração humano.

Em primeiro lugar, neste dia o homem deveria almejar “voar” ao céu. Conta a mitologia que o primeiro homem que realizou o sonho imortal de todos os mortais, voar, foi Icaro, filho de Dédalo, o engenheiro construtor do labirinto de Creta. Graças a umas asas de plumagem e vime, que o seu pai construiu para ele e colou com cera nas suas costas, Icaro decolou um dia da ilha de Creta rumo ao Olimpo, que era o céu dos deuses pagãos. Mas, ao sobrevoar o mar Egeu, atravessou as nuvens, o sol pegou forte, derreteu a cera, descolou as asas e, todo seu gozo num poço, e o pobre Icaro caiu no mar entre as ilhas de Samos, pátria pequena do teorema de Pitágoras, e a de Patmos, desterro do evangelista São João. Mas com o fracasso de Icaro a vontade dos homens não terminou de decolar desde a terra ao céu. No dia 12 de abril de 1961, o cosmonauta russo Iuri A. Gagarin decolou da base siberiana de Baikonur às 9:07 da manhã e, à bordo da sua cápsula espacial Wostok, em 89 minutos traçou um eclipse de 175 e 327 Km de altura ao redor da terra. E embora este russo se burlou de Deus dizendo: “Estive no céu e não encontrei Deus”, contudo, o homem continua almejando o céu. E é uma verdade de fé que o céu existe. E que ali está Deus. E que Jesus, um dia como hoje subiu ao céu pela vertical do Monte das Oliveiras.

Em segundo lugar, Jesus não é nem um Icaro nem outro Gagarin. Mas esta grande notícia da Ascensão do Senhor é de um evento teológico de primeira magnitude, que desviou o curso da história humana, transtornou os planos dos homens e hoje nós somos testemunhas disso. Ensina o seguinte: terminaram as páginas da história em que alguns homens e mulheres privilegiados viveram a proximidade imediata e sensível de Jesus ressuscitado, e agora tem que passar página. Já nunca mais nenhum mortal voltará a vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, senti-lo … de carne e osso. Passemos página. E agora começa a história da presença ressuscitada, mística, mas real de Cristo que disse: “Eu estarei com vocês todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20). Começou a era da igreja de Jesus, que disse: “Serão as minhas testemunhas… até os últimos confins da terra” (Atos 1, 8), e somos. Esta é a era do Espírito de Jesus, que disse: “Serão batizados com o Espírito Santo” (Atos 1,5), e fomos. Quando Jesus falou aos apóstolos por vez última, não voltaram a vê-lo com os olhos do corpo, mas começaram a sentir a presença com os olhos da fé e pensaram: realmente subiu ao céu e está sentado à direita do Pai. Isto é a Ascensão.

Finalmente, e os homens de hoje, será que sentem esta presença de Cristo e almejam o céu? Alguns têm olhos que mimam e cevam e não se cansam. E por isso, não olham para o céu. Outros entre tantas diversões fazem pesado o coração e não se elevam às alturas celestiais. Vivem o conselho do poeta Horácio: “Carpe diem”, aproveita o dia, e o espremem como um limão, até a última gota; e depois experimentam ressaca, solidão, chatice e até nojo. E o céu? Nada. Não obstante, tem coisas ainda que levantam o ânimo e nos convidam a olhar para cima; o sorriso limpo da criança, um pouco de beleza num anoitecer, um “gosto de você” mas bem dito, um adeus com sincera saudade, um telefonema de um amigo, o espetáculo do mar sereno, um minuto de liberdade, um momento de oração íntima numa capela onde acesa a vela do Santíssimo. Tudo isto nos convida olhar e a “voar” ao céu, ao menos por momentos. E alegar e dar sentido a nossa existência, às nossas dores e fatigas, aos nossos atos de generosidade e de bondade. Não, a vida não acaba aqui. Depois da nossa paixão e morte, virá a ressurreição e a ascensão. Como com Jesus. Ascendemos para adentrar em Deus, encontrarmo-nos com Ele e desfrutar da sua amorosa presença. E Ele está nos esperando. E Cristo, já nos preparou uma morada. Neste dia se acabam as saudades e as penas, pois chegamos ao nosso céu natal. Ali tudo é alegria e júbilo e amor. Mas com Deus e os amigos de Deus.

Para refletir: Quantas vezes penso diariamente no céu? Do que é que eu gosto mais do céu? O que faço para poder chegar um dia a esse céu que Cristo nos abriu com a sua Ascensão? A certeza do céu faz para mim mais suportável o sofrimento e a cruz na minha vida? O que faço para levar todos os meus seres querido ao céu?

Para rezar: rezemos com Frei Luis de Leon no seu Ode na Ascensão:
E deixais, Pastor santo,
A vossa grei neste vale fundo, escuro,
Com solidão e pranto;
E Vós, rompendo o puro
Ar, vos dirigis ao imortal seguro? …

Que olharão os olhos
Que viram do vosso rosto a formosura,
Que não se converta em raiva?
Quem ouviu vosso doçura,
O que não terá por surdo e desventura? …
Doce Senhor e amigo,
Doce padre e irmão, doce esposo,
Detrás de Vós eu sigo:
Ou posto em tenebroso
Ou posto em lugar claro e glorioso.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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